Cunha e Silva Filho
O tema é difícil e cercado de labirintos. Mas, dentro
desses labirintos podemos inferir
alguns fatos e tentativas de buscas
de verdades humanas na relatividade em que o tema a elas conduz
o observador atento e ávido de
penetrar-lhes os segredos ou mistérios.
Umas das inferências possui até o seu tanto de truísmo,
ou de obviedade: como pode um homem
culto, competente em sua área
principal de atuação profissional, quer artística, quer não-artística,
quer filosófica, quer não-filosófica ou de outra natureza
disciplinar ou teórica, sustentar o indefensável levado - sabe Deus por que motivo – a defender
cegamente pretensas verdades doutrinárias?
Como pode
um ser dotado de
conhecimentos vastos, experiência e saberes pender, por facciosismo ou parcialismo intencional, para
a direita ou a esquerda, ou para o centro ou qualquer posição ideológica, e não
enxergar os erros e os ações
desonrosos de um partido e
permanecer empedernido e preso a
programas políticos que,
na prática, escamoteiam seus princípios e agem de forma
contrária? Onde fica aí a ética individual, ou do grupo
partidário?
Se um partido
político tem um suposto programa
de governo a oferecer à sociedade,
através de ações materializadas que levam
ao descrédito mesmo daqueles que, afastados ou indiferentes, estão
das questões políticas, não temos
aí um exemplo de
fanatismo? Este comportamento indicia
na
verdade, um cegueira, um modo de ver e sentir a realidade e toda a
sua complexidade dos dias de hoje de
forma falaciosa e seu seguidor não
passaria de um simulacro no jogo político.
Quando se torna
impossível ver os fatos
e as circunstâncias mostrando-se contrários
aos princípios e regras
de um partido que não pretende
modificar ou realinhar-se de modo a dar conta
das principais carências e reclamos da sociedade é porque alguma
coisa transmite falsidade e seus líderes não
passam de cabotinos e enganadores da coletividade e os próprios sectários vivem a ilusão de ótica e, por essa razão,
contribuem como co-agenciadores
dos simulacros criados por lideranças fantoches, por malabaristas e saltimbancos travestidos de
políticos cuja conduta leva o
país à derrocada na sua
forma mais cruel: a da corrupção, do cinismo
e da indiferença aos males da sociedade.
Donde se conclui que
o fanatismo trabalha em favor de quem
o produz: o partido sem ética nem
dignidade. Assim o fanático partidário
é um cego que não deseja ver além do seu próprio
engano.
Quanto ao jogo
de interesses a que o título deste artigo
alude como alternativa, ele está imbuído
dos mesmos procedimentos do embuste
e da felonia e sua característica primordial é transformar a política da retidão e da ética,
da moralidade e do bem-estar
da nação em balcão de interesses os mais
perniciosos possíveis, já
que este tipo de “política” perde
todos os fundamentos necessários à práxis
política e à assunção de
seus ideário em prol da
coletividade, Tudo que
desse simulacro resulte não será
mais do que uma luta
de interesses mesquinhos
fora da órbita das práticas políticas sérias e pautadas pela dignidade da Política
com p maiúsculo.
Um tal estado
de coisas, se permanecer por muito tempo, pode
descambar facilmente para
situações ainda de maior risco não desejável
por qualquer cidadão de bem. O agenciamento de atores que se servem
dos mandatos políticos como manobra de enriquecimento a todo custo
leva o eleitor a descrer da política correta, dos
homens públicos e do desprezo pelo ato
de votar.
No Brasil da atualidade
vislumbro com clareza estas duas alternativas colocadas ao
debate público. Na verdade, ambas se interpenetram insidiosamente e terminam,
por contaminação, se equivalendo em alguns
aspectos, visto que a cegueira do
fanatismo concorre para a prática
ignominiosa da segunda alternativa. São dois lados da mesma
moeda podre do fanatismo e do
jogo sujo da política nacional.
O leitor atento
sabe de quem falo e do que deixo
implícito a fim de que, meditando sobre
o tema, tire suas ilações. Sei que estou dialogando com vários
interlocutores de pensamentos e posições que
podem ou não coincidir
com o que exponho neste artigo. É bom que assim o seja. Não se mudam da noite
para o dia os princípios enraizados
profundamente na alma do
fanatismo, seja, o político,
o religioso, o esportista.
É preciso
que do esclarecimento, da procura de posições
abertas se extraia uma fresta da luz da razão e da imparcialidade, livrando os
indivíduos dos males dos preconceitos
e das visões distorcidas que existem
no letrado e no ignorante.
Não custa nada de minha parte suscitar
reflexões que levem ao
caminho de um viver
sem tantas angústias e
perplexidade que a sociedade contemporânea, no Ocidente
principalmente, mas também já no
Oriente, sob o império da mídia, da globalização, do brilho falso do sucesso
financeiro inopinado e da mistificação em escala quase mundial, tanto centros urbanos como nas periferias, tão bem
manipula as gerações mais novas e
até, por contágio, os adultos e velhos sobreviventes de hoje.
........................................
AO PÉ DA PÁGINA
........................................
AO PÉ DA PÁGINA
A psicologia das
revoluções
Cunha e Silva
“A psicologia das revoluções é
bastante complexa. Não confundamos revoluções com golpes militares e de Estado, com badernas, quarteladas e simples motins populares. As revoluções de caráter político e social são mais profundas e legítimas, desde que atendam às
aspirações populares, à queda de tiranias e despotismos. A revolta dos plebeus
contra os patrícios em Roma milênios atrás, foi uma autêntica revolução. As revoluções, como as operações
cirúrgicas, são medidas drásticas, violentas e, às vezes, cruéis, mas necessárias e oportunas. Se não
cortar a perna de pessoa – ameaçada de gangrena – com o bisturi do cirurgião, a
pessoa morre, na certa,. Assim se dá
com o país com a revolução quando o país está em grave crise social e política
na iminência de entrar em guerra civil, a solução imediata é deflagrar a
revolução, sangrenta ou não, a fim de se
evitar que o país caia no abismo e no caos ou se despenhe
no desfiladeiro sombrio da convulsão social.
Nota do Blog: Artigo possivelmente publicado no jornal Estado
do Piauí, Teresina, PI., O recorte não traz a data.
Nenhum comentário:
Postar um comentário