domingo, 20 de outubro de 2013

Tragédia brasileira: a morte de um bebê e da avó






                                                        Cunha e Silva Filho


             Através de um  programa  de TV  que  o elitismo  brasileiro  chama de  imprensa sensacionalista,  classificação  da qual  discordo, pois,  por detrás dessa  natureza  de  programa é que, em  primeira mão,  fico sabendo  do que alguém já chamou  com  propriedade  de “Brasil real,” não o  país  dos  programas  televisivos   que abordam, em considerável  proporção,  a chatice  de imbecilidades  da  tevê brasileira, a qual é desnecessário exemplificar  visto que os leitores  sabem  do que estou  falando.
Foi num desses  programas  que tomei conhecimento  de um crime  escabroso perpetrado por um avô  ensandecido contra a própria  esposa e o próprio neto, um bebezinho de sete meses, de nome Luís Eduardo. O crime  aconteceu  em São Paulo.
Um avô,  ex-presidiário por homicídio  e ex-interno  para tratamento  psiquiátrico, num dia  de fúria,  por motivo  torpe,  assassinou dois entes queridos utilizando-se de um porrete. Segundo  seu  depoimento na delegacia,   ele confessou  tudo friamente e ainda  deu detalhes  sobre  a monstruosidade  que  fez contra  dois  seres  de sua família. Declarou  estar arrependido. Já estou  cansado  de arrependimentos  de  “monstros”  de nossa sociedade em confissões  que não nos causam  mais nenhum sentimento  de  comiseração  para com eles.
O avô, segundo a reportagem,  era pequeno comerciante  de um bairro simples, pelo que  indicavam  as imagens  da tela. O avô alegou  que cometera  os dois homicídios em razão de que não mais  queria  conviver  com  o netinho,  que não o deixava dormir, naturalmente porque  chorava  como  qualquer  bebê.  Com isso, achava o  assassino que   a presença  do bebê   estava  atrapalhando-lhe   os negócios, já com   queda de lucro. E a culpa  punha sobre os ombros do netinho. 
Entretanto,  a história ainda tem  mais um  ingrediente, a avó de Luis Eduardo, em discussão  sobre a situação  em casa envolvendo o bebê,   ameaçara o marido  de  que,  se o netinho fosse embora,  ela iria também. Foi o bastante para,  um dia,  o avô  tirar-lhe a vida e a do  bebê, de resto,   uma criança  lindíssima,  com  olhos de cor violeta.
Esta tragédia  provoca profunda  indignação  em  todo mundo e, além disso,  nos  conduz a uma reflexão sobre o estado de degradação  moral  e mental do que se está vendo no país. Fica além da imaginação  o fato  de que  um tipo de violência  dessas possa ter  acontecido. Passamos,   então,  a ir mais fundo na questão  do relacionamento   familiar, na estrutura da  família e nos  diversos   sintomas  de  patologia  social  por que  estamos passando  no mundo contemporâneo, em  muitos  aspectos muito  mais graves  do que  em séculos  anteriores da história da Humanidade. 
A tragédia de Luís   Eduardo e de sua avó, pela natureza  do duplo  crime cometido,  é algo que  se poderia  afirmar   como sendo  uma  tragédia anunciada e, ao  aprofundarmos   a questão,  vamos  encontrar   responsabilidades  que  se alojam   nos setores  da saúde mental e da Justiça  brasileira. O avô, sem dúvida, um  psicopata  enrustido  em casa de família, tendo  seus negócio  para sobrevivência,  de comportamento aparentemente   discreto, segundo  testemunhos  de vizinhos, já carregava nos ombros  um homicídio e um atentado  quase fatal  contra  um  moço em quem  dera  dois tiros num dos braços. Um vizinho   relata  um  comportamento   estranho  desse avô desmiolado: ele tinha  o costume  de rir quando via  pessoas, prato  cheio para os estudiosos  da psiquiatria..
O criminoso  tem antecedentes   que lhe agravam mais   a situação   de   assassino. Como  já acentuamos,   tinha  passado  por uma internação  de doente  mental. Agora,  não é difícil,  unindo-se todos  os  dados  pregressos  do avô,   levantar   três questões gerais e  fundamentais:  1) Por que, tendo cometido  um  homicídio há duas décadas, conseguira, graças   às brechas e  imperfeições  de nossas leis criminais,    ter recuperado a liberdade pouco tempo depois – é o que presumo -   do encarceramento? 2) Que tipo de  prisão  teve ele, foi num manicômio   judiciário, foi  prisão  comum para pessoas  consideradas normais? 3) Que tipo de tratamento  psiquiátrico  foi o dele, e como  obteve  a alta da instituição  de saúde mental? Qual foi  a duração da internação? Como foi  o laudo que  o liberou  para a  vida em sociedade?
Ora,  todas   estas   implicações de ordem  criminal e  de saúde mental   são  complexas demais  para  que, a meu ver, se tenha  posto um indivíduo psicopata  no meio social e, por cima de tudo,  ainda  tendo  constituído  família, tendo  uma filha, a esposa, além de  ser dono  de  um barzinho.
             No plano da  estrutura  jurídico-social-mental cabe, na minha  opinião  apenas  de leigo  e observador  da sociedade,  um parcela  grande de culpa ao Estado  brasileiro. Se  dispuséssemos de uma   estrutura  de estado  séria,  cuidados,  competente em  todos os níveis de  administração e gerenciamento  da  políticas  públicas, muitas tragédia  familiares  seriam  evitadas. A sociedade  brasileira paga um alto preço  pelas deficiências  gritantes de nossas instituições.
O que  aconteceu com  o bebezinho  inocente,  desprotegido, vítima  da atrocidade  de um  tresloucado que  deveria estar era, sim,  num manicômio e não no seio  da  sociedade, pode se multiplicar   por outros casos   semelhantes.
Se nos detivermos   atentamente para o que   ocorre no dia-a-dia do pais,   nas grandes e  às vezes pequenas cidades, constataremos um  elevado número de  crimes  hediondos,  inacreditáveis,   porque praticados  no seio da própria família,  ou  entre  relacionamentos  amoroso  com final  trágico e por  motivos que poderiam ser contornáveis se no país  as leis  de penalidades  fossem  endurecidas, até mesmo  não descartando  o limite da prisão  perpétua  para  crimes de grande  selvageria   praticados  por  pessoas de todas as idades.
Uma sociedade que se nos apresenta  neste grau  de periculosidade  em potencial  nos  espanta e nos deixa perplexos. Alguma coisa  deve ser  feita de imediato  no que tange a   esses crimes   abomináveis.
O país, assim,  dá irretorquível   mostras  de  um estado  doentio  na sociedade e no  meio  familiar.  O grande salto de qualidade  que  poderá  amenizar  tais  aberrações  patológicas tem que  passar  por uma   mudança  profunda na educação brasileira,  na qualidade  de nossas escolas  públicas  e algumas privadas e no melhor   preparo de nossos  professores,  sem esquecermos  de que  estes profissionais  urgentemente   necessitam  de   ser valorizados  nos seus salários de forma   definitiva  com planos de carreira    que sejam   cumpridos  pelos governos  independentemente   de  troca  de  orientação  política e   adaptáveis  às condições   de um país    que,  em  alguns setores,   mostra  melhoria  de qualidade  da população, conquanto   ainda  -  e infelizmente  - em  tantos outros setores esteja   patinando  no mesmo lugar  e em nível  semelhante  a nações  subdesenvolvidas.
Espero  que a morte de Luis Fernando  e da  avó seja uma contundente  advertência a nossos  governantes   que, lamentavelmente,  de Brasília  ainda persistem em dar as costas  para os mais graves  problemas  enfrentados  pelo Estado  brasileiro. Não dar  ouvidos aos protestos  da Nação se me afigura, em tempos  atuais,  como  apostar  no suicídio do resultado das urnas para reis que  ainda  pensam  que  estão vestidos.       



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