Cunha e Silva Filho
O escritor de Santa Catarina, Enéas Athanázio, reuniu vinte e dois textos ficcionais no seu mais recente livro, O campo no coração (Balneário Camboriú, SC.: Editora Minarete, 2012, 59 p.).
Pelos dados obtidos em livros e na Internet, assim como em pesquisas de blogs e sites de literatura, vejo que algum material reunido no livro já tinha sido editado virtualmente ou talvez por algum veículo impresso. Não sei se todos os textos selecionados o foram igualmente. Porém, o que me interessa criticamente é o resultado da seleção feita pelo autor.O que se via levar em consideração para análise vem a ser esse conjunto a que o autor deu forma e consistência, considerando temas e formas de composição narrativa.
Escritor com uma vasta e variada bagagem em sua produção literária, compreendendo os gêneros do conto, novela, crônica, ensaio e pesquisa histórica, Enéas Athanázio é um autor que, me perdoe o leitor pelo lugar-comum, dispensa apresentação, inclusive no estado do Piauí, onde é conhecido e estimado, tendo mesmo sido agraciado com o título de “Cidadão Teresinense” e bem assim se tornado sócio-correspondente da Academia Piauiense de Letras.
Nada disso lhe foi outorgado gratuitamente, mas sim por merecimento, quer pela atenção que sempre deu à literatura piauiense, quer pelo seu desvelo com os valores culturais daquele estado nordestino. Seu raio de ação intelectual se faz assim bem presente na vida literária piauiense, escrevendo sobre autores piauiense e até mesmo sobre questões que dele mereçam uma palavra de apoio e solidariedade, como é exemplo o belíssimo artigo que escreveu em defesa da cidade de Amarante, partilhando do mesmo sentimento de repúdio contra aqueles que desejam/desejavam destruir essa cidade de inegável valor histórico-literário-cultural, berço do maior poeta canônico do Piauí, Da Costa e Silva (1885-1950) e de outros grandes intelectuais ali nascidos.
O projeto oficial seria destruir Amarante mergulhando-a nas águas de uma usina hidroelétrica desnecessária, sem respeitar a vontade soberana de seus habitantes.
Uma coincidência me fez aproximar-me do autor. Quis o destino – segundo diria um escritor – que o filho repetisse o mesmo feito paterno. Nos anos oitenta, meu pai escreveu um artigo (hoje diria resenha) sobre um livro de Athanázio, O mulato de Todos os Santos (Curitiba: Gráfica Editora Veja, 1982, ensaios acerca de Lima Barreto). Agora, o filho encontra-se na mesma posição e em campo intelectual igual, ou seja, tecendo opinião apreciativa sobre o mesmo autor. Mero acaso ou motivos que estão além de nossas possibilidades de entendimento?
Dos textos que compõem O campo no coração, empregando o termo “texto” naquela acepção que a teoria literária define qualquer peça literária prestes a ser objeto de uma análise ou crítica (GRAY, Martin. A dictionary of literay terms. 2nd. edition. Essex, England: Longman York Press,1992, p. 287), diria que dez se ajustariam na categoria do conto, enquanto que os demais se distribuiriam assim: dez textos classificaria como crônicas e dois se posicionariam na fronteira entre o conto e a crônica. Desta forma, esta divisão se apresenta como segue:
1) Contos: “A reconvença” (p.7-13), “Promessa vã e mirabolante” (p.15-16) , “O destino da Primavera” (p.17-18), “Casamento por amor” (p. 21-22), “ O maior do mundo” (23-24), “O enterro da velha senhora (p.27-28), “Cefaleia muar” (p.29-30), “Despejo” (p. 41), “Incidente de percurso (p. 45-46), “O retorno (p.55-57) ;
2) Crônica: “A degola” (p. 19-2), “O misterioso João da Banha” (p. 25-26), “ Progresso trepidante” (p.31-32), “Moro onde não mora ninguém” (p.33-34), “O nome ah! O nome! (p.35-36), “O colega desaparecido” (p.37-38) “Girafa” (p.39-40), “Olhos vigilantes” (p. 47-48); “Pulga” (p.51-52), “Os desencantos de Jovita (p.53-54).
3) Fronteira entre a crônica e o conto: “A casa fechada” (p.43-44), ‘Obstáculo inesperado ou o desafio de uma escada” (p. 49-50).
À crítica releva lidar com uma função básica, a síntese e, como tal, pretendo desenvolver alguns comentários analíticos dignos de observação no tocante aos meios de expressão literária e de visão do autor tendo como objeto os textos referidos acima.
Sendo assim, vejo como dois pontos altos da ficção de Enéas Athanázio em O campo no coração, os contos “A reconvença”, o conto inaugural da coletânea e “Retorno”, o derradeiro do volume.
A leitura dos dois contos referidos, principalmente, a do primeiro, “Reconvença”, de imediato desvela as virtudes estilísticas do autor. Nele desponta como componente narrativo e traço dominante a atenção propiciada à linguagem, i.e., o conto prende a nossa curiosidade justamente pelo que o torna um texto esteticamente bem realizado e, no processo de sua escrita, desempenha um papel saliente e decisivo a sua natureza metalinguísitca. A função metalinguística o absorve por completo e por isso provoca no leitor atento um estranhamento, um choque na leitura voltado para as virtualidades da linguagem-objeto.
O último conto da coletânea, “Retorno”, repete em menor intensidade, as qualidades do primeiro conto. Retoma o mesmo tema, o mesmo espaço geográfico, assim como faz reaparecer o mesmo personagem, o capataz Aristides, narrador-protagonista no primeiro conto e, agora, personagem secundário, acompanhado sempre do cachorro Jasper vivendo um tempo de narrativa ulterior. (continua)
Uma coincidência me fez aproximar-me do autor. Quis o destino – segundo diria um escritor – que o filho repetisse o mesmo feito paterno. Nos anos oitenta, meu pai escreveu um artigo (hoje diria resenha) sobre um livro de Athanázio, O mulato de Todos os Santos (Curitiba: Gráfica Editora Veja, 1982, ensaios acerca de Lima Barreto). Agora, o filho encontra-se na mesma posição e em campo intelectual igual, ou seja, tecendo opinião apreciativa sobre o mesmo autor. Mero acaso ou motivos que estão além de nossas possibilidades de entendimento?
Dos textos que compõem O campo no coração, empregando o termo “texto” naquela acepção que a teoria literária define qualquer peça literária prestes a ser objeto de uma análise ou crítica (GRAY, Martin. A dictionary of literay terms. 2nd. edition. Essex, England: Longman York Press,1992, p. 287), diria que dez se ajustariam na categoria do conto, enquanto que os demais se distribuiriam assim: dez textos classificaria como crônicas e dois se posicionariam na fronteira entre o conto e a crônica. Desta forma, esta divisão se apresenta como segue:
1) Contos: “A reconvença” (p.7-13), “Promessa vã e mirabolante” (p.15-16) , “O destino da Primavera” (p.17-18), “Casamento por amor” (p. 21-22), “ O maior do mundo” (23-24), “O enterro da velha senhora (p.27-28), “Cefaleia muar” (p.29-30), “Despejo” (p. 41), “Incidente de percurso (p. 45-46), “O retorno (p.55-57) ;
2) Crônica: “A degola” (p. 19-2), “O misterioso João da Banha” (p. 25-26), “ Progresso trepidante” (p.31-32), “Moro onde não mora ninguém” (p.33-34), “O nome ah! O nome! (p.35-36), “O colega desaparecido” (p.37-38) “Girafa” (p.39-40), “Olhos vigilantes” (p. 47-48); “Pulga” (p.51-52), “Os desencantos de Jovita (p.53-54).
3) Fronteira entre a crônica e o conto: “A casa fechada” (p.43-44), ‘Obstáculo inesperado ou o desafio de uma escada” (p. 49-50).
À crítica releva lidar com uma função básica, a síntese e, como tal, pretendo desenvolver alguns comentários analíticos dignos de observação no tocante aos meios de expressão literária e de visão do autor tendo como objeto os textos referidos acima.
Sendo assim, vejo como dois pontos altos da ficção de Enéas Athanázio em O campo no coração, os contos “A reconvença”, o conto inaugural da coletânea e “Retorno”, o derradeiro do volume.
A leitura dos dois contos referidos, principalmente, a do primeiro, “Reconvença”, de imediato desvela as virtudes estilísticas do autor. Nele desponta como componente narrativo e traço dominante a atenção propiciada à linguagem, i.e., o conto prende a nossa curiosidade justamente pelo que o torna um texto esteticamente bem realizado e, no processo de sua escrita, desempenha um papel saliente e decisivo a sua natureza metalinguísitca. A função metalinguística o absorve por completo e por isso provoca no leitor atento um estranhamento, um choque na leitura voltado para as virtualidades da linguagem-objeto.
O último conto da coletânea, “Retorno”, repete em menor intensidade, as qualidades do primeiro conto. Retoma o mesmo tema, o mesmo espaço geográfico, assim como faz reaparecer o mesmo personagem, o capataz Aristides, narrador-protagonista no primeiro conto e, agora, personagem secundário, acompanhado sempre do cachorro Jasper vivendo um tempo de narrativa ulterior. (continua)
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