Cunha e Silva Filho
O local, uma escola municipal na área do ABC paulista. Os personagens diretamente envolvidos: uma professora e um menino de apenas dez anos.A motivação: aparentemente nenhuma. Resta, agora, a especulação ou mesmo o mistério de uma dois atos de insanidade.
O pequeno Davdi, aluno calado, de rendimento regular, tímido, mais na sua. A professora, uma jovem de 28 anos. Aparentemente, uma professora com tantas outras que enfrentam os atropelos da atividade docente nos dias de hoje.
A criança trouxe de casa uma arma de fogo, um revólver calibre 38, pertencente ao pai, um guarda municipal paulista. A arma do crime estava registrada, conforme apurou a polícia.
David, essa criança, assistia como de costume, à aula da professora. De repente, saca da arma e atira na professora Rosileide de Oliveira que estava de costas escrevendo no quadro.
Sai David da sala, não sei se às pressas, e, lá fora, no corredor - imagino -, pega da arma e dispara um tiro na cabeça. Não sei dos detalhes técnicos sobre o lugar em que a bala atingiu o menino, se foi no ouvido, ou na boca, ou na testa. Não importa, foi um projétil fatal, de vez que, no hospital para onde fora levado, não resistiu aos ferimentos e logo veio a falecer. A professora, atordoado, baleada pelas costas, foi atingida no quadril. Levada ao hospital, foi operada e, graças a Deus, se encontra fora de perigo.
Agora, como se há de explicar esta tragédia, talvez, na espécie, a primeira ocorrida no país. Uma dúvida tremenda paira no ar e deixa qualquer um incapaz de atinar para uma razão que pudesse levar o pequeno David a cometer duas atrocidades, contra sua mestra e contra ele próprio.
A quem cabe a culpa? Não saberia dizer se ao pai, se à mãe, ou à sociedade no seu todo. Alguém poderia afirmar: cabe ao pai por ter arma em casa e não a guardar em lugar de difícil acesso à criança. Ou seria por negligência da família do pequeno que não o alertou para perigos deste tipo? Ninguém sabe que argumento consistente se poderia ter para tentar elucidar este caso fatídico.E por que aquela criança teria feito isso contra a sua própria professora? Ódio latente, alguma mágoa desmedida, alguma palavra mais áspera que calasse fundo no espírito do menino? Seu pai confessara em reportagem ao Globo (24/09/2011) que o filho “sempre foi tranquilo.” Era um menino que tinha religião e era membro de uma igreja presbiteriana, fazia parte da leitura de oração durante o culto e ainda tomava parte da bateria de banda encarregada dos cânticos religiosos.
Há um pormenor que, de alguma maneira, pode sinalizar para alguma explicação da tragédia. Falando com repórteres e lhes pedindo que não fosse revelado, a delegada do 3º Distrito Policial, afirmara, na mencionada reportagem, que havia encontrado na mochila de David uns desenhos, um dos quais ostentava a figura de um menino com uma arma tendo um “inscrição”: “ Eu com 16 anos”. No desenho, o revólver “é apontado para uma pessoa que ele descreve como ‘o professor’. O pai de David nega este fato.
Sabe-se que já há muito tempo a relação entre aluno e professor mudou muito para pior. Os efeitos da violência do mundo contemporâneo se infiltrou em todos os recantos, em todos os aspectos da vida social. O professor brasileiro não é mais aquela figura que se respeitava no passado.
A sociedade hoje, por sua vez, não tem ajudado muito a fim de que o convívio entre aluno e professor possa melhorar em harmonia, paz, companheirismo, respeito e acato à autoridade docente. Ao contrário, há pais que só dão pessoa às razões dos filhos, achando que o professor não tem mais as habilidade necessária sem lidar co seus alunos.
O que os pais devem fazer sempre é valorizar o trabalho do professor e incentivar os filhos a respeitá-los como se fossem quase substitutos dos pais durante o tempo na escola. Os pais devem dialogar com os filhos sobre o papel primacial do professor na formação dos alunos, não só intelectual mas também, moral, ética instilando nos filhos princípios sãos de cidadania, de amor aos estudos, à escola, aos professores. Só por essas vias se consegue melhorar a harmonia entre o discípulo e o mestre.
Outros fatores há que pesar na explicação para este tipo de tragédia. Um deles me parece estar associado a jogos eletrônicos nos quais as crianças passam horas manipulando botões através dos quais o objetivo é “matar” personagens das imagens exibidas. Ora, banalizar esse tipo de ludismo implicando matanças eletrônicas nada de saudável pode oferecer a crianças que estão em desenvolvimento físico e psicológico, com a agravante de que, no cotidiano da vida brasileira, a mídia está aí diariamente mostrando doses maciças de violência em suas variadas formas.
Nos lares de famílias mal estruturadas, ou plenamente desestruturadas, a liberdade em excesso da exposição a imagens vivas de ações violentas ainda mais serve como forma realimentadora provocando mais efeitos deletérios e deformadores de uma vida mental e social sadia e de exemplos de comportamento ético tão necessários à formação de cidadãos comprometidos com o bem-estar seja na esfera individual, seja na esfera da sociabilidade, no respeito ao próximo e sobretudo na valorização da vida.
Ainda vejo que só na mudança estrutural da escola dirigida ao preparo dos valores voltados para a prática do bem e da boa convivência entre os alunos, e entre estes e os mestres, diretores e funcionários da escola se há de colher bons resultados visando à formação integral do individuo internalizando lições de bondade, de solidariedade, de respeito aos mais velhos e às regras disciplinares da instituição escolar.
A melhor pedagogia não pode dispensar o cumprimento dessas práticas de despertar no espírito do aluno a consciência do viver pautada na auto-estima e no reconhecimento de que só agindo em favor da construção do bem ter-se-á uma sociedade mais equilibrada.
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