sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Muitas saídas e poucas soluções

Cunha e Silva Filho


Às vezes, me pergunto como justificar tantos volumes de páginas sobre religiões foram gastos, tantas descobertas científicas foram feitas, tantos compêndios de direito, da família, cível, do trabalho, processual, constitucional, de filosofia, do trabalho, organizações dos direitos humanos, de proteção aos idosos, de proteção à infância e à juventude, aos animais, ao meio ambiente, se, na prática, pouco coisa sobra de eficaz, de constante, de útil para todos nós.
Acima das línguas, das etnias, dos costumes, das práticas sociais, dos desejos de paz universal persistem as oposições, os inimigos dos semelhantes e da humanidade, dos seres que no Planeta só vieram provavelmente para o cometimento do mal e da sua difusão.
Fazer o bem, sempre digo, é um ato dificílimo requer muita grandeza da alma, muita renúncia, muito amor ao próximo e tabmém muita incompreensão. Por isso, os santos, os limpos de espírito, os defensores da paz, da humanidade, do Terra, das crianças, dos idosos, dos fracos são poucos. Razão tem/tinha/terá Drummond, o grande bardo de Itabira “Mundo, mundo, vasto mundo/, se eu me chamasse Raimundo/, seria uma rima, não uma solução.”
Os tempos atuais não são aqueles dos melhores mundos possíveis. Muito ao contrário. Para onde olhamos, nos cercam de apreensões, de projeções, em geral, mais sombrias do que radiantes. A Terra me lembra uma “Serra das confusões.” Ou seria uma Wasteland elliotiana?
Instituições antigas, com a família, a igreja, para ficarmos só nestes dois exemplos, atravessam uma fase terrível de desapreço e de desmoralização com fundamentos que saem do próprio seio de cada uma. Como pode um igreja exigir dignidade de comportamento sexual se, no seio dela, campeia práticas torpes de sexualidade, com notícias comprovadas abertamente pela mídia internacional? Como ser pai e ao mesmo tempo ser acusado de pedofilia praticada contra o seu próprio sangue? Em que mundo estamos? Como igrejas conseguem arrancar de ignorantes anestesiados por espertalhões que aos templos entregam o que não têm, confiantes na ilusão do paraíso aqui na Terra de verem seus modestos desejos transformados em realidades que dispensariam a mediação enganosa daqueles que oferecem “migalhas” de seus minguados salários ou economias que irão se transformar em corporações de negócios milionários nacionais e transnacionais. Algumas seitas religiosas se transformaram na galinha de ovo de malabaristas engravatados.
O que falta ao meu país é sobretudo o instrumento inadiável de uma educação pública ou privada de qualidade. Alunos conscientes politicamente dos seus direitos e deveres de cidadania, de estar sempre com o pé no chão, não se deixarão embair por vendilhões e embusteiros não só no país mas no mundo todo.
O respeito às religiões é preceito constitucional, mas não quando o limite da Lei passa a ser instrumento de alienação para incautos e para uma população ignorante. Respeita-se a religião desde que ela não venda ilusões de bem-estar e de felicidade na sociedade civil. Pedir ajuda financeira dentro de limites compatíveis é uma coisa, mas praticamente “obrigar” alguém a contribuir já é uma ato ilegal.
Um país afundado na ignorância escolar é presa fácil de um lobo vestido em pele de cordeiro, ou até mesmo sem pele de cordeiro.
O alimento espiritual, as orações sinceras, o sentimento da fé em qualquer denominação religiosa séria fazem parte da unidade do ser. De resto, independente da religiosidade, tudo o que o homem faz ou pensa em benefício do seu semelhante, sem segundas intenções, merece louvores. Há ateus de alma de santo, como há “crentes” só de aparência.
Sejam, pois, bem-vindas todas as denominações religiosas contanto que despidas de interesses escusos, de exploração de ingênuos, de usos e abusos de subterfúgios solapadores dos minguados recursos da cegueira dos despossuídos da sociedade brasileira. Não confundam Deus com o vil metal do capitalismo mundial, motivo talvez maior das grandes desgraças da globalização tecnocrata, sorvedouro do que resta dos sentimentos nobres da Humanidade contemporânea.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Um poema de A. E. Housman (1859-1936)

Look not in my eyes

Look not in my eyes, for fear
They mirror true the sight see,
And there you find your face too clear
And love it and be lost like me.
One the long nights through must lie
Spent in star-defeated sighs,.
But why should you as well as I
Perish? Gaze not in my eyes.

A Greecian lad, I hear tell,
One that many loved in vain,
Looked into the forest well
And never looked away again,
There, when the turf in springtime flowers,
With downward eye and gazes sad,
Stands amid the glancing showers
A jonquil, not a Greecian lad.

Não me olhe nos olhos

Não me olhe nos olhos, pois medo
Tenho que espelhem a tua real imagem diante de mim,
E com clareza plena aí a sua imagem veja
E se apaixone por ela e, tal como eu, se destrua.
Prolongadas noites inteiras nossas vidas seriam.
Malogrados destinos padecendo
No entanto, por que você, como eu, deveríamos
Morrer? Não, não me olhe fixamente nos olhos.

Segundo um relato, um jovem grego
Razões de tantas vãs paixões
Um dia, olhou para um poço silvestre
E, assim para sempre, imóvel se tornou.
Naquele lugar, ao desbotar a flor em tempo de primavera
Com os olhos fixos e tristes no fundo do líquido se quedou
Entre águas obliquas surgiu
Um junquilho, não um jovem grego

(Trad. de Cunha e Silva Filho)

domingo, 25 de setembro de 2011

Um estranho caso de suicídio

Cunha e Silva Filho

O local, uma escola municipal na área do ABC paulista. Os personagens diretamente envolvidos: uma professora e um menino de apenas dez anos.A motivação: aparentemente nenhuma. Resta, agora, a especulação ou mesmo o mistério de uma dois atos de insanidade.
O pequeno Davdi, aluno calado, de rendimento regular, tímido, mais na sua. A professora, uma jovem de 28 anos. Aparentemente, uma professora com tantas outras que enfrentam os atropelos da atividade docente nos dias de hoje.
A criança trouxe de casa uma arma de fogo, um revólver calibre 38, pertencente ao pai, um guarda municipal paulista. A arma do crime estava registrada, conforme apurou a polícia.
David, essa criança, assistia como de costume, à aula da professora. De repente, saca da arma e atira na professora Rosileide de Oliveira que estava de costas escrevendo no quadro.
Sai David da sala, não sei se  às pressas, e, lá fora,  no corredor - imagino -,  pega da arma e dispara um tiro na cabeça. Não sei dos detalhes técnicos sobre o lugar em que a bala atingiu o menino, se foi no ouvido, ou na boca, ou na testa. Não importa, foi um projétil fatal, de vez que, no hospital para onde fora levado, não resistiu aos ferimentos e logo veio a falecer. A professora, atordoado, baleada pelas costas, foi atingida no quadril. Levada ao hospital, foi operada e, graças a Deus, se encontra fora de perigo.
Agora, como se há de explicar esta tragédia, talvez, na espécie, a primeira ocorrida no país. Uma dúvida tremenda paira no ar e deixa qualquer um incapaz de atinar para uma razão que pudesse levar o pequeno David a cometer duas atrocidades, contra sua mestra e contra ele próprio.
A quem cabe a culpa? Não saberia dizer se ao pai, se à mãe, ou à sociedade no seu todo. Alguém poderia afirmar: cabe ao pai por ter arma em casa e não a guardar em lugar de difícil acesso à criança. Ou seria por negligência da família  do pequeno que não o alertou para perigos deste tipo? Ninguém sabe que argumento consistente se poderia ter para tentar elucidar este caso fatídico.E por que aquela criança teria feito isso contra a sua própria professora? Ódio latente, alguma mágoa desmedida, alguma palavra mais áspera que calasse fundo no espírito do menino? Seu pai confessara em reportagem ao Globo (24/09/2011) que o filho “sempre foi tranquilo.” Era um menino que tinha religião e era membro de uma igreja presbiteriana, fazia parte da leitura de oração durante o culto e ainda tomava parte da bateria de banda encarregada dos cânticos religiosos.
Há um pormenor que, de alguma maneira, pode sinalizar para alguma explicação da tragédia. Falando com repórteres e lhes pedindo que não fosse revelado, a delegada do 3º Distrito Policial, afirmara, na mencionada reportagem, que havia encontrado na mochila de David uns desenhos, um dos quais ostentava a figura de um menino com uma arma tendo um “inscrição”: “ Eu com 16 anos”. No desenho, o revólver “é apontado para uma pessoa que ele descreve como ‘o professor’. O pai de David nega este fato.
Sabe-se que já há muito tempo a relação entre aluno e professor mudou muito para pior. Os efeitos da violência do mundo contemporâneo se infiltrou em todos os recantos, em todos os aspectos da vida social. O professor brasileiro não é mais aquela figura que se respeitava no passado.
A sociedade hoje, por sua vez, não tem ajudado muito a fim de que o convívio entre aluno e professor possa melhorar em harmonia, paz, companheirismo, respeito e acato à autoridade docente. Ao contrário, há pais que só dão pessoa às razões dos filhos, achando que o professor não tem mais as habilidade necessária sem lidar co seus alunos.
O que os pais devem fazer sempre é valorizar o trabalho do professor e incentivar os filhos a respeitá-los como se fossem quase substitutos dos pais durante o tempo na escola. Os pais devem dialogar com os filhos sobre o papel primacial do professor na formação dos alunos, não só intelectual mas também, moral, ética instilando nos filhos princípios sãos de cidadania,  de amor aos estudos, à escola, aos professores. Só por essas vias se consegue melhorar a harmonia entre o discípulo e o mestre.
Outros fatores há que pesar na explicação para este tipo de tragédia. Um deles me parece estar associado a jogos eletrônicos nos quais as crianças passam horas manipulando botões através dos quais o objetivo é “matar” personagens das imagens exibidas. Ora, banalizar esse tipo de ludismo implicando matanças eletrônicas nada de saudável pode oferecer a crianças que estão em desenvolvimento físico e psicológico, com a agravante de que, no cotidiano da vida brasileira, a mídia está aí diariamente mostrando doses maciças de violência em suas variadas formas.
Nos lares de famílias mal estruturadas, ou plenamente desestruturadas, a liberdade em excesso da exposição a imagens vivas de ações violentas ainda mais serve como forma realimentadora provocando mais efeitos deletérios e deformadores de uma vida mental e social sadia e de exemplos de comportamento ético tão necessários à formação de cidadãos comprometidos com o bem-estar seja na esfera individual, seja na esfera da sociabilidade, no respeito ao próximo e sobretudo na valorização da vida.
Ainda vejo que só na mudança estrutural da escola dirigida ao preparo dos valores voltados para a prática do bem e da boa convivência entre os alunos, e entre estes e os mestres, diretores e funcionários da escola se há de colher bons resultados visando à formação integral do individuo internalizando lições de bondade, de solidariedade, de respeito aos mais velhos e às regras disciplinares da instituição escolar.
A melhor pedagogia não pode dispensar o cumprimento dessas práticas de despertar no espírito do aluno  a consciência do viver pautada na auto-estima e no reconhecimento de que só agindo em favor da construção do bem ter-se-á uma sociedade mais equilibrada.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

É possível haver o Estado da Palestina

Cunha e Silva Filho


Se é verdade que, fora da região palestina e de Israel, os dois povos se entendem , sem conflitos nem sangue derrama, como são palestinos e judeus que moram em Nova Iorque ou em São Paulo, por que não seriam exeqüível a busca pela paz entre eles nas sua regiões precariamente demarcadas?
O pronunciamento do presidente Mahmous Abbas na ONU foi uma passo seguro e inteligente de um homem que, mesmo arrostando a oposição do grupo Hamas, procura uma abertura que deveria ter sido concretizada desde quando, em 1947, se criou o Estado de Israel após a Segunda Guerra Mundial. Não se pode duvidar das sérias intenções de Abbas em desejar que uma nova fase de paz para seu sofrido povo.
Se Yasser Arafat (1929-2004) a despeito de todos os esforços não o conseguiu, mesmo sendo uma figura carismática e desejosa de um país independente para os palestinos, cujos esforços de paz lhe valeram, em 1994, um Nobel de Paz, compartilhado com Shimon Peres e Yitzak Rabin(1922-1995), tenho esperança de que o discurso de Abbas reivindicando a condição de uma Estado livre e com fronteiras asseguradas pelos organismos mundiais, à frente a ONU, terá boa repercussão e haverá de conseguir seu objetivo. Os aplauso que obteve da 66ª Assembléia da ONU são fortes sinais de que é possível haver o Estado da Palestina.
Lamentavelmente, os EUA mais uma vez decepcionam as nações que partilham do mais do que justo pedido de Abbas. Sempre se alinhando, por motivos inconfessáveis e até diplomaticamente injustos, o veto norte-americano à pretensão de um Estado Palestino coloca a nação americana na contramão das práticas democráticas e mais acirra a animosidade das facções palestinas que votam desprezo aos governos americanos, e agora ao presidente Barack Obama com manifestações e slogans contra a pessoa de Obama, chamando-o também de criminoso. Obama, ainda neste aspecto, não se distingue dos seus antecessores cooptado que fica aos desígnios da política israelense.
Se de todo Mahmoud Abbas não lograr um assento na ONU, que pelo menos aos palestinos seja destinada a condição de “Estado Observador”. Não é o ideal, mas já um espaço de conquista
O que não pode continuar é a existência de um permanente estado beligerante entre palestinos e judeus que, aís sim, não levará a caminho algum da tão necessária paz. Hoje mesmo, 24 de setembro, houve a morte de um palestino por parte de militares judeus nas constantes desavenças pela reconquista dos territórios palestinos que foram tomados ilegalmente pelos judeus. A Faixa de Gaza, o geopolítica e economicamente controvertido território Cisjordânia, envolvendo ajuda financeira internacional, a parte de Jerusalém Oriental que caberia aos palestinos, as invasões de judeus em acampamentos de palestinos, os check-points que Israel estrategicamente coloca a fim de dificultar a entrada de palestinos no seu próprio território são alguns entre tantos outros constrangimentos impostos por Israel ao povo árabe
Se o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyhu, como em tantas vezes no passado sob outras lideranças, sinaliza para que primeiro os palestinos entrem em negociações com Israel, essa atitude me parece já gasta e esfarrapada, porquanto não levará a solução alguma que resulte no reconhecimento de um Estado palestino.
A meu ver, tal como se criou o Estado judeu em 1947, por decisão de governos sob a autoridade e o poder da ONU, só também pelo voto de aprovação dos membros efetivos deste organismo internacional será criado o esperado Estado palestino. Negociações de paz entre os dois povos serão inócuas, declaração de tréguas igualmente hão de concretizar a formação de um povo árabe independente e soberano.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Um poema de Emily Dickinson ( 1830-1886)

)


A bird came down the Walk

A bird came down the Walk-
He did not know I saw-
He bit an Angloworm in halves
And ate the fellow, raw,

And then he drank a Dew
From a convenient Grass --
And then hopped sidewise to the Wall
To let a Beetle passs --

He glanced with rapid eyes
That hurried all around-
They looked like frightened Beads, I thought -
He stirred his Velvet Head

Like one in danger, Cautious,
I offered him a Crumb
And he unrolled his feathers
And rowed him softer home ¬-

Than Oars divide the Ocean,
Too silver for a seam-
Or Butterflies, off Bank of Noon
Leap, plashless as they swim.

Pelo Caminho um pássaro desceu


Pelo Caminho um pássaro desceu
Nem suspeitou de que o vi -
Um Verme-Isca, em duas partes, mordendo
E devorando-o vivo
Uma gota de orvalho, depois, sorveu
De uma folha de relva útil –
Pulou, em seguida, para o Muro
A fim de a um Escaravelho passagem dar.

Rápidos olhares lançou
Os quais, no ambiente, se propagaram
Olhares que nem Contas assustadoras, pensei –
A Cabeça de Veludo movimentando.

Como alguém em perigo, Cauteloso,
Um miolho de pão lhe oferecendo.
Então, as penas se soltaram
E para casa remou mais suave
Do que os Remos o Oceano separando,
Prata em demasia para um sulco –
Ou Borboletas, distantes das Margens do Meio Dia
No espelho, silenciosas, deslizando pulam.

(Trad. de Cunha e Silva Filho)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Violência no trânsito

Cunha e Silva filho


As notícias vêm de toda a parte. São as vítimas fatais de um trânsito tresloucado que desrespeita continuamente todas as leis e portarias oficiais. Diante destas não se intimidam os infratores recalcitrantes. Ao contrário, até avançam mais nas suas ações delituosas de todos os tipos: dirigem bêbados, drogados, enfim, fazem as mais escabrosas atrocidades ao arrepio da lei, dando, assim, demonstrações de que o limite da lei é sua transgressão e absoluta indiferença pelos regulamentos do código de trânsito e por seu aprendizado nas auto-escolas. Seriam melhor definidos como vândalos do trânsito, criminosos soltos e prontos, a qualquer instante,a matar inocentes.
Os transgressores do trânsito continuam matando nas estradas, nas ruas, nas cidades e nos campos. Posto que conscientes de seus atos bárbaros na direção dos volantes, prosseguem na contramão da lei e da certeza da impunidade – talvez a maior responsável pelos altos índices de óbitos no trânsito desse imenso país.
Enquanto não aumentarem as penalidades de infrações, os motoristas, de todos os níveis sociais e culturais, não modificarão os seus hábitos violentos e desumanos. Não me surpreenderia que, entre esses desalmados, se encontram psicopatas e outros indivíduos psicologicamente despreparados para dirigirem veículos. Só exames rotineiros psicotécnicos não são suficientes para detectarem anomalias mentais nesses candidatos a motoristas.
O exemplo da cidade do Rio de Janeiro ilustraria bem esse estado anômalo e perigoso do trânsito do qual tudo se pode esperar em termos de desvios de conduta no volante. Vive-se um estado permanente de tensão por parte dos pedestres. Desrespeito pela faixas de parada dos veículos, avanços de sinais, altíssima velocidade, estacionamento em áreas proibidas, estacionamentos indevidos em calçadas impedindo os transeuntes de se locomoverem livremente e outras distorções ilegais são a imagem comum nesta cidade. O desrespeito se estende a outros veículos e formas de transportes: caminhões, motos e até bicicletas. É preciso haver regulamentação também para as bicicletas que fazem misérias no seu absoluto desrespeito aos transeuntes quando atravessam ruas ou mesmo nas calçadas. Causam, da mesma forma, acidentes, sobretudo às pessoas idosas. Creio que, na Índia, apesar daquela confusão de carros, animais e outras coisas, respeita-se mais as pessoas do que em nosso país.
Basta que o transeunte permaneça observando com cuidado o fluxo dos carros, numa avenida ou em ruas compridas, para constatar a extrema velocidade imprimida por motoristas insanos.
Há dois dias, uma jovem senhora estava empurrando o carrinho do filho de um ano, da escola para casa, numa das ruas do Méier, movimentado e adiantado bairro do subúrbio carioca, quando um automóvel, desgovernado, subiu a calçada e atropelou o bebê e a mãe. O bebê teve morte instantânea e a mãe está internada em hospital em estado grave. Sabe-se que o carro desgovernado era dirigido por uma mulher, uma policial civil. Ela alegou que dirigia em baixa velocidade, porém foi de repente atingida por outro carro em alta velocidade, que, chocando-se com o dela, fez este perder o controle e subir a calçada. Mais uma tragédia.
Este é apenas um exemplo entre milhares que ocorrem no país, o que indica ser gravíssima a realidade do trânsito no país.
Se as autoridades de trânsito não tomarem as medidas cabíveis e urgentes em relação ao problema, se as leis de trânsito não endurecerem para o lado dos motoristas, a sociedade brasileira estará sempre à mercê da marginalidade no trânsito.
Há pouco saiu uma lamentável notícia de que jovens adultos, bem postos na vida, inventaram uma moda de sentirem o nível máximo de adrenalina: simplesmente dirigirem, em altíssima velocidade, ou melhor, em velocidades só vistas nas grandes corridas de carros, diga-se 300 km /hora - imaginem! – em rodovias brasileiras. Isso é uma insensatez impensável, que deve ser de imediato inibida pelas autoridades competentes e esses motoristas devem ser enquadrados rigorosamente nos crimes de trânsito com perda de carteira e tudo. São potenciais criminosos e indivíduos estúpidos e perniciosos à sociedade.
Entretanto, tenho notícias de que o Poder Judiciário, em sua instância mais alta, está pretendendo modificar a penalidade do infrator de trânsito, passando os crimes de natureza dolosa para culposa. Ora, se tal acontecer, se me afigura um desrespeito absurdo contra o cidadão brasileiro vítima fatal da extrema violência no trânsito.
Só pode ser uma piada de péssimo gosto se uma decisão dessa espécie prevalecer e se efetivar.
O país está aumentando alarmantemente o número de veículos motorizados. Há carros em excesso nas ruas das grandes cidades e nas estradas e, por outro lado, as montadoras não acessam de colocar à venda milhares de novos carros que, pelo menos, duas consequências gerais nefastas terão: a) o crescimento desproporcional do número de carros; b) a elevação da poluição do gás carbônico (CO2), fonte criminosa da deterioração crescente do meio ambiente, da saúde da população e do aumento crescente e perigosos do efeito estufa.
O de que o país sempre precisou foi de estradas de ferro cortando este Brasil continental, melhorando o movimento de transportes de carga pesada transportando nossas riquezas e nossas importações, diminuindo, desta forma, os altos custos dos fretes hoje largamente dependentes do transporte rodoviário.
Imitemos os países que deram relevo ao desenvolvimento do transporte ferroviário, como os EUA e alguns países europeus, por exemplo.
O ex-presidente Juscelino Kubitscheck (1902-1976) e outros que o sucederam erraram neste aspecto, privilegiando abertura de rodovias e o incremento da indústria automobilística.. Com o passar do tempo, as rodovias brasileiras não acompanharam, em infraestrutura, o crescente aumento de veículos, nem se manteve adequadamente a conservação de nossas rodovias. É tempo de alterar em parte essa visão das quatro ou mais rodas que só faz enriquecer os ativos dos empresários das concessões - via privatização - encarregadas de cuidar de nossas rodovias, com seus altos pedágios e, muitas vezes, o fracasso de suas administrações neste setor.
Portanto, não se aplicaria mais o lema de campanha presidencial de Washington Luís (1869-1957) de 1920, quando afirmava: “Governar é abrir estradas”. O excesso de veículos concentrado nas estradas e nas grandes cidades brasileiras em parte responderia por mais um componente de nosso doentio e criminoso trânsito.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Um poema de Francis Jammes (1868-1938)

La présence de Dieu


Voilà ce qu’il faut redire
Malgré l’insulte ou ler ire.

Vous ne serez pas hereux
Si vous vivez loin de Dieu.

Trop longtemps ou a eu peur
De nommer notre Seigneur.

Je le sortirai de l’ombre,
Même seul, devant le nombre.

Car Il est toujours vivant
Et il vous parle à present.

Plus jeune que la jeunesse
Il noous noourrit à la messe.

Et voici à l’horizont
Une generation.

Elle sati où est la force,
Et elle fend son écorce.

Et elle éclate de fleurs
Et revient à vous, Seigneur!


A presence de Deus

Eis o que se deve reafirmar
A despeito do insulto e do riso.

Felizes não sereis
Se de Deus longe viveis.

Por longo tempo receio se teve
De o nome do Senhor declinar.

Das sombras tirá-Lo-ei,
Ainda que eu seja um só ante a multidão.

Visto que vivo sempre esteve
E agora vos fala.

Do que a juventude mais jovem
Ele, na missa, nosso alimento se torna.

No horizonte eis
Uma geração.

A energia bem sabe Ele onde está
Do fruto a casca rachando.

Arrebentando em flores,
A Vós retorna, Senhor!

(Trad. de Cunha e Silva Filho)
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domingo, 11 de setembro de 2011

WTC: dez anos depois

Cunha e Silva Filho


Eu estava vindo das minhas aulas.. Entrei em casa. A tevê estava ligada. De repente, surge na tela uma imagem que me deixou sem palavras. Fiquei calado, sem ação. O que via era algo que, à primeira vista, parecia ser um filme de aventuras, com ações violentas e chocantes tão comuns em filmes americanos.
Mas, qual nada. Logo ouço a voz do apresentador narrando o acontecimento pavoroso, inimaginável. Era um avião dirigindo-se a um arranha-céu e, o que é pior, indo chocar-se contra uma parte elevada do edifício. De imediato, bolas de fogo tomam conta daquela parte atingida e se espraiam abalando toda uma estrutura de ferro e de cimento. Logo depois, vem outro avião atingindo em cheio o outro arranha-céu. . Tudo, ali, no alto, parecia se esboroar em meio ao fogo, à fumaça preta. Quase ao mesmo tempo, em Washington, um outro avião atinge o Pentágono. Com isso, se completam três ataques aéreos terroristas contra os EUA.
O quadro final da imagem tétrica, além de todas as suas sequelas hediondas – vidas estraçalhadas, corpos queimados, corpos vivos e desesperados, saltando dos andares altos das chamadas Torres Gêmeas para o vazio do espaço em direção à morte, bombeiros, em seguida, enfrentando a morte para salvar vidas entre tantos outros detalhes, pessoas, ainda vivas, sãs, telefonando, por celulares, pela últimas vez, para seus entes querido. Era essa a imagem que se tinha praticamente ao vivo de Nova Iorque. Enfim, o clímax do crime: os dois edifícios desabam deixando no entorno que uma fumaça grossa de poeira invadisse lentamente as ruas próximas da capital do mundo.
No mesmo dia do ataque fatal contra as Torres Gêmeas, não sei se pelo rádio ou mesmo em notícias posteriores da tevê, comentava-se que um grupo de alunos de uma conhecida universidade particular, logo ao saberem das notícias do ataque terrorista, davam vivas aos responsáveis por esse crime inominável. Nenhuma vida de inocentes merece o aplauso de opositores de regimes em qualquer parte do mundo.
Hoje, os americanos homenageiam os mortos do WTC (World Trade Center). Tributo justo de uma nação. Por isso, mesmo, com toda a pompa que a data merece, os americanos recordam a memória dos que estavam nos dois prédios e perderam a vida e dos que, lutando para salvar vidas, perderam também as suas próprias vidas: os bombeiros, principalmente.
As feridas, com os tempo, cicatrizam em parte, porém fica o substrato de toda aquela tragédia, combinando ressentimentos e saudades.
A década passada me convida também à meditações sobre causas e consequências. Distanciados no tempo, posso agora falar com mais objetividade dos fatos acontecidos, tentar procurar as raízes dos atentados, separar o joio do trigo e adiantar algumas conclusões.
Os americanos deram enorme contribuição em defesa das causas da paz universal. Haja a vista, a sua participação decisiva na Segunda Guerra Mundial, se excetuarmos os crimes de Hirochima e Nagazaki. Entretanto, os governos americanos da últimas décadas têm uma parte considerável de culpa pelo que o povo americano está passando no que concerne ao terrorismo internacional contemporâneo.
As repetidas intervenções armadas dos EUA em países que não se alinharam aos ditames da sua hegemonia ( Cuba, Vietnam do Norte, países do Oriente Médio), culminando com as invasões do Iraque, do Afeganistão, para citar dois casos paradigmáticos, invasões o mais das vezes sem sentido e decididas manu militari sem consultas e aprovação do Conselho de Segurança da ONU e todos os acordos e tratados internacionais de organismos e instituições que lutam pela paz no mundo, pouco a pouco foram transformando a imagem dos EUA, i.e., de uma nação que se proclama democrática e, na práxis, se comporta com a força do seu poderio bélico e econômico, portanto, incompatível com a convivência harmoniosa entre as nações menos desenvolvidas e vulneráveis a invasões.
Por tudo isso, a nação americana perdeu prestígio e, o que é mais grave, passou a ser motivo de ódio xenófobo por parte dos humilhados e ofendidos. Não foram poucas as vezes que o mundo viu a bandeira americana sendo pisada, rasgada ou queimada em praça pública por países que colocaram o EUA entre os seus piores inimigos. Talvez uma das razões mais fundas do terrorismo seja proveniente dessa realidade permeada de ódios, de ressentimentos e de indignação contra os americanos. E seguramente essa aversão ao militarismo americano não se limita a países do Oriente, mas se estende a outras regiões do mundo, como a América do Sul, a América Central e outras partes da Planeta. A aversão aos governos americanos se nutre de antagonismos geopolíticos e econômicos. Os EUA, ao longo da História, são, em última análise, os principais responsáveis pela imagem ruim e demonizada que o grande pátria de Lincoln construiu contra si mesma.
Em meio aos agudos problemas econômicos e sociais enfrentados hoje pelos Estados Unidos, essa homenagem aos mortos da tragédia de 11 de Setembro de 2001 deve ser um momento oportuno para que os governos norte-americanos despertem para os seus desatinos belicosos e deem solução urgente através da retirada de forças de combate no Afeganistão.
Que as promessas de campanha do presidente Barack Obama sejam de fato cumpridas, retirando de imediato suas tropas daquela região, não repetindo os erros do seu antecessor, que tanto mal fez aos EUA com guerras desnecessárias causando perdas humanas tanto do contingente militar americano quanto de inocentes civis mortos no Iraque, no Afeganistão, na Guerra do Golfo.
Vejo, hoje na tevê, na abertura da cerimônia em honra aos mortos do WTC o paradoxal encontro de Obama e Bush filho.A figura de Bush filho, diante das câmeras, não combina bem com o perfil de Obama.
Não se constrói a paz, nem se combate o terrorismo trazendo à tona um dos piores exemplos de comportamento político diante dos princípios democráticos. A presença de Bush filho não faz sentido face à realidade da História. Os Estados Unidos ainda têm tempo de reavaliar seus erros e se redimir diante dos massacres de suas invasões em terras alheias. A guerra ao terrorismo se faz com os instrumentos da paz e de mudanças de política externa. A paz e reabilitação norte-americana só serão alcançadas se diálogo franco e aberto houver entre os Estados Unidos e os seus declarados inimigos.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O Brasil literário

Cunha e Silva Filho


Não estranhe, leitor, o título desta crônica. É mesmo assim abrangente. Verá por que o escolhi.
Foi pensando no quanto nós brasileiros somos inclinados às veleidades literárias. Este aspecto da nossa vida cultural merece, sim, um discussão não apenas com o intuito de aplaudir nossos compatriotas por esta sede de mergulhar no universo das letras, da produção literária, de mostrar nosso lado exuberantemente beletrista, o de desejar ser autor, ter obra publicada, divulgada, conhecida e, se possível, reconhecida pelo grand monde literário-brasílico. Há poetas e prosadores (me desculpe pelo anacronismo do termo, ó beletrista “revolucionário” e sofomaníaco que conheci em tempos passados!) pipocando por toda a parte.
Não quero que o leitor pense mal de mim, entendendo toda esta argumentação pelo lado meramente destrutivo, de ferir suscetibilidades lânguidas, modorrentas, plangentes. Longe de mim, o simples pensar por este prisma.
O país é vasto. As diferenças entre estados são grandes, assim também como os valores de cada terra. Cidades, capitais, rincões, regiões distantes, afundadas no desconhecimento dos mesmos irmãos brasileiros, esquecidas dos outros.
Somos ainda talvez o “arquipélago cultural” conforme a visão interpretativa formulada por Viana Moog (1906-1988), dividindo geograficamente a nossa literatura em sete núcleos: Amazônia, Nordeste, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (Ver Interpretação da literatura brasileira. Editora Antares Universitária, 1983 ). Existiria para aquele autor uma unidade literária nos núcleos regionais, ainda que não uma uniformidade.A unidade estaria presa a tipos de produção, clima e geografia semelhantes. Para ele, em todas esses núcleos poder-se-ia divisar uma marca de que a literatura ali produzida seja inequivocamente brasileira.
O Brasil literário se confunde, o mais das vezes, com o beletrismo, ou seja, a pior forma de se fazer literatura, que é a das igrejinhas, de compadrios, a mais perfeita imagem da subliteratura. Espalham-se as “academias de letras” por toda a parte como praga vicejando em campo fértil. Nada mais arcaico, nada mais longe do que se entende como o estudo das letras com objetivos sérios de desenvolver a literatura em nosso tempo pela pesquisa, alta cultura, desejo de mudanças, livres de ritualismos de sodalícios que se apeguem a práticas acadêmicas e a formalidades estéreis, discursos vazios, retórica de efeitos e malabarismos oratórios que não mais têm sentido algum para os novos tempos. Não há progresso nos estudos literários onde a mediação da produção ficcional, poética, dramatúrgica, crítica e ensaística seja feita pelo anacronismo de surradas práticas de beletrismo, de literatice e falta de talentos e vocações à atividade literária.
As Academias de Letras dignas desta denominação devem, se quiserem sobreviver culturalmente, livrar-se dos velhos modos solenes e pomposos de atuação. Devem, pois, modernizar-se, atualizar-se, sair dos nichos e enfrentar a vida trepidante lá fora, nas ruas, nas praças. A questão mais polêmica e fundamental que terão que enfrentar diz respeito à escolha de seus membros.Nenhum escrutínio vitorioso deve ser o resultado de submissão a subterrâneas ligações políticas, econômicas e de compadrio.
Seus requisitos básicos têm que passar pelo crivo da produção cultural do postulante, o nível de seu trabalho e o seu compromisso com a literatura, ou as ciência, ou as artes. Nada de fisiologismos, mal que acomete o seio da política nacional. Ser membro de uma Academia de Letras de respeito pressupõe que o ocupante de uma vaga seja alguém de reconhecido mereci mento, de notável saber, de grande amor aos estudos e à cultura no sentido mais lato da palavra.
Penso que as Academias de Letras devem existir na medida em que se tornem instituições culturais que tenham um missão a cumprir na sociedade civil, a de serem representativas do legado do passado, cultivando-o porém, com as forças criadoras da inteligência do presente, prestando um serviço inestimável ao país, no caso da Academia Brasileira de Letras, aos estados, no caso das Academias estaduais e em alguns municípios que se distinguiram historicamente como locais onde a alta cultura, o saber e a produção intelectual encontraram largo espaço entre a tradição e a modernidade.
No entanto, sou contra as academias fundadas sem nenhum lastro da tradição e sem nenhum compromisso com a real produção acadêmica. São instituições sem funcionalidade, sem objetivos claramente estabelecidos no âmbito da cultura, das ciências e das artes. Essas academias só servem aos anseios de veleidades intelectuais provincianas e, por sofrerem dos defeitos provincianos, tendem a ser elefantes brancos sem nenhuma razão de ser e, portanto, suscetíveis a cedo se anularem como instituições. O nosso país está inundado desse tipo de academia constituindo o exemplo menos indicado para a atividade fecunda no campo intelectual e um desserviço à autenticidade da literatura.

domingo, 4 de setembro de 2011

Um país e seus mortos


Cunha e Silva Filho


O mundo está cercado de objetos artísticos de alta ou altíssima qualidade. Digamos, por exemplo, a Arte que, se manifestando no teatro ou na ficção, dramaturgia, cinema, telenovelas e em outras formas de expressão, nos leva à catarse, ao choro, às lágrimas, a um sentimento verdadeiro da dor alheia, na práxis do nosso cotidiano insosso, a dor alheia, o sofrimento da perda inexorável de entes queridos, pouca ou quase nenhuma reação de perplexidade provoca nas pessoas estranhas. A dor alheia já não nos leva às lágrimas. É apenas uma constatação de uma realidade miserável e abandonada na anomia e indiferença das grandes cidades. Os mortos na Arte nos comovem, assim, muito mais do que na dura realidade dessa vida severina.
Há pouco, um jovem arquiteto, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em bairro elegante, dirigindo seu carro em direção à residência, quase ao chegar a esta, se vê abordado por dois facínoras usando motos. O jovem arquiteto não quis entregar o que lhe pediam, se o carro, se dinheiro, se o relógio, se o que não sei mais... O arquiteto reagiu aos assaltantes malditos mas levou a pior. Armados, um deles lhe deu um ou dois tiros e os dois patifes partiram para as profundezas do inferno terreno. O arquiteto, gravemente ferido, foi levado para um hospital. Antes teve duas paradas cardíacas. Ao chegar ao hospital, não suportou e veio a falecer.
É isso, leitor, o que está ocorrendo aqui no Rio de Janeiro e em outros lugares do país, sendo que, no Rio, a situação é gravíssima. A morte do arquiteto não passa de um quadro deplorável e metonímico de uma realidade que se alastra e se instaura num todo do tecido social do país. Morre-se à toa no Brasil.
Quem são os culpados? Eis uma questão intrincada e até hoje insolúvel. As autoridades policiais, ao que tudo indica, já se acostumaram a mortes por assassínios de inocentes. A família reclama, dá entrevista aos canais de televisão. O morto é sepultado e fica por isso mesmo. São crimes que atingem todas as classes sociais.
Já é tempo de que os órgãos de segurança pública despertem .para essa situação desastrosa da qual também as próprias autoridades policiais não estão imunes. O mal circunda por toda a parte. É preciso aumentar as blitz sobretudo abordando indivíduos -, não importa se jovens ou mais maduros -, e revistá-los com rigor. A imagem de motociclistas há bom tempo já se confunde com a de bandidos. As pessoas comuns, quando percebem que motos estão se aproximando delas, já sentem um certo mal-estar, supondo que ali vem mais um assaltante, mais um criminoso, mais um meliante. Nas periferias, da mesma sorte, a polícia deveria fazer abordagens criteriosas revistando pessoas, sobretudo jovens, que estejam dirigindo esses veículos. Nos morros, principalmente, a entrada e descida de motos deve ser constantemente vigiada pelo policiamento.
Além de estarem se associando à imagem de marginais, as motos são meios de transporte que em geral não respeitam sinais, andam a toda velocidade, pondo em risco a vida dos transeuntes. Deve haver urgentes providências no sentido de até diminuir a produção desse tipo de transporte, sobretudo nas grandes cidades. Deve haver todo rigor na concessão de carteiras de habilitação para motociclistas.
Se algumas dessas providências que acima sugeri não forem tomadas, além de outras advindas da experiência dos órgãos de transporte municipais, estaduais e federais, mais mortes aumentarão as estatísticas oficiais de crimes hediondos que se alastram pelas ruas e estradas das grandes cidades brasileiras, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo.
Não é possível que o país esteja continuamente sofrendo perdas irreparáveis de jovens que são covardemente assassinados hoje em dia. Não é possível que a sociedade civil fique de braços cruzados e não exija de nossos governantes medidas austeras de modo a reduzir ao máximo esses crimes covardes.
Grandes investimentos são necessários a serem injetados na formação integral, via educação, de nossas crianças a fim de que não se tornem jovens e adultos promíscuos, homicidas e indivíduos destituídos de qualquer dignidade e amor ao próximo. São monstros que aí estão soltos esfolando incautos e indefesos . Eles têm armas, nós, não. A raiz do mal está precisamente nesta desigualdade.
Por conseguinte, o combate ferrenho e aguerrido ao contrabando de armas nas fronteiras não pode sofrer solução de continuidade. O Brasil é um país a caminho de maior prosperidade. Possui suas Forças Armadas, competentemente treinadas para servir em várias causas e em vários frentes em benefício da paz de seu povo.Essa contribuição das Forças Armadas no setor social é um dos mais importantes trunfos de que dispomos no combate contra a criminalidade em larga escala, no combate ao tráfico de drogas e principalmente na defesa das vidas de nossos cidadãos, de nossas famílias. Se a polícia estadual não está dando conta da seguranças dos brasileiros, as Forças Armadas, sobretudo o Exército, deve dar a sua contribuição indispensável na luta contra o crime.
Que a data festiva da nossa Independência, que completa mais um ano no próximo dia 7, seja a ocasião mais do que oportuna para que toda a estrutura do Estado Brasileiro seja alertada e desenvolva ações efetivas e drásticas contra criminosos que continuamente têm ceifado as vidas de tantos jovens e adultos saudáveis e promissores. Em luto, a família brasileira.

sábado, 3 de setembro de 2011

Um poema de John Masefield (1878-1967)

Um poema de John Masefield (1878-1967) )



Beauty

I have seen dawn and sunset on moors and windy hills
Coming is solemn beauty like slow old tunes of Spain:

I have seen the lady April bringing the daffodils,
Bringing the springing grass and the soft warm April rain.

I have heard the song of the blossoms and the old chant of the sea,

And seen strange lands from under the arched white sails of ships;

But the loveliest things of beauty God ever has showed to me,

Are her voice, and her hair, and eyes, and the dear red curve of her lips.


A beleza

Vi o amanhecer e o pôr-do-sol nos charcos e nas colinas tempestuosas

Manifestando-se em solene beleza semelhante às velhas e lentas canções espanholas:

Vi a dama de abril surgindo com os narcisos em flor,

Com o germinar da relva e o suave calor das chuvas de abril.

Ouvi a canção das flores do velho canto do mar.

Vi ,ainda, estranhas terras sob as arqueadas e brancas velas das embarcações;

Contudo, as coisas mais fascinantes da beleza que, até hoje, Deus ver me permitiu

São a voz dela, o cabelo, os olhos e, da sua boca, a delicada curva vermelha.



(Trad. de Cunha e Silva Filho)




quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Garimpando no sebo e outras ponderações



Cunha e Silva Filho



Não sou leitor compulsivo, mas, dentro do meu ritmo, procuro, ainda que tardiamente, dar conta de algumas leituras fundamentais. O importante é o preparo, com critério seletivo. A leitura, uma atividade intelectual in process, ou aproveitando a quase sutileza de quem disse que nunca se sabe ao certo quando acabamos a leitura e um Guimarães Rosa (1908-1967) ou de um Clarice Lispector (1920-1977) São escritores múltiplos, formuladores de enigmas.
Porém, não é minha intenção aqui nessa conversa analisar aqueles dois ficcionistas. Deixarei para o espaço do ensaio. Quero-lhe falar, leitor – longe de mim pluralizar este termo – teria que brigar com os leitores de Machado de Assis.O que é pior, por cima de tudo, não sou ficcionista – hélas! – mas o que hei de fazer se os deuses da prosa não me bafejaram com o talento dos que têm criado, bem ou mal, mundos de criaturas “de papel”?
Estive, hoje, no Centro do Rio, e para não quebrar a regra, deu um pulinho na velha São José, um dos mais antigos sebos cariocas. Só o proprietário, o Germano, tem sessenta anos de atividade nesse ramo de venda de livros.
Desta vez, comprei muito pouco, pouquíssimo.A safra não estava boa no terreno das letras. No velho sebo da São José já houve dias gloriosos, com um oferta de fazer inveja a qualquer bibliófilo ou bookworm. “Garimpei” aqui, “garimpei” ali, e dei de cara com dois autores, antigos tanto quanto a São José e o seu acervo: um velho livro que há anos queria comprar, do filólogo Silveira Bueno, Manual de califasia, califonia, calirritmia e arte de dizer ( 4.ed. São Paulo: Edição Saraiva, 1952) O outro, As fontes da criação literária, de Carmelo M. Bonet. 1 ed. Tradução de Antonio G. Gonçalves, (São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1970). Óbvio, que a São José também vende livros novos, mas a sua especialidade é o sebo que, por sua vez, torna-se o ganha-pão do livreiro.
Por falar em livro usado, o Germano lamentou que as vendas estão em baixa. A coisa está preta. Já fecharam sebos conhecidos no Centro do Rio. Não, só sebo, uma livraria i importante como a Martins Fontes, que também é editora de grande porte, fechou seu endereço na principal avenida do Rio, a famosa Avenida Rio Branco. Mau sinal para o comércio dos livros. Essa livraria mudou-se para a Zona Sul carioca. Antigamente, entrar na seção de livros estrangeiros da Martins Fontes era um grande prazer: o tratamento dado ao cliente era nota dez. O nível de atendimento foi caindo, caindo... até chegar àquele desfecho amargo. Não sei não, contudo prevejo que há o dedo aí de outros modos de vender livros, cujo principal responsável seja talvez a Internet.
Não culpemos só a Internet. Pode estar havendo uma decadência de poder aquisitivo da população. O livro é produto caro, mesmo o do sebo. Há também a concorrência forte de livrarias online, brasileiras e estrangeiras. Com vendas remetidas pelos Correios, o cliente, um pouco acomodado, prefere fazer a encomenda via Internet.
Um outro agravante, a meu ver, seria um certo desinteresse geral por obras antigas (dirá melhor estudos antigos) em determinadas áreas do conhecimento humano. Vejamos no terreno dos estudos lingüísticos, filológicos. Basta dizer que, numa recente conferência, a que assisti na Academia Niteroiense de Letras o filólogo Maximiano de Carvalho e Silva, professor emérito de língua portuguesa da Universidade Federal Fluminense, a certa altura de sua exposição acerca de aspectos culturais de Niterói, sobretudo a constituição dos cursos de letras e seus fundadores, mencionou o triste fato de que alunos (e bem provavelmente alguns professores universitários, diria eu) não dão tanta importância a alguns teóricos de um passado não tão remoto assim, tais como os já falecidos Said Ali, o português Herculano de Carvalho, Serafim da Silva Netto, Sílvio Elia, (vai ver até que venham a incluir o grande linguísta Mattoso Câmara Jr. e outros autores tidos por eles como desatualizados para os estudos linguísticos de hoje). Ora, isso não passa de um absurdo e de falta de alta visão diacrônica da linguística e da filologia numa época, a dos dias que correm, em que o que mais importa é o imediatismo, a sincronia de um saber afundado, algumas vezes, na superficialidade do “primado do instante”, para usar, mais uma vez, o título de um artigo meu escrito há um bom tempo.
Se o aluno de letras hoje persistir em votar sentimento de indiferença pela filologia e pela história das teorias linguísticas estará construindo castelos de areia O conhecimento filológico e o estudo das humanidades clássicas nunca serão matéria morta, mas sim matéria arqueológica viva que deve ser dominada e conhecida pelas gerações atuais. Sem os estudos helênicos e latinos estará em perigo toda uma vasta cultura erudita que deverá ser cultivada por jovens estudiosos do presente. Imitemos o que seja bom neste aspecto os países adiantados da Europa e mesmo dos Estados Unidos e de certos países das outras Américas.
Enquanto isso, Germano se queixa e com razão. O custo do aluguel de espaço para um a livraria no Centro do Rio é muito caro e a tendência é encarecer mais cm as modificações que essa parte da cidade vai sofrer. Falam da construção de shopping centers. Os olhos dos senhorios vão crescendo. Business is business, friends apart! Não há amizades ou concessões de descontos quando o negócio é aluguel.
Saí da livraria um pouco triste com o que ouvi sobre a situação dos sebos e da vida do livro em geral, aí incluindo alunos, professores, pobreza de ideias, escolas públicas de baixa qualidade, desamor às grandes obras e autores e um certo enfado de estar vivendo no meio de tudo isso. Ainda bem que a 15ª Bienal do Livro no Rio de Janeiro está chegando. Aproveitemos para refletir sobre tudo isso e.... a comprar e ler os livros com o respeito que merecem. Que me perdoem a casmurrice!