Cunha e Silva Filho
Os primeiros contatos que tive com a nação japonesa têm uma ideia muito ligada a alguns contos japoneses que há muito tempo li de uma antologia traduzida: eram histórias fascinantes, histórias que, se mal pudesse comparar, tinham muito de suaves mistérios, de brilhos, de ações encantatórias, próprias dos mistérios orientais, sobretudo de mistérios interligados às mulheres nipônicas, aos seus amores, às vezes tristes, à vezes, delicadamente alegres. Eram, em geral, histórias comoventes, que me prendiam profundamente a atenção e nelas embarcava como leitor cativo.
Um outro contato foi através da leitura, já adulto, de uma pequena tese de meu pai para professor catedrático de História do Brasil da Escola Normal Antonino Freire. A tese tem por título A odisséia do cativeiro no Brasil (Teresina: Imprensa Oficial, 1952). Quase ao final desse pequeno e preciso e claro ensaio, mas importante do ponto de vista dos temas discutidos, há uma exposição que ele faz do espírito de tenacidade, de arrojo e determinação desse povo, cuja inteligência levou-o a uma sobranceira posição como terceira maior potência mundial.
E repare-se que, segundo bem assinala Cunha e Silva (1905-1991), o Japão, há oitenta anos da data da escrita da tese, era um país atrasadíssimo. Nas palavras daquele autor: “O Japão era uma nação quase bárbara” ( op. cit. p. 59). O pais era um mundo isolado da civilização ocidental. Só com a abertura dos seus portos ao mundo adiantado, e com o desenvolvimento de um sistema de ensino “popular” eficaz e sério, conseguiu o país soerguer-se, cinquenta anos mais tarde, a uma patamar de grande potência.
Isso é mais do que admirável porquanto os japoneses sofreram enormemente na Segunda Guerra Mundial, a despeito de se aliarem, constituindo as potências do Eixo, ao nazifascismo da Itália e da Alemanha, e ainda foram vítimas de duas desnecessárias e lamentáveis tragédias praticadas pelo então governo norte-americano: Hiroshima e Nagazaki – dois marcos de extrema violência a que as guerras podem levar as nações envolvidas, de resto, duas indeléveis nódoas praticadas , não pelo povo norte-americano, que é nobre e ousado, mas por seus dirigentes de plantão.
Um terceiro contato mais de perto que tive com o povo japonês foi quando trabalhava como professor de inglês in–company de uma famosa empresa japonesa. Fizemos boa amizade. O jovem aluno era atento, sincero, persistente e honesto. Nunca mais nos vimos, porém dele guardei boa e forte impressão de firmeza de caráter. É pensando em tudo isso que me volto para esta espécie de holocausto da Natureza contra a nação japonesa. O Japão não merece pelo que está passando. Um país que atingiu o nível de que desfruta atualmente não poderia ter sofrido, em tão pouco tempo, tanta destruição em seu solo, e sobretudo em astronômica perda de vidas ocorridas com tanta violência das forças naturais.
Nação de povo sério, educado, honesto, persistente, amigo do trabalho e do progresso, já tendo conquistado um lugar expressivo no concerto dos povos civilizados, o Japão precisa da ajuda e compreensão do mundo inteiro.
Seu luto por quase oito mil mortos e dezenas de feridos e desaparecidos com a recente invasão do assassino tsnunami e do grande terremoto atingindo quase o pico na escala Richter, sofrendo, ademais, do funesto desastre de sua usina nuclear de Fukushima, uma cidade japonesa, põe em alto risco mais vidas humanas sob a ameaça da radiação que, se não for contida, poderá se espalhar por vastas extensões do país, contaminando tudo, a começar da biodiversidade, da produção de alimentos, da água potável, enfim, da energia elétrica para as suas indústrias e fábricas. Não há como ficar calado diante de tanta dor, sofrimento, vidas perdidas, prejuízos econômicos incalculáveis ao país. Uma nação assim fica fragilizada, quase perdendo o rumo e, se não o perde, é porque o nobre e destemido povo japonês sabe o que sejam padecimentos, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial.
Tenho imensa certeza de que o país há de encontrar novas formas de recuperar-se de todos esses males de que foi vítima, e vítima inocente, diria quase, porque a Natureza, como o mar, semelha, em circunstância algo parecida, aquela imagem soturna e indiferente – por isso profundamente triste -, que presenciamos na leitura do romance Moby Dick, de Melville. Contra a fúria assassina dos acts of God pouco se pode fazer. Nos resta, agora, o consolo das preces dos crentes de todas as religiões. Amém!
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