sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Democracia pela metade

Cunha e Silva Filho




Sempre me agridem a visão, em qualquer parte do Planeta, em todo tipo de sistema de governo, e principalmente de governos, no Ocidente ou Oriente, os excessos de violência praticadas pelos sistemas de repressão do Estado que, embora sendo uma prerrogativa ( não para a prátca de brutalidades e atos de crueldade) de governantes estaduais ou municipais, se aproveitam da fraqueza dos povos nas eventuais e conhecidas manifestações de protestos contra uma causa ou um estado social em que a população se vê lesada ou explorada.
Sinto, nessas situações-limite, o quanto são uniformes, iguais e universais (só mudam as línguas dos Estado repressores) os usos da força das armas contra o povo desarmado. Em São Paulo, ontem cerca de 400 manifestantes, na maior parte, estudantes se confrontaram com guardas municipais, logo associadas à polícia de São Paulo, ambas, em fúria, contra jovens estudantes que se rebelavam contra aumento abusivo de passagens de ônibus.
Nessas ocasiões de conflitos, os ânimos se acirram e jovens, que estão numa fase de imaturidade e, portanto, muito inclinada à extravasar sua indignação e descontentamento contra abusos do poder público, já que partem deste as determinações de aumentos de tarifas diversas que irão beneficiar principalmente o setor privado (no caso o transporte) e, indiretamente, o público com o aumento de arrecadação, iniciam as provocações verbais e, daí para outras ações ao seu alcance, como paus, pedras, ou mesmo utilizam o próprio corpo em direção à forças de segurança. Estas,, naturalmente, partem para o revide e saem atropelando a todos e tudo, lançando mão de gases lacrimogêneo, balas de borracha, cassetetes, socos, pontapés e, muitas vezes, até o recurso de armas de fogo, dependendo da nível do confronto alcançado. Neste ponto é que está o perigo porque , em geral, às forças policiais faltam equilíbrio e preparo técnico para lidar com situações que nem chegam a extremos. São homens mal selecionados, mal treinados, segundo temos notícias de inúmeros flagrantes de policias envolvidos com bandidos pelo país afora. A polícia digna é aquela cuja performance se impõe pela retidão de caráter, pelo espírito de solidariedade e de respeito ao cidadão de todas as classes sociais. Obviamente, existem exemplos de bons e excelentes profissionais militares, assim como de guardas municipais prestativos e cuidadosos com a população.
Uma boa e rigorosa seleção de bons profissionais nas áreas de segurança é uma prioridade dos governos e das prefeituras. Indivíduos desequilibrados que trabalhem em órgãos de segurança devem ser alijados das corporações. Proporcionar-lhes, além do treinamento tático-militar, uma boa base de formação ética, conhecimento razoável de leis e de comportamento social direcionados para compreender o que seja o respeito à cidadania me parece serem vias corretas para aprimorar as forças de segurança em nosso país.
Uma força de repressão pública só pode ser respeitada quando se constitui de um organismo atuante baseado mais na estratégia para evitar o agravamento dos conflitos. Uma forma policial que não respeita os direitos da cidadania, ainda mesmo que esta seja composta de jovens, não tem condições, do ângulo de repressão, para solucionar impasses que poderiam ser solucionados com acordos ou pelo diálogo. A repressão desorientada pode trazer sérias consequências, inclusive lesões profundas desnecessárias, inclusive vítimas fatais.
Na manifestação ocorrida ontem na capital paulista, houve excessos e abusos por parte dos militares que não respeitaram nem mesmo um representante do poder legislativo municipal, ainda que o vereador tenha exibido sua identificação a policiais. O parlamentar, um senhor idoso, foi agredido com borrifos de gás pimenta, ato de covardia que, neste caso, pode até prejudicar a vista do vereador que só estava tentando apaziguar a situação mostrando as razões que originaram a manifestação e criticando a violência contra os manifestantes.
Jovens, assim, foram espancados brutalmente pelos militares, numa afronta aos direitos humanos e universais. Governos que compactuam com esses atos de selvageria e de abuso de poder não são democráticos, mas de fachada.

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