A cruz de Cristo e o terremoto
Cunha e Silva Filho
Há algo quase inexplicável que presenciei no recente terremoto em Porto Príncipe.Em meio a tantos escombros, perdas humanas - as mais deploráveis -, perdas materiais, não escapando até as construções mais sólidas, como a sede do governo federal, a cidade desolada, nos vários ângulos das câmeras dos repórteres, de repente, aponta para algo que nos chama a atenção: no desabamento de uma igreja local, tudo veio por terra, esfarelando-se, mas um objeto escapou à fúria do sismo: uma cruz de Cristo, que permaneceu intacta, solitária, símbolo verdadeiro da resistência divina no meio da total desolação. A cruz ali sinalizava para uma
Certa esperança de que nem tudo se perdia, sobretudo a força da esperança e da resistência de um povo profundamente sofrido nos seus objetivos de vida .
A lição da cruz de Cristo, em sua imensa solidão, não é um sinal de fracasso da luta da humanidade para um caminho mais seguro. Sua lição resiste às forças da Natureza, aponta para um recomeço, nunca para a desistência. O país não pode ser riscado porque ali houve um cataclismo, um desastre natural nas acomodações das camadas fundas do solo. É preciso haver perseverança, paciência, abnegação e sobretudo amor às pessoas que estão sofrendo enormemente.
A cruz de Cristo bem pode ficar na mesma posição quando ali for reconstruída a mesma igreja, com o mesmo espírito de cristandade. Oxalá que, dentro de algum tempo, pessoas que sobreviveram ao desastre de agora possam ali rezar uma missa reunindo não só os cidadãos do país,mas todos os povos que, esquecendo algumas divergências político-ideológicas, se uniram para dar apoio material e moral aos sobreviventes. Vejo ações desse tipo como modelos que devem ser imitados nas relações entre os povos ainda que estes sejam separados por religiões diferentes.
O símbolo da Cruz vai servir como instrumento da passagem das rivalidades para a paz e união dos haitianos. Que a cruz de Cristo possa ser um elo constante na ação reconstrutora da capital haitiana.
Daqui desta coluna me congratulo com as forças de paz da ONU, com os abnegados militares das diferentes nacionalidades que receberam essa missão de trabalhar para a organização política, social, econômica e cultural do Haiti. Me congratulo também com os chefes de governos das nações envolvidas na reconstrução deste país e sobretudo me regozijo com o afanoso e beneditino trabalho da Cruz Vermelha Internacional, dos Médicos Sem Fronteiras, das representações diplomáticas ali baseadas.
A cruz de Cristo estará pairando acima de todos os obstáculos que com certeza se defrontarão todos esses segmentos humanos que ali estão a serviço da humanidade e da paz. Daqui a algum tempo, ainda que custe muito tempo a cruz de Cristo estará novamente abençoando todos os que, dentro e fora de sua igreja, procuram a comunhão entre os povos.
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