Cunha E
Silva Filho
Certas datas de aniversário são importantes
como o primeiro ano aniversario, ou a
primeira das primaveras, segundo se dizia outrora, a data dos quinze anos,
sobretudo das mocinhas que iam debutar em
engalanadas festas familiares, dos cinquenta, dos sessenta. Paro aqui porque ainda espero
as outras relativas e indeterminadas
etapas,
Completo 60 anos (estou falando do presente do tempo da escrita
do passado, não confundam com a leitura do presente, do agora, do hoje, queridos leitores; Era um sábado
porém o dia certo, 7 de dezembro caíra em dia da semana. Todavia, o que
realmente vale, leitores, é a
intenção, o valor simbólico demarcado.
Ou
seguir um conselho de minha esposa. Se
cheguei a esta idade deve ter sido por vontade divina, Descobriram, ademais,
nesta nova fase de vida que a Arte,
sem o viver, é incompleta. Já o disseram alguns autores brasileiros ou estrangeiros sobre a relação entre Arte e Vida. Vou, poi,
completar a Arte com o viver e viver com
alegria, emoção, plenitude, dignidade.
Meu velho e saudoso pai, Cunha e Silva (1905-1990), aos sessenta anos, se tornou poeta não obstante nele a poesia tivesse, segundo ele, brotado das “amarguras da vida.” Não vou me
tornar poeta com certeza. Vou,
porém, continuar meus estudos literários aliando o prazer
do texto ao da análise e do julgamento estético,
No muno o que faz sentido poético, ficcional
ou dramático é o risco constante do silêncio da letra
diante da possibilidade de não alcançar
a construção de uma nova obra da
criação artística, cujo ponto final só se daria com a nossa passagem do domínio terreno à dimensão
do espírito. Claro que sentimos o fluir dos dias e dos anos,
Entretanto, a temporalidade é pejada de subjetividade.
Eis por que, no
nosso particular mundo interior, não
nos percebemos, particularmente na esfera
da afetividade, do sentimento do amor,
por exemplo, numa idade existencialmente
definida, demarcada, porque o
sentimento do amor ou da paixão, como que obnubila, por momentos ou fases
de vida avançada, o fato cronológico
da idade. Poder-se-ia afirmar que a nossa velhice está nos outros e não em nós, vítimas que com
frequência somos dos rótulos, das
discriminações, notadamente entre os mais novos.
Uma vez,
a minha mãe, uma mulher bonita, me
falou que não sentia idosa,
sentia-se sempre plenamente remoçada.
Meu pai, por sinal, também
nunca deixou escapar qualquer resquício de sentimento
negativo com a vida de idoso, mesmo chegado
aos oitenta anos. Por que essa atitude tão otimista e tão edificante? Porque ela amava a vida,
tinha esperança,
Gilberto Freyre (1900-1987), notável
sociólogo brasileiro, certa vez, não me
lembro bem se em revista ou entrevista,
ou outro veículo de comunicação, a
ideia – não sei ao certo se era concepção
dele - de um tempo triádico,
tempo que para eles somaria o passado, o presente e o futuro, uma espécie de
fusão de temporalidades, na qual
a sensação resultante seria a de um eterno presente
que eu interpretaria como sendo
uma forma de não nos apegarmos
tão-somente ao passado e de não nos preocuparmos apenas com as
apreensões do futuro. Um viver
sem as maras rígidas entre passado, presente e futuro, um presente como se fora um todo temporalmente
levando em conta.
Num texto límpido e fascinante do
psiquiatra Augusto Cury, num abertura a um capítulo de seu livro Pais brilhantes Professores fascinantes, o autor apresenta o seguinte pensamento: “Se
o tempo envelheceu o seu corpo mas não envelheceu a sua emoção, você será sempre feliz”
Esta emoção não
quero perder porquanto não entendo a vida sem a emoção, não entendo a vida sem o
choro, as lágrimas vertidas, a
sensibilidade, o sentimento da saudade, daquela
anoranza e das outras duas
assinaladas pelo ensaísta galego Ramón Piñeiro López estudadas no ensaio Pra unha
filosofia da saudade, da obra coletiva A saudade (Reconquista, 11 Viggo, Galáxia, 1963 p.11-39): a nostalgia
e a arela,
Estas formas de saudades podem se
encontrar nos antigos poetas galegos – berço da saudade, consoante alguns
estudiosos, no sentimento da saudade
portuguesa, no sentimento do amor em toda
a sua variabilidade no campo das
afetividades, no sentimento da amizade
Isso não é pieguismo ou sentimentalismo
ultrapassado, porém demonstração
inequívoca de que alguém se toca diante de fatos e acontecimentos que nos fazem vibrar de alegria, chorar de emoção
ou chorar pela dor alheia. Por isso, as duas grandes principais formas do teatro, a arte da comédia e a arte da tragédia têm seus fundamentos
derivados do riso, do ridículo e da catarse (do grego: purgação purificação),
conceito formulado por Aristóteles na Arte poética (IV século a.
C.) que lida com os efeitos da culpa e
da angústia dos sentimentos e paixões humanos diante de acontecimentos trágicos da
peça teatral na qual a queda do protagonista desperta, junto aos espectadores, reações de sentimentos de
comiseração e medo ante a cena
apresentada.
Reunindo
há 13 anos aqueles bons e fiéis amigos
no playground de meu prédio, desejo
aqui lhes agradecer pela presença de
cada um e pelo carinho das
amizades que consegui estreitar
pelo tempo afora e circunstâncias diversas. Espero que se sintam
à vontade como diriam os ingleses.
Obrigado a todos em meu nome e de minha família. Tenho dito.
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