quinta-feira, 19 de setembro de 2019

HÁ 13 ANOS: 60 ANOS





                                     Cunha E Silva Filho

         Certas datas de aniversário são importantes como  o primeiro ano aniversario, ou a primeira das primaveras, segundo se dizia outrora, a data dos quinze anos, sobretudo das mocinhas que iam debutar em  engalanadas   festas  familiares, dos cinquenta,  dos sessenta. Paro aqui porque ainda espero as outras relativas e indeterminadas  etapas,  
        Completo  60  anos (estou falando do presente do tempo  da escrita do passado,  não confundam com a leitura do presente, do agora, do hoje,  queridos leitores;  Era um sábado  porém  o dia certo,  7 de dezembro caíra em dia  da semana. Todavia,  o que  realmente vale, leitores,  é a intenção, o valor simbólico demarcado.
       Ou seguir  um conselho de minha esposa. Se cheguei a esta idade deve ter sido por vontade divina, Descobriram,  ademais,   nesta nova fase de vida que a Arte,  sem o viver,  é incompleta.  Já o disseram alguns autores brasileiros  ou estrangeiros   sobre a relação entre Arte e Vida. Vou, poi, completar a Arte com o viver e viver  com alegria,  emoção, plenitude, dignidade.
     Meu velho e saudoso   pai, Cunha e Silva (1905-1990),  aos sessenta anos, se tornou  poeta não obstante nele a poesia tivesse,  segundo ele,    brotado das “amarguras da vida.” Não vou me tornar  poeta com certeza. Vou, porém,  continuar  meus estudos literários aliando  o prazer  do texto ao da análise e do julgamento estético,
      No muno o que faz sentido poético, ficcional ou  dramático  é o risco constante do silêncio da letra diante da  possibilidade de não alcançar a construção de  uma nova    obra da    criação  artística, cujo  ponto final só  se daria  com a nossa passagem do domínio terreno  à dimensão  do espírito. Claro que sentimos o fluir dos dias e dos anos, Entretanto,  a temporalidade  é pejada de subjetividade. 
   Eis por que, no nosso  particular mundo interior, não nos  percebemos,  particularmente  na esfera  da afetividade,  do sentimento do  amor,  por exemplo, numa idade existencialmente  definida, demarcada,  porque o sentimento  do amor ou da paixão,  como que obnubila,   por momentos ou  fases  de vida  avançada, o fato  cronológico  da idade. Poder-se-ia afirmar que a nossa velhice está  nos outros e não em nós, vítimas que com frequência somos  dos rótulos, das discriminações, notadamente entre os mais novos.  
      Uma vez,  a minha mãe, uma mulher  bonita, me falou que não sentia  idosa, sentia-se  sempre plenamente remoçada. Meu  pai, por sinal,  também  nunca deixou  escapar   qualquer resquício de sentimento negativo  com a vida  de idoso, mesmo  chegado  aos oitenta anos. Por que essa atitude tão otimista   e tão edificante? Porque ela  amava a vida,  tinha  esperança,
     Gilberto Freyre (1900-1987), notável sociólogo brasileiro,  certa vez, não me lembro bem se em revista  ou entrevista,  ou  outro veículo de comunicação, a ideia – não sei  ao certo se era  concepção dele -  de um tempo  triádico, tempo que para eles somaria o passado, o presente e o futuro, uma espécie de fusão  de temporalidades,  na qual  a sensação resultante seria a de um eterno  presente que eu interpretaria  como  sendo  uma forma de não nos apegarmos  tão-somente ao passado e de não nos preocuparmos  apenas com as  apreensões   do futuro. Um viver sem as maras rígidas entre passado, presente e futuro, um  presente  como se fora um todo  temporalmente  levando em conta.
        Num texto límpido e fascinante do psiquiatra Augusto Cury, num abertura a um capítulo de seu livro Pais brilhantes Professores  fascinantes,  o autor apresenta o seguinte pensamento: “Se o tempo envelheceu o seu corpo mas não  envelheceu a sua emoção,  você será sempre feliz”
        Esta emoção  não  quero perder porquanto não entendo a vida  sem a emoção, não entendo a vida sem o choro,  as lágrimas vertidas, a sensibilidade, o sentimento da saudade, daquela  anoranza e das outras duas assinaladas pelo ensaísta galego Ramón Piñeiro López estudadas no  ensaio Pra  unha  filosofia da saudade, da obra coletiva A saudade (Reconquista, 11 Viggo, Galáxia, 1963 p.11-39):  a nostalgia e a arela,     
       Estas formas de saudades podem se encontrar  nos   antigos poetas   galegos – berço da saudade, consoante alguns estudiosos,  no sentimento da saudade portuguesa,   no sentimento do amor em toda a sua variabilidade no campo  das afetividades,  no sentimento   da amizade
      Isso não é pieguismo ou sentimentalismo ultrapassado, porém demonstração  inequívoca de que alguém se toca diante de fatos e acontecimentos  que nos fazem vibrar de alegria, chorar de emoção ou chorar  pela dor  alheia. Por isso, as duas grandes principais  formas do teatro, a arte da comédia e  a arte da tragédia têm seus fundamentos derivados do riso, do ridículo e da catarse  (do grego: purgação  purificação),  conceito formulado por Aristóteles na Arte  poética (IV século a. C.) que lida com  os efeitos da culpa e da angústia dos  sentimentos e paixões  humanos diante de acontecimentos trágicos da peça teatral na qual a queda do protagonista desperta, junto  aos espectadores, reações de sentimentos de comiseração e medo ante a cena  apresentada.      
     Reunindo há  13 anos aqueles bons e fiéis amigos no playground de meu prédio, desejo aqui  lhes agradecer pela presença de cada um e pelo carinho   das amizades  que consegui  estreitar  pelo tempo afora  e circunstâncias  diversas.  Espero que se  sintam  à vontade como diriam  os ingleses. Obrigado a todos em meu nome e de minha família. Tenho dito. 

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