CUNHA E SILVA FILHO
Por amor de Deus, seu alcaide Crivella, não deixe o Rio morrer! Seria a desgraça final do país, maior ainda do que todas as desgraças reunidas ao um só tempo pelas quais a nação está passando pelo menos há uns quinze nos setores da política, da violência crescente e crônica, da saúde sem rumo, do desemprego resistente, dos transportes e, agora, da educação pública sem perspectivas.
Ora,
senhor alcaide, veja o que tem
ocorrido no Rio: algumas desgraças
causadas por chuvas fortes e
incomuns, mas também motivadas
pela ausência de
fiscalização dos serviços públicos, culminando, agora, com o
desabamento da cobertura do Túnel Rafael
Mascarenhas quando cinco placas de concreto caíram na pista
sentido Barra.
Quase
aconteceu outra tragédia onde
poderiam morrer muitas pessoas dentro de
um ônibus que passava na hora em que se soltaram as placas do teto do túnel. Foi por
milagre de São Sebastião que mais uma tragédia não se concretizou. O Rio precisa ser benzido, ou
até mesmo exorcizado, diga-se de passagem. A cidade de São Sebastião sofre na carne por esses infortúnios todos.
E não devemos em hipótese alguma
culpar só a Mãe-Natureza por infelicidades que possam
ocorrer aos cariocas. Culpados foram, sim, sucessivos prefeitos inoperantes e
lenientes.
O atual prefeito, que deixa muito a desejar, não me parece ter cobrado dos órgãos municipais
incumbidos de supervisionar o
estado precário de partes da infraestrura da cidade. Em São Paulo, me parece,
está havendo também sinais de edificações públicas
exibindo rachaduras e má conservação, sobretudo em viadutos.
Esses defeitos nas construções
públicas apontam para riscos
que podem provocar tragédias ceifando vidas
meramente por incompetência e principalmente irresponsabilidades dos
governantes que deveriam ser
exemplarmente punidos pela Justiça. Afinal, para que servem os
governantes senão para zelarem pela incolumidade física dos habitantes de uma
cidade, de um estado e de um país?
O
prefeito Crivella, que é engenheiro, deveria, por dever de ofício, ainda ser mas cauteloso e
responsável pelas condições estruturais
da Cidade Maravilhosa. Sabe-se que o Rio é praticamente cercado por morros. Embora dispondo uma paisagem
estonteantemente bela, visto de
cima para baixo, por exemplo, do majestoso Corcovado, nós dá a impressão de que seja um cidade dentro de um grande buraco
irregular, mas esteticamente lindo.
Chuvas torrenciais nessa cidade turísticas causam danos irreparáveis em todo os sentidos, principalmente em razão da falta
de monitoramento eficaz, constante e
responsável. Diga-se, a bem da verdade, que a cidade, posto que belíssima no seu conjunto arquitetônico,
combinando o antigo com o novo, no Centro da cidade, mais o antigo do que o
novo, é secularmente muito suja,
mal cuidada pelas posturas
municipais.
Esse traço urbano
remonta historicamente ao
tempo do reinado de Dom João VI (1767-1826), onde o
que mais se destacavam nas rua, estreitas ou largas, eram os
movimentos de carruagens
reinóis que iam despejando atrás de si
excrementos humanos. Ou seja,
“reinava” a sujeira e a fedentina
no ar poluído. Hoje mesmo ainda
é comum ver-se, em cantos de
esquinas de ruas, praças, largos,
ou junto a monumentos públicos, em
pleno coração da metrópole carioca, o
mau cheiro proveniente de urina tanto de mendigos quanto de gente sem
educação.
A
prática desse mau hábito de urinar em
lugar púbico é algo generalizado no Rio e os seus praticantes o fazem até
despudoradamente diante de transeuntes, em determinadas situações, da vida da cidade, por exemplo, em dias de jogos no
Maracanã, no carnaval, em shows
a céu aberto etc.
Estamos bem longe da
civilização das grandes cidades do mundo, onde se respeitam as posturas públicas, os sinais de
trânsito, os transeuntes, enfim,
onde se cultiva a
urbanidade coletiva. Aqui, em qualquer parte do país, ainda impera o vandalismo, que não respeita
o patrimônio histórico, os
monumentos, as estátuas, as hermas.
Picham tudo, quebram, roubam, furtam
partes do material de que foi feito
o monumento, quando não o levam
para o transformarem
em artigos de venda fácil.
Vê-se, na exposição acima, o quanto
o Rio necessita de mudar a sua maneira
de governança e de
costumes de seus habitantes. Não o fazendo, a cidade estará fadada a perder altos dividendos vindos do turismo, área para qual é vocacionada por todos os seus atributos de uma cidade, cuja paisagem
estará sempre acenando
democraticamente a turistas nacionais ou estrangeiros.
Diante destas considerações gerais,
urge que o alcaide de
plantão fique alerta tanto
em relação aos perigos que a
cidade ainda oferece em
alto grau, sobretudo nos inúmeros defeitos
de sua estrutura física, nas suas
deficiências gritantes como falta de maior segurança , e de melhores acessos
a serviços públicos de qualidade,
como saúde, saneamento básico, precariedade das favelas, fiscalização
rigorosa de suas construções,
em suma, de tudo aquilo
que a prefeitura pode oferecer
aos seus habitantes e
contribuintes de impostos.
A Cidade Maravilhosa não pode esperar mais
por protelações em todos os setores
de seu funcionamento de grande urbe
- motivo, apesar dos
pesares, de orgulho dos cariocas natos ou
que de coração aberto a
escolheram para nela
residirem, dos brasileiros e do mundo
ainda fascinados pelos seus “encantos
mil.” Não deixemos, senhor alcaide e
sociedade - reitero -,
o Rio de Janeiro de todos nós morrer. Por amor de Deus!
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