terça-feira, 28 de maio de 2019

TRADUÇÃO DE UM POEMA DE LANGSTON HUGHES ( 1902-1967)





I, TOO
I, too, sing America.
I am the darker brother.
They send me to eat in the kitchen.
When company comes,
But I laugh,
And eat well,
And grow strong.
Tomorrow ,
I’ll eat at the table
When company comes.
Nobody'’ll dare
Say to me,
“Eat in the kitchen,”
Then.
Besides,
They’ll see how beautiful I am
And be ashamed –
I, too, am America.
EU TAMBÉM
A América também canto.
Sou o irmão mais escuro
Pra cozinha me mandam
Assim que, em grupo, entram
Solto uma risada,
E vou com vontade comer,
Mais forte fico.
Amanhã
À mesa estarei
Quando vierem
Ninguém, então, ousará mais me dizer
“Vá comer na cozinha”.
E mais:
Verão quão belo sou
E ficarão envergonhados –
Minha é também a América.
(TRAD. DE CUNHA E SILVA FILHO)

domingo, 26 de maio de 2019

O PRIMEIRO SINAL E OUTROS SINAIS



                                                                           
                                                                               É o homem  que faz a   sua idade.
                                                                           Alceu Amoroso Lima, Idade,  sexo e tempo
                                                                                                     
CUNHA E SILVA FILHO

            Pensando em escrever essa crônica,  me deu vontade de reler o magnífico   livro, Idade, sexo e tempo (1938), do notável pensador católico  brasileiro, crítico literário, teórico da literatura  e polígrafo  Alceu Amoroso Lima (1893-1983), mais conhecido  pelo famoso  pseudônimo  que  começou a usar,  se não me engano,  a partir de sua estreia, em 1919, como crítico de O Jornal, substituindo  o  mais mordaz crítico literário  brasileiro, Agripino Grieco (1888-1973).
         O mais  curioso é que publicou  aquela  obra quando  tinha só quarenta e cinco   anos, o que não quer  que dizer   que só podemos escrever  ou  refletir  sobre um assunto quando  o vivenciamos. Isso me leva também  a considerar, por exemplo,   a afirmação  de um  padre a quem  se  perguntou  por que ele se arvorava em  discutir sobre o  casamento  se ele nem mesmo  era casado  e,  por   imposição  dos votos de castidade,   nem poderia  tampouco casar-se.
       Ora, uma coisa não leva forçosamente a outra   e, se estendermos  o mesmo raciocínio,   seria o caso de se perguntar  se um ficcionista não poderia   criar  um  romance,  um conto, uma novela ou uma peça teatral  enfocando  determinado tema  se ele, o autor,  não teve experiência sobre  o que tencionava escrever. José de Alencar (1829-1897) escreveu  o romance O gaúcho (1870) sem nunca ter  vivido ou  passado  na terra dos pampas.
      Vou parar de borboletear em outras direções  temáticas e volto ao  eixo temático desta crônica, que  é o de lhe  falar sobre  sinais da velhice,  me cingindo  ao meu  exemplo. Lá por volta  dos vinte e nove anos,  pela primeira  vez -  presumo -,  senti   um levíssimo sinal de que o tempo  havia  se lembrado de mim  e me havia feito pensar, por uns minutos apenas,  na questão   pra mim  tormentosa,  que  é o  fluir do tempo.
         Eu me encontrava  em Teresina, em julho  1974,  aonde fui   pra  matar a saudade de onze anos de ausência familiar naquela  viagem de reencontros e ressignificações   em muitas  coisas: meus pais,    meus irmãos, meus amigos,  a minha  Teresina,  o Piaui.  Viagem  em que tudo  era saudade e transformação: valores familiares,   a vida,  o futuro,  os ganhos e perdas até então, enfim, as transformações  que iam sendo   sentidas  e  compreendidas já sob  ângulos diferentes e inescapáveis ao meu  mundo interior com reflexos  dolorosos  diante da realidade dura  e irrefreável.
     Aquela viagem tinha sido um tremendo  divisor de águas, porquanto dela não sairia ileso nas grandes  transformações  de um  moço determinado a enfrentar e sobrepujar   grandes obstáculos na corrida  em direção  aos seus  objetivos  mais prementes  da realização  pessoal, como, de fato, ocorreu.
    Na casa de meu pai, deitado numa rede da sala,  eu me perguntei,  em meio a outros pensamentos   como numa escrita automática:  “Vou completar  vinte e nove anos ou  trinta nove anos? Não é possível. Já tudo isso? Meu Deus! E agora? Essa perguntas foram tão rápidas quanto   um foguete atômico.
    Noutra ocasião,  no Rio de Janeiro,  voltando  de um  passeio a Petrópolis, num carro   comprado por minha mulher, dirigido  por um  saudoso amigo,  olhando pelo  espelho  retrovisor,  notara, pela  primeira vez, que  a minhas têmporas,   exibiam  alguns fios   espaçados de  cabelo   branco. Naquele instante  percebi  que o tempo  mudava  para mim  e, contraditoriamente  não me senti  apavorado. A contrário,  achei até que  ficara mais atraente, pois via aquilo como  um charme  acrescido ao meu semblante  ainda moço. 
     Anos se passaram desde aquele  primeiro  sinal do tempo. Este,  implacável, já viria,  apressadinho,  me cobrar  outros tantos anos vividos. É nesse  sorrateiro vacilar  do tempo  que, por vezes,  o malvado se esconde da gente para,  de repente, num fechar de olhos, semelhante a um pesadelo, fazer o que chamaria  agora de “enquadramento.”   É quando percebemos no quotidiano     um "senhor", um  “seu,” uma "senhora,"   um “tio”, uma" tia",  e, o que é pior,  o trágico epifânico  momentum às avessas   (sobretudo  trucidando os corações  e almas femininos):  o vovô, a vovó!
     Daí em diante,   o próprio tempo se encarrega dos apaziguamentos, ou  não,  dos novos  idosos, dessa longuíssima  fila   que se avoluma, mais hoje do que antes, por causa dos avanços da medicina, no coração   do Brasil  e do mundo.   Há que goste  desses tratamentos  pra si  e os recebe  de bom grado. Outros como eu,  não.
     Sei que jamais  poderei  lutar contra o meu inimigo. Sei que  ele é justo, lógico,   no conjunto  do que constitui   as fases da vida humana. Sei que  é inexorável,   sei que é necessário  esse passar do tempo. Mas sei também que  para muitos  se afigura injusto, cruel,  dilacerante quando o corpo encarquilhado  sofre  os seus achaques.   
    Em países, como o  nosso, socialmente  injusto,   envelhecer  é pra  muita gente  um calvário. Quando uma  pessoa  raivosa,  está brigando  ou discutindo  na iminência de ir  às vias de fato,   o primeiro   termo   que usa pra  pessoa    mais vivida é sempre um disfêmico   e acabrunhador   epíteto: “Seu velho,” “seu gagá,”  “velho caquético” etc.
    Ora,  caro leitor, não sabem os  mais moços  que,  num abrir e fechar de olhos,  a sua  mocidade estará enfrentado   esse mesmo   tipo de estigma contra os mais velhos. Se não morrerem antes,   jovens,  esperem  o que lhes virá pela frente.



quarta-feira, 22 de maio de 2019

TRADUÇÃO DE UM POEMA DE WALT WHITMAN( 1819-1892)




             One’s Self I Sing

One’ Self  I sing a simple, separate person,
Yet utter the word Democratic the word En-Mass.

Of physiology from top to toe I sing;
Not physiognomy alone not brain alone is weorthdy for  hrte Muses, I say the
          Form complete with the Male I sing.
Of life immense in passion, pulse, and power,
Chererful or freest action   formed under the laws divine,
The Modern Man I sing.

                     Canto Pra  Mim

Canto pra Mim, um simples e dividido ser,
Uso, todavia,    Na Totalidade a palavra Democrático.

Canto a fisiologia, da cabeça aos pés,
Nem a fisionomia só, nem o cérebro   só das Musas dignos são, afirmo
            Ser muito mais  merecedora a Forma completa.

Canto a mulher tanto quanto o Homem.
Canto a Vida de paixão,  pulso e energia  plenos
Canto, exultante,   as ações  mais livres das divinas leis oriundas.        
                                                             
                                                                           (Trad. de Cunha e Silva Filho)




domingo, 19 de maio de 2019

NÃO DEIXEM O RIO MORRER



                                                        CUNHA E SILVA FILHO

          

       Por amor de Deus,  seu alcaide Crivella, não deixe o Rio morrer! Seria a desgraça final  do país, maior ainda do  que todas as desgraças reunidas ao um só tempo pelas quais a nação  está passando pelo menos há uns quinze    nos setores da política, da violência crescente e crônica,  da saúde sem rumo, do desemprego  resistente,   dos transportes e, agora,  da educação  pública sem perspectivas.
      Ora,  senhor alcaide,  veja o que tem ocorrido no Rio: algumas desgraças  causadas por  chuvas fortes e incomuns,  mas também  motivadas  pela  ausência de fiscalização   dos serviços públicos,  culminando, agora,  com  o desabamento  da cobertura do Túnel Rafael Mascarenhas  quando cinco placas   de concreto caíram  na pista  sentido Barra.
     Quase  aconteceu  outra tragédia onde poderiam  morrer muitas pessoas dentro de um   ônibus que passava na hora  em que se soltaram     as placas do teto do túnel. Foi por milagre de São Sebastião  que  mais uma tragédia não se   concretizou. O Rio precisa ser benzido, ou até mesmo exorcizado, diga-se de passagem. A cidade de São Sebastião  sofre na carne  por esses infortúnios  todos.  E não devemos  em hipótese alguma culpar   só a Mãe-Natureza por   infelicidades   que possam  ocorrer aos cariocas. Culpados foram, sim,  sucessivos prefeitos inoperantes  e  lenientes.
     O atual prefeito, que deixa muito  a desejar, não me parece ter  cobrado dos órgãos  municipais  incumbidos de supervisionar  o estado  precário de partes  da infraestrura da cidade. Em São Paulo,  me parece,  está havendo também sinais de edificações  públicas  exibindo   rachaduras e    má conservação, sobretudo em viadutos. Esses defeitos  nas construções públicas  apontam para  riscos  que podem  provocar  tragédias ceifando  vidas  meramente por  incompetência  e principalmente irresponsabilidades dos governantes que  deveriam ser exemplarmente  punidos  pela Justiça. Afinal, para que servem os governantes senão para zelarem pela incolumidade  física dos habitantes  de  uma cidade, de um estado e de um país?
   O  prefeito Crivella, que é engenheiro, deveria,  por dever de ofício,  ainda ser mas cauteloso  e  responsável pelas condições estruturais  da Cidade Maravilhosa. Sabe-se que o Rio é praticamente cercado  por morros. Embora dispondo uma  paisagem  estonteantemente bela,  visto de cima para baixo,  por exemplo, do  majestoso Corcovado,  nós dá a impressão de  que seja um cidade dentro de um grande buraco irregular, mas esteticamente  lindo.
  Chuvas torrenciais   nessa cidade turísticas  causam danos  irreparáveis em todo os sentidos, principalmente   em razão da   falta  de   monitoramento   eficaz, constante   e responsável. Diga-se, a bem da verdade, que a cidade,  posto que belíssima  no seu conjunto arquitetônico, combinando  o antigo com o novo,  no Centro da cidade, mais o antigo do que o novo,   é secularmente  muito suja,  mal cuidada  pelas posturas municipais.
    Esse traço  urbano  remonta historicamente   ao tempo  do reinado de Dom João VI (1767-1826), onde o que mais se  destacavam nas  rua, estreitas ou largas, eram os movimentos  de  carruagens  reinóis que iam  despejando  atrás de si  excrementos humanos. Ou seja,  “reinava” a sujeira e a fedentina     no ar  poluído. Hoje mesmo   ainda  é comum  ver-se, em cantos de esquinas de ruas, praças, largos,   ou  junto a monumentos públicos, em pleno coração da metrópole carioca,   o mau cheiro  proveniente de urina  tanto de mendigos quanto de gente  sem  educação.
      A prática desse mau hábito de urinar  em lugar púbico  é algo generalizado  no Rio e os seus praticantes o fazem até despudoradamente  diante  de transeuntes,  em determinadas situações,  da vida da cidade,  por exemplo, em dias de jogos no Maracanã,   no carnaval,  em shows  a céu  aberto  etc.
      Estamos bem longe   da  civilização das grandes cidades do mundo,  onde se respeitam   as posturas públicas, os sinais de trânsito,   os transeuntes,   enfim,   onde se cultiva   a urbanidade   coletiva.  Aqui, em qualquer parte do país, ainda  impera o vandalismo, que não  respeita  o patrimônio histórico,   os monumentos,  as estátuas,  as hermas.  Picham  tudo,  quebram, roubam,   furtam  partes do material de que foi feito  o monumento,   quando não o  levam    para  o  transformarem  em  artigos  de venda fácil.
    Vê-se, na exposição acima, o  quanto  o Rio necessita de mudar a sua maneira  de  governança  e de  costumes de seus habitantes. Não o fazendo,  a cidade estará fadada a perder altos  dividendos vindos do turismo,   área para qual é vocacionada   por todos os seus atributos   de uma cidade,  cuja paisagem  estará sempre acenando  democraticamente a turistas nacionais ou estrangeiros.
     Diante destas considerações gerais,  urge que o  alcaide de plantão  fique alerta   tanto  em relação  aos perigos  que  a cidade ainda  oferece    em alto grau, sobretudo nos inúmeros defeitos  de sua  estrutura física, nas suas deficiências  gritantes como  falta de maior segurança , e de melhores  acessos  a serviços públicos  de qualidade, como saúde, saneamento  básico,    precariedade das favelas,   fiscalização  rigorosa   de suas  construções,  em suma,   de tudo   aquilo  que    a prefeitura pode   oferecer  aos seus habitantes  e contribuintes de impostos.
   A Cidade Maravilhosa  não pode esperar  mais  por protelações em todos os setores  de seu funcionamento de grande urbe   -   motivo, apesar dos pesares,  de orgulho dos cariocas  natos ou   que de coração aberto a   escolheram para nela  residirem,   dos brasileiros  e do mundo  ainda fascinados pelos  seus “encantos mil.” Não deixemos,  senhor alcaide e sociedade -   reitero -,  o Rio de Janeiro   de todos nós morrer.  Por amor de Deus! 


domingo, 12 de maio de 2019

Um poema inglês e apócrifo sobre a figura da mãe e duas versões de um mesmo poema feitas em tempos diferentes


QUERIDOS AMIGOS E LEITORES, DEDICO OS TEXTOS ABAIXO A TODAS AS MÃES DO  MUNDO
DEAR FRIENDS AND READERS, I DEDICATE THE TEXTS BELOW TO ALL MOTHERS ALL OVER THE  WORLD
JE DÉDIE LES TEXTES CI-DESSOUS À TOUTES LES MÈRES DU MONDE
IO DEDICO LOS TEXTOS  ABAJO A TODAS LAS MADRES DEL MUNDO
HAPPY MOTHERS’DAY
HEREUX JOURNÉE DES MÈRES
FELIZ DÍA DE LAS MADRES
                           
Um poema inglês antigo e apócrifo sobre a figura da mãe e duas versões feitas de um mesmo poema   em tempos diferentes

                                       CUNHA E SILVA FILHO

                O poema que a seguir, com ligeiras alterações do texto, oferecemos em tradução bilíngue ao leitor foi, pela primeira vez, por mim vertido ao português em 1977 e publicado no extinto jornal Estado do Piauí, Teresina. Esta peça poética, simples e belamente composta, sintetiza os aspectos do sentimento materno na sua dimensão universal.
Nada há nele que não possa ser inteligível por qualquer pessoa comum, até mesmo para uma criança que já saiba ler. Sem hermetismos, sem preocupações filosóficas complexas, “My mother” flui como um riacho cristalino, de água pura e doce. Sua intenção visa apenas ao puro ato comunicativo do discurso poético.
         Todas as estrofes, harmônicas, melódicas exprimem, diante de nossos olhos, aquelas situações de desvelos maternos que todas as mães, com ligeiras variações culturais, em qualquer parte, em qualquer língua, em qualquer condição social, em qualquer tempo, como se fosse um ritual ecumênico, vêm cultivando através dos tempos.
         A amamentação, os carinhos e beijos, as cantigas de ninar, as noites de vigília, no tempo da doença, nas brincadeiras infantis, no ensinar as orações, o estar atenta à presença infantil, o interessar-se por tudo que fazemos. Até mesmo, no derradeiro instante de sua presença na Terra, nosso seria o desejo de manifestar que antes partíssemos para outra dimensão que perdermos para sempre essas maravilhosas criaturas que nos deram a vida.

                My Mother
Who fed me from her gentle breast,
And hushed me in her arms to rest,
And on my cheeks sweet kisses pressed?
                                                    My Mother.
When sleep forsok my open eye,
Who was it  sang sweet lullaby,
And sooth’ed me that  I should not cry?
My Mother.
Who sat and watched my infant head,
When sleeping in my cradle bed,
And tear of sweet affection shed,
                                                My Mother.
Who ran to help me when I fell,
And would some pretty story tell,
Or kiss the place to make it well?
                                                  My Mother.
When pain and sickness made me cry,
Who gazed upon my heavy eye,
And wept for fear I should die?
                                             My Mother.
Who loved  to  see me pleased and gay,
And taught me sweetly how to pray?
And minded all I had to say?
                                               My Mother.
Can I ever cease to be
Affectionate and kind to thee,
Who wast so very kind to me?
                                                My Mother.
Oh no! The thought I cannot bear,
And if God please my life to spare,
I hope I shall reward thy care,
                                               My Mother.



                    Minha Mãe

Quem me nutriu em seu peito gentil,
E me aquietou em seus braços pro descanso?
E me cobriu a face de doces beijos?
                                                      Minha Mãe.
Quando o sono me cerrava os olhos,
Quem é que cantava doces canções de ninar,
E me acalmava pra que não chorasse?
                                                      Minha Mãe.
Quem, sentada, minha cabecinha velava,
Quando no meu berço dormia
E lágrimas de doce afeição derramava?
                                                                 Minha Mãe.
Quem corria para me ajudar quando caía,
E me contava lindas estórias
Ou beijava o lugar ferido a fim de o tornar menos aflitivo?
                                                                                          Minha Mãe.
Quando a dor e a moléstia me faziam chorar,
Quem me fitava os olhos pesados
E chorava com medo de que morresse?
                                                               Minha Mãe.
Quem folgava em me ver alegre e feliz,
E me ensinava a orar suavemente,
E ligava a tudo que dizia?
                                    Minha Mãe.
Oh! Não! Não posso suportar esta idéia,
Se a Deus for dado não me poupar a vida,
Espero hei de recompensar vossos cuidados,
                                                                      Minha Mãe.

Fonte do texto: FERREIRA, Pe. J. Albino. An English method. 11 ed Porto, Portugal: Costa Cabral, 1939, p. 192.


 Desta vez, leitor, não se trata de um grande autor da chamada alta literatura ocidental. É apenas uma modesto, um singelo conjunto de versos brotados do seio de uma mãe, sem talvez mesmo a preocupação de querer  fazer  poesia. O nome da poetisa: Baronesa von Hotten. Nem mesmo fui  pesquisar-lhe a biografia. Importam-me, contudo, seus versos, sua mensagem direta e sem mistérios. Seu valor não está nas formas ousadas dos poemas reveladores de alta opacidade literária, a qual faz o deleite dos críticos e analistas literários. Vejamo-los na tradução em formas bilíngue:


                MOTHER
It is a wonderful thing, a mother;
          other folks can love you,
but only your mother understands.

She works for you,
         looks after you,
loves you, forgives you
         anything you may do,
understands you,
          and then the only thing bad
she ever does to you
          is to die and leave you.

                MÃE

Mãe, maravilhosa criatura,
         pode alguém amá-lo,
somente ela, contudo, o compreende.

Para você trabalha,
        de você cuida,
        ama-o, perdoa-o por
        tudo que faça, mesmo não o aprovando
        entende-o,
e, depois, a única coisa má
que lhe possa fazer é morrer e deixá-lo sozinho.
 
Fonte: CAMPOS , JR., José Luiz. Como se aprende inglês (How to learn English). 4. ed. 2ª impressão. Rio de Janeiro/PortoAlegre/São Paulo: Editora Globo, 1958, p. 220
 

                           MOTHER

           It is a wonderful thing a mother
            other folks can love you,
but only your mother understands.

            She works for you
                    Looks after you
loves you, forgives you
                   anyhing you may do,
understands you,
                   and then the only thing bad
she ever does to you
                 is to die and leave you.
                                      (Baroness von  Hotten)

                    MÃE
Maravilhoso ser és tu, mãe.
                te amar outras pessoas podem,
Porém te compreender é ela a única.

           Pra ti trabalha.
                 De ti cuida,
te  ama,  te perdoa tudo
o que possa fazer, te entende
                 e, depois, a única  coisa má
que, um dia,  fazer te possa
                 é morrer e te deixar.


       
                  
                      

sm

quarta-feira, 8 de maio de 2019

UM DIA NA RUA: UMA VISÃO DA VIDA E DO BRASIL




                                                             CUNHA E SILVA FILHO

        Saio de casa  a pé. Sempre a pé quando  ando por lugares  mais perto.  Mal  ponho os pés  na  calçada do meu prédio,   já sinto a trepidação  da vida na rua e me lembro  dos conceitos  sobre o perigo da rua emitidos  pelos escritores João Antônio (1937-1996) e  Guimarães Rosa (1908-1967), e pelo antropólogo Roberto DaMatta.  Buzinas de carros,  com aquele barulho que parece não ter fim a  não ser por segundos.
      Tudo é pressa  como se todo mundo estivesse com hora marcada pra  entrar no Céu e agradecer a Deus  por ter conseguido  um lugar  de descanso  eterno e a salvo  dos perigos  do Mal. Eu, na rua,  me lembro de que não fizera as minhas  preces  diárias, primeiro, pra minha Protetora, a Virgem de Fátima, da qual me tornei, com o tempo,  um fiel devoto, segundo, porque  tampouco  lera, persignado, a prece-exorcismo  escrita pelo Papa Leão XII. É uma Oração Breve que é tiro e queda contra os espíritos  malignos que andam atazanando  a vida dos seres humanos cá na Terra. Essa oração de Leão XIII é ainda acrescida de uma jaculatória ( não gosto desse vocábulo porque  ele me leva a associações pecaminosas e eu, ademais,  tenho  inclinações barrocas no que tange ao binômio matéria-espirito.     
    Deixarei  as orações   para   regressar à minha casa. Por ora,  estou caminhando em direção  à Praça Sáenz Peña (ou popularmente Saens Peña). Chego à altura da Rua das Flores. Muita gente  vindo e indo nos dois caminhos que essa rua de pedestre tem: uma que dá pra  Praça, outra, que dá para a Rua da bela  Igreja de Santo Afonso. Tem uma placa  nessa Rua das Flores que proíbe bicicletas  de  transitarem  por ela nas duas direções. Entretanto,  ninguém respeita a placa   da Prefeitura e ninguém  entre os pedestres  tampouco  se queixa dessa infração dos ciclistas, em geral daqueles que carregam objetos  de entrega.  Isso é um sintoma  flagrante do que somos  no  país.
     Ao atravessar a calçada   para a Praça  propriamente dita,  ouço alguém  reclamar da falta de  educação do povo  brasileiro. Esse alguém era um senhor ainda forte que,  em voz baixa, pra mim,  soltou esse desabafo: “O  nosso povo não tem educação  nenhuma,  nem a de trânsito. A salvação de um país seria só possível  com   o cuidado  do governo federal  com a Educação. E finalizou, atravessando em sentido contrário ao meu:   “A minha  irmã tem razão  quando desabafa  dizendo:  “É uma gentalha.” O senhor despediu-se com um   tchau e se perdeu  na  azáfama de  gente perto,   caminhado na duas direções da calçada  em frente    de um templo do Bispo Macedo.
     Saio da Praça e sigo em direção ao Shopping da Tijuca. Subo de elevador apinhado  a um  dos andares, aquele que tem uma loja de roupas   pra gente mais simples. É gente  por todo os lados e de todas as  idades.  Mas, vejo que a quantidades de idosos  é muito elevada. Olho pra um restaurante  fino  e lá dentro vejo  muitas senhoras fazendo  a refeição do jantar. Hoje em dia,  ninguém  quer mais fazer comida em casa. Tudo é feito na rua   e com comida  a  quilo  a preço de ouro.  Entretanto,  me pergunto: Como tem tanta gente  com  condições de viver   bem  e a salvo  das desigualdades sociais? Uma amiga me falou  há dias que algumas daquelas senhoras de idade  têm  polpudas pensões, algumas têm até duas ou três pensões do governo. Meu Deus! É verdade? Sim, têm e eu conheço várias  assim.
    Um shopping é pra mim,  um forma de pensar  o país.  Mostra riqueza e ostentação e camufla  a pobreza. Produtos  caríssimos como aquele da vitrina  elegante, uma     bolsa de senhora  que custa  R$ 3. 590,00. E olhe que não é o mais caro não. Mas, alguém tem tanto dinheiro assim  neste país que atualmente  ainda possuí  uns treze milhões de desempregados?! Olho pra um grupo de pessoas  jovens com  roupas humildes  se divertindo no shopping e rindo a bandeiras  despregadas. E eu novamente me pergunto: Será que elas  pensam  nas desigualdades do Brasil? Ou são tão distantes  da realidade dura que  não se dão conta  da sua própria miséria?
       Entro na Saraiva e lá vejo   sentados em cadeiras,   alguns  leitores   de idades diferentes e distantes. Cada um está  com o seu livro apanhado na  prateleiras   e, ao lado  de cada  leitor, não falta  o indefectível símbolo    fetichista   da pós-modernidade da   comunicação móvel,   regalo  de usuários  de todos os níveis sociais   ou   da visão  ameaçadora  dos   ladrões   à espreita do melhor instante de  distração para tomá-los à força  de seus donos: o celular.
      Finalmente,  desço mais um andar, este no subsolo, que é vasto como uma avenida  ladeada de  lojas  com aluguel que  custa  os olhos da cara. Há uma gente alegre vendo   uma exibição que não soube bem o que fosse,  mas que   chamava atenção de todo o  mundo ali. Chamava, sim.  Senti  no meu interior  quão, muita vezes,   somos  imbecilizados com a exibição de tanta   baboseira  ruidosa   e   de visual duvidoso  inventados  pra  ganhar dinheiro  de pascácios. Ora, leitor   mal avisado, a humanidade  hodierna  é amorfa,   hedonista,   pantagruélica.
     Saio do Shopping.  Olho pros seguranças postados  à entrada   que,   dos seus cantos estratégicos,    não perdem um instante (também são filhos de Deus!)  em  que  passarelam  belas mulheres,  umas entrando,  outras saindo. Eu também  não deixei de apreciar a beleza das  mulheres  cariocas, ou melhor, das  brasileiras em geral.   Volto   pra casa.  Desta vez  tomando um táxi, pois a idade já vem  dando seus sinais sem dó nem  piedade.