terça-feira, 28 de março de 2017

VOLTO AO ASSUNTO: A CRIMINALIDADE BRASILEIRA



      



                                                  CUNHA E SILVA FILHO


           É um truísmo ouvir-se de alguém conhecido ou não, com certo enfado e ojeriza,  afirmar que não mais lê seções de  jornais sobre crimes,  nem assistir a programas na TV filmes que   abordem a questão da violência, os horrores  de homicídios, latrocínios, assaltos à mão armada, estupros, feminicídio e outras  perversidades dos tempos atuais.
          No meu juízo,   pessoas que pensam desta  maneira   estão erradas  visto que, agindo assim,  só concorrem  para que  providências não sejam  tomadas para, pelo menos,  a sociedade  repensar  em profundidade as razões   pelas quais  o nosso  país  anda atolada na barbárie  cotidiana  desses males   que não escolhem  vítimas pelo sexo,  pela etnia,  por religião, por nível social ,por nada.  Matar,  roubar,    é o objetivo   maligno desses indivíduos.
       O caçador selvagem  ataca todos sem  dó nem piedade Comportam-se como  feras e predadores  irracionais,  prontos a darem o bote  fatal e covarde.  Poucos brasileiros de todas as idades  não foram, um dia,  vítimas da sanha  desse  monstros  sociais, alguns psicopatas. Matam  trucidam,  decapitam  e destroem  vidas inocentes de quem nunca lhes fez mal.
       Há muito passou a hora de as autoridades federais,  estaduais e municipais se compenetrarem  que  o mal  está  tomando proporções titânicas pela altíssima frequência  de  mortes  cruéis em nosso  país, tanto nas grandes cidades (Rio de Janeiro, São Paulo, carros-chefe de nossa  criminalidade) e quase, senão  todas as capitais, quanto nas pequenas  cidades e até nas zonas rurais.
       A metástase da criminalidade  brasileiros vai  destruir  o tecido social  do país se medidas  rígidas e definitivas   não forem   tomadas. Nem mesmo    tempo de se considerarem componentes  religiosos que, por princípios,  rejeitam  sentenças  e condenações  mais   inflexíveis   como  a prisão perpétua  ou a pena de morte  para criminosos  de  grande periculosidade e para  criminosos e assassinos  que  matam  pessoas  de forma banal,fria  e animalesca.
        A impunidade  do sistema  penal   brasileiro  é responsável  pelo estado  de  guerra  de bandidos contra a sociedade. As pessoas  não mais têm respeito  por  autoridades  que se ocupam da segurança   pública uma vez que sabem antecipadamente que  o homicida vai preso e logo  sai  da  penitenciária a fim de cometer mais  crimes contra os indefesos.
       Além de desfrutarem de regalias  imperdoáveis  e insustentáveis como: diminuição da penalidade,indultos,  liberdade   condicional,    bom comportamento    e a execranda  invenção e implantação  da  nefanda  “prisão domiciliar.”    Nem  me dei ao trabalho de  pesquisar  de onde surgiu essa ideias estapafúrdia  de prisão domiciliar que  a meu ver,  só serve para  acobertar  benesses  penais  às elites    criminosas.   
        Assim também  é o chamado  uso da tornozeleira eletrônica   empregada para  criminosos. Ora, criminosos é criminosos e o lugar  apropriado deles é a prisão, a cadeia,  a  masmorra,   ver o quadrado. Mordomias   para  detentos   ladrões  é uma   excrescência e um  absurdo  penal, um erro  jurídico  imperdoável.
       A sua continuidade só servirá para  exacerbar  a escalda  de crimes praticado  em  todo o território nacional.A selvageria  criminosa  criará sérios  problemas para nós todos  que  nascemos  nesta  pátria amada  e tão esquecida   pelos  instituições e órgãos  responsáveis  pela segurança  do cidadão  que trabalha e concorre para o desenvolvimento  do Brasil em todos os setores.
      A violência  assim  tão entranhada em solo  brasileiro   configura um crime de lesa-pátria, um   caso  atípico  a ser  imediatamente   tratado e equacionado e reduzido  pelos muitos  meios  e logística da   Segurança  Nacional.   Há, sim, uma guerra civil às avessas em nosso país: a guerra de criminosos  contra uma  população  irmã,  desarmada  e refém de todas  as brutalidades    que se possa  imaginar. 
      Só com   a eliminação da impunidade  criminal é que irá este país afastar  bem para longe   os escroques, os meliantes,   os mafiosos,  os grandes   gângsteres de “white collars” ou das favelas. A Lei Penal  deve ser igualitária: não condescender com   monstros inimigos da  paz social,da  alegria do povo,  da segurança  das famílias  deste país.
    Os crimes crescem tanto que chegará um tempo em que o turismo  sofrerá  um  queda  inimaginável por mais que  as agências turísticas  tentem dourar a pílula. E o turismo  é um dos  fatores determinante  da economia  nacional.
     E, para  finalizar,  a criminalidade em nosso país é algo  muito entrelaçado,   no imaginário  popular, com  a violência da politicagem  brasileira, notadamente nos últimos  quinze anos  aproximadamente.
     Elas, muitas vezes,  se embricam e se confundem e por isso  se uma não vai bem,  a outra igualmente não vai  bem, i.e.,  se a política é mal  exercida e é  corrupta,  a violência tende a ser mais  solta e mais perversa.
        Os criminosos da base da pirâmide e de outros extratos sociais dirão:  se eles, lá no Parlamento, lá  no Alvorada,  lá nos tribunais fazem  muito mal  a nós, por que não vamos  fazer o mesmo ou pior e, além disso,  temos, ao nosso lado,  a impunidade, que se torna natural,  uma banalidade, um pensamento único, um jeitinho  brasileiro de tratar  os grandes males e perversidades   da nossa  sociedade. Essa aporia, que nos apresenta dois aspectos da   triste e combalida realidade brasileira,  deve ser meditada em profundidade  pelos homens de bem desta Nação.      

terça-feira, 21 de março de 2017

AVIDEZ PELO DINHEIRO, FALTA DE ÉTICA E SOLUÇÕES VIÁVEIS PARA O BRASIL





                                                                                              Cunha e Silva Filho



          Tudo que se fez para desmoralizar a imagem do Brasil tem uma origem comum, ou  melhor  dizendo,  tem um objetivo:a ambição desmesurada  de nossos homens pelo dinheiro.Assim aconteceu com  o Escândalo do  Mensalão,  do Petrolão, do Caixa 2, até  chegar, entre outras maracutaias políticas,  à Operação Lava-Jato que tem dado bons resultados  com a prisão de vários figurões da política brasileira e do alto empresariado.Por último,  mais um escândalo resultante da  Operação Carne Fina realizada pela Polícia Federal para desbaratar os malfeitos  produzidos  por fiscais  federais  e grandes frigoríficos  brasileiros, como a BRF, a JBS e o frigorífico Peccin Agroindustrial Ltda, em Curitiba.
       Desta vez,  as ações criminosas   têm um efeito ainda mais desastroso por estar pondo em risco a saúde da população brasileira  consumidora de carne de boi, porco e de outros  produtos  comestíveis como  salsicha, mortadela, aves e até ração animal.Um tal situação de  desprezo  de grandes  agroindústrias pela  saúde do brasileiro  beira as raias  da alta criminalidade  com  consequências  danosas  à economia   do país, sobretudo   às exportações    feitas atualmente com  150 países.
     Pelo que se tem visto,  a cultura da propina   tem se alastrada  pelos vários setores   da máquina do Estado e, se providências  urgentes não forem  tomadas pelo Presidente da República,   qualquer  boa intenção que o atual governo tenha  a fim de melhorar  a crise econômico-financeira que ainda persiste  forte entre nós  estará fadada ao fracasso.
     Mais uma vez,  já declarei  em artigos anteriores  que a maior crise do país é a ética. Como  seria  impossível mudar, da noite para o dia,   o caráter  de homens que servem  ao governo  federal ou que têm  relações econômicas  com esse governo,  a única saída  concreta é fazer   valer o peso da lei contra  organizações criminosas  de colarinho branco. E, posto que a lei seja, em muitas situações ineficiente e parcial,  ai de nós se não  dispuséssemos  dela. Seria a barbárie sem trégua e o caos do Estado.
      No caso  em exame,   implementar  transformações   profundas  no campo da fiscalização   de todos os setores  do governo, podendo ser, para início de decisões governamentais,    a punição   rigorosa  de funcionários  que burlam  a legislação  fiscal  a fim de  permitir  que crimes contra a saúde pública   se proliferem  no país.  Fiscais  inescrupulosos,  que fazem  vistas grossas às  suas atribuições  do cargo, devem ser sumariamente   demitidos  do quadro do funcionalismo  e  condenados  pelos seus crimes, no caso específico, de pôr em perigo a saúde e  a vida dos consumidores tanto no país quanto no exterior. 
    Há que diga que as investigações foram  algo precipitadas  em apontar  irregularidades  nas empresas de frigoríficos. Alegando  que a totalidade  delas não foi   investigada uma por uma , mas apenas  casos  pontuais de   de crimes contra a saúde pública.Há, pois, que se  aprofundar  o assunto  em todos os seus  ângulos para que não sejam  prejudicadas  a imagem do país no exterior  e internamente  junto aos consumidores  brasileiros .
    De qualquer maneira,  é sempre  indispensável  o  papel  da Polícia Federal  no cumpri mento  de suas atribuições de   investigar  quaisquer práticas   criminosas que venham afetar   as instituições brasileiras,  as suas  exportações  e o consumo  interno. 
    Em quase duas  décadas o papel  da Polícia Federal  tem  sido cada vez  mais  indispensável  no sentido de tornar  o Brasil  um país  mais transparente,  mais  moralizado  e mais livre de  criminosos  identificados no meio  político e nas várias  instituições públicas e privadas.   Se as investigações da  Polícia  Federal  se mantiverem  nesse nível de  eficiência, é  bem possível que,  em  médio prazo,   governos e empresas  privadas   pensem  duas vezes antes  de  cometerem  crimes de lesa-pátria.
    Com  a logística  de que dispõem órgãos  como a Polícia  Federal  na era  do  pleno  funcionamento da  informática avançada ,    indivíduos que almejem  abraçar a carreira   política  ou que   pretendam  tornar-se  altos empresários (o mesmo valendo para os médios, os pequenos e os microempresários), penso que  atingiremos  um nível  de moralidade  e de maior  responsabilidade   da parte dos dirigentes de nosso  país.  
    Retorno à questão da ética  que,  no país,  tem andado  no seu  nível mais  baixo. Vejo, no entanto,  uma das saídas  para atingirmos  patamares  de  maior    seriedade  no gerenciamento   tanto  da coisa pública quanto do setor privado. Tal questão  está  muito  ligada à ausência de certos valores  que vão da família à educação. Em outras palavras,   se não  direcionarmos toda a nossa atenção à formação  humanística de nosso jovens a fim de que possam  cultivar  conhecimentos, além das ciências  e matemática,  língua portuguesa e línguas estrangeiras, as línguas clássicas (grego, latim),  aqueles    oriundos da  filosofia  (estudo  do saber, do ser,  do sentido da vida, do universo, "as causas últimas de todas as coisas," na afirmação de Aristóteles)), da sociologia (estudo da sociedade), da história (dos  fatos e acontecimentos  do homem no tempo), da geografia (estudo da natureza física e humana, diversidade do espaço), das artes (literatura, teatro,cinema,   música, pintura,  dança, escultura, ),  religiões (dimensão espiritual  do homem),
    Tais disciplinas não podem ser excluídas do currículo do ensino médio sob pena de tornarem  a formação do educando  incompleta e falha.  A antigamente chamada  “educação  integral” de que falava o educador  português Mario Gonçalves  Viana,   está fazendo muita  falta aos dias  de hoje.
   Todas ela adaptadas  ao tempos de globalização,  ampliadas com  os instrumentos  modernos  das conquistas  do conhecimento  adquirido  pelo  mundo  virtual, uso planetário dos  diversos  meios de pesquisa e aquisição de conhecimentos de que dispomos  atualmente.Basta ver a importância que o Google  assume na pós-modernidade), como  os celular,  a internet,  a imprensa virtual, os vídeos,  os blogs, os sites,  as redes sociais, entrelaçadas  pelo   meios eletrônicos  cada vez mais  sofisticados.   
    Ao educador de todas  as matérias  curriculares, em trabalho conjugado e  interdisciplinar competiria  orientar os  discentes, subsidiando-os, dentro do locus da sala de aula,   com momentos  de elocução que internalizem elevados princípios   de práticas   formativas (não apenas informativas) objetivando uma retomada do  que sejam os reais valores   de  uma conduta social saudável e   voltada para  o respeito  ao próximo,   para os valores espirituais e   para a necessidade imperiosa  de  conduzirem  suas vidas  com  responsabilidade, integridade e    dedicação  a um trabalho. Este último só  valeria a pena se   realizado com dignidade, retidão de caráter, altruísmo,   sem os excessos  da competitividade  malsã  e egoística  tão prejudicial  à vida  social,  ao convívio harmonioso  entre os pares e a uma atitude  de respeito  à ética no trabalho,  nos estudos,  na universidade, nas pesquisas e nos cargos  que jovens  e jovens adultos venham a ocupar  no futuro ao lado dos mais maduros  e mais experientes.
     Se esses valores  forem  assimilados  pelos jovens e adultos, é possível  pensar com  alguma esperança   de  ainda podermos    viver num país que, se não atingir  um nível de civilidade e de conduta  social, por exemplo, de uma Noruega,  uma Suécia,  dele se aproxime, num tempo futuro  no qual ninguém  possa mais  sentir o nosso país   como uma nação  deformada e aviltada  em seus  costumes  políticos corrompidos, na violência desbragada, na indiferença   pelo outro e pelo diferente, i.e.,   na ausência de urbanidade e civilidade.  Ou seja, que não mais tenhamos  que repetir indignados  essa frase da boca dos que perderam  suas esperanças  de um Brasil melhor: “Que país é este?”

quarta-feira, 15 de março de 2017

POR QUE SÓ AGORA?





 
“ Os homens criaram chefes para   defender sua liberdade!”

    Jean Jacques Rousseau


                                            Cunha E Silva Filho


            Se os políticos, alguns até aliados aos governos  Lula e Dilma,  apearam do poder  a senhora Dilma Rousseff, por que antes não se prepararam  para realizar uma reforma  conjuntural  do país, seja pela moralização, seja pelas reformas que atendessem aos trabalhadores  brasileiros e à sociedade em geral em questões  que  há tempos  vinham se mostrando cada vez mais  urgentes, como  normalizar a Previdência  Social e, em especial,  melhorar a vida dos que  se aposentam livrando estes de longo tempo das aflições dos minguados  vencimentos  de inativos? 
          Quem tem um mínimo de experiência de vida brasileira sabe que essa urgência e açodamento de, a fórceps, desejarem   realizar  uma reforma da Previdência Social, se deve a fatores exógenos, i.e., ao fato de que  o rombo   da corrupção via desvios  multimilionários   dos cofres públicos,  é o bode expiatória   que o atual governo Temer quer  impingir  ao cidadão brasileiro.
         O que não pôde, ou deliberadamente, não quis  o governo federal fazer  para recuperar  os assaltos   ao Erário  Público, que dilapidaram  praticamente  as nossas finanças através dos inúmeros  escândalos  financeiros   investigados  pela Operação Lava-Jato,  agora  o governo federal, para tapar seus rombos   gerados  pelas falcatruas  e  graves  lesões aos ativos financeiros, levantaram a bandeira  de salvar a Previdência  às expensas   dos que  mais   trabalharam para o desenvolvimento do país, os aposentados com as suas parcas  aposentadorias, segundo  já assinalei atrás.
     Não são somente  os gastos do governo  federal  com  os aposentados   que  impossibilitam   o gerenciamento da folha de pagamento da Previdência, mas sim  os gastos  gigantescos, estratosféricos  que  as mordomias (altos salários dos parlamentares, de ministros,  de assessores, dos altos escalões da administração  publica) dos três poderes  acarretam (sobretudo dos poderes   executivo e legislativo).
     Por que só agora,   num mandato-tampão,  tanta pressa  de querer  passar o país a limpo  quando o governo atual   tem vários  membros  que  participaram (base aliada) tanto dos  dois mandatos do senhor Lula quanto do mandato  da senhora Dilma?  
      Seria muito mais  verdadeiro  politicamente se o atual  governo  Temer, usando de suas prerrogativas   e de sua promessa de cumprir  a Constituição Brasileira,tomasse  decisões que atendessem aos  reais  direitos do povo brasileiro,  agindo com  isenção e com  civismo mais no sentido de moralizar a imagem  do seu  curto  mandato do que  permitindo que alguns de seus ministros permaneçam  na Pasta tendo  o nome  relacionado   entre políticos denunciados  nas investigações da  Operação Lava-Jato.
       É claro que  a crise  financeira que ainda ronda pelo país é uma prioridade  a ser atacada  com firmeza. Porém,  realizar  reformas   ditadas de cima para baixo sem um  amplo e profundo debate  entre o governo e a sociedade não seria  agora oportuno.
     A maior crise por que passa o governo  federal é de ordem moral e de credibilidade. Se a classe   política  está  praticamente   desmoralizada diante da  opinião  pública,  não só de iletrados como  também  de pessoas  com  boa formação  cultural, seria mais do que urgente que  o  presidente da República  procurasse se comportar como um  estadista e o exemplo que melhor me vem à mente  é o do presidente  americano  Abraham  Lincoln (1809-1865), aquela figura sisuda  para quem  um governante  ideal seria  aquele que  está ao lado  “do povo,  pelo  povo e com o povo,” conforme proclamou no famoso  discurso de Gettysburgo (Gettysburg Address) em 19 de novembro  de 1863.
       O Brasil  está carente de homens públicos dessa estirpe.
     

segunda-feira, 6 de março de 2017

VERDADE E PÓS-VERDADE NA POLÍTICA COM REFLEXOS NAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSITICAS E CULTURAIS




 

                                                   Cunha e Silva Filho



          Estamos no século XXI e, já nesses  quase dezessete anos, sentimos o preço  alto de suas acontecimentos catastróficas  e de seus  paradoxos, não só no chamado  campo da  realidade  empírica, na qual vivemos bem ou mal, mas da mentira em forma de deformação da verdade, de opiniões relativizadas e das “verdades” chegadas a nós pelos meios de comunicação de massa. Ora,  num mundo tumultuado,  violento,  bárbaro  e indiferente pelos valores  do espírito –ausência de valores humanísticos -    toda essa desarticulação  do equilíbrio lógico-racional  se desmorona  e nos atordoa a todos espantados que ficamos  com  tanta  desordem e caos  instalados  nas sociedades ditas civilizadas, nas quais  o termo  “civilização” já não vale um vintém furado  diante  das fragmentações  do tecido social.
       Clivados em  tribos diferentes  com pensamentos  opostos, entre estagnação  cristalizada e desejos  insopitáveis de mudanças em  todos os níveis da convivência dos seres, somos, agora,  surpreendidos, no campo da  informação   do espaço  político, sobretudo  originário  da eleição   de Donald Trump  para a presidência dos EUA, dos fatos  que a precederam e  da sua  plataforma  de campanha  recheada de  promessas heterodoxas, algumas de natureza estapafúrdia só  causando  mais  tumultos logo no início de seu mandato, acrescidas  de novas  formas de   relações diplomáticas com a Rússia. Se isso tudo, de alguma maneira,   ajudou Trump  a colimar  sua vitória, não sabemos com certeza. Porém, o  fracasso  de Hilary Clinton, em parte, se deveu, entre outros motivos,    à chamada  contra-informação,  a fatos reais  ou  manipulados  que deixaram  a candidata   abalada junto a seus eleitores,  pois as informações referiam a  dados secretos governamentais  que Hilary  não podia  armazenar em seus e-mails de maneira  privada.
       É nesse ponto que entra em cena  uma palavra nova que logo  adquiriu se tornou  moeda corrente no mundo da informação, a  “pós-verdade,” a qual tem, como expressão semanticamente   aproximada,  a expressão “fatos alternativos.”  Ora, se a busca da verdade que é uma atitude   natural  de cada ser humano é complexa  e depende  de tantas correntes do pensamento filosófico,  imagine-se a mera verdade relativa aos acontecimentos  e aos fatos   da política  internacional  ou nacional,  porquanto o nosso país já vem também  atuando em cima desse conceito meio difuso  e, muitas vezes,  comprometedor   no relacionamento  das sociedades  de alta complexidade   do nosso apocalíptico  século,  onde fatos,  imagens,   versões e  mensagens    se nulificam diante de fatos, imagens, versões e mensagens expondo o mesmo conteúdo, porém   se lhes opondo   vertiginosamente e com a mesma força  destruidora.
      O perigo é que as repercussões dessas lorotas da “pós-verdade” ou dos “fatos alternativos, com narrativas  enganosas, podem ser consideradas pelos incautos e ingênuos como  verdades comprovadas. Desse modo, o discurso de um presidente  que se utiliza desses artifícios  passa a ser uma contrafação,  um simulacro. 
      Da mesma maneira,  por exemplo,   nos chamados  editoriais  ou  mesmo  matérias  de jornalismo,dependendo  das suas linhas   ideológicas,  podem  também ser  arrolados como  exemplos de  pós-verdades. E, lamentavelmente,  há seguidores  contumazes, cm boa  ou ótima formação  acadêmica ,   que só acreditam naqueles jornais,  revistas,  publicações  que julgam  dizerem a verdade. Os outros são mentirosas e  tendenciosos.        
      Num impasse dessa envergadura,  ficam os leitores  em geral, sobretudo médios ou de pouca  instrução inteiramente confusos,  enquanto  outros  indivíduos  tomam o partido a favor  ou contra  determinadas  situações   no caso,  da política e da realidade de cada país. Obviamente,  a pós-verdade não é algo  tão novo assim. Sob outros roupagens  já foi  praticada  no passado, em nosso país e em outros países,quer democratas, quer ditatoriais.
       Por exemplo,  os entreveros  entre  partidos  políticos diametralmente opostos em sua visão  ideológico-partidária   davam ensejo  à crença de que  uns  detinham  as verdade sobre  governança e poder, enquanto  os adversários  ideológicos  reivindicam para si   serem donos da verdade. Os estudos de  filosofia,   com  todas limitações que possam ter,  seriam a melhor forma  de  preparar o  indivíduo  na busca da verdade.
     Conforme já se manifestaram analistas da "pós-verdade",  não é gratuito o fato de que  algumas obras  como  O admirável  mundo novo, de Aldous Huxley (1894-1963) e 1984, de George Orwell (1903-1950), ganham  nova relevância e interesse do  leitor de hoje. Outros autores, conforme assinala o jornalista Bolívar Torres no artigo “Literatura de ilusão” (O Globo, Segundo Caderno, p. 05, 18/02/2017), escreveram  nessa mesma  vertente de ficção distópica, como Margaret Atwood, Stephen King, Erick Larsen, Evegueny Zamiantin e Ursula K. Lei Guin, segundo  li
      São conhecidas como  obras literárias  distópicas, ou seja,  obras que, até podendo do estar falando do presente,  se projetam  ao futuro   e têm  traços  ostensivamente   controladores, totalitários avessos, assim,à verdade,à lógica ao raciocínio,  ademais, usando, no caso de Orwell em 1984, uma língua  própria, a novilíngua,  engenhosamente inventada na narrativa,  cujo característica mais  marcante é impedir  que  o indivíduo  pense por si mesmo e tenha   pontos de vista  autônomos, tudo sob o jugo  da linguagem   São dois livros  que  abordam  mundos  futuros  imaginários,   nos quais   o indivíduo  perde toda a sua capacidade  de  racionar por si,  sendo todos  controlados  por  Big Brothers de matiz totalitário.
     É bem verdade que as conquistas  do espaço virtual com o advento da internet, do  Google, verdadeira enciclopédia planetária,  e das redes sociais, tornaram   a comunicação  entre pessoas  em escala  global e essa  revolução, no campo  vastíssimo da informação, remodelou   também  os paradigmas  e os recursos e meios   de trocas de informações  que, se não forem filtradas pelo   usuário com  competência,pode servir   igualmente de   ferramentas  que,mal usadas,  distorcem  fatos,  notícias  e contextos  culturais,  políticos  e ideológicos.  
    Nessa mesma linha de raciocínio,  podemos invocar o exemplo da  regime  nazista   implantado  por Hitler  com influência tão poderosa  que  capturam   a simpatia  da maioria dos alemães e forma  responsáveis pela s extermínios dos judeus cuja fase mais perversa  ficou  conhecida  por Holocausto.
   A verdade que nós buscamos  não pode  estar submissa a facciosismos  ideológicos  que não  resistem  a nenhuma crítica  mais  criteriosa, seja da esquerda,seja da direita ou da extrema-direita. Ou de outra  natureza  ideológica.  Enquanto  houver  extrema divergência  entre  sistemas políticos,  dificilmente  se poderá  vislumbrar uma aproximação  com a verdade pura  e isenta. Da mesma forma,  não poderá  se praticar  democracia   quando  o sistema de governo  se diz  democrático, mas,  na práxis,   age  por imposições  discricionários ainda que sob a capa  de representatividade  institucional.
   Veja-se como  se comportam  os  porta-vozes dos governos  instalados  no poder ainda que  ditos democráticos: as informações  transmitidas  nem sempre  com dizem com a verdade dos fatos. As narrativas passadas a quem  recebe as notícias   ou são  repudiadas  ou são  acolhidas de acordo com  os princípios   formados  pelos  indivíduos  em matéria de  política. Quer dizer, podem-se  transmitir  versões,mentirosas,  opiniáticas  que são,  enfatizamos,  aceitas como verdades ou  recusadas como  mentiras.
      pouco tempo,  assisti  a um vídeo  em que um jornalista  português entrevistava o ditador Bashar al-Assad no seu  gabinete. Para quem  não conhece  o histórico da atuação  de Assad,  o seu depoimento,  feito com  voz tranquila e semblante  simpático,   parecia  estar diante de nós  um  homem  defensor  dos oprimidos   e da justiça e bem-estar de seu país. Melhor exemplo para ilustrar a "pós-verdade" é difícil de encontrar.
    De outra parte,  no mundo contemporâneo, fica mais  árdua  a tarefa de se distinguir a verdade da mentira. Os jornais, as revistas,  os marqueteiros,  os propagandistas   estão aí  para  orientarem  verdades para uns e mentiras para outros, de tal sorte que quem perde é a credibilidade dos sistemas  de  informações, os leitores e a sociedade.
     Se no mundo da realidade  referencial somos vítimas  de logro  público  ou privado que se espalha como  vírus  destruidores   da ordem democrática e da paz entre as nações,  o seu efeito se  refletirá  claramente  no domínio das artes, de forma mais  intensa ou menos intensa, de acordo com o tipo ou o gênero  das obras. Só que, no domínio artístico, malgrado  sofrendo  influências  das ambiguidades e enganos  do mundo  contemporâneo, fará disseminar  outros distopias  que se  ajustem   aos tempos  modernos, tanto quanto a visão  do mundo criado  pelos artefatos fake,  pela mentalidade  apressada e extremamente  individualista das sociedades  hoje hegemônicas, via Estados Unidos, sobretudo. A compreensão mais  profunda  dos embricamentos  entre  pós-verdades e artes ainda está  a merecer   formas    diferentes  de debates tanto a partir  do agora quanto  dos anos que  virão. Necessariamente serão debates multidisciplinares dado  o amplíssimo  espectro   que nos oferece  o momento    presente de um mundo cada vez mais  complicado e difuso.
    Diante  das empulhações que se disseminam  no campo  político tanto nos EUA (onde Trump  se tem revelado o principal  paradigma da "pós-verdade") quanto no Brasil (aqui com as investigações  da Polícia Federal  em busca da verdade dos fatos  a fim de  punir  os culpados das inúmeras   práticas de deslavada  corrupção ativa e passiva contra o patrimônio público brasileiro, tipificadas  desde o Escândalo do Mensalão, no governo Lula até o Escândalo do Petrolão e outros  tipos de  corrupção  que tomaram conta  do governo federal durante a administração  de Dilma Rousseff e respingaram em novas  corrupções  praticadas por alguns governos estaduais e empresariado, cujo exemplo mais escabroso culminou com a prisão do ex-governador  Sérgio Cabral e do empresário  Eike Batista.   .
    A Operação Lava-Jato, em virtude dos  seus  elementos implicados em desvios  do dinheiro  público, nos crimes de propinas,de lavagem de dinheiro e de formação de quadrilhas,   podia ser uma espécie de  batalha  travada contra  comportamentos  de ações de ilicitudes  de políticos e  de altos dirigentes de estatais que recorreram  à prática  da “pós-verdade” ao negarem   fazer parte  dos vários esquemas de corrupção, alguns dos quais  já transformados em réus pela Justiça. A continuarem as investigações da Lava-Jato seguramente  novos  denúncias  surgirão com  mais indivíduos envolvidos  nos crimes de colarinho  branco.