segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

"Violência sem fim"


        



                                      Cunha e Silva Filho




Caro leitor, não estranhe o título deste artigo vindo entre aspas. É que o tirei de uma reportagem do jornal O Globo a propósito do que está ocorrendo no Estado de Santa Catarina.  É preciso ter em conta o fato de que os atentados contra ônibus e lugares públicos, inclusive contra  policiais e parentes destes configuram uma situação ímpar para a qual a presença do governo estadual contribuiu de forma errada, protelada e incompetente.
Por outro lado, se o governador  daquele estado ainda demorou na sua decisão de convocar, através do Ministério da Justiça,  um contingente da Força Nacional, ele só fez agravar o problema e dar exemplo de inoperância. Nenhum governador  pode vacilar em decisões que afetam a segurança da sociedade e o respeito que esta deve ter   pelas autoridades competentes. Respeito não  por   mera subserviência ao Governador de Santa Catarina, mas respeito oriundo do espírito de liderança e de confiabilidade que um governador possa inspirar ao cidadão. Felizmente,  a Força Nacional foi aceita para auxiliar em parte algumas operações co-adjuvantes ao Comando da Polícia Militar de Santa Catarina.

Santa Catarina e seu interior não merecem  o que estão passando ante esta escalada de violência – que já se tornou um problema de  âmbito nacional. Aqui cabe fazer-se um parêntese mais do que necessário: o governo federal parece que não se deu conta ainda de quão séria é a  virulência desse mal.

Não é possível que a Presidente Dilma Rousseff ande repetindo a versão feminina do “rei nu” do conto de Anderson. Os meios de comunicação do país põem a violência em todas as   suas formas como um  do nossos  problemas mais recorrentes. É difícil dizer qual mazela é a pior: a corrupção na política, a falência do sistema de saúde ou a selvageria das ações de criminosos. Creio que a violência seja a  pior, porque já tem traços de terrorismo, de máfias que dominam redutos, pedaços, espaços de nossas cidades e de nosso interior. Alguém já afirmou que a criminalidade pode se alastrar pelos quatro cantos do país, o que seria um desastre para o Brasil e um péssimo exemplo para o mundo.

O descontrole da violência coloca em xeque a capacidade de governança do Estado brasileiro. Em outras palavras, quando facções criminosas detêm considerável poder de fogo e de destruição, é porque as autoridades dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário estão deixando muito a desejar e com repercussão negativa junto da  sociedade, que não parece acreditar mais na máquina do Estado.

Ora, essa realidade  nos dá a  sensação de que o brasileiro perdeu a esperança de melhoria no campo da criminalidade. Sentimo-nos reféns como cidadãos que pagam impostos e elegem candidatos a cargos nos  poderes legislativos e executivos. Alguém pode se considerar seguro neste país quando está no seu carro e, de repente, vêm indivíduos que o assaltam, tomam-lhe um bem e, muitas vezes, lhe tiram a vida estupidamente. O que é mais terrível, o marginal ou marginais escapam ilesos ou, se são presos, logo lhe arranjam uma  forma de sair em liberdade para praticar novos crimes.

Os nossos governantes, em geral, fazem administrações improvisadas, escolhem mal seus secretários e auxiliares,  nos vários setores,  apenas por indicação político-partidárias, sem levar em conta o fator determinante, que é a competência para exercer determinada função pública. Daí se verem tantos descompassos e protelações quando ao governo cabe sem delongas equacionar problemas e propor   estratégias pautadas no conhecimento e habilidade técnicas ou intelectuais  da equipe do governo que se instala no poder.

No exemplo da  calamidade que atravessa Santa Catarina, por que o governador não exerceu as prerrogativas de seu mandato para atacar as causas dos 101 ataques de quadrilhas encasteladas nos presídios do estado e de lá determinando que bandidos fora das  prisões armassem ataques contra a população na  capital e em cidades do interior? Ora, leitor, se as ordens  de ações ilícitas vêm do interior das prisões é  em razão de nestes  recintos existirem meios de comunicação com a marginalidade das quadrilhas que estão soltas e pondo em risco a vida  do cidadão  brasileiro. Isso é de extrema gravidade e coloca todas as instâncias dos poderes constituídos em situação constrangedora para dizer o mínimo.

Então, facínoras dispõem de instrumentos de transmissão de mensagens nos próprios  cárceres?  Que fiscalização é esta, falha, incompetente ou conivente com prisioneiros  de alta periculosidade? Alguma  coisa anda errada nestes locais de isolamento.

O governo federal, a quem  cabe o papel de dar segurança à Nação, não vem desempenhando bem a sua função. Temos vários órgãos federais, temos as Forças Armadas, temos a máquina do poder judiciário, temos armas e poder de enfrentamentos, temos  logística, temos setores da polícia bem preparados e, ao cabo, não conseguimos resolver e minar drasticamente as facções  criminosas, as máfias brasileiras, os traficantes de armas e de drogas levando jovens e adultos à miséria física, psicológica e moral.

Não consigo atinar com a ideia de que nosso país dá certo em alguns setores e erra desastradamente nas áreas nas quais mais  se exige a presença de um Presidente da República que se dedique a procurar debelar o terrorismo que  se instalou na vida urbana e no interior. Há quem já falou de ações  criminosas no interior do Nordeste chamadas de “novo cangaço”, ou seja, quadrilhas que aterrorizam as cidades pequenas, explodem caixas eletrônicas, cofres das agências bancárias e fogem sem serem molestadas pelas forças policiais. Até parece que a polícia as teme, o que é uma flagrante contradição entre Lei e  ações delituosas.

O país está aí, com a sua população indignada contra a incompetência das autoridades nos níveis federal, estadual e municipal.   Estão aí nas cidades e nos campos  os assaltos, os homicídios, os desmandos da marginalidade, com prejuízos causados ao comércio, à economia sem que a vontade política seja posta em ações efetivas e conducentes a uma vida melhor e  tranquila que todos os brasileiros desejam e esperam das autoridades.

O povo está cansado de esperar por  essas soluções. Se o governo federal não agir com competência e espírito público, sem tergiversações nem discursos  meramente retóricos, o crime tenderá a se propagar com o seu rastilho de pólvora, matando, assaltando,  queimando ônibus, carros de polícia, carros particulares, traficando armas e drogas e se constituindo em forças assassinas, poderosas  e capazes de pôr o país numa enrascada sem precedente e sem volta. Não queremos para a nossa pátria  os  tempos das máfias italianas ou americanas. O povo sofrido  do país não merece tantos retrocessos acarretados pelo crime, impunidade, derrocada de nossos sistema de saúde, de nossa educação pública ainda de baixa qualidade e de nosso transporte de massa também ainda tão precário. Esta, leitor, é ainda a imagem real de nosso país, infelizmente.

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