Cunha e Silva Filho
Enquanto eu tentava processar os passos para conseguir, sem grandes habilidades, o acesso num caixa eletrônico, minha mulher e uma amiga conversavam sobre algum incidente desagradável recentíssimo, ou seja, acontecido entre a véspera de Ano Novo e o dia de hoje, dois de janeiro de 2013.
Eu pude ouvir o que as duas comentavam. A amiga de minha mulher estava-lhe contando que um amigo dela, de sessenta e dois anos, havia, no curto período de tempo de um fim de ano para o começo de outro sido atropelado por uma moto e morrido em consequência do impacto. Daí aos detalhes do lugar, da hora, das circunstâncias, do ato trágico em si, não sei, pois, logo que consegui o meu objetivo no banco, dele saímos ela, minha mulher e eu. No entanto, notícias sobre a morte de pessoas, sobretudo desconhecidos, não faltam e encheriam páginas dos jornais. Ninguém sobre elas iria tomar conhecimento. Só morrem para nós aqueles dos quais temos conhecimento por uma razão ou outra. Os desconhecidos, que jamais iremos conhecer, morrem e deles nunca teremos provavelmente sabido. A morte é anônima, o mais das vezes. .Como gostaria de que não o fosse!
Esta é uma fatalidade da condição humana. Morremos a qualquer hora, a qualquer instante. Quando muito, só a família, uns poucos amigos e conhecidos, a não que o fato vire notícia de jornal ou TV, chegam a saber que um senhor sessentão, estupidamente é morto por um irresponsável.
Não posso ser insincero, mas confesso que nenhuma simpatia tenho por motos, sobretudo por motoqueiros. Não que todos sejam indivíduos sem alma nem piedade pelos impotentes pedestres que cruzam as ruas brasileiras. Não tenho ódio àqueles que, fazendo seu trabalho o fazem com cuidado, respeitando a sua própria vida e a dos pedestres. Sou inimigo dos que infringem as leis de trânsito, tripudiam sobre os sinais, não respeitam os tímpanos dos transeuntes, elevando os decibéis a estúpidos graus criminosos para a saúde dos ouvidos da sociedade. Causa-me tremenda indignação quando um deles, em velocidade altíssima, parece querer ultrapassar limites humanos suportáveis , mais figurando ser um potencial suicida, pois nem à própria vida dão valor. Imagine-se a vida alheia.
Um senhor, ainda com tanto tempo de vida útil, de repente é assassinado por um irresponsável, quando não por um bandido montado em moto, usando de armas para um assalto premeditado. São inúmeras estas besta humanas que andam por aí ceifando inocentes nas ruas, sobretudo nas grandes cidades. Quando não matam, deixam a vítima aleijada, ou são vítimas de sua própria brutalidade na direção de uma moto.
As leis de trânsito, com respeito aos usuários de motos, devem ser mais rígidas, assim como as escolas de instrução para motoqueiros devem passar por severa e cuidadosa vigilância do Departamento de Trânsito. Conclamo as autoridades deste órgão para que intensifiquem as exigências na seleção de motociclistas, demandando um rigoroso exame psiquiátrico a fim de detectar algum comportamento anormal ou alguma psicopatia nesses indivíduos que passam a dirigir motos. São elevadíssimos os níveis de estatísticas que comprovam os desmandos de motos, afora os gastos astronômicos que as autoridades de saúde têm para tratamento de motoqueiros que se tornam fisicamente inválidos.
Um senhor no final de um ano torna-se mais uma vítima fatal da falta de preparo de motoqueiros, de insensibilidade pela vida das pessoas. Matar um senhor, como poderia ser uma criança, um idosa ou um adulto jovem, deveria se incluir nos tipos de crime hediondo, devendo ser considerado como inafiançável. O culpado só merece um lugar: a prisão sem as brechas escandalosas da lei. O mesmo diria respeito a qualquer crime praticado por outros veículos motorizados. Pena dura, inapelável, sem voltar para casa. Sem a aplicação dura da lei estaremos todos nós sendo cúmplices desses assassinos do trânsito. Creio que não sou o único que está fazendo esta conclamação justa e pelo direito à vida.
Que o sentido de repúdio e indignação desta crônica não fique apenas, mas agora me voltando para o alcance de número de leitores, no conhecimento dos poucos leitores de Machado de Assis (1839-1908), que, no nota “Ao Leitor, abrindo o primeiro capítulo do romance Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), não chegariam talvez a cinco – ao contrário de Stendhal (1783-1842) que, pelo menos atingiria cem leitores de uma de suas obras de ficção.Acresce que o tom irônico de Brás Cubas, lamentando a sorte de Stendhal, se torna mais corrosivo para si mesmo, se comparamos cem com “talvez cinco.”
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