Cunha e Silva Filho
Conquanto a ONU tenha feito alguma coisa, seja enviando observadores com delegação para se porem a par do que realmente lá está ocorrendo, falar com os envolvidos na revolta contra a tirania de um governo que ainda conta a seu favor com as suas tropas de segurança, poderio bélico, e com parte da população síria acumpliciada com as matanças indiscriminadas, mesmo assim Kofin Annan, representante diplomático de experiência testada em diversas vezes, ainda considera um meio eficaz manter a vigilância e tentar mais diálogo com o sanguinário Bashar al-Assad e possivelmente abreviar e até acabar com os horrores impostos à população civil.
Não consigo atinar como uma parte da população civil possa estar prestando solidariedade a uma ditadura, mas, lendo a História, isso não é para estranhar: Hitler, Mussolini, Franco, Stálin, para não citar outros do mundo contemporâneo, tinham também seus seguidores fanáticos e convictos de que estavam fazendo um bem à humanidade cometendo crimes abomináveis cujo exemplo mais típico foi o Holocausto contra os judeus.
O cinismo do tirano de plantão não se peja de realizar eleição na tentatia de se eternizar no poder, eleição suja, fraudulenta e de fachada como tem sido o que acontece naquele país que , cada vez mais, se destrói diante dos olhos e da opinião dos povos ditos democrático. Creio que a sorte ainda esteja ao lado do ditador sírio visto que a situação global está mais voltada para outros problemas setorizados, seja pelas campanhas eleitorais americanas, seja pela deplorável imbróglio em que se meteram
A Europa e seus problemas financeiros, econômicos, de desemprego, de desentendimento de ordem político-ideológica, de questões ligadas à imigração. Que contradição se está vendo nos países europeus, sobretudo na França, Grécia, Espanha, entre outros. Não queriam a globalização? Não queriam unidade européia? Não permitiram a escalada de levas de imigrantes de regiões cheias de conflitos religiosos, de corrupção, de permanente estado de terrorismo? Abriram as porteiras, permitiram a livre passagem de milhares de estrangeiros do oriente, da Ásia, da África.
Ora, se o sistema de economia global incensado é o capitalismo globalizado, as comunicações democráticas, as redes sociais, por que não se prepararam antes, com planejamentos necessários de controle de entrada de imigrantes em países que já tinham sérias dificuldades. Parece que o mundo gira de forma improvisada, permitindo que primeiro as desgraças aconteçam para, em seguida, procurarem soluções, o que é um grande erro de visão de conjunto.
A realidade nua e crua está aos olhos de todos. Os regimes de todas as colorações, da direita, da esquerda, da extrema-direita, da democracia social, do sistema neoliberal, todos eles, uns mais, outros menos, têm procurado, pelo menos teoricamente, dar conta dos angustiantes problemas mundiais. Na práxis, porém, os resultados nem sempre têm dado certo. Uns porque suprimem as liberdades individuais, a esquerda, o comunismo do tipo marxista, outros porque apenas aspiram a manter seu poderio econômico-financeiro elitista, mas distribuindo migalhas ao povo, como a direita. As democracias sociais, que muito poderiam realizar, na prática também sucumbem às pressões da força dos grandes grupos econômicos. Os neoliberais, adeptos do Estado mínimo, defendem a economia do livre mercado, mas têm um grave defeito: seu objetivo é a acumulação da riqueza de minorias em escala planetária.
Onde situaríamos o ideal de um sistema de governo, de um sistema político? Aí, então, chegaríamos a um relativo modo de resolver o impasse: a democracia plena, com os seus três poderes funcionando em benefício de todos, sem tabus nem discriminações, numa governança que atendesse aos anseios da coletividade quanto a seus deveres e obrigações, sua liberdade de expressão, de poder ir e vir, de reclamar contra injustiças e desmandos do governo, como é exemplo mais típico o cancro da corrupção que infesta todos os sistemas de governos. É óbvio que a democracia que vislumbro é aquela que não pratica violência e arbitrariedades contra o povo, que admite manifestações públicas pacíficas, que não use covardemente da força policial e só puna pobres e excluídos, democracia que tenha juízes imparciais e probos, que puna membros de toda a pirâmide social, que não admita as chamadas brechas da justiça para beneficiarem corruptos, assassinos, monstros sociais, que celerados cumpram a pena sem os habituais comutações por bom comportamento, porquanto, na prisão, não é tão difícil a hipocrisia do fingimento para levar vantagens ante a justiça.
Quando o Estado brasileiro, ou não, é permissível em tais vantagens, ele está também cometendo violência contra os direitos humanos.Não estamos na época do Brasil do Vice-Reinado nem mais podemos conviver com os meirinhos que sempre inventavam um estratagema para resolver falcatruas à luz de uma justiça venal.
Pouco vale o direito, em todas as suas divisões, quando lhe falta a condução de uma justiça imparcial, humana, compreensiva e eficiente. No fundo, os males dos homens residem na sua deformação de caráter e na distorção de arbitrar a aplicação da lei de forma imparcial. Uma alta cultura jurídica nas mãos de um caráter desfibrado vale menos que folhas secas ao sabor dos ventos.
Um ditador como o da Síria só se instalou num país porque lhe faltou toda uma estrutura democrática que deve presidir uma nação . Fora das leis de uma Constituição, só há caminho para a prepotência, o crime, a corrupção e os desmandos. Isso serve para os Impérios, as Monarquias, os diversos sistemas de governo.da atualidade.
O mundo ocidental esta mais pensando no seu próprio umbigo, nos privilégios de suas elites de todos os matizes. Na China, na Coreia do Norte, na Rússia, na... O povo, ora, o povo é a massa, sobre a qual recaem os erros dos governantes e de blocos de nações economicamente unificadas ainda que sofrendo os duros golpes de seus próprios desgovernos. Quem estaria seriamente pensando nas mortes diárias de civis inocentes, na destruição de suas moradias, nas explosões de edifícios públicos, hospitais, bens materiais, patrimônios históricos, choros de famílias enlutadas, no caos, enfim, instalado entre destroços, ruínas de “era uma vez uma cidade”, em ruas atropeladas por pedaços de pedras e de cápsulas de balas atiradas contra gente indefesa. Isso não é nem mais banalização do sentimento da morte, mas a morte do próprio sentimento.
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