quarta-feira, 30 de maio de 2012

Tempo esgotado para um criminoso




Cunha e Silva Filho


Os Estados Unidos mais preocupados estão é com as eleições; quando falo dos EUA, falo de Barak Obama que, agora, já tem seu rival de campanha muito próximo de si. Por essa razão, a política externa fica em segundo plano. País que tem liderado belicamente o mundo nos últimos anos, o dedo americano quase sempre estava na ferida alheia. Isso, se deu em toda a parte do mundo onde as tropas americanas poderiam interferir e até derrubar governos. Assim se deu com Saddam Russein, com Gaddafi, com os talibãs simbolizados pelo terrorismo da antiga liderança do hoje defunto Osama Bin Laden. Porém, quando se trata do genocida Bashar Al-Assad a transparência da belicosidade americana meio que fica oculta ou muito discreta.

Não é de agora que as matanças indiscriminadas do tirano Bashar Al-Assad têm mergulhado a Síria num oceano de sangue fratricida. As aparências mesmo se enganam. Quando a tevê internacional mostra encontros do ditador com diplomatas ou enviados da ONU, e o foco da câmera se projeta na figura do genocida, ninguém é capaz de imaginar o quanto existe naquele meio sorriso guardado no íntimo de lobo ferocíssimo.. E se passarmos a analisá-lo do ponto de vista semiológico-linguístico, tendo como molas os gestos, a voz, o discurso, a fala do homem forte e de aparência fingidamente tranquila, chegamos à conclusão de quanto o ser humano é capaz de afirmar mentiras deslavadas e cínicas e de transformação de personalidade com máscaras teatrais de bondade e suavidade inexistentes.

Ninguém consegue mentir o tempo todo para o mundo a não ser facínoras, os assassinos frios e sem alma. Querer descaradamente culpar o rebeldes pela matança dos próprios rebeldes é brincar de tirano com a humanidade.Contudo, é isso o que BasharAl-Assad vem fazendo não somente martirizando milhares de inocentes, sobretudo crianças. As inúmeras cenas mostradas nas tevês para o mundo inteiro são razões de sobra para uma imediata intervenção na Síria liderada por países que defendem a democracia e liberdade e que por isso, a não reagirem drasticamente contra os crimes na Síria, darão a impressão de que estão pouco se importando com uma situação de desumanidade insuportável vivida por aquela população. Os primeiros passos, felizmente, já foram dados por alguns países importantes expulsando os diplomatas sírios das suas embaixadas e consulados. Não entendo por que a Rússia e a China, aliados da Síria, não tenham feito pelo menos sérias advertências contra uma questão que está acima da rivalidades ideológicas e econômicas entre as nações: o respeito à vida.

Não adianta enviar mais representantes diplomáticos para lá, pois nada surtiu efeito após a presença de observadores que acompanharam parte do desenrolara dos combates entre rebeldes e tropas de um governo que não respeita a leis do direito internacional, dos seus órgãos de paz e segurança, todos já seguros dos crimes do ditador sírio e de seu desrespeito a todas as instâncias em que os direitos dos povos livres foram enxovalhadas todos os sentidos e em todas os compromissos anteriormente assumidos através de representantes da diplomacia síria com os dirigentes da ONU. Contra tiranos, déspotas, autocratas não há negociação. A única força que talvez respeitem seria a das armas de nações que lutam pela liberdades dos povos num mundo que , num conjunto de seus países, deveria ser sempre livre e harmonioso.

O culpado-mor não poderia apenas ser apeado do poder, mas punido por crime contra a humanidade, assim como merecem todos os genocidas e inimigos da vida. O exílio não seria para ele um castigo exemplar, mas um julgamento na Corte Internacional de Haia.

Não estou vendo da parte do governo brasileiro nenhuma reação contra a situação angustiante do povo sírio. A América Latina não me parece ter dado nenhum passo em direção às agruras insuperáveis dos mortos assassinados pelo ditador Bashar Al-Assad

Uma Humanidade desunida, fragmentada e preocupada apenas com sua força econômica, com os seus problemas internos jamais fará do nosso planeta um lugar de felicidade, seja no domínio material, seja no domínio espiritual.O mundo está necessitando é de uma ecopolítica sustentável em dois grandes pilares: democracia plena e defesa da vida contra opressores em qualquer quadrante da Terra.Isso não é um anelo utópico;, irrealizável. A utopia com um pé no chão parece um oximoro, sim. Mas, ela se pode tornar realidade entre homens que pensam com o cérebro e com o desejo de um encontro decisivo e franco com o seu semelhante independente de fronteiras de países, de línguas, cores, religiões, sectarismos político-ideológicos.

domingo, 27 de maio de 2012

A sempre intrincada questão entre realidade e ficção




Cunha e Silva Filho


Sempre que um escritor de ficção se defronta  com um entrevistador, este geralmente um jornalista literário ou cultural ou até mesmo um ficcionista também, pessoalmente ou numa entrevista por telefone, uma das questões mais comuns se encaminha para a discussão algo bizantina de um tópico que me parece nunca desejar ser tomado na sua profundidade de jogo dialético.

O jornalista, a certa altura da conversa lança , orientado por um número de perguntas listadas em seu questionário previamente organizado, a seguinte pergunta: “O seu livro recentemente lançado é uma ficção ou nele a matéria recolhida e pesquisada se fundamenta mais na realidade?

O entrevistado pára um pouco, reflete, organiza o pensamento e um pouco desajeitado, com ar de quem não é dono da verdade, por fim declara algum conceito do que entende da pergunta proposta, sem antes ter consciência de que um, dois ou mais caminhos teria que escolher para desenvolver seu raciocínio  da forma mais breve possível, uma vez que o contexto ali não lhe daria tanto tempo para longas digressões teóricas ou mesmo acadêmicas. “Na verdade, na composição desse livro comecei por fazer um levantamento onde o peso dos dados referenciais históricos, contra minha vontade, tomou logo vulto, o que me deixou  encalacrado na direção que, a princípio, traçara para a elaboração da obra. Não sendo eu um historiador mas apenas um leitor da História, isso me deixou, segundo assinalei, num dilema de difícil solução, uma vez que a minha intenção primeira era dar prioridade aos dados ficcionais, ou seja, criar uma história, personagens, um enredo(se possível), um tempo e espaço históricos e uma linguagem que procurasse ao máximo fugir do jornalismo-reportagem ou de um tratado de História.

Este desvio a que me vi compelido a fazer foi o que salvou o meu romance de uma rotulação híbrida, meio ficção, meio História.Quer dizer, na minha ficção, misturando dois campos distintos de uso da linguagem, salvou-me aquilo que o relato histórico não sabe administrar porque se vê esgotado na coleta da pesquisa exaustiva , quer sobre figuras reais, quer sobre esclarecimentos de certos pontos controvertidos com que se depara o historiador. Nesse vazios é que entrou a minha capacidade de fabulação, de penetração no que poderia ter acontecido da aventura humana de um determinado período histórico no qual sombras de entendimentos somente se mostram permeáveis pela força ficcional.

O nó da questão se põe nestes termos: o de privilegiar a linguagem narrativa, objetivo principal de quem pretende fazer literatura. Na linguagem literária a matéria da vida se constrói pela deformação mimética de concepção aristotélica. Trabalha-se a linguagem no domínio da realidade possível, do verossímil ou do fantástico ou maravilhoso, cujo produto se torna mais estético quanto maior potencial de talento ou vocação revela o autor no tratamento exigido pela forma artística  por ele alcançada.
O entrevistador, talvez, insatisfeito com o testemunho do escritor, lhe faz notar que em outras obra do escritor considerada por este de ficção continha igualmente elementos do universo da História do e, no entanto, tinha sido rotulada de romance.

O entrevistado então lhe acrescentou que um tipo de narrativa se distingue de um mero relato ou ensaio histórico na medida em que pode colocar um “questão central” não respondida pelo concurso da História. Ou como faz o escritor espanhol Javier Cercas:(1)  elabora sua obra na confluência da história e da ficção “... em todo romance, a pergunta central fica sem resposta, o importante é a investigação”, conclui ele. Posto que a questão da fronteira entre História e ficção não deixe de embaralhar os espíritos, o que, em meu juízo, torna-se decisivo para a classificação em gênero ficcional seria, repito, a forma intencionalmente de criação literária que o autor imprime à sua narrativa sem a ausência daquele elemento diferenciador intrínseco, a linguagem artística.

O que o entrevistado, em geral enfatiza é o componente essencial na economia do discurso ficcional, acompanhado de seus múltiplos recursos retóricos, de seu emprego desprovido da exposição meramente factual ou empírica que obstaria a refundação de um mundo à parte, capaz de  suscitar a curiosidade e o prazer do leitor, não para que este se afunde num mundo sem consistência de vida plena, de verdades artisticamente convincentes, de uma arquitetura ficcional equilibrada no seu todo mercê da capacidade técnica e dos poderes de invenção e imaginação do autor. Seria, dessa maneira, aquele chamado “pacto narrativo”, no qual o leitor é arrastado ou atraído pelo que uma narrativa lhe oferece como forma de conhecimento real  proveniente da naturalidade de experiências alegres, tristes, problemáticas, conflituosas e extraordinárias.

Saber ficcionalizar - acrescenta o entrevistado  -  é libertar o leitor do  caos da vida real para um nova visão mais completa e variegada de perceber o mundo. . Em  amplos recortes da realidade. o ficcionista    assume,  sem constrangimentos, a condição de também poder levar o leitor a  partilhar essas imensas possibilidades de ver a existência  de uma perspectiva privilegiada que só a arte  pode  propiciar  num compromisso em que valores morais e estéticos se sobreponham sempre à selvageria e à anarquia como propôs F. Schiller (1759-1805) já na sua época e que tão atual ainda soa aos nossos ouvidos contemporâneos.

 Essas possibilidades de conhecimento, por via da literatura, só se tornam patentes quando o leitor se vê ante uma realidade tão fundamente “real” e até mais totalizadora de uma narrativa  enraizada sob a chama viva da recriação de mundos e vidas, de seres,  de espaços, de paisagens, de tempos habilmente manipulados e sobretudo costurados com os instrumentos necessários do talento de um criador que, pela linguagem e para a linguagem recodificada, em termos de originalidade e estilo literário, daquilo que os formalistas russos denominaram literariedade, muitas vezes tem a capacidade de surpreender outros criadores e de mudar-lhe hábitos e concepções de narrativa, como é exemplo o da  romancista Nathalie Sarraute (1900-1999) que, após a leitura da famosa obra de Marcel Proust, À a recherche du temps perdu, declarara se impossível ver o mundo como o tinha visto ate então, tal o choque e reação provocados pela obra de Proust. Para ela Proust representava ‘uma certa ordem de sensação’. Ou seja, essa visão nova apreendida da ficção proustinana compreendia ‘diversos níveis de consciências’ que, através do escritor, “procuravam confusamente a sua forma”.

Recordo que um colega de magistério me confessara há anos que, após a leitura de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, sua visão também tanto da vida quanto da arte lhe causou forte e saudável mudanças de concepções de literatura no gênero ficcional.

O entrevistador, que ainda dispunha de algumas perguntas a fazer ao escritor, resolveu dar por encerrada a entrevista. Contudo, para o leitor da entrevista ficou bailando no ar uma curiosidade teórica, a de que cada escritor tenta mostrar seu processo criativo, mas se percebe que ali deixou escapar o principal que, na minha opinião, amiúde é posto de lado: o significado epistemológico do que sejam os mais diversos meios e recursos de que a ficção dispõe  na difícil tarefa da arquitetura da obra. Desses meios e recursos intuímos alguns, mas não  todos  em  cada   escritor, cujas razões últimas de procedimentos compositivos nunca são realmente reveladas.

Esse pulo do gato é escamoteado por vezes e é ele que provoca o silêncio das palavras. Aquelas razões últimas permeiam esse silêncio e pausas, assim como sua impossibilidade de se expor, por completo, ante o fenômeno literário, às verdades que gostaríamos de conhecer porque, ademais, o silêncio deixa um vazio, provoca dúvidas e ambiguidades, traços que não podemos negar no fenômeno literário, pois desvelariam  (ou não) o segredo ou o mistério necessários à permanência da essência  da literatura. Cada escritor guarda para si uma carta na manga.. Só que não a entrega a ninguém e com ele morre.





NOTAS

(1)  FREITAS, Guilherme. A realidade da ficção. In: O GLOBO, Prosa & Verso, 26/05/2012, p. 1-2


(2) SCHILLER, f. La educacion estetica del hombre. Trad. de Manuel G. Morente. Terceria edicion. Buenos Aires: ESPASA-CALPE ARGENTINA, S.A., 1945.

(3) BOURNEUF, Roland e OUELLET, Real. O universo do romance. Trad. de José Carlos SEABRA Pereira Coimbra: Livraria Almedina, 1976, p. 286-287.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um poema de Matthew Arnold (1822-1888)




Longing



Come to me in my dreams, and then

By day I shall be well again!

For then the night will more than pay

The hopeless longing of the day.



Come, as thou cam’st a thousand times,

A messenger from radiant climes,

And smile on thy new world, and be

A kind to others as to me!



Or, as thou never cam’st in sooth,

Come now, and let me dream it truth,

And part my hair, ad kiss my brow,

And say: My love, why sufferest  thou?



Come to me in my dreams, and then

By day I shall be well more than pay

The hopeless longing of the day





Saudade



Em sonhos me surges. Por isso

Amanhã outra vez melhor me sentirei!

Muito mais consoladora ser-me-á a noite que

A saudade do dia sem esperança.



Surge, como fizeste infinitas vezes,

Mensageiro de fulgurantes regiões,

E sorri no teu novo mundo, sendo

Tão dócil aos outros quanto a mim foste!



Ou então, como jamais chegaste na verdade,

Surge, agora, transmudando-me o sonho em realidade.

Parte-me ao meio os cabelos, beija-me o rosto

E dize: Amor meu, por que sofres?



Em sonhos me surges. Por isso

Amanhã outra vez melhor me sentirei!

Muito mais consoladora ser-me-á a noite que

A saudade do dia sem esperança.







                                                     (Trad. de Cunha e Silva Filho)









quinta-feira, 17 de maio de 2012

Uma luta de Sísifo







Cunha e Silva Filho


Durante boa parte do meu tempo de magistério lecionando no ensino fundamental e médio particular e no nestes mesmos níveis por concurso de provas e títulos no ensino público municipal e estadual, quase estou firmando a convicção de que os professores brasileiros lutam em vão. Uma vez, uma diretora de uma escola municipal, no meu início de carreira, me alertou para que não continuasse no magistério, uma vez que ele só me traria dissabores, o que se traduzia em baixos salários, falta de perspectivas e promessas por parte dos governantes de que as coisas melhorariam.

E assim foi.Entravam governos e saíam governos, e a situação angustiante continuava. Parecia um castigo dos deuses profanos ou das mensagens dos oráculos. contra a nobre carreira do professor. Os salários eram tão baixos que um professor nem mesmo poderia financiar uma casa própria, alugar um modesto  apartmento,   sobretudo se o professor tinha família e todos dependiam de seus minguados salários. Longos anos se passaram, e nada melhorou substancialmente. E sabem por quê? Porque os governantes não respeitam a classe dos professores, com exceção do nível superior e mesmo assim apenas nas universidades púbicas (e algumas particulares) que, da mesma forma, já passaram por péssimos períodos nos quais os professores tinham vencimentos incompatíveis com a relevância da cátedra superior e a manutenção dos trabalhos de pesquisas. Programas humoristas, novelas de televisão, passaram a caricaturar a situação dos professores. A escola do professor Raimundo do Chico Anísio (1931-2012) foi um deles..

.Ora, essa dessacralização dos docentes, na consciência de uma sociedade que valoriza o fetiche do status econômico, sofre a influência negativa da caricatura e,  por sua vez, passa a desvalorizar a vítima carnavalizada.  Na época, escrevi artigo criticando o citado programa de humor. Ou seja, o humor ali teve efeito negativo e não de castigar os responsáveis pelas péssimas condições sociais do docente.

Não sou prosélito do governo do Presidente Lula, mas estou convencido de que, no seu segundo mandato, ele foi o único mandatário que valorizou os professores universitários e os professores federais dos níveis fundamental e médio. Daí o respeito que as universidades têm tido por ele, daí os títulos de Doutor Honoris Causa que lhe têm sido outorgados.

Ao contrário, governadores e prefeitos, e vejo pela perspectiva de minha experiência como cidadão que mora no Rio, tanto no tempo da ditadura, quanto na fase democrática, pouca atenção deram aos professores públicos. Os movimentos de  grades e demoradas  greves deflagradas contra o governo do estado do Rio de Janeiro e a prefeitura do município do Rio se tornaram homéricas até que houve um período de exaustão por parte dos professores. Lideranças de professores se reuniam com representantes dos governos, às vezes chegavam a um acordo razoável de reajustes e de planos de carreira que prometiam seriam implementados. Algum tempo passava.  A inflação ia corroendo o que se conquistou e, dentro em pouco tempo, a situação angustiosa do arrocho salarial voltava ao despenhadeiro de Sísifo. Este teria que rolar novamente a pedra para cima do rochedo.

Foram inúmeras essas experiências malogradas. Governadores(inclusiveBrizola),   cariocas e prefeitos cariocas  não cuidaram bem do ensino. Um prefeito do Rio, o Saturnino Braga chegou mesmo a falir as finanças da prefeitura, levando os professores municipais a um estado de penúria, falência administrativa - diga-se a bem da verdade – só sanada pelo prefeito Marcelo Alencar. Nos meus longos anos de magistério, rigorosamente nunca houve um bom governante que privilegiasse a educação. A expressão plano de carreira se esvaziou do seu sentido concreto, virou retórica vazia de promessas mentirosas de candidatos a governos estaduais e a prefeituras. Lembrava uma afirmação triste e desanimadora de um ex-governador de São Paulo, Orestes   Quércia,  segundo a qual professores nunca teriam bons vencimentos. Era o castigo de Sísifo que parece permanecer até os dias atuais.

Agora mesmo, os professores municipais do Rio de Janeiro estão se mobilizando para uma assembleia a ser realizada na UERJ e ao mesmo tempo levando proposta salariais que seja mais digna do exercício do magistério. A atual  situação  dos professores é vergonhosa  para o  povo carioca, ao passo que as reivindicações justas da parte dos  docentes, se atendidas, melhorariam as aflições do professorado. Desanimados, tendo perdido o prestígio da sociedade que os vê como pobres citados, sem status social e sem dignidade e respeito da população, os professores cariocas estão empunhando uma bandeira que há tantas décadas tem enlameado os valores da saber, do estudo tão essenciais ao desenvolvimento de um nação que se quer enfileirar-se entre as sociedades desenvolvidas tecnológica e cientificamente,como a China, o Japão, os Estados Unidos, a França, a Alemanha, a Suécia,, entre outros.

O Brasil não vingará em sua expansão  industrial e tecnológica se não preparar seus filhos das camadas mais pobres ou paupérrimas em escolas com professores bem formados, atualizados, bem remunerados, com um sistema de educação sintonizado com o mundo moderno. Não é somente distribuindo aparelhos da área da informática, através de processos de inclusão digital, que as nossas criança e jovens sairão do buraco da ignorância e e de uma educação deformada. Não adiantam prédios bem equipados se lá dentro não existem professores bem pagos e desejosos de levar a educação brasileira a uma patamar de níveis das melhores escolas públicas do mundo.

Investir em verbas para a educação que não sejam desviadas para outros objetivos desconhecidos e inconfessáveis é imperativo de um governador ou de um prefeito bem intencionado e que respeita a formação cultural dos alunos. Reciclar professores é importante, mais importante ainda  é dotar os mestres de uma vida condigna para desenvolver suas aulas, estudar, aperfeiçoar-se e, assim, devolver aos alunos toda a sua experiência e resultados de estudos.

Na luta entre campanha salarial e melhoria do nível de ensino de nossas escolas municipais e estaduais devem estar envolvidos constantemente, além dos professores, mães e pais dos educandos, sempre juntos, de mãos dadas, cobrando eficazmente das autoridades educacionais medidas concretas e não paliativos ou promessas que, até hoje, não têm sido cumpridas. Nomear também para secretários de educação professores, pedagogos ou educadores de reconhecido valor moral e intelectual e não apaniguados políticos é outra  exigência imediata.e fecunda. Eliminando esses obstáculos altamente nocivos à educação seria um grande passo de um governante que respeita seus eleitores e o dinheiro do contribuinte. Do contrário, a luta dos docentes será um trabalho de Sísifo..

terça-feira, 15 de maio de 2012

No país das CPIs









Cunha e Silva Filho


Tempos atrás já houve o famigerado “Mensalão.’ Os jornais, os canais de televisão, as rádios, o povo só falava de um assunto: formação de quadrilhas, lavagem de dinheiro, superfaturamento, pagamentos de propinas, tráico de influência, lobbies, dinheiro metido nas cuecas, cenas de imoralidade política e mau-caratismo entre gente do governo federal (tempo de Lula) e do setor privado. O desenlace: da tragicomédia: a impunidade com poucas perdas para os acusados.  Os envolvidos estão aí, dando consultoria escrevendo para jornais de grande porte, ou mesmo exercendo ainda a política.

A Folha de São Paulo, à semelhança de folhetins do século 19, publicava, em várias páginas, iguais a capítulos, todos os passos dos desdobramentos da “vergonha nacional”. Ninguém sabia de onde vinha a verdade dos fatos, ou se sabia, ficava calado, mudo como uma pedra. Não a de Drummond (1902-1987) no meio do caminho, que é uma outra história e nada tem com o país da impunidade para os ricos.

Grandes jornalistas, na trincheira do extinto Jornal do Brasil, como Fausto Wolff (1940-2008), jornalista corajoso, ficcionista, tradutor, e Ivo Barroso, poeta, ensaísta e grande tradutor, disparavam seus tiros certeiros nas feridas da imoralidade nacional . Que pena que for por um período breve e justamente na época do “Mensalão.”

Enquanto isso, no exterior, a imprensa áulica, politicamente correta, onde o pensamento do articulista é técnico, impessoal, objetivo, sem originalidade e sem independência , sem marca pessoal, sem emoção e muitas vezes informativamente distorcido, só tinha mimos e loas para o Presidente Lula e, ao se referir a ele, o classificavam como Presidente da esquerda. Ora, se Lula nunca leu uma página de Marx, que é obra dificílima, mais citada do que propriamente lida, e “abstrusa” como há muito tempo um combativo jornalista a ela se referiu, como poderia ser um homem de esquerda bem fundamentada? Só se era do tipo de Leonel Brizola (1922-2004) que, seguindo Darci Ribeiro (1922-1997), era mais “ audível,” lia pouco. Aliás, os conceitos de ideologias modernamente se embaralharam e se infiltraram uns nos outros de tal sorte que, hoje em dia, ninguém nunca sabe quem é da direita, da esquerda, do centro, dos extremos. Ideologia que neles não passa de leituras de gabinete e não de exposição às reivindicações do homem da rua, das periferias, dos morros, dos lugares, onde a pobreza se choca com os grandes hotéis onde são hospedados, ou das mansões onde moram, ou dos restaurantes sofisticados que frequentam aqui ou nas ricas capitais da América e da Europa.

O PCB de Luís Carlos Prestes (898-1990), homem sério e bem intencionado, já não é o mesmo e até se desdobrou em PC do B, cujos membros e prosélitos, ao que saiba, não têm lá suas afinidades com o controle do Estado, a falta da liberdade, e um regime de força sinônimo de ditadura do Estado Ora, seus seguidores são, pela usos e costumes de vida, mais para a burguesia capitalista e o neoliberalismo do que para as convicções extemporâneas dos princípios de Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels (1820-1895). São comunistas para uso externo, como bem poderia, se fosse vivo, ter afirmado meu pai, que era defensor de uma democracia social.

Deputados da esquerda ou da direita, se tanto, se distinguem mais por algumas tendências voltadas para a dimensão social, para a causa dos menos favorecidos e isso apenas do ponto de vista teórico. Isso serve só para dar alguma satisfação aos eleitores que ainda acreditam em promessas de políticos.Vejam a vida que levam, os gordos salários que percebem regiamente na Câmara e no Senado.Abrirão mão deles? “Never more” diria o célebre poema de Edgar Allan Poe (1809-1849). Não passam alguns deles dos  burguesões adiposos da ode marioandradiana travestidos de socialistas ou de comunistas, em cuja bandeira partidária tremula esvaziadamente o sentido da foice e do martelo.

O arcabouço político-jurídico é tão complexo e tão cheio de meandros burocráticos e de hierarquias que um membro do Supremo pode expedir uma contra-ordem nas sequência de trabalhos de uma comissão parlamentar de inquérito, constituída para investigar envolvimento ilícito de um senador da República com um conhecido empresário e bicheiro, o Cachoeira. Por que Cachoeira não poderia comparecer agora à convocação dos membros da CPI? Teria foro privilegiado?

Que eu saiba são conhecidas amplamente do público esclarecido as informações que dão evidências suficientes de que o bicheiro tem relações de negócios escusos entre políticos e outros empresários,    não escapando até governadores brasileiros. A própria Polícia Federal, em sucessivas informações liberadas à grande imprensa, mostra diálogos comprometedores de conversas telefônicas entre as partes envolvidas na CPI.

Todos os três poderes só funcionarão plenamente se se  mostrarem isentos, imparciais e desejosos de elaborarem e cumprir a lei e, se no caso uma lei não está surtindo mais efeito, que seja suprimida e  reelaborada uma nova lei para atender a situações que não permitam as chamadas brechas ou sutilezas prontas a serem empregadas para proteger poderosos corruptos. No dia em que o indivíduo rico for para a cadeia como qualquer outro mortal do nosso povão, será possível acreditar num país democrático e livre.

A formação moral integral, como queria um eminente educador português deve ser um ditame imperioso na formação educacional e ética do indivíduo. Convergir nossos políticos, nossos governantes e nossos magistrados para a unanimidade em relação à formação educacional sob os dois pilares - conhecimento e moralidade de conduta - não seria a unanimidade burra de que falava Nelson Rodrigues (1912-1980). .É ainda tempo de mudarem os nosso homens públicos e os nossos líderes. Já se foi a era dos grandes talentos políticos, da alta cultura político-jurídica, dos grandes tribunos, parlamentares, das antigamente chamadas “reservas morais”. Hoje, vivemos a pasmaceira, a mediania,  a ausência de lideranças confiáveis.Em vez da política, a politicalha de que falava Rui Barbosa (1849-1923). As CPIs ilustram esse declínio de valores em extinção.



domingo, 13 de maio de 2012

Tradução de um texto de Raymonde Norman*



Para a mãe Elza, minha mulher, e para minha mãe Ivone e todas as mães neste “Dia das Mães”



Minha mãe







Sobre minha fronte põe tuas mãos frescas. Aí.. sim.. que refrigério! Isso tudo me faz reviver o tempo em que, pequenino, me punhas sobre os joelhos quando eu tinha um grande pesar, por exemplo, um galo na testa, ou quando, sem querer ter revelar, tinha medo dos ruídos e da tantas sombras sob o meu leito de criança.

Me sorri agora com este mesmo sorriso pleno de luz. Recordas? Dizias-me que era “teu pequeno cavalheiro.” Me parecias feliz, feliz como as fadas e princesas dos contos maravilhosos.

Teus cabelos embranqueceram. Por acaso foi de tanto chorares por mim? Não tens mais o rosado na pele. Não seria por que tanto ficaste à minha espera?

Em tua pessoa pensava às vezes lá distante, na solidão no meio de meus colegas de cativeiro. Levado no rol dos repatriados, retorno através de pequenas etapas e longos dias até chagar a ti. Não te disse ainda nada ainda, nem a ti dado nenhum testemunho. Cansado e muito magoado me encontro agora.. No entanto, tu sabes agir sem questionar. Com passos leves, me cumulas de cuidados, de silêncio, de tua presença.

Te sigo pelo olhar. Bebo teu sorriso: não quero pensar em nada e, se por acaso o pesadelo me ameaçar, ou se as lembranças de sofrimentos me assaltarem, estenderei a mão; estarás aí perto ... e o meu cansaço passará Um dia, talvez, quando estiver mais disposto, te contarei. tudo.... como se esvazia de um saco bem pesado todas as minhas dores. Agora, quero esquecer, quero viver e te quero junto de mim... Mamãe.



(Trad. de Cunha e Silva Filho)





Nota: A despeito de ter pacientemente procurado, via Internet, dados biográficos do autor do texto acima, de resto, uma texto belíssimo falando dos valores universais das Mães, na consegui encontrar nada de concreto. Só contei com o livro, do qual extraí a passagem que traduzi, que está num antigo compêndio didático de français escrito por Marcel Debrot, livro lido na adolescência, adotado por meu pai, meu então professor de francês no Ginásio “ Des. Antônio Costa,” instituição escolar particular, mais conhecida como “Domício.” O título do livro é Le français au gymnase, terceira e quarta séries ginasiais, publicação Editora do Brasil, São Paulo, 5. ed., p.34-35. Agradeceria a qualquer leitor caso me fornecesse dados biobliográficos referentes ao texto.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Amor inacabado



Cunha e Silva Filho





Na sala de aula a minha atenção se dirigia a todas. Nunca imaginara que, entre elas, havia uma que me observava há algum tempo naquela final de semestre. Um dia, ao final de uma aula, ela me entregou um papel, pequeno papel dobrado com cuidado e com um ar de segredo. O que seria?, me perguntei surpreso. Quando a turma toda saiu do recinto da sala, não contive a curiosidade e, tirando do bolso do jaleco aquele papel dobrado, li a mensagem que me parecia sigilosa: “ “Professor, eu te amo!” Uma alegria imensa se apoderou de mim e ao mesmo tempo logo associei o conteúdo da mensagem à figura mignon, adolescente de um rostinho moreno e olhos negros, negros “como o negrume do mar”, como diz Castro Alves em um poema belíssimo e cheio de sensualidade romântica.

Em casa, mal pude conter a vontade de reler o papelzinho perfumado com aquelas palavras doces e meio ingênuas. Meu espírito se elevou às alturas da felicidade de saber-me amado. Mas, aquele sentimento manifestado pela jovem amorosa martelava na minha cabeça À noite, fui preparar minhas aulas para a manhã seguinte, porém o pensamento não me saía da cabeça. Parecia que ouvia a voz da adolescente me dizendo que, em casa, fosse ler o que havia no papel dobrado. No seu semblante tenro, doce, belo e nos seus movimentos rápidos e principalmente no seu olhar profundo havia sinceridade de gestos e de palavras.

Na mesma semana, voltando às aulas  e entrando na sala em que ela estudava, me deparei com a sua presença. Notei que estava com a cabeça abaixada, talvez escrevendo alguma coisa num caderno. Os cabelos longos e sedosos estavam jogados para a frente quase a cobrir-lhe a face. Sabia que eu já havia entrado na sala. Dei a minha aula. No final, obedecendo ao toque da campainha, e após preencher no diário o conteúdo desenvolvido, me levantei e me despedi da turma com um ciao. Saí e ganhei o longo corredor. De repente, ouvi alguém me chamar em voz baixa. “Você leu?” “Sim, li.”“O que achou?” “Achei lindo e sincero.” “Porque não conversamos em outro lugar? A gente pode marcar um encontro . Que tal no centro da cidade,no Passeio Público..."  "Boa ideia!"

No dia do encontro marcado, conversamos muito sobre as nossas vidas. Ela estava bela naquela blusa azulada, com um decote mostrando um pouco no desenho moreno meio fundo onde se aninhavam pequenos seios esculpidos pela natureza. Usava calças jeans e uma sandália preta de saltinho discreto. À luz do sol, que reverberava nos jardins do Passeio, sua tez ainda estava mais bela , sem manchas, cheia do viço da juventude em flor. As sobrancelhas escuras e bem delineadas, grossas mas discretamente cuidadas em salão de beleza, compunham aquele rosto meio comprido que lembrava personagens saídos de um romance sertanejo alecarino.

No meio da conversa, em clima de emoção e alegria, ela retirou de uma pequena bolsa um estojinho minúsculo.  Era um presente que me oferecia pelo nosso encontro. Uma pulseira de fantasia no meio da qual havia uma frase que só ficava inteligível quanto a girássemos puxando as duas correntes. Era, então, que aparecia a mensagem: “Eu te amo”. Não resisti em dar-lhe um beijo na testa e, em seguida, por instinto, dois lábios sedentos se misturavam no prazer do sentimento amoroso.

Várias outra vezes, nos encontramos sempre com maior intensidade de sentimento e com promessas de futuro.

Um dia, ela me falou que iria passar alguns dias no interior com seus pais. Não gostei da ideia, pois iria ficar sem vê-la . Outro dia, me falara que já tinha gostado de um jovem, mas que haviam desfeito o namoro. Esses fatos me deixaram um tanto preocupado com a continuidade de nossos encontros e de nossas promessas.

Vitória era o seu nome. Seu pai tinha sido boxeador na juventude, contudo, depois, entrara para a Marinha. Sua mãe não era verdadeira, era apenas sua madrasta. Sua mãe biológica havia morrido bem cedo, aos vinte e dois anos, em consequência de um parto.Desse parto Vitória foi a sobrevivente.

Na escola, tudo continuava como sempre. A rotina das minhas aulas. A troca de olhares furtivos entre mim e ela. Era uma aluna regular, mas responsável, séria e educada.

Uma vez, ela e eu fomos a uma casa de uma amiga dela, que também estudava na mesma turma.  A amiga morava num apartamento modesto, contudo bem cuidado.Via-se que a família de Júlia, a amiga, era íntima de Vitória. Naquele dia, quando as duas, um pouco afastadas de mim, estavam conversando, ou melhor, confidenciando entre si, ouvi de Julia: “Eu sou muito mais pelo Emílio, que é meu nome, e não por aquele ex teu, o Ricardo Pita. Não ouvi o que Vitória havia respondido para a amiga. Entretanto, pairou uma dúvida cá no meu interior: “Será que ela ainda tem algum elo afetivo com esse tal Ricardo? "Até hoje, passados tantos anos, não tenho a resposta para aquela indagação.
O fato é que, depois de uma período de férias escolares, voltando às aulas, Vitória ainda por coincidência era minha aluna. No período de férias, nos despedimos um tanto frouxamente. Ela iria passar todo o período no interior do Rio e eu jamais recebi alguma notícia dela. Concluí que estava encerrado o namoro. Aquele arroubo todo passara como fogo de palha. Naquela volta às aulas, depois de uma aula que dei para a turma dela, tendo já saído da sala, no corredor, ela veio até a mim um tanto ressabiada, sem jeito, sem entusiasmo e me perguntou se ainda podíamos continuar. “Continuar ”, dissera-lhe eu, não, não quero mais”. Três meses depois, fui demitido da escola. Algum tempo depois, saindo de um ônibus, vi que estava sentada do lado da janela. Olhei pra ela e ela, por sua vez, olhou pra mim indiferente como a Sofia de Machado de Assis. Desci com o coração sangrando.Hoje, deve ter seus cinquenta anos ou quase. Penso agora, naquela palavras do narrador de Quincas Borba, do derradeiro capítulo, o CCI, do romance (...) “O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.”

Algum tempo  depois, ainda a vira numa feira do subúrbio da Leopoldina. Estava acompanhada de uma   moço.Desta vez, julgo que não me vira. Eu estava acompanhado de um amigo que me convidara a ir à feira, situada não muito distante de onde eu morava.

Nunca mais a vi nem mesmo sei se está viva ou que fez da vida. São águas passadas que, embora passadas, de vez em quando invadem nossos corações num misto de saudade, tristeza, desilusão e dúvida, associado, contudo, naquele breve tempo de amor fulminante, a uma canção antiga de uma compositora cega que, por algum tempo, teve alguma repercussão.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Persistem as matanças na Síria num mundo conturbado




Cunha e Silva Filho





Conquanto a ONU tenha feito alguma coisa, seja enviando observadores com delegação para se porem a par do que realmente lá está ocorrendo, falar com os envolvidos na revolta contra a tirania de um governo que ainda conta a seu favor com as suas tropas de segurança, poderio bélico, e com parte da população síria acumpliciada com as matanças indiscriminadas, mesmo assim Kofin Annan, representante diplomático de experiência testada em diversas vezes, ainda considera um meio eficaz manter a vigilância e tentar mais diálogo com o sanguinário Bashar al-Assad e possivelmente abreviar e até acabar com os horrores impostos à população civil.

Não consigo atinar como uma parte da população civil possa estar prestando solidariedade a uma ditadura, mas, lendo a História, isso não é para estranhar: Hitler, Mussolini, Franco,  Stálin, para não citar outros do mundo contemporâneo, tinham também seus seguidores fanáticos e convictos de que estavam fazendo um bem à humanidade cometendo crimes abomináveis cujo exemplo mais típico foi o Holocausto contra os judeus.

O cinismo do tirano de plantão não se peja de realizar eleição na tentatia de se eternizar no poder, eleição suja, fraudulenta e de fachada como tem sido o que acontece naquele país que , cada vez mais, se destrói diante dos olhos e da opinião dos povos ditos democrático. Creio que a sorte ainda esteja ao lado do ditador sírio visto que a situação global está mais voltada para outros problemas setorizados, seja pelas campanhas eleitorais americanas, seja pela deplorável imbróglio em que se meteram

A Europa e seus problemas financeiros, econômicos, de desemprego, de desentendimento de ordem político-ideológica, de questões ligadas à imigração. Que contradição se está vendo nos países europeus, sobretudo na França, Grécia, Espanha, entre outros. Não queriam a globalização? Não queriam unidade européia? Não permitiram a escalada de levas de imigrantes de regiões cheias de conflitos religiosos, de corrupção, de permanente estado de terrorismo? Abriram as porteiras, permitiram a livre passagem de milhares de estrangeiros do oriente, da Ásia, da África.

Ora, se o sistema de economia global incensado é o capitalismo globalizado, as comunicações democráticas, as redes sociais, por que não se prepararam antes, com planejamentos necessários de controle de entrada de imigrantes em países que já tinham sérias dificuldades. Parece que o mundo gira de forma improvisada, permitindo que primeiro as desgraças aconteçam para, em seguida, procurarem soluções, o que é um grande erro de visão de conjunto.

A realidade nua e crua está aos olhos de todos. Os regimes de todas as colorações, da direita, da esquerda, da extrema-direita, da democracia social, do sistema neoliberal, todos eles, uns mais, outros menos, têm procurado, pelo menos teoricamente, dar conta dos angustiantes problemas mundiais. Na práxis, porém, os resultados nem sempre têm dado certo. Uns porque suprimem as liberdades individuais, a esquerda, o comunismo do tipo marxista, outros porque apenas aspiram a manter seu poderio econômico-financeiro elitista, mas distribuindo migalhas ao povo, como a direita. As democracias sociais, que muito poderiam realizar, na prática também sucumbem às pressões da força dos grandes grupos econômicos. Os neoliberais, adeptos do Estado mínimo, defendem a economia do livre mercado, mas têm um grave defeito: seu objetivo é a acumulação da riqueza de minorias em escala planetária.

Onde situaríamos o ideal de um sistema de governo, de um sistema político? Aí, então, chegaríamos a um relativo modo de resolver o impasse: a democracia plena, com os seus três poderes funcionando em benefício de todos, sem tabus nem discriminações, numa governança que atendesse aos anseios da coletividade quanto a seus deveres e obrigações, sua liberdade de expressão, de poder ir e vir, de reclamar contra injustiças e desmandos do governo, como é exemplo mais típico o cancro da corrupção que infesta todos os sistemas de governos. É óbvio que a democracia que vislumbro é aquela que não pratica violência e arbitrariedades contra o povo, que admite manifestações públicas pacíficas, que não use covardemente da força policial e só puna pobres e excluídos, democracia que tenha juízes imparciais e probos, que puna membros de toda a pirâmide social, que não admita as chamadas brechas da justiça para beneficiarem corruptos, assassinos, monstros sociais, que celerados cumpram a pena sem os habituais comutações por bom comportamento, porquanto, na prisão, não é tão difícil a hipocrisia do fingimento para levar vantagens ante a justiça.

Quando o Estado brasileiro, ou não, é permissível em tais vantagens, ele está também cometendo violência contra os direitos humanos.Não estamos na época do Brasil do Vice-Reinado nem mais podemos conviver com os meirinhos que sempre inventavam um estratagema para resolver falcatruas à luz de uma justiça venal.

Pouco vale o direito, em todas as suas divisões, quando lhe falta a condução de uma justiça imparcial, humana, compreensiva e eficiente. No fundo, os males dos homens residem na sua deformação de caráter e na distorção de arbitrar a aplicação da lei de forma imparcial. Uma alta cultura jurídica nas mãos de um caráter desfibrado vale menos que folhas secas ao sabor dos ventos.

Um ditador como o da Síria só se instalou num país porque lhe faltou toda uma estrutura democrática que deve presidir uma nação . Fora das leis de uma Constituição, só há caminho para a prepotência, o crime, a corrupção e os desmandos. Isso serve para os Impérios, as Monarquias, os diversos sistemas de governo.da atualidade.

O mundo ocidental esta mais pensando no seu próprio umbigo, nos privilégios de suas elites de todos os matizes. Na China, na Coreia do Norte, na Rússia, na... O povo, ora, o povo é a massa, sobre a qual recaem os erros dos governantes e de blocos de nações economicamente unificadas ainda que sofrendo os duros golpes de seus próprios desgovernos. Quem estaria seriamente pensando nas mortes diárias de civis inocentes, na destruição de suas moradias, nas explosões de edifícios públicos, hospitais, bens materiais, patrimônios históricos, choros de famílias enlutadas, no caos, enfim, instalado entre destroços, ruínas de “era uma vez uma cidade”, em ruas atropeladas por pedaços de pedras e de cápsulas de balas atiradas contra gente indefesa. Isso não é nem mais banalização do sentimento da morte, mas a morte do próprio sentimento.



quarta-feira, 2 de maio de 2012

Segurança e saúde pública:os dois vilões nacionais




                                                    “A Arte fala a verdade”

                                                    Lima Barreto, “Prefácio” a Os Bruzundangas



Cunha e Silva Filho


A grã-finagem brasileira, como os reis nus, não querem ver cenas horripilantes, noticiários de matanças, estupros, esfacelamento familiar, pobreza, os vícios os mais diversos, reportagens sobre sequestros, tráficos de droga, prostituição de menores, maus tratos de policiais ou notícias sobre policiais que sabem cumprir o dever e têm consciência do que fazem para o bem da população. O caldeirão de notícias é prato variado e nele cabe tudo: o bom e o lado mau da vida brasileira contemporânea. Esse tipo de jornalismo é injustamente tachado de imprensa marrom, sensacionalista.

Não sabem,, no entanto, os que o criticam que esse é o termômetro, quer queira, quer não, que define com precisão cirúrgica o cotidiano de nosso país. Sociólogos, antropólogos, políticos em geral que não se dão ao trabalho de assistir a tais notícias e, ao contrário só importância dão às estatísticas oficiais e a resumos de auxiliares que filtram apenas o que interessa às autoridades públicas, não conseguirão radiograr o Brasil social, o pais e suas mazelas, suas injustiças, suas impunidades. Inclusive, aqui vai uma sugestão também dirigida aos nossos governantes, i.e., a prefeitos, governadores e presidentes da República: vejam esses programas que, em alguns canais não-burgueses diariamente se especializaram nesse tipo de jornalismo marginal (atente-se: não marginalizado). Seria aí que encontrariam ideias fecundas para que alterássemos esse estado constante de um país paralelo, não divulgado no exterior e que mostra dois grandes problemas gravíssimos : a violência e a saúde pública.

A imprensa televisiva, mesmo a injustamente chamada sensacionalista para os olhos da burguesia, a meu ver, serve de valiosa amostra dos magnos problemas nacionais e, no caso particular, nos setores públicos da segurança e da saúde.. Não adiantam as propagandas pagas pelos governos municipal, estadual e federal a fim de elducorarem uma realidade que não desejam seja vista por todos os segmentos sociais. Agindo assim, só estarão contribuindo para a degenerescência dos aflitivos males sociais que campeiam pela país afora e são mais agudos nas metrópoles brasileiras.

A população brasileira está gritando por uma polícia que esteja ao lado dela e não como inimiga. A seleção de novos policiais civis, militares está inadequada e longe de escolher jovens com bons princípios e comportamento louvável.

Os hospitais, da mesma forma, estão ausentes no atendimento de contingentes menos favorecidos da nossa sociedade. Instituições recém-criadas no Rio de Janeiro, comas chamadas UPAs, não estão dando bons exemplos ao povo carioca quando se constata que em muitas unidades delas não existem médicos para os principais setores da medicina. Os salários de policiais, bombeiros, polícias civiis, de delegados, de médicos e de todos os quadros auxiliares e administrativos desses setores são vergonhosamente baixos a tal ponto que os profissionais abandonam o emprego e vão procurar outras atividades que lhes deem maior conforto familiar e uma vida digna.Na realidade, o quadro nos dois setores é tão aflitivo que a escalada da violência ganha terreno e já está incomodando a alta burguesia, só faltando a escala mais alta da pirâmide social, os milionários ou multimilionários. São Paulo e os seus bairros mais elegantes que o digam, assim como o Rio de Janeiro e seus bairros mais requintados.

O país não precisa só de sociólogos de gabinetes e a serviço da burguesia e da cooptação ao status quo. Da mesma forma, os economistas e outras categorias de profissionais. Todos parecem estar distantes da realidade chã e simples da vida brasileira. Acorde, gente. Deixemos de ser macunaímicos e afastemos de nós a situação de bruzundangas.

Não só de erudição, de curso de pós-doutorado na Europa e nos EUA, países tão distantes das nossas condições e contextos tupiniquins, se fazem as avaliações, as análises vivas e profundas fincadas no matéria bruta que a dinâmica da vida social e cultural no país exige com urgência e firmeza.. Deixem o ilusionismo realista de lado. Fiquemos com o distanciamento necessário à desalienação de nosso povo, afundado que está na escuridão da ignorância, no desconhecimento dos seus direitos e obrigações e na extrema penúria de reflexão crítica.



terça-feira, 1 de maio de 2012

Os sentidos e finalidades das ditaduras









Cunha e Silva Filho





Sob que pretexto for, não se pode nunca justificar a implantação de um estado não democrático num país, seja aqui no Brasil ou qualquer país da América do Sul, no Caribe, na Europa, Ásia, África, em qualquer continente do mundo. Os regimes de exceção, os regimes de força, as ditaduras da esquerda, da direita, militares ou civis devem ser abominadas pelo cidadão que defende e ama a democracia, não as falsas democracias de fachada, mas aquelas que respeitam as liberdades do individuo, a de livre expressão do pensamento, a de ir e vir, a de poder deslocar-se para outro país sem que seja obrigatória a permissão do ditador de plantão ou ditador por tempo indeterminado.

Uma vez, o ex-presidente Bush pai, no discurso de posse para a Presidência dos EUA, declarou: “O tempo do ditador se acabou.” Isso foi no tempo da Guerra do Golfo(1990-1991), quando o Iraque invadiu o Kwait. As forças de coalizão das Nações Unidas, sob a liderança americana, conseguiram derrotar Saddam Russein. Suas palavras, porém no contexto atual, viraram apenas retórica vazia, visto que as ditaduras continuaram e continuam assombrando os homens em alguns países.

Se o estado discricionário, por via militar, se instala num país qualquer, rompe-se de repente todo o arcabouço jurídico do Estado. Os partidos políticos existentes se esfacelam, os direitos inalienáveis do indivíduo são eliminados da noite para o dia e toda a estrutura da máquina do Estado sofre um colapso. É o caos instantâneo que se estabelece. Os déspotas que se apoderam do poder, para que deem continuidade mínima à administração do país, provocam alterações substanciais em todos os setores do Estado.

O país ideologicamente se divide. Os compatriotas deixam as ideias comuns de solidariedade mútua para ingressarem em blocos divisórios a favor ou contra os novos donos do poder. Este é um dos primeiros males semeados pelas ditaduras. Ou seja, o irmãos da mesma pátria se tornam hostis entre si, cada um defendendo suas pretensas ideologias. A pátria é ferida em sua unidade de diversidade de opiniões políticas mantidas em campos ideológicos diversos mas não como inimigos sangrentos. A ditadura, porém, sabendo que depende da mínima fachada para se manter no poder, redesenha uma forma de criar partidos artificialmente mas sem nenhuma independência de programas com nítida coloração política. Assim, o Senado, a Câmara dos deputados e mesmo o Judiciário ficam à mercê dos humores do ditador. Cria-se, portanto, um caricatura de governo. O povo, por sua vez, no geral, pouco ou nada se dá conta das mudanças radicais que se instalaram nos palácios dos governos. A arraia miúda, despolitizada, sem instrução e qualificação alguma, sem consciência efetiva dos seus direitos e obrigações, vai chafurdar na monotonia de suas vidas sem perspectivas e sem sentido.

Enquanto isso, os governantes autoritários, senhores todo-poderosos, uns mais outros menos, gerenciam suas funções de mandonismo, de árbitro–mor , com poderes ilimitados, senhor do destino da vida ou da morte de seus povos, a eles submissos sob o tacão de suas botas, das armas e do poder de fogo que, se necessários, podem ser empregados contra os ex-compatriotas, porque, numa ditadura, a noção de pátria se distorce e se abastarda..

A legalidade sofre um golpe mortal e, para sobreviver, se acomoda ao novo status quo da arbitrariedade sem limites. Dificilmente, as ditaduras se eternizam. O seu destino é o fracasso, a derrota dos autocratas. O seu fim é quase sempre trágico, assim como de seus familiares e de seus asseclas mais próximos. Poucos governos discricionários, com na China, na Coreia do Norte, em Cuba, em alguns países africanos se sustentam pela força e ignomínia de suas lideranças. A Síria está a um passo da derrocada de um tirano sanguinário e genocida. Assim, no passado ocorreu com Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Pinochet, Idi Amin, entre outros inimigos da humanidade.

O século 21 não há de ter o mesmo destino nefasto de ditadores. Vejo como tendência dos tempos modernos e de alta evolução tecnológica, que haverá um horizonte cujo brilho é o da esperança de uma nova era de estabilidade de governos sob a égide da paz e da democracia. Não haverá espaço para novas ondas de tomadas do poder por caminhos anti-democráticos. Por isso, os povos manietados por ditadores não se conformaram com o seu estado de amordaçamento político, de anseios de liberdade, de conquistarem com independência seus objetivos individuais. Daí os protestos, as oposições em armas contra a prepotência da tirania.

As facilidades das comunicações através da Internet, sobretudo das redes sociais de comunicação instantânea e globalizada, terão um largo espaço de barganha para difundirem ideias de liberdade e de autonomia da sociedade civil, de melhor compreensão do que seja o sistema democrático de governo. Não há povo que não almeje a liberdade do pensamento, a liberdade de locomoção, a liberdade de escolher o seu destino, de planejar as suas vidas, de ter a sua utopia pessoal e intransferível, a liberdade enfim, de produzir obras de arte nos vários setores da criação artística, sem as peias dos produtos artísticos das ditaduras de esquerda ou de direita ou mesmo as oriundas dos setores militares.

Por isso, achei comovente e ao mesmo tempo melancólico o testemunho de um escritor argentino, Juan Guelman, poeta tido hoje como um dos mais importantes poetas de língua espanhola. Guelman deu uma entrevista ao jornalista Guilherme Freitas, da equipe de Prosa & Verso de O Globo. O poeta esteve em Brasília neste mês participando da I Bienal Brasil do Livro e da Leitura em Brasília.

Seu depoimento repassado de saudade e de tristeza pelo trágico destino que teve seu filho Marcelo, vítima, com tantas outras, da ditadura argentina, responsável por 30.000 desaparecidos. Triste triplamente porque sua nora grávida de uma menina. Maria Cláudia García, havia também sido assassinada por militares argentinos, mas seus restos mortais ainda não foram localizados, mas Guelman teve informações de que restos mortais encontrados num batalhão uruguaio podem bem ser os da sua nora. O poeta só está aguardando o resultado de “exames” para identificação. A filha que ela teve com Marcelo fora entregue a uma família no Uruguai. O poeta só conseguiu encontrar a neta, após penosas tentativas de localização, vinte e três anos depois do sequestro em 1976.

A grande saga em que se converteu a sua história de pai de um desaparecido consistiu em lutar, com todas as suas forças, no sentido de descobrir o corpo do filho, o que só aconteceu em 1990.Para o pai foi “..como se tivesse recuperado sua memória”, da mesma maneira que o encontro com a sua neta, de nome Macarena, lhe trouxa grande alegria de avô.

Guelman não mais quis retornar para a Argentina. As cicatrizes foram grandes demais e, mesmo com a volta à democracia, não mais se sentiria bem em seu país . Escolheu como lugar definitivo o México onde continua produzindo poesia.A morte de seu filho amado lhe inspirou um poema longo chamado “Carta aberta.”

O exemplo do Juan Guelman resume o de tantos outros argentinos sofridos e eternamente amargurados, cujo símbolo maior são “as mães da Praça de Maio”, com os seus desaparecidos durante o longo pesadelo que foi o período em que imperavam absolutas as forças antidemocrática, o que demonstra à saciedade o quanto as ditaduras fazem mal à humanidade e o quanto os homens de bem e de pensamento livre, em qualquer parte, devem lutar incessantemente para que o ser humano não perca a vida e a liberdade.