Cunha e Silva Filho
Não tenho pretensão de ser alarmista, espalhando cassandras por aí irresponsavelmente, nem tampouco de narrar, como fez Orson Welles (1915-1985) para o rádio a notícia de que a Terra estava sendo invadida por extraterrestres. Da mesma forma, não quero ser o personagem Cândido de Voltaire a ponto de o otimismo exagerado ofuscar-lhe a dureza dos acontecimentos e a realidade circundante, vendo tudo pelo lado positivo tal qual aquele personagem–pai maravilhoso e ao mesmo tempo prejudicial desse filme grandioso, que é “A vida é bela.”
Nem hoje é possível mais esconder “o manto diáfano da fantasia” do que se passa no mundo. Costuma-se dizer que o século 20 foi o mais assombroso em desgraças para a humanidade, bastando citar as duas hecatombes das apocalípticas conflagrações, a Primeira Guerra Mundial(1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Numa visada da realidade mundial, pouco sobra de paz e de bondade entre os humanos. Teimamos em nos localizar no campo das discórdias, dos confrontos, das matanças que alcançam o nível de extremo primitivismo, que são as ações genocidas hoje visivelmente realizadas na Síria, onde até crianças são presas e mortas pela insânia e maldade animalesca partindo de decisões do governo. Até que ponto vai a insensatez e a selvageria de autoridades, cujo responsável-mor é o matador Bashar AL-Assad – figura ominosa hoje odiada por inúmeros povos árabes, à frente a Tunísia, que lhe pede a imediata saída do poder usurpado através de eleições de fachada. Que, na práxis, não passam de “referendos” para o manterem no autoritarismo criminoso e covarde.
Se os povos no mundo inteiro fossem unidos – o que é apenas uma utopia – um ditador desse naipe não estaria mais no poder e sim na prisão, lugar merecido para ele e tantos que o apóiam.
Lamentável que a China e a Rússia barraram com vetos à resolução da ONU a fim de que uma intervenção imediata seja feita na Síria. Já se deu tempo de sobra para o ditador cínico e pusilânime, inimigo da humanidade, que está a merecer um julgamento na Corte Penal Internacional, em Haia, para celerados genocidas. As forças da OTAN devem envidar esforços para que os trâmites da interferência armada sejam logo concluídos e as estratégias bélicas sejam acionadas. A “Primavera Árabe” há de sair vitoriosa na Síria e seu oprimido povo há de encontrar um tempo de paz duradoura e um governo digno que tenha amor ao seu povo.
Basta de tantas cenas de terror e de mortes banalizadas de inocentes pelo mundo todo. No Afeganistão, no Paquistão, no Iraque, no Egito, em partes da África, nos eternos conflitos entre palestinos e judeus. O mundo está cansado de mortes sem fim. De destruições de cidades, de prisões injustas, de falta de liberdade de imprensa e de liberdade de um cidadão ou cidadã para sair e entrar no seu próprio país, como é o caso da blogueira cubana Yoani Sánchez, impedida por dezenove vezes de sair do pai.Embora tenha conseguido visto do Itamaraty para vir ao Brasil e idêntica concessão já tivesse sido autorizada pelo governo cubano, houve, não sei por que motivos, uma recuada dos governantes cubanos. Por conseguinte, não pôde visitar o Brasil. Que direitos têm um ditador de dispor dessa liberdade de locomoção? Fundamentado em que lei se pratica tal barbaridade e garroteamento dos direitos civis de alguém que nasce num país e, ipso facto, deve ter total liberdade de criticar os desmandos autoritários de seu país?
Se um país comunista não teme ser alvo de crítica aos seus erros e injustiças contra seu povo, por que resiste a não dar permissão a um escritor, jornalista, um intelectual de se ausentar de sua terra natal? Se os comunistas cubanos temem é porque escondem os subterrâneos e os desvãos da burocracia autoritária. Então, pelo visto, todos os cubanos são reféns do governo ditatorial.
Quem se preocupa com os destinos da humanidade, não pode se calar diante do clima de opressão, do estado de barbárie, de mortes de milhares de pessoas mostradas globalmente nas telas de tevês para uma assistência que,de tanto ver cenas semelhantes e repetidas, já se anestesiou e se tornou indiferente neste conturbado contexto pós-moderno. Que esta humanidade engolfada no hedonismo e no narcisismo não perca o sentimento de solidariedade aos que sofrem, aos que perdem a liberdade de expressão, de locomoção, de viver uma vida com autonomia e responsabilidade.
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