Cunha e Silva Filho
Ontem, à tarde, fui ao Centro do Rio resolver alguma coisa e aproveitei o lance pra dar um pulinho, aliás, dois, a livrarias, uma de livros novos e famosa, a Martins Fontes, outra, na sua natureza também famosa, um sebo, a São José. Na primeira, logo que entrei, percebi pouco movimento e ninguém para me atender. Havia pessoas, na parte de cima, examinando livros, folheando-os silenciosas. A parte de cima corresponde ao primeiro andar (ou é o térreo em forma de?).
Nessa parte são diversos os títulos, mas, dando uma olhada rápida e geral, eram títulos de livros estrangeiros em varias línguas, sobretudo inglês, francês e espanhol. Todos os clientes estavam mudos praticamente. Não sabia quem era atendente ou quem era cliente. Em seguida, desci ao subsolo por uma pequena escada. Lá, é a seção de livros sobre línguas. Havia algumas pessoas examinando livros aqui e ali, também em silêncio. No balcão, uma funcionaria de meia idade atendia a uma jovem senhora que estava comprando títulos de livros didáticos de francês. Outra funcionária ou gerente, não sei, estava anotando ao telefone possivelmente pedidos de clientes. Ninguém mais pra atender-me.
Senti-me meio rejeitado esperando que uma ou outra me chamassem. Esperei alguns minutos. Veio, então, a funcionária mais idosa, que ia passando, e eu a abordei perguntando-lhe pelo título que trouxera de casa escrito numa tira de papel com o nome do autor, obra e editora.
Era um título sobre história da literatura inglesa. “Esta não temos mais. Iiiih!... Faz muito tempo não vendemos mais”, adiantou-me ela. Decepção! “Como não tem?” dissera com meus botões Não era possível! Gostei tanto de outra obra do mesmo autor, Peter B. High, que com ela formava uma sequência. O pior foi que a funcionária mais idosa antes havia dito a alguém por perto que aquela filial da Martins estava fechando, naquele dia mesmo, as portas daquele endereço privilegiado em plena Av. Rio Branco. Iriam mudar para o Leblon, um dos bairros mais nobres da Zona Sul carioca. Meu Deus, quem, como eu, conheceu a filial que, por um bom tempo, primeiramente, se instalou tão bem na rua da Sete Setembro, nunca iria ouvir um a notícias dessas.
Quando a Martins Fontes estava na rua Sete de Setembro (era mesmo Sete de Setembro ou outra rua conhecida ali pertinho?). Agora quem está incerto sou eu. Deixa pra lá. A verdade, é que essa livraria, na parte de livros didáticos, de linguística, e de literatura em línguas estrangeiras, principalmente inglesa, era excelente. O atendimento era de primeira qualidade. Por falar em atendimento, caiu para quase zero o atendimento agora! Os professores eram bem-recebidos, bem tratados. Havia uma sala especial onde podíamos examinar à vontade os livros e até esboçar um leitura do primeiro capítulo. Agora, nada? O que está havendo com as livrarias do Rio, ou pelo menos com esta livraria?
Disse-me um livreiro que já está chegando ao Rio a livraria Cultura ( ou Cultural?, novamente a dúvida do nome certo) e vem com toda a força e que ficará na Cinelândia, coração desta cidade. Vamos torcer para que tenha êxito. Na Cinelândia, por muitos anos funcionou uma livraria das Edições de Ouro, hoje Ediouro, que frequentei muito. Dava praticamente para a Praça da Cinelândia (oficialmente Praça Floriano), mas a entrada era por uma das ruazinhas transversais entre a Praça e a rua Senador Dantas.
Foi lá que ouvi informações sobre um poliglota conhecido pelo pseudônimo de Pandiá Pându. Eu mesmo o conheci pessoalmente. Ele era autor de pequenas obras, editadas pela citada Edições de Ouro, sobre línguas estrangeiras, principalmente, inglês, e era esperantista de mão cheia. Conhecia ainda o sânscrito. Para o ensino do esperanto, publicou uma volumosa obra que ele mesmo me mostrou. Pandiá Pându era sargento da Aeronáutica. Uma vez o vi fardado e me dirigi a ele em inglês. Não sei como conseguiu estudar tantas línguas, pois me parece tinha poucos recursos.
Geralmente, quando o via, estava acompanhado de mulheres altas e, pela aparência física, eram estrangeiras. Pandiá era um baiano alto, mulato, de boa aparência, feições sérias. Outra vez, o vi discursando em inglês e, logo em seguida, em russo em frente ao Consulado Americano. Um conhecido, que nunca mais vi, me falara que, numa época, Pandiá estava em polêmica com o grande tradutor e ensaísta húngaro Paulo Rónai. Também não sei se isso aconteceu. Num prefácio a um livro de Pandiá, o autor refere que ele falava àquela época – anos sessenta -, pelo menos sete línguas “com relativa facilidade.” Pandiá, que era baiano, faleceu ainda jovem, não tinha ainda sessenta anos. Até hoje, não sei o seu verdadeiro nome e outras informações mais detalhadas de sua trajetória de autor, de como se deu sua formação intelectual, sobretudo no campo da aprendizagem de línguas..
A outra livraria visita foi o sebo da São José, agora dirigida pelo Germano. Sou,, como já disse alhures, um fiel e antigo frequentador desse sebo. Toda vez que vou lá não deixo de levar alguma obra antiga que não havia lido. Sinto-me em casa quando estou na São José, que já foi editora no tempo do famosos livreiro Carlos Ribeiro, no tempo em que ficava na rua São José , livraria e editora onde faziam ponto de encontro famosos escritores brasileiros de um passado não tão remoto assim. Editora, livraria de sebo, passou por outro endereço também no Centro e hoje se encontra na rua Primeiro de Março. Sãs instalações, em prédio velho, porém confortáveis, atraem ainda muita gente apreciadora de cultura. O sebo também vende livros novos. Em várias áreas: literatura, filologia, línguas, artes, ciências sociais, filosofia, direito ( parte forte dela) , livros didáticos esgotados etc.
O Germano me afirmou que vai levando o seu negócio de livros, com dificuldade sim, mas não desistindo a fim de continuar mantendo o bom nome da velha livraria carioca. Oxalá que ela tenha ainda longa vida .
Nenhum comentário:
Postar um comentário