The blind men and the elephant
By John G. Saxe
It was six men of Indostan,
To learning much inclined,
Who went to see the elephant, -
Though all of them were blind, -
That each by observation
Might satisfy his mind.
The first approached the elephant,
And happening to fall
Against his broad and sturdy side,
At once began to bawl:
“Now bless me! But the elephant
Is very like a wall!”
The second, feeling of the tusk,
Cried: “Ho! What have we here,
So very round and smooth and sharp”
To me it is mighty clear,
This wonder of an elephant
Is very like a pear!”
The third approached the animal,
And happening to take
The squirming trunk within his hands,
Thus boldly up and spake:
“I see, “quoth he, the elephant
Is very like a snake!”
The fourth reached out his eager hand,
And felt about the knee:
“What most this wondrous beast is like
It might plain,” quoth he;
“it is clear enough the elephant
Is very like a tree”.
The fifth, who chanced to touch the ear,
Said: “Even the blindest man
Can tell what this resembles most:
Deny the fact who can,
This marvel of an elephant
Is very like a fan!”
The sixth no sooner had begun
About the beast to grope,
Than, seizing on the swinging tail
That fell within his scope,
“I see,” quoth he, “the elephant
Is very lie a rope!”
And so theses men of Indostan
Disputed loud and long,
Each in is own opinion,
Exceeding stiff and strong,
Though each was partly in the right,
And all were in the wrong!
Os cegos e o elefante
Do Indostão seis homens eram
Ao conhecimento muito inclinados
Os quais o elefante ver foram, -
Conquanto cada qual cego fosse,-
Bom observador cada um
Sua deficiência compensar podia.
Acercou-se o primeiro do elefante,
Que, por acaso, veio cair
De encontro ao flanco largo e robusto
A gritar de imediato principiou:
“Valha-me Deus! O elefante, porém,
A um muro se compara!”
O segundo, sentindo-lhe a presa,
Gritou: “Olá! O que temos aqui,
Tão redondo e liso e afiado?”
Pra mim nada mais cristalino,
Esta maravilha de elefante
Mais uma lança parece!”
O terceiro do animal se aproximou
E, ocorrendo-lhe colocar
Nas suas mãos a tromba serpeante,
Ousadamente assim bradou:
“Eu vejo,” disse, que o elefante
Uma cobra lembra muito.”
O quarto a mão com avidez estendeu,
Apalpando-o até ao joelho:
“Com o que este animal grandioso mais se parece
Sem sombra de dúvida, disse ele;
“Nada mais evidente que o elefante
Se iguala a uma árvore!”
O quinto, que, por sinal, lhe tocou a orelha,
Afirmou: “Mesmo o mais cego dos cegos
Sabe dizer com o que mais se parece o elefante:
Prove-me o contrário, se puder,
Esta maravilha de elefante
É a cara de um abano !”
O sexto mal acabara
De apalpar, aqui e ali, o quadrúpede,
Quando, agarrando-se à cauda ondulante,
Ao seu alcance veio tê-la,
“Eu vejo,” disse, “ o elefante
Tem de uma corda a aparência!”
Deste modo, estes homens do Indostão,
Em voz alta e demorada discutiram,
Cada qual com a sua opinião,
Excedendo-se em rigidez e veemência,
Posto cada um só em parte certo estava,
Todos, no entanto, errados estavam.
(Tradução de Cunha e Silva Filho”
Os temas discutidos neste blog se concentram sobretudo na área de Literatura Brasileira, mas se estendem a outros temas e áreas culturais afins. Os gêneros literários da preferência da produção do autor são crítica literária, ensaios e crônicas. tradução de poesia estrangeira. Áreas de pesquisa e interesse do autor: teoria literária,história literária, vida literária.relação entre literatura, pobreza e violência, literatura universal e literatura de autores piauienses
sábado, 30 de abril de 2011
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Só estavam esperando a vitória de Dilma Rousseff
Cunha e Silva Filho
Até o último dia de Lula na Presidência, nada se contava sobre a situação financeira do Brasil. A economia andava às mil maravilhas, tudo era motivo de festa e de deslumbramento ( não confundir com o “alumbramento” bandeiriano) a pequena burguesia corria pressurosa aos shoppings, às compras de toda espécie. Mesmo os jornais de maior projeção nacional pareciam solidarizar-se com o silêncio das verdades relativas à economia, com o que estava debaixo dos panos, ou do tapete ( que não podia tirar de ninguém, muito menos do intocável Lula) ou dos bastidores da “copa e cozinha” áulico-plalaciana. Nenhum pio, ou tudo botava o barco da vitória a perder. “ A Vida é bela” – este deveria ser o lema daquela fase da campanha à sucessão presidencial.. O embuste era preciso.
Veio a eleição. Veio a vitória. Veio a verdade da quotidiano da vida brasileira. Lula não continuaria a dizer: “Vão às compras! Comprem, comprem, comprem, que o país é de vocês”. A classe média obedeceu literalmente, ate o povão cuja aspiração maior deve ser pelo menos passar de uma letra pra a outra em termos de classe social. Eram compras e mais compras: cartões de crédito, empréstimos, agiotas, o escambau!”
Este o país antes do último dia da campanha petista -multipartidária. Ora, com exceção do tucanato, que também faz das suas, quase todos os candidatos citavam Lula como o maior cabo eleitoral que este país já teve, homem respeitado no exterior, até por pensadores de renome. “Lula é da esquerda”, proclamou um desses pensadores. Ora, nunca Lula foi de esquerda, principalmente porque nem leu uma página sequer de Marx, nem é homem dado a leituras difíceis, talvez nem às simples. Não poderia ser da esquerda quem deu tanto lucros ao grande capital, inclusive o vice dele era conhecido capitalista.
A posse de Dilma Rousseff. Os aplausos, os choros de emoção do petismo. A glória de um novo raiar, um sol mais límpido. Nada de nuvens escuras, nada de tormentas. Só bonança. Primeira mulher a presidir os destinos da pátria amada. Presidente ou Presidenta? Consultem o Bechara, que é mais seguro.
Houve a formação do Ministério da novel Presidente. Os ministros foram empossados. Alguns permaneceram, outros saíram. O ano de 2011 mal se espreguiçava, parecendo não querer despertar e sair do leito ainda com o cheiro do silêncio e o ufanismo lulista.
Abro o jornal, ligo a televisão, pequenas notícias alusivas a problemas de inflação, de alta de juros, da questão de câmbio começam a aflorar, em doses homeopáticas. São noticias sobre economia e situação das finanças brasileiras que vão dando sinais contrastantes do último dia do Lula. Ainda ouço algumas frases dele ecoando em todos os cantos do país: “Nunca um país teve um presidente tão...” Este tipo de frase virou um bordão, até em programas humorísticos. São frases de efeito típicas do populismo tão ainda entranhado entre nós e que ainda faz as alegrias do populacho.
À medida que os dias dos primeiros meses deste ano vão virando na folhinha, a gente começa a sentir que a atmosfera não é tão alvissareira como se pensava. A crise mundial europeia, a partir de 2008, a aguda situação econômico-financeira dos EUA, os conflitos bélicos em países árabes, a presença chinesa no mercado internacional, a grande tragédia japonesa, tudo isso vai alterando a temperatura do mundo da economia globalizada, com reflexos negativos e perniciosos que se alastram como epidemias.
Antes, nossos ministros das áreas econômica e financeira pareciam estar imunes aos vendavais da crise financeira europeia, crise mais provocada pela ambição desmedida de especuladores do setores bancários, conforme foi tão lucidamente analisada pelo colunista Rubens Ricupero na Folha de São Paulo do último domingo. A miséria de nossa situação pessoal, no que tange à situação financeira de cada um de nós, é provocada por desonestos e ambiciosos financistas que só pensam nas regalias e na suntuosidade de suas vidas vividas em meio à miséria dos povos.
Voltando ao Brasil, o que entre nós se deu entre o paraíso exibido pelo governo de Lula e o que se está vendo agora mesmo foi uma espécie de trégua de estado de bem-estar e de segurança financeira e econômica, que não era real, mas aparente e eleitoreira, já indiciadas pelas novidades – não favoráveis – das primeiras modificações ocorridas no atual governo federal. A princípio, tudo faz crer que aquele estado de delícias de governo não era assim tão verdadeiro, mas o seu desvelamento, nos arraiais da economia nacional poderia ocasionar fragorosa derrota eleitoral, não permitindo que o lulismo desse continuidade, alcançando mais quatro anos ou, quem sabe, mais oito anos no poder, perfazendo, assim, dezesseis anos de domínio político, o que nada é bom para o país nem para a democracia, cujo corpo vivo necessita de alternância de poder, de preferência, em períodos de curta duração.
Lembram-se do dilúvio de concursos públicos durante o segundo mandato do Lula? Do incentivo ao consumismo? Dos gastos milionários em todos os setores do governo, inclusive cartões para funcionários do alto escalão? Do “Escândalo do Mensalão”, até hoje sem a punição exemplar dos grandes culpados? Da omissão do Presidente Lula a tudo isso? Dos gastos astronômicos do governo em campanhas nas eleições? Ao povo foi permitido saber a verdade de todos esses fatos que envergonham o país?
Do silêncio da verdade entre o período da campanha ao estado de coisas do presente há uma profunda lacuna, e é esta lacuna, a do silêncio e do engodo, que me inquieta e me indigna.
Até o último dia de Lula na Presidência, nada se contava sobre a situação financeira do Brasil. A economia andava às mil maravilhas, tudo era motivo de festa e de deslumbramento ( não confundir com o “alumbramento” bandeiriano) a pequena burguesia corria pressurosa aos shoppings, às compras de toda espécie. Mesmo os jornais de maior projeção nacional pareciam solidarizar-se com o silêncio das verdades relativas à economia, com o que estava debaixo dos panos, ou do tapete ( que não podia tirar de ninguém, muito menos do intocável Lula) ou dos bastidores da “copa e cozinha” áulico-plalaciana. Nenhum pio, ou tudo botava o barco da vitória a perder. “ A Vida é bela” – este deveria ser o lema daquela fase da campanha à sucessão presidencial.. O embuste era preciso.
Veio a eleição. Veio a vitória. Veio a verdade da quotidiano da vida brasileira. Lula não continuaria a dizer: “Vão às compras! Comprem, comprem, comprem, que o país é de vocês”. A classe média obedeceu literalmente, ate o povão cuja aspiração maior deve ser pelo menos passar de uma letra pra a outra em termos de classe social. Eram compras e mais compras: cartões de crédito, empréstimos, agiotas, o escambau!”
Este o país antes do último dia da campanha petista -multipartidária. Ora, com exceção do tucanato, que também faz das suas, quase todos os candidatos citavam Lula como o maior cabo eleitoral que este país já teve, homem respeitado no exterior, até por pensadores de renome. “Lula é da esquerda”, proclamou um desses pensadores. Ora, nunca Lula foi de esquerda, principalmente porque nem leu uma página sequer de Marx, nem é homem dado a leituras difíceis, talvez nem às simples. Não poderia ser da esquerda quem deu tanto lucros ao grande capital, inclusive o vice dele era conhecido capitalista.
A posse de Dilma Rousseff. Os aplausos, os choros de emoção do petismo. A glória de um novo raiar, um sol mais límpido. Nada de nuvens escuras, nada de tormentas. Só bonança. Primeira mulher a presidir os destinos da pátria amada. Presidente ou Presidenta? Consultem o Bechara, que é mais seguro.
Houve a formação do Ministério da novel Presidente. Os ministros foram empossados. Alguns permaneceram, outros saíram. O ano de 2011 mal se espreguiçava, parecendo não querer despertar e sair do leito ainda com o cheiro do silêncio e o ufanismo lulista.
Abro o jornal, ligo a televisão, pequenas notícias alusivas a problemas de inflação, de alta de juros, da questão de câmbio começam a aflorar, em doses homeopáticas. São noticias sobre economia e situação das finanças brasileiras que vão dando sinais contrastantes do último dia do Lula. Ainda ouço algumas frases dele ecoando em todos os cantos do país: “Nunca um país teve um presidente tão...” Este tipo de frase virou um bordão, até em programas humorísticos. São frases de efeito típicas do populismo tão ainda entranhado entre nós e que ainda faz as alegrias do populacho.
À medida que os dias dos primeiros meses deste ano vão virando na folhinha, a gente começa a sentir que a atmosfera não é tão alvissareira como se pensava. A crise mundial europeia, a partir de 2008, a aguda situação econômico-financeira dos EUA, os conflitos bélicos em países árabes, a presença chinesa no mercado internacional, a grande tragédia japonesa, tudo isso vai alterando a temperatura do mundo da economia globalizada, com reflexos negativos e perniciosos que se alastram como epidemias.
Antes, nossos ministros das áreas econômica e financeira pareciam estar imunes aos vendavais da crise financeira europeia, crise mais provocada pela ambição desmedida de especuladores do setores bancários, conforme foi tão lucidamente analisada pelo colunista Rubens Ricupero na Folha de São Paulo do último domingo. A miséria de nossa situação pessoal, no que tange à situação financeira de cada um de nós, é provocada por desonestos e ambiciosos financistas que só pensam nas regalias e na suntuosidade de suas vidas vividas em meio à miséria dos povos.
Voltando ao Brasil, o que entre nós se deu entre o paraíso exibido pelo governo de Lula e o que se está vendo agora mesmo foi uma espécie de trégua de estado de bem-estar e de segurança financeira e econômica, que não era real, mas aparente e eleitoreira, já indiciadas pelas novidades – não favoráveis – das primeiras modificações ocorridas no atual governo federal. A princípio, tudo faz crer que aquele estado de delícias de governo não era assim tão verdadeiro, mas o seu desvelamento, nos arraiais da economia nacional poderia ocasionar fragorosa derrota eleitoral, não permitindo que o lulismo desse continuidade, alcançando mais quatro anos ou, quem sabe, mais oito anos no poder, perfazendo, assim, dezesseis anos de domínio político, o que nada é bom para o país nem para a democracia, cujo corpo vivo necessita de alternância de poder, de preferência, em períodos de curta duração.
Lembram-se do dilúvio de concursos públicos durante o segundo mandato do Lula? Do incentivo ao consumismo? Dos gastos milionários em todos os setores do governo, inclusive cartões para funcionários do alto escalão? Do “Escândalo do Mensalão”, até hoje sem a punição exemplar dos grandes culpados? Da omissão do Presidente Lula a tudo isso? Dos gastos astronômicos do governo em campanhas nas eleições? Ao povo foi permitido saber a verdade de todos esses fatos que envergonham o país?
Do silêncio da verdade entre o período da campanha ao estado de coisas do presente há uma profunda lacuna, e é esta lacuna, a do silêncio e do engodo, que me inquieta e me indigna.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Literatura: declínio da crítica literária?
Cunha e Silva Filho
Leitores mais antigos, como eu, há tempos vêm se habituando a algumas notícias sobre gêneros literários, notícias nada alvissareiras, em particular anunciadoras da morte da poesia, que seria uma heresia tremenda. Agora, leio na Folha de São Paulo (caderno Ilustríssima, literatura, 17/04/2011, p. 6, ilustração de Paulo Monteiro) uma parte, a quarta, de título “O piano” – narrar, representar, interpretar (trad. de Paulo Werneck, de um diário de Ricardo Piglia, ficcionista argentino estabelecido nos EUA na condição de professor da Universidade de Princeton. Nessa parte, Piglia, por sua vez, anuncia o “sumiço” da crítica literária, gênero que teve ( e eu diria ainda tem em várias partes do mundo) eminentes cultores, alguns nomeados por ele como Iuri Tiniánov ( 1894-1943) Franco Fortini (1917-1994), Edmund Wilson ( 1895-1972) Ainda segundo Piglia, a crítica literária tem sido “.. mais afetada pela situação da literatura.”
Essa tradição de crítica para ele já foi um espaço de referência nos debates públicos voltados para o que denomina “ construção de sentido de uma comunidade”
Por outro lado, Piglia assinala com ênfase que as vozes de interpretação literário-crítica de hoje se encontram nas mãos de historiadores renomados, tais como Carlo Ginzburg, Robert Darnton, François Hartog ou Roger Chartier. Piglia conclui palidamente, nessa página do diário relativa cronologicamente a uma “terça-feira,” que os citados historiadores tomaram como matéria de estudos a “leitura dos textos,” que se torna “um assunto” do passado ou do estudo do passado.”, circunstância que, todavia, não lhes diminui o peso valorativo de seus trabalhos relacionados a assuntos literários e culturais em geral, porém voltados notadamente ao passado.
As assertivas de Piglia me soam um tanto ambíguas, sobretudo porque nesse mesmo trecho do diário, ao declarar ser a crítica o gênero “mais afetado pela situação atual da literatura” (grifos meus), ele não explicita adequadamente sobre que “situação atual” está falando, assim como não faz a necessária mediação entre produções de historiadores modernos e crítica literária. Deixa, assim, no ar as divisões de esferas de atuação de escritas e temas diferentes, não obstante conectadas ao passado.
De qualquer maneira, o que se tem visto de estudos atualmente no gênero da crítica e do ensaio literários são autores oriundos de campos especializados fora do eixo central da literatura, i.e., os historiadores passam a exercer uma função crítica de uma área cultural para a qual em tese não tiveram preparação teórica estrita, que se resumiria no aprofundamento de disciplinas específicas e que demandam tempo prolongado e “treinamento” apropriado, para usar um termo de Terry Eagleton, dos alunos de literatura por parte de seus professores, sobretudo nas técnicas de análises de poemas.O crítico literário, por sua vez, não pode exercer sua atividade sem seguros conhecimentos das disciplinas teoria literária, ciência da literatura,, poética, história literária, linguística, filologia, gramática, línguas clássicas e línguas modernas. São elementos vitais ao estudos de letras que, sem elas, a competência do estudioso se torna, ipso facto, incompleta
O mesmo procedimento estender-se-ia aos textos ficcionais, estes talvez os mais procurados pelos críticos-historiadores dadas as relações mais íntimas entre a narrativa histórica e a narrativa ficcional. Com uma situação análoga se depararia o crítico literário ao defrontar-se com a matéria prima dos historiadores. Ainda haveria oura possibilidade, ado historiador pesquisando o chamado romance histórico, conhecido também como ficção de extração histórica, filão de estudos literarios muto pesquisado ultimamente nos curso de literatura. Deste último exemplo, as visões dos historiadores e dos cxríticos seriam bem férteis ao lidarem com esta matéria.
Não se queira inferir que estou tentando afirmar ser impossível – como na prática não o é -, com tantas exceções de bons críticos literários terem sido também autores de obras históricas, como no país, foram Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), o general Nelson Werneck Sodré (1911-1999), Álvaro Lins (1912-1970) e outros. Neste sentido, há ainda outras situações, a de escritores-ficcionistas que escrevem romances históricos, assim como historiadores que escrevem ficção, por exemplo, no passado, Rocha Pombo (1857-1933).
Poder-se-ia incluir algumas outras situações isoladas, como a do romancista-crítico, do romancista-poeta-crítico, situações que, de resto, não são decorrentes dos dias de hoje apenas, pois sempre houve escritores com talentos polimorfos capazes de atuarem em diversos gêneros literarios. Enfim, existem ainda aqueles intelectuais formados em áreas dissociadas do campo da literatura, mas que, com o tempo, fizeram opções para este campo, ou por estudos independentes (caso do citado Álvaro Lins, formado em direito, mas dedicou-se a lecionar literatura (Colégio Pedro II e em Portugal) e exerceu a crítica literária, além de ter sido diplomata), ou porque realizaram cursos até fora do país, como ocorreu com Afrânio Coutinho (1911-2000), primeiro formado em medicina, e depois se tornando professor do ensino médio (Colégio Pedro II) de literatura e, em seguida, fez cursos na Universidade de Colúmbia De volta ao Brasil, tornou-se professor titular de literatura brasileira da Universidade do Brasil, hoje UFRJ., com Fábio Lucas, formado, primeiro, em economia e, pela vida afora, dedicou-se à crítica literária, tendo sido também professor no país e no exterior. Alguns outros exemplos semelhantes se poderiam mencionar.
Uma diferença, no entanto, é clara, a qual separa os dois extremos, historiadores-críticos e críticos-historiadores, tanto estes quanto aqueles, para serem bons, devem se munir de abordagens críticas que terão maior validade a partir de sua formação específica, num caso o instrumental interpretativo da disciplina história e de áreas afins; no outro, o do conhecimento literário, de preferência com aparato formal, ou seja, de domínio da teoria literária e de áreas afins. A questão que se põe se assenta no predomínio do estritamente literário ou do estritamente histórico. Ambos, entretanto, operacionalizados sem clivagens radicais.
Não intento afirmar, com isso – é preciso reiterar -, que a formação universitária e pós-universitária na área de letras vá prescindir do inestimável suporte interdisciplinar. Longe disso. Áreas de extrema importância ao estudioso de letras como história, filosofia, sociologia, antropologia, entre outras, só haverão de ampliar a formação integral do especialista.
Bem podem ser até excelentes as produções de obras sobre ficção escritas por competentes historiadores. No entanto, a “leitura” destes não pode ser comparadas às investigações de críticos e de grandes ensaístas com ampla e sólida formação no domínio especificamente literário.
A visão crítica do historiador, ao se debruçar sobre escritores de ficção, gênero mais aproximado, segundo já ressaltei, da disciplina história, porém dificilmente alcançado pelo gênero poético na práxis da análise de poemas, pode seguramente atingir dimensão de leitura bem originais e fecundas, mas não chegarão a preencher plenamente os objetivos visados pelos estudiosos da literatura, exceto se o historiador também tiver formação acadêmica avançada em cursos de letras.
Destarte, não vejo o anúncio do “sumiço” da crítica literária do ângulo generalizado do ficcionista argentino. Ele exagerou na generalidade.ou, por outra, simplificou demais a complexidade da questão.
Por certo, na atualidade, sinal dos tempos, qualquer domínio, seja humanístico, seja científico-tecnológico, atravessa impasses, crises, tensões e problemas de identidade.
No país e no mundo há grandes críticos, no passado e no presente, assim como ensaístas. Os estudos dos gêneros literários, a genologia, não estão atualmente sendo tão discutidos quanto às suas especificidades e fronteiras? Nem por isso julgo que desaparecerão dos domínios da literatura. Se algumas espécies se extinguiram com o tempo, outras nasceram, se transformaram, ou surgiram, como o romance, a novela, a peça teatral, o poema, embora tendo sofrido mudanças estruturais no tempo, ainda são perfeitamente discerníveis aos olhos do presente no que tange aos seus traços, fisionomias e singularidades.
Obviamente, o texto ficcional e o poema da nossa contemporaneidade – e aqui me reporto ao século atual da sua primeira década -, não podem nem devem ser decalcados , sob pena de se tornarem anacrônicos, na tradição mais remota ou mesmo remotíssima. Os casos isolados de experimentações metaficionais ou metapoéticas, no eixo diacrônico são compreensíveis do ângulo mimético-experimental, válidos como tentativas de recriações de ordem lúdica, de saudáveis experiências com a linguagem., ou como formas de sondagens do fenômeno da criação literária.
À crítica literária, para não perder o bonde da história ( sem propósitos de trocadilhos), cabe a atenta revisão e atualização dos seus métodos e abordagens ou de preferências de correntes interpretativas do fenômeno literário, sem no entanto, perder sua função primordial, a de procurar ler melhor a obra literária servida de um instrumental teórico atualizado, aberto e sem perder tampouco o zeitgeist – o tempo presente naquele sentido que lhe deu Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) em conhecido poema.
Presente este com a sua variada e múltipla contribuição advinda das novas formas de construção de sentidos e imagens e, portanto, de entender o mundo que nos cerca, bombardeado pelos novos meios eletrônicos de comunicação, cujas mudanças mal acompanhamos perplexos: a internet, as redes sociais, com suas virtudes e defeitos ou mesmo males, nos seus variados modelos, a planetarização da informação, os diverso meios de sintonia com um Planeta globalizado e ao mesmo tempo conturbado com violações e misérias de toda sorte.
A crítica literária não está fora desse contexto de complexidades, muitas vezes irritantes para quem vai adentrando os anos de existência.A crítica literária não “sumiu.” Está presente. Basta ter olhos mais humildes para encontrá-la em muitos quadrantes, muitas latitudes, longitudes, temporalidades e escalas de valores. Não importa, existe.
Leitores mais antigos, como eu, há tempos vêm se habituando a algumas notícias sobre gêneros literários, notícias nada alvissareiras, em particular anunciadoras da morte da poesia, que seria uma heresia tremenda. Agora, leio na Folha de São Paulo (caderno Ilustríssima, literatura, 17/04/2011, p. 6, ilustração de Paulo Monteiro) uma parte, a quarta, de título “O piano” – narrar, representar, interpretar (trad. de Paulo Werneck, de um diário de Ricardo Piglia, ficcionista argentino estabelecido nos EUA na condição de professor da Universidade de Princeton. Nessa parte, Piglia, por sua vez, anuncia o “sumiço” da crítica literária, gênero que teve ( e eu diria ainda tem em várias partes do mundo) eminentes cultores, alguns nomeados por ele como Iuri Tiniánov ( 1894-1943) Franco Fortini (1917-1994), Edmund Wilson ( 1895-1972) Ainda segundo Piglia, a crítica literária tem sido “.. mais afetada pela situação da literatura.”
Essa tradição de crítica para ele já foi um espaço de referência nos debates públicos voltados para o que denomina “ construção de sentido de uma comunidade”
Por outro lado, Piglia assinala com ênfase que as vozes de interpretação literário-crítica de hoje se encontram nas mãos de historiadores renomados, tais como Carlo Ginzburg, Robert Darnton, François Hartog ou Roger Chartier. Piglia conclui palidamente, nessa página do diário relativa cronologicamente a uma “terça-feira,” que os citados historiadores tomaram como matéria de estudos a “leitura dos textos,” que se torna “um assunto” do passado ou do estudo do passado.”, circunstância que, todavia, não lhes diminui o peso valorativo de seus trabalhos relacionados a assuntos literários e culturais em geral, porém voltados notadamente ao passado.
As assertivas de Piglia me soam um tanto ambíguas, sobretudo porque nesse mesmo trecho do diário, ao declarar ser a crítica o gênero “mais afetado pela situação atual da literatura” (grifos meus), ele não explicita adequadamente sobre que “situação atual” está falando, assim como não faz a necessária mediação entre produções de historiadores modernos e crítica literária. Deixa, assim, no ar as divisões de esferas de atuação de escritas e temas diferentes, não obstante conectadas ao passado.
De qualquer maneira, o que se tem visto de estudos atualmente no gênero da crítica e do ensaio literários são autores oriundos de campos especializados fora do eixo central da literatura, i.e., os historiadores passam a exercer uma função crítica de uma área cultural para a qual em tese não tiveram preparação teórica estrita, que se resumiria no aprofundamento de disciplinas específicas e que demandam tempo prolongado e “treinamento” apropriado, para usar um termo de Terry Eagleton, dos alunos de literatura por parte de seus professores, sobretudo nas técnicas de análises de poemas.O crítico literário, por sua vez, não pode exercer sua atividade sem seguros conhecimentos das disciplinas teoria literária, ciência da literatura,, poética, história literária, linguística, filologia, gramática, línguas clássicas e línguas modernas. São elementos vitais ao estudos de letras que, sem elas, a competência do estudioso se torna, ipso facto, incompleta
O mesmo procedimento estender-se-ia aos textos ficcionais, estes talvez os mais procurados pelos críticos-historiadores dadas as relações mais íntimas entre a narrativa histórica e a narrativa ficcional. Com uma situação análoga se depararia o crítico literário ao defrontar-se com a matéria prima dos historiadores. Ainda haveria oura possibilidade, ado historiador pesquisando o chamado romance histórico, conhecido também como ficção de extração histórica, filão de estudos literarios muto pesquisado ultimamente nos curso de literatura. Deste último exemplo, as visões dos historiadores e dos cxríticos seriam bem férteis ao lidarem com esta matéria.
Não se queira inferir que estou tentando afirmar ser impossível – como na prática não o é -, com tantas exceções de bons críticos literários terem sido também autores de obras históricas, como no país, foram Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), o general Nelson Werneck Sodré (1911-1999), Álvaro Lins (1912-1970) e outros. Neste sentido, há ainda outras situações, a de escritores-ficcionistas que escrevem romances históricos, assim como historiadores que escrevem ficção, por exemplo, no passado, Rocha Pombo (1857-1933).
Poder-se-ia incluir algumas outras situações isoladas, como a do romancista-crítico, do romancista-poeta-crítico, situações que, de resto, não são decorrentes dos dias de hoje apenas, pois sempre houve escritores com talentos polimorfos capazes de atuarem em diversos gêneros literarios. Enfim, existem ainda aqueles intelectuais formados em áreas dissociadas do campo da literatura, mas que, com o tempo, fizeram opções para este campo, ou por estudos independentes (caso do citado Álvaro Lins, formado em direito, mas dedicou-se a lecionar literatura (Colégio Pedro II e em Portugal) e exerceu a crítica literária, além de ter sido diplomata), ou porque realizaram cursos até fora do país, como ocorreu com Afrânio Coutinho (1911-2000), primeiro formado em medicina, e depois se tornando professor do ensino médio (Colégio Pedro II) de literatura e, em seguida, fez cursos na Universidade de Colúmbia De volta ao Brasil, tornou-se professor titular de literatura brasileira da Universidade do Brasil, hoje UFRJ., com Fábio Lucas, formado, primeiro, em economia e, pela vida afora, dedicou-se à crítica literária, tendo sido também professor no país e no exterior. Alguns outros exemplos semelhantes se poderiam mencionar.
Uma diferença, no entanto, é clara, a qual separa os dois extremos, historiadores-críticos e críticos-historiadores, tanto estes quanto aqueles, para serem bons, devem se munir de abordagens críticas que terão maior validade a partir de sua formação específica, num caso o instrumental interpretativo da disciplina história e de áreas afins; no outro, o do conhecimento literário, de preferência com aparato formal, ou seja, de domínio da teoria literária e de áreas afins. A questão que se põe se assenta no predomínio do estritamente literário ou do estritamente histórico. Ambos, entretanto, operacionalizados sem clivagens radicais.
Não intento afirmar, com isso – é preciso reiterar -, que a formação universitária e pós-universitária na área de letras vá prescindir do inestimável suporte interdisciplinar. Longe disso. Áreas de extrema importância ao estudioso de letras como história, filosofia, sociologia, antropologia, entre outras, só haverão de ampliar a formação integral do especialista.
Bem podem ser até excelentes as produções de obras sobre ficção escritas por competentes historiadores. No entanto, a “leitura” destes não pode ser comparadas às investigações de críticos e de grandes ensaístas com ampla e sólida formação no domínio especificamente literário.
A visão crítica do historiador, ao se debruçar sobre escritores de ficção, gênero mais aproximado, segundo já ressaltei, da disciplina história, porém dificilmente alcançado pelo gênero poético na práxis da análise de poemas, pode seguramente atingir dimensão de leitura bem originais e fecundas, mas não chegarão a preencher plenamente os objetivos visados pelos estudiosos da literatura, exceto se o historiador também tiver formação acadêmica avançada em cursos de letras.
Destarte, não vejo o anúncio do “sumiço” da crítica literária do ângulo generalizado do ficcionista argentino. Ele exagerou na generalidade.ou, por outra, simplificou demais a complexidade da questão.
Por certo, na atualidade, sinal dos tempos, qualquer domínio, seja humanístico, seja científico-tecnológico, atravessa impasses, crises, tensões e problemas de identidade.
No país e no mundo há grandes críticos, no passado e no presente, assim como ensaístas. Os estudos dos gêneros literários, a genologia, não estão atualmente sendo tão discutidos quanto às suas especificidades e fronteiras? Nem por isso julgo que desaparecerão dos domínios da literatura. Se algumas espécies se extinguiram com o tempo, outras nasceram, se transformaram, ou surgiram, como o romance, a novela, a peça teatral, o poema, embora tendo sofrido mudanças estruturais no tempo, ainda são perfeitamente discerníveis aos olhos do presente no que tange aos seus traços, fisionomias e singularidades.
Obviamente, o texto ficcional e o poema da nossa contemporaneidade – e aqui me reporto ao século atual da sua primeira década -, não podem nem devem ser decalcados , sob pena de se tornarem anacrônicos, na tradição mais remota ou mesmo remotíssima. Os casos isolados de experimentações metaficionais ou metapoéticas, no eixo diacrônico são compreensíveis do ângulo mimético-experimental, válidos como tentativas de recriações de ordem lúdica, de saudáveis experiências com a linguagem., ou como formas de sondagens do fenômeno da criação literária.
À crítica literária, para não perder o bonde da história ( sem propósitos de trocadilhos), cabe a atenta revisão e atualização dos seus métodos e abordagens ou de preferências de correntes interpretativas do fenômeno literário, sem no entanto, perder sua função primordial, a de procurar ler melhor a obra literária servida de um instrumental teórico atualizado, aberto e sem perder tampouco o zeitgeist – o tempo presente naquele sentido que lhe deu Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) em conhecido poema.
Presente este com a sua variada e múltipla contribuição advinda das novas formas de construção de sentidos e imagens e, portanto, de entender o mundo que nos cerca, bombardeado pelos novos meios eletrônicos de comunicação, cujas mudanças mal acompanhamos perplexos: a internet, as redes sociais, com suas virtudes e defeitos ou mesmo males, nos seus variados modelos, a planetarização da informação, os diverso meios de sintonia com um Planeta globalizado e ao mesmo tempo conturbado com violações e misérias de toda sorte.
A crítica literária não está fora desse contexto de complexidades, muitas vezes irritantes para quem vai adentrando os anos de existência.A crítica literária não “sumiu.” Está presente. Basta ter olhos mais humildes para encontrá-la em muitos quadrantes, muitas latitudes, longitudes, temporalidades e escalas de valores. Não importa, existe.
sábado, 16 de abril de 2011
Visita a duas livrarias
Cunha e Silva Filho
Ontem, à tarde, fui ao Centro do Rio resolver alguma coisa e aproveitei o lance pra dar um pulinho, aliás, dois, a livrarias, uma de livros novos e famosa, a Martins Fontes, outra, na sua natureza também famosa, um sebo, a São José. Na primeira, logo que entrei, percebi pouco movimento e ninguém para me atender. Havia pessoas, na parte de cima, examinando livros, folheando-os silenciosas. A parte de cima corresponde ao primeiro andar (ou é o térreo em forma de?).
Nessa parte são diversos os títulos, mas, dando uma olhada rápida e geral, eram títulos de livros estrangeiros em varias línguas, sobretudo inglês, francês e espanhol. Todos os clientes estavam mudos praticamente. Não sabia quem era atendente ou quem era cliente. Em seguida, desci ao subsolo por uma pequena escada. Lá, é a seção de livros sobre línguas. Havia algumas pessoas examinando livros aqui e ali, também em silêncio. No balcão, uma funcionaria de meia idade atendia a uma jovem senhora que estava comprando títulos de livros didáticos de francês. Outra funcionária ou gerente, não sei, estava anotando ao telefone possivelmente pedidos de clientes. Ninguém mais pra atender-me.
Senti-me meio rejeitado esperando que uma ou outra me chamassem. Esperei alguns minutos. Veio, então, a funcionária mais idosa, que ia passando, e eu a abordei perguntando-lhe pelo título que trouxera de casa escrito numa tira de papel com o nome do autor, obra e editora.
Era um título sobre história da literatura inglesa. “Esta não temos mais. Iiiih!... Faz muito tempo não vendemos mais”, adiantou-me ela. Decepção! “Como não tem?” dissera com meus botões Não era possível! Gostei tanto de outra obra do mesmo autor, Peter B. High, que com ela formava uma sequência. O pior foi que a funcionária mais idosa antes havia dito a alguém por perto que aquela filial da Martins estava fechando, naquele dia mesmo, as portas daquele endereço privilegiado em plena Av. Rio Branco. Iriam mudar para o Leblon, um dos bairros mais nobres da Zona Sul carioca. Meu Deus, quem, como eu, conheceu a filial que, por um bom tempo, primeiramente, se instalou tão bem na rua da Sete Setembro, nunca iria ouvir um a notícias dessas.
Quando a Martins Fontes estava na rua Sete de Setembro (era mesmo Sete de Setembro ou outra rua conhecida ali pertinho?). Agora quem está incerto sou eu. Deixa pra lá. A verdade, é que essa livraria, na parte de livros didáticos, de linguística, e de literatura em línguas estrangeiras, principalmente inglesa, era excelente. O atendimento era de primeira qualidade. Por falar em atendimento, caiu para quase zero o atendimento agora! Os professores eram bem-recebidos, bem tratados. Havia uma sala especial onde podíamos examinar à vontade os livros e até esboçar um leitura do primeiro capítulo. Agora, nada? O que está havendo com as livrarias do Rio, ou pelo menos com esta livraria?
Disse-me um livreiro que já está chegando ao Rio a livraria Cultura ( ou Cultural?, novamente a dúvida do nome certo) e vem com toda a força e que ficará na Cinelândia, coração desta cidade. Vamos torcer para que tenha êxito. Na Cinelândia, por muitos anos funcionou uma livraria das Edições de Ouro, hoje Ediouro, que frequentei muito. Dava praticamente para a Praça da Cinelândia (oficialmente Praça Floriano), mas a entrada era por uma das ruazinhas transversais entre a Praça e a rua Senador Dantas.
Foi lá que ouvi informações sobre um poliglota conhecido pelo pseudônimo de Pandiá Pându. Eu mesmo o conheci pessoalmente. Ele era autor de pequenas obras, editadas pela citada Edições de Ouro, sobre línguas estrangeiras, principalmente, inglês, e era esperantista de mão cheia. Conhecia ainda o sânscrito. Para o ensino do esperanto, publicou uma volumosa obra que ele mesmo me mostrou. Pandiá Pându era sargento da Aeronáutica. Uma vez o vi fardado e me dirigi a ele em inglês. Não sei como conseguiu estudar tantas línguas, pois me parece tinha poucos recursos.
Geralmente, quando o via, estava acompanhado de mulheres altas e, pela aparência física, eram estrangeiras. Pandiá era um baiano alto, mulato, de boa aparência, feições sérias. Outra vez, o vi discursando em inglês e, logo em seguida, em russo em frente ao Consulado Americano. Um conhecido, que nunca mais vi, me falara que, numa época, Pandiá estava em polêmica com o grande tradutor e ensaísta húngaro Paulo Rónai. Também não sei se isso aconteceu. Num prefácio a um livro de Pandiá, o autor refere que ele falava àquela época – anos sessenta -, pelo menos sete línguas “com relativa facilidade.” Pandiá, que era baiano, faleceu ainda jovem, não tinha ainda sessenta anos. Até hoje, não sei o seu verdadeiro nome e outras informações mais detalhadas de sua trajetória de autor, de como se deu sua formação intelectual, sobretudo no campo da aprendizagem de línguas..
A outra livraria visita foi o sebo da São José, agora dirigida pelo Germano. Sou,, como já disse alhures, um fiel e antigo frequentador desse sebo. Toda vez que vou lá não deixo de levar alguma obra antiga que não havia lido. Sinto-me em casa quando estou na São José, que já foi editora no tempo do famosos livreiro Carlos Ribeiro, no tempo em que ficava na rua São José , livraria e editora onde faziam ponto de encontro famosos escritores brasileiros de um passado não tão remoto assim. Editora, livraria de sebo, passou por outro endereço também no Centro e hoje se encontra na rua Primeiro de Março. Sãs instalações, em prédio velho, porém confortáveis, atraem ainda muita gente apreciadora de cultura. O sebo também vende livros novos. Em várias áreas: literatura, filologia, línguas, artes, ciências sociais, filosofia, direito ( parte forte dela) , livros didáticos esgotados etc.
O Germano me afirmou que vai levando o seu negócio de livros, com dificuldade sim, mas não desistindo a fim de continuar mantendo o bom nome da velha livraria carioca. Oxalá que ela tenha ainda longa vida .
Ontem, à tarde, fui ao Centro do Rio resolver alguma coisa e aproveitei o lance pra dar um pulinho, aliás, dois, a livrarias, uma de livros novos e famosa, a Martins Fontes, outra, na sua natureza também famosa, um sebo, a São José. Na primeira, logo que entrei, percebi pouco movimento e ninguém para me atender. Havia pessoas, na parte de cima, examinando livros, folheando-os silenciosas. A parte de cima corresponde ao primeiro andar (ou é o térreo em forma de?).
Nessa parte são diversos os títulos, mas, dando uma olhada rápida e geral, eram títulos de livros estrangeiros em varias línguas, sobretudo inglês, francês e espanhol. Todos os clientes estavam mudos praticamente. Não sabia quem era atendente ou quem era cliente. Em seguida, desci ao subsolo por uma pequena escada. Lá, é a seção de livros sobre línguas. Havia algumas pessoas examinando livros aqui e ali, também em silêncio. No balcão, uma funcionaria de meia idade atendia a uma jovem senhora que estava comprando títulos de livros didáticos de francês. Outra funcionária ou gerente, não sei, estava anotando ao telefone possivelmente pedidos de clientes. Ninguém mais pra atender-me.
Senti-me meio rejeitado esperando que uma ou outra me chamassem. Esperei alguns minutos. Veio, então, a funcionária mais idosa, que ia passando, e eu a abordei perguntando-lhe pelo título que trouxera de casa escrito numa tira de papel com o nome do autor, obra e editora.
Era um título sobre história da literatura inglesa. “Esta não temos mais. Iiiih!... Faz muito tempo não vendemos mais”, adiantou-me ela. Decepção! “Como não tem?” dissera com meus botões Não era possível! Gostei tanto de outra obra do mesmo autor, Peter B. High, que com ela formava uma sequência. O pior foi que a funcionária mais idosa antes havia dito a alguém por perto que aquela filial da Martins estava fechando, naquele dia mesmo, as portas daquele endereço privilegiado em plena Av. Rio Branco. Iriam mudar para o Leblon, um dos bairros mais nobres da Zona Sul carioca. Meu Deus, quem, como eu, conheceu a filial que, por um bom tempo, primeiramente, se instalou tão bem na rua da Sete Setembro, nunca iria ouvir um a notícias dessas.
Quando a Martins Fontes estava na rua Sete de Setembro (era mesmo Sete de Setembro ou outra rua conhecida ali pertinho?). Agora quem está incerto sou eu. Deixa pra lá. A verdade, é que essa livraria, na parte de livros didáticos, de linguística, e de literatura em línguas estrangeiras, principalmente inglesa, era excelente. O atendimento era de primeira qualidade. Por falar em atendimento, caiu para quase zero o atendimento agora! Os professores eram bem-recebidos, bem tratados. Havia uma sala especial onde podíamos examinar à vontade os livros e até esboçar um leitura do primeiro capítulo. Agora, nada? O que está havendo com as livrarias do Rio, ou pelo menos com esta livraria?
Disse-me um livreiro que já está chegando ao Rio a livraria Cultura ( ou Cultural?, novamente a dúvida do nome certo) e vem com toda a força e que ficará na Cinelândia, coração desta cidade. Vamos torcer para que tenha êxito. Na Cinelândia, por muitos anos funcionou uma livraria das Edições de Ouro, hoje Ediouro, que frequentei muito. Dava praticamente para a Praça da Cinelândia (oficialmente Praça Floriano), mas a entrada era por uma das ruazinhas transversais entre a Praça e a rua Senador Dantas.
Foi lá que ouvi informações sobre um poliglota conhecido pelo pseudônimo de Pandiá Pându. Eu mesmo o conheci pessoalmente. Ele era autor de pequenas obras, editadas pela citada Edições de Ouro, sobre línguas estrangeiras, principalmente, inglês, e era esperantista de mão cheia. Conhecia ainda o sânscrito. Para o ensino do esperanto, publicou uma volumosa obra que ele mesmo me mostrou. Pandiá Pându era sargento da Aeronáutica. Uma vez o vi fardado e me dirigi a ele em inglês. Não sei como conseguiu estudar tantas línguas, pois me parece tinha poucos recursos.
Geralmente, quando o via, estava acompanhado de mulheres altas e, pela aparência física, eram estrangeiras. Pandiá era um baiano alto, mulato, de boa aparência, feições sérias. Outra vez, o vi discursando em inglês e, logo em seguida, em russo em frente ao Consulado Americano. Um conhecido, que nunca mais vi, me falara que, numa época, Pandiá estava em polêmica com o grande tradutor e ensaísta húngaro Paulo Rónai. Também não sei se isso aconteceu. Num prefácio a um livro de Pandiá, o autor refere que ele falava àquela época – anos sessenta -, pelo menos sete línguas “com relativa facilidade.” Pandiá, que era baiano, faleceu ainda jovem, não tinha ainda sessenta anos. Até hoje, não sei o seu verdadeiro nome e outras informações mais detalhadas de sua trajetória de autor, de como se deu sua formação intelectual, sobretudo no campo da aprendizagem de línguas..
A outra livraria visita foi o sebo da São José, agora dirigida pelo Germano. Sou,, como já disse alhures, um fiel e antigo frequentador desse sebo. Toda vez que vou lá não deixo de levar alguma obra antiga que não havia lido. Sinto-me em casa quando estou na São José, que já foi editora no tempo do famosos livreiro Carlos Ribeiro, no tempo em que ficava na rua São José , livraria e editora onde faziam ponto de encontro famosos escritores brasileiros de um passado não tão remoto assim. Editora, livraria de sebo, passou por outro endereço também no Centro e hoje se encontra na rua Primeiro de Março. Sãs instalações, em prédio velho, porém confortáveis, atraem ainda muita gente apreciadora de cultura. O sebo também vende livros novos. Em várias áreas: literatura, filologia, línguas, artes, ciências sociais, filosofia, direito ( parte forte dela) , livros didáticos esgotados etc.
O Germano me afirmou que vai levando o seu negócio de livros, com dificuldade sim, mas não desistindo a fim de continuar mantendo o bom nome da velha livraria carioca. Oxalá que ela tenha ainda longa vida .
quarta-feira, 13 de abril de 2011
As armas de fogo: uma invenção do crime
Cunha e Silva Filho
Nenhuma outra arma que o ser humano inventou se compara quanto aos seus efeitos letais e destruidores quanto os chamados revólveres, para me servir de uma espécie de arma que nunca saiu de moda entre usuários de todos os continentes.Não sei quem o inventou nem tenho pressa em ir à Wikipédia para conferir isso. Não me interessa. Contudo, o mal que esse tipo de arma tem causado à humanidade é incomensurável. Se pensarmos o quanto ele tem vitimado pessoas em algum infeliz momento existencial, i.e., aquelas pessoas, em situação de extrema angústia, medo, desespero ou por desequilíbrio mental, contar-se-ia em milhares a cifra de mortos por suicídio ou por outros motivos nesta teia de aranha em que se vê enredada a sociedade há longo tempo.
Ela está em toda a parte do cotidiano das pessoas e, muitas vezes, surge de onde menos se espera. Traz em si a potencialidade do ato de um crime, seja contra seu próprio dono, seja porque pode ser roubada por bandidos, assaltantes, seja porque pode ser usada como troca de vantagens entre pessoas desonestas, tudo, enfim, sendo por ela envolvido e transformado em ação fatal e irreversível. A arma de fogo pode ser usada para a nossa defesa quanto para a prática da criminalidade, nas mãos de facínoras, de policiais sem dignidade. Torna-se, assim, símbolo de tragédias, anunciadas ou não. Pode até ser usada, em casa ou em outro recinto, por menores, por crianças que, pela pouca idade, passa a ser um forma de brinquedo ameaçador de vida humanas, de outras crianças.
Nos lares brasileiros deve haver milhares de armas compradas legalmente, tendo inclusive a garantia do porte para uso em casa. É esse contexto familiar que se devem tomar todas as precauções possíveis para que nunca estejam ao alcance de crianças ou adolescentes.
Entretanto, alguns problemas se apresentam com respeito ao uso da arma: a sua comercialização legal, a sua aquisição por contrabando através das nossas fronteiras e o seu tráfico entre bandidos e policiais corruptos, a chamada banda podre, além de furtos provenientes de quartéis da polícia ou mesmo das forças armadas. Vê-se que a questão da arma é delicada e complexa se desejarmos desenvolver políticas públicas que reduzam drasticamente as altas quantidades desses objetos mortais e alimentadores do crime. Por conseguinte, o que deve haver é um endurecimento na venda de arma para uso pessoal, exigindo minuciosamente do comprador todos os dados e referências, inclusive exames de saúde mental do comprador fornecido por autoridade competente.
A entrada de armas pelas fronteiras brasileiras merece atenção especial no sentido de que o efetivo da Polícia Federal fique à altura dos obstáculos que irão encontrar. Atualmente, a tecnologia pode auxiliar enormemente nesse sentido. Naturalmente, deve haver um entrosamento amplo entre a Polícia Federal e o apoio logístico indispensável das Forças Armadas, num trabalho conjunto e patriótico de impedir o aumento crescente de armas clandestinas oriundas de países vizinhos. Neste caso, o Ministério das Relações Exteriores poderia ser a ponte de ligação entre nós e aqueles países vizinhos, através de acordos firmados entre esses países com o objetivo de realizar um combate sem trégua contra comerciantes e traficantes de armas. Seria um combate com finalidades recíprocas.
Para reduzir o trafico de armas entre bandidos e policiais inescrupulosos, haveria de, primeiro, melhorar a imagem de toda a corporação da Polícia Militar, sobretudo melhor selecionando seu contingente, com treinamento sério e preparação que neles internalizassem valores éticos e de conduta social adequada à sua específica função social de defesa da segurança das pessoas, do patrimônio público, dando-lhes remuneração condigna, o que faria com que estes passassem a ser respeitados pela sociedade – grande passo a ser conquistado por uma nova polícia a serviço da cidadania, policiais que seriam o orgulho de todos nós que desejamos um país menos violento. A Polícia não foi constituída somente para reprimir turbulências, desordens, mas respeitar manifestações pacíficas, dando-lhe proteção. Polícias truculentas só servem a regimes autoritários, que não é o caso de nosso país.
Quanto às outras maneiras de furto de armas de instituições de segurança pública, estadual ou federal, a saída seria mais e mais fiscalização dos depósitos de armas e munições, com rigorosa e competente vigilância.
O Congresso Nacional, novamente, retoma o problema da venda de armas através de plebiscito, ou seja, consultando o povo brasileiro quanto à conveniência ou não de vender ou comprar armas. Questão delicada e controversa, para a qual há vários ângulos de argumentação favorável ou desfavorável. Julgo que um novo plebiscito até poderia ser oportuno, desde que, seja qual for o seu resultado, na prática do quotidiano da vida dos brasileiros ele se efetivasse na solução daqueles problemas acima levantados. Não é retirar – como em geral pensa a opinião pública -, de pessoas de bem as suas armas mantidas em casa. Isso é muito pouco, quase nada na solução dessa questão de alto sentido social. Perguntaria: como ficariam os marginais já armados de unhas e dentes, com arsenais de munições clandestinas? Sem atacar de frente e com propósitos patrióticos a existência de armamentos pesados, alguns de uso das forças armadas, entre criminosos, de nada valerão inócuos plebiscitos ressuscitados só porque a casa foi roubada porque a porta estava aberta - mal do brasileiro que só a fecha quando uma tragédia acontece.
A questão do uso da arma tem que ser enfrentada pelo país inteiro. Não pode ser uma mera forma de, em momento de grande luto nacional com a tragédia de Realengo, o governo federal decidir abrir os olhos para uma das grandes mazelas deste país. Abrir os olhos para um problema, diria, crônico, é muito pouco; o que se quer são ações concretas, afirmativas, duráveis.
Nenhuma outra arma que o ser humano inventou se compara quanto aos seus efeitos letais e destruidores quanto os chamados revólveres, para me servir de uma espécie de arma que nunca saiu de moda entre usuários de todos os continentes.Não sei quem o inventou nem tenho pressa em ir à Wikipédia para conferir isso. Não me interessa. Contudo, o mal que esse tipo de arma tem causado à humanidade é incomensurável. Se pensarmos o quanto ele tem vitimado pessoas em algum infeliz momento existencial, i.e., aquelas pessoas, em situação de extrema angústia, medo, desespero ou por desequilíbrio mental, contar-se-ia em milhares a cifra de mortos por suicídio ou por outros motivos nesta teia de aranha em que se vê enredada a sociedade há longo tempo.
Ela está em toda a parte do cotidiano das pessoas e, muitas vezes, surge de onde menos se espera. Traz em si a potencialidade do ato de um crime, seja contra seu próprio dono, seja porque pode ser roubada por bandidos, assaltantes, seja porque pode ser usada como troca de vantagens entre pessoas desonestas, tudo, enfim, sendo por ela envolvido e transformado em ação fatal e irreversível. A arma de fogo pode ser usada para a nossa defesa quanto para a prática da criminalidade, nas mãos de facínoras, de policiais sem dignidade. Torna-se, assim, símbolo de tragédias, anunciadas ou não. Pode até ser usada, em casa ou em outro recinto, por menores, por crianças que, pela pouca idade, passa a ser um forma de brinquedo ameaçador de vida humanas, de outras crianças.
Nos lares brasileiros deve haver milhares de armas compradas legalmente, tendo inclusive a garantia do porte para uso em casa. É esse contexto familiar que se devem tomar todas as precauções possíveis para que nunca estejam ao alcance de crianças ou adolescentes.
Entretanto, alguns problemas se apresentam com respeito ao uso da arma: a sua comercialização legal, a sua aquisição por contrabando através das nossas fronteiras e o seu tráfico entre bandidos e policiais corruptos, a chamada banda podre, além de furtos provenientes de quartéis da polícia ou mesmo das forças armadas. Vê-se que a questão da arma é delicada e complexa se desejarmos desenvolver políticas públicas que reduzam drasticamente as altas quantidades desses objetos mortais e alimentadores do crime. Por conseguinte, o que deve haver é um endurecimento na venda de arma para uso pessoal, exigindo minuciosamente do comprador todos os dados e referências, inclusive exames de saúde mental do comprador fornecido por autoridade competente.
A entrada de armas pelas fronteiras brasileiras merece atenção especial no sentido de que o efetivo da Polícia Federal fique à altura dos obstáculos que irão encontrar. Atualmente, a tecnologia pode auxiliar enormemente nesse sentido. Naturalmente, deve haver um entrosamento amplo entre a Polícia Federal e o apoio logístico indispensável das Forças Armadas, num trabalho conjunto e patriótico de impedir o aumento crescente de armas clandestinas oriundas de países vizinhos. Neste caso, o Ministério das Relações Exteriores poderia ser a ponte de ligação entre nós e aqueles países vizinhos, através de acordos firmados entre esses países com o objetivo de realizar um combate sem trégua contra comerciantes e traficantes de armas. Seria um combate com finalidades recíprocas.
Para reduzir o trafico de armas entre bandidos e policiais inescrupulosos, haveria de, primeiro, melhorar a imagem de toda a corporação da Polícia Militar, sobretudo melhor selecionando seu contingente, com treinamento sério e preparação que neles internalizassem valores éticos e de conduta social adequada à sua específica função social de defesa da segurança das pessoas, do patrimônio público, dando-lhes remuneração condigna, o que faria com que estes passassem a ser respeitados pela sociedade – grande passo a ser conquistado por uma nova polícia a serviço da cidadania, policiais que seriam o orgulho de todos nós que desejamos um país menos violento. A Polícia não foi constituída somente para reprimir turbulências, desordens, mas respeitar manifestações pacíficas, dando-lhe proteção. Polícias truculentas só servem a regimes autoritários, que não é o caso de nosso país.
Quanto às outras maneiras de furto de armas de instituições de segurança pública, estadual ou federal, a saída seria mais e mais fiscalização dos depósitos de armas e munições, com rigorosa e competente vigilância.
O Congresso Nacional, novamente, retoma o problema da venda de armas através de plebiscito, ou seja, consultando o povo brasileiro quanto à conveniência ou não de vender ou comprar armas. Questão delicada e controversa, para a qual há vários ângulos de argumentação favorável ou desfavorável. Julgo que um novo plebiscito até poderia ser oportuno, desde que, seja qual for o seu resultado, na prática do quotidiano da vida dos brasileiros ele se efetivasse na solução daqueles problemas acima levantados. Não é retirar – como em geral pensa a opinião pública -, de pessoas de bem as suas armas mantidas em casa. Isso é muito pouco, quase nada na solução dessa questão de alto sentido social. Perguntaria: como ficariam os marginais já armados de unhas e dentes, com arsenais de munições clandestinas? Sem atacar de frente e com propósitos patrióticos a existência de armamentos pesados, alguns de uso das forças armadas, entre criminosos, de nada valerão inócuos plebiscitos ressuscitados só porque a casa foi roubada porque a porta estava aberta - mal do brasileiro que só a fecha quando uma tragédia acontece.
A questão do uso da arma tem que ser enfrentada pelo país inteiro. Não pode ser uma mera forma de, em momento de grande luto nacional com a tragédia de Realengo, o governo federal decidir abrir os olhos para uma das grandes mazelas deste país. Abrir os olhos para um problema, diria, crônico, é muito pouco; o que se quer são ações concretas, afirmativas, duráveis.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Um poema de John Keats ( 1795-1821)
A thing of beauty
A thing of beauty is a joy for ever:
Its loveliness increases; it will never
Pass into nothingness; but still will keep
A bower quiet for us, an d a sleep
Full of sweet dreams and health, and quiet breathing.
Therefore, on every morning, are we wreathing
A flowery band to bind us to the earth,
Spite of despondence, of the in human dearth
Of noble natures, of the gloomy days,
Of all the unhealthy and o’ver darkened ways,
Made for our searching: yes, in spite of all,
Som e shape of beauty moves away the pall
From our dark spirits. Such the sun, the moon,
Trees old and young, sprouting a shady boon
For simples sheep; and such are daffodils
With the green world they live in; and clear rills
That for themselves a cooling covert make
‘Gainst the hot season: the mid forest brake
Rich with a sprinkling of fair musk-rose blooms:
And such too is the grandeur fo the dooms
We have imagined for the mighty dead;
All lovely tales that we have heard or read:
An endless fountains of immortal drink,
Pouring unto us from the heaven’s brink.
Um coisa bela
Uma alegria eterna uma coisa bela é:
Cresce o seu encanto; não se apagará nunca; porém manterá
De um abrigo para nós o sossego, e um sono
De doces sonhos e saúde repletos e de frescor tranquilo.
Em cada manhã, assim, um laço florido à terra nos prendendo
,A despeito de desânimos, da carência desumana
De temperamentos nobres, dos dias sombrios,
De todas as enfermidades e dos caminhos muito tristes,
Que se abrem melhor ao nosso conhecimento; sim, malgrado tudo,
Da mortalha nos afasta alguma forma de beleza.
De nossos ânimos sombrios. Por isso, é que o sol, a lua,
As árvores, antiga e novas, uma dádiva frondosa propiciam.
A humildes carneirinhos; e assim também são os narcisos
Junto ao mundo verde no qual vivem, e riachos cristalinos
Que um abrigo refrescante para si constroem
Para a estação quente: da floresta o âmago explode
Em profusão com uma aspersão em belas rosas almiscaradas:
E da mesma maneira se mostra a grandeza dos destinos
Que para os mortos notáveis imaginamos;
Todas as adoráveis histórias que ouvimos e lemos:
De bebida imortal uma fonte interminável
Da extremidade celeste sobre nós derramando-se.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
A thing of beauty is a joy for ever:
Its loveliness increases; it will never
Pass into nothingness; but still will keep
A bower quiet for us, an d a sleep
Full of sweet dreams and health, and quiet breathing.
Therefore, on every morning, are we wreathing
A flowery band to bind us to the earth,
Spite of despondence, of the in human dearth
Of noble natures, of the gloomy days,
Of all the unhealthy and o’ver darkened ways,
Made for our searching: yes, in spite of all,
Som e shape of beauty moves away the pall
From our dark spirits. Such the sun, the moon,
Trees old and young, sprouting a shady boon
For simples sheep; and such are daffodils
With the green world they live in; and clear rills
That for themselves a cooling covert make
‘Gainst the hot season: the mid forest brake
Rich with a sprinkling of fair musk-rose blooms:
And such too is the grandeur fo the dooms
We have imagined for the mighty dead;
All lovely tales that we have heard or read:
An endless fountains of immortal drink,
Pouring unto us from the heaven’s brink.
Um coisa bela
Uma alegria eterna uma coisa bela é:
Cresce o seu encanto; não se apagará nunca; porém manterá
De um abrigo para nós o sossego, e um sono
De doces sonhos e saúde repletos e de frescor tranquilo.
Em cada manhã, assim, um laço florido à terra nos prendendo
,A despeito de desânimos, da carência desumana
De temperamentos nobres, dos dias sombrios,
De todas as enfermidades e dos caminhos muito tristes,
Que se abrem melhor ao nosso conhecimento; sim, malgrado tudo,
Da mortalha nos afasta alguma forma de beleza.
De nossos ânimos sombrios. Por isso, é que o sol, a lua,
As árvores, antiga e novas, uma dádiva frondosa propiciam.
A humildes carneirinhos; e assim também são os narcisos
Junto ao mundo verde no qual vivem, e riachos cristalinos
Que um abrigo refrescante para si constroem
Para a estação quente: da floresta o âmago explode
Em profusão com uma aspersão em belas rosas almiscaradas:
E da mesma maneira se mostra a grandeza dos destinos
Que para os mortos notáveis imaginamos;
Todas as adoráveis histórias que ouvimos e lemos:
De bebida imortal uma fonte interminável
Da extremidade celeste sobre nós derramando-se.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
sábado, 9 de abril de 2011
Escola pública: o massacre de Realengo
Cunha e Silva Filho
O massacre de adolescentes, quase crianças, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, acontecido na Escola Municipal Tasso da Silveira, marca para sempre, na memória de todos nós, uma tragédia diferente de todas aquelas que neste país já aconteceram. Não foi um acidente de carro, nem assalto, nem estupros, nem brigas entre alunos, nem tiroteios entre bandidos e bandidos ou policiais e bandidos, nem foram balas perdidas. Foi apenas isso: um ataque de um adulto anormal psiquicamente, desses comuns na terra do Tio Sam que, de repente, saem matando indiscriminadamente inocentes em salas de aulas e, às vezes, tirando a vida de professores.
Portanto, não foi algo ocorrido na sociedade afluente americana, de altíssima tecnologia, de modos de vida altamente artificiais, de relações interpessoais utilitaristas, de gente apressada em faturar cada vez mais. Não, leitor, o fato se deu aqui no Rio de Janeiro, numa escola municipal da prefeitura, escola que leva o nome de um grande poeta paranaense, Tasso da Silveira (1895-1958), que, por sinal, estudou e lecionou no Rio de Janeiro, e é figura de proa da corrente espiritualista do Modernismo brasileiro ao lado de Cecília Meireles (1901-1964), Tristão de Athayde ( 1893-1983), Murilo Araújo (1894-1980) Gilka Machado (1893-1980) e outros. A poesia dos mistérios se confunde um tanto contraditoriamente com os mistérios do massacre.
Que ironia misturar a imagem da escola com o sangue trágico derramado de inocentes, essas álacres quase crianças, que tanto me lembram as minhas queridas aluninhas cheias de sorrisos e de brincadeiras em sala de aulas e que nunca me foram problemas. Só os meninos é que me deram muito aborrecimento e me tiravam do sério. Essas quase crianças, entregues aos cuidados da direção da escola e dos seus professores, de repente se defrontaram com a malignidade fruto da psicopatia. Choro pelos meninos e meninas, mas apenas sinto pelo atirador um misto de indignação e aterradora perplexidade. Não lhe tenho ódio, pois quem há de, em sã consciência, votar ódio a um tresloucado, a um psicótico, a um anormal, cujo lugar seria o hospital psiquiátrico ou o manicômio? Criaturas como ele, que causam crueldades inomináveis, são diferentes dos puramente perversos, dos torturadores, dos cruéis, dos pistoleiros, dos maus, estes, sim, na normalidade, provocam os chamados crimes hediondos. Fazem tudo por mero instinto de maldade, com consciência plena de seus atos sórdidos.
Ora, quem diria que um prédio de três andares com aquela arquitetura inconfundível de algumas escolas púbicas municipais em algumas das quais, durante quase três décadas trabalhei, um dia seria palco da primeira tragédia dessa natureza. Este massacre serve como ponto de partida para a solução de alguns problemas crônicos que as escolas públicas brasileiras atravessam: a falta de segurança, a violência contra professores por parte de alunos altamente indisciplinados, as condições salariais aviltantes.
Veja, uma escola pública municipal tem infraestrutura frágil, desde a ausência de porteiros ou da vigilância pelo menos periódica de guardas municipais ou mesmo da polícia militar até a qualidade de ensino, condições de trabalho dos docentes, entre outras carências. O que se vê são escolas com portões abertos, entregues à própria sorte. Com experiência longa de escola pública, já presenciei isso com frequência. Cabe aos prefeitos alterarem tudo isso, dotando as escolas públicas de maior segurança, conforto e outros requisitos fundamentais a quem estuda.
Enquanto os governos municipais e estaduais não investirem no sistema educacional brasileiro, muito mais que pensando em apenas jogos e copas, que vão dar lucro só a alguns setores do estado e do município, ou outras providências no âmbito da educação não forem tomadas, a estrutura do Estado se torna responsável pela desatenção dada a aspectos cruciais da sociedade que, com a ausência deles, por vias indiretas, torna-se causa de tantos males sociais geradores de tragédias como esta que o Rio acaba de presenciar.
Ou seja, nossos jovens, nosso adolescentes devem ser mais bem orientados desde a escola nos seus primeiros anos até principalmente os mais complexos que são os da adolescência, em que transformações psicobiológicas importantes tomam vulto e necessitam de orientação e supervisão escola atentas visando a detectar comportamentos antissociais nos jovens e, se for o caso, encaminhá-los para os setores de saúde competentes. O caso do atirador Wellington bem pode servir de baliza para que as autoridades educacionais e os governos despertem do longo e pesado sono da indiferença e da desídia e arregacem as mãos literalmente para dar o chute inicial de transformação efetiva desse tripé : saúde, educação e segurança.
O massacre da escola de Realengo é um alerta para as autoridades e para a sociedade em geral. É preciso nos prepararmos, de agora em diante, ainda que tardiamente – como diz parte do lema dos inconfidentes -, a fim de que tais atrocidades sejam evitadas, se é que podem ser evitadas totalmente, mas prevenir, investigar, discutir soluções, mudar hábitos de administração já ultrapassados e repensar estratégias que se adequem à realidade atual da vida social brasileira. Façamos isso antes que seja tarde demais, porquanto nenhum brasileiro que sofreu com esta tragédia contra inocentes deseja que outras famílias passem pela mesma inconsolável dor.
O massacre de adolescentes, quase crianças, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, acontecido na Escola Municipal Tasso da Silveira, marca para sempre, na memória de todos nós, uma tragédia diferente de todas aquelas que neste país já aconteceram. Não foi um acidente de carro, nem assalto, nem estupros, nem brigas entre alunos, nem tiroteios entre bandidos e bandidos ou policiais e bandidos, nem foram balas perdidas. Foi apenas isso: um ataque de um adulto anormal psiquicamente, desses comuns na terra do Tio Sam que, de repente, saem matando indiscriminadamente inocentes em salas de aulas e, às vezes, tirando a vida de professores.
Portanto, não foi algo ocorrido na sociedade afluente americana, de altíssima tecnologia, de modos de vida altamente artificiais, de relações interpessoais utilitaristas, de gente apressada em faturar cada vez mais. Não, leitor, o fato se deu aqui no Rio de Janeiro, numa escola municipal da prefeitura, escola que leva o nome de um grande poeta paranaense, Tasso da Silveira (1895-1958), que, por sinal, estudou e lecionou no Rio de Janeiro, e é figura de proa da corrente espiritualista do Modernismo brasileiro ao lado de Cecília Meireles (1901-1964), Tristão de Athayde ( 1893-1983), Murilo Araújo (1894-1980) Gilka Machado (1893-1980) e outros. A poesia dos mistérios se confunde um tanto contraditoriamente com os mistérios do massacre.
Que ironia misturar a imagem da escola com o sangue trágico derramado de inocentes, essas álacres quase crianças, que tanto me lembram as minhas queridas aluninhas cheias de sorrisos e de brincadeiras em sala de aulas e que nunca me foram problemas. Só os meninos é que me deram muito aborrecimento e me tiravam do sério. Essas quase crianças, entregues aos cuidados da direção da escola e dos seus professores, de repente se defrontaram com a malignidade fruto da psicopatia. Choro pelos meninos e meninas, mas apenas sinto pelo atirador um misto de indignação e aterradora perplexidade. Não lhe tenho ódio, pois quem há de, em sã consciência, votar ódio a um tresloucado, a um psicótico, a um anormal, cujo lugar seria o hospital psiquiátrico ou o manicômio? Criaturas como ele, que causam crueldades inomináveis, são diferentes dos puramente perversos, dos torturadores, dos cruéis, dos pistoleiros, dos maus, estes, sim, na normalidade, provocam os chamados crimes hediondos. Fazem tudo por mero instinto de maldade, com consciência plena de seus atos sórdidos.
Ora, quem diria que um prédio de três andares com aquela arquitetura inconfundível de algumas escolas púbicas municipais em algumas das quais, durante quase três décadas trabalhei, um dia seria palco da primeira tragédia dessa natureza. Este massacre serve como ponto de partida para a solução de alguns problemas crônicos que as escolas públicas brasileiras atravessam: a falta de segurança, a violência contra professores por parte de alunos altamente indisciplinados, as condições salariais aviltantes.
Veja, uma escola pública municipal tem infraestrutura frágil, desde a ausência de porteiros ou da vigilância pelo menos periódica de guardas municipais ou mesmo da polícia militar até a qualidade de ensino, condições de trabalho dos docentes, entre outras carências. O que se vê são escolas com portões abertos, entregues à própria sorte. Com experiência longa de escola pública, já presenciei isso com frequência. Cabe aos prefeitos alterarem tudo isso, dotando as escolas públicas de maior segurança, conforto e outros requisitos fundamentais a quem estuda.
Enquanto os governos municipais e estaduais não investirem no sistema educacional brasileiro, muito mais que pensando em apenas jogos e copas, que vão dar lucro só a alguns setores do estado e do município, ou outras providências no âmbito da educação não forem tomadas, a estrutura do Estado se torna responsável pela desatenção dada a aspectos cruciais da sociedade que, com a ausência deles, por vias indiretas, torna-se causa de tantos males sociais geradores de tragédias como esta que o Rio acaba de presenciar.
Ou seja, nossos jovens, nosso adolescentes devem ser mais bem orientados desde a escola nos seus primeiros anos até principalmente os mais complexos que são os da adolescência, em que transformações psicobiológicas importantes tomam vulto e necessitam de orientação e supervisão escola atentas visando a detectar comportamentos antissociais nos jovens e, se for o caso, encaminhá-los para os setores de saúde competentes. O caso do atirador Wellington bem pode servir de baliza para que as autoridades educacionais e os governos despertem do longo e pesado sono da indiferença e da desídia e arregacem as mãos literalmente para dar o chute inicial de transformação efetiva desse tripé : saúde, educação e segurança.
O massacre da escola de Realengo é um alerta para as autoridades e para a sociedade em geral. É preciso nos prepararmos, de agora em diante, ainda que tardiamente – como diz parte do lema dos inconfidentes -, a fim de que tais atrocidades sejam evitadas, se é que podem ser evitadas totalmente, mas prevenir, investigar, discutir soluções, mudar hábitos de administração já ultrapassados e repensar estratégias que se adequem à realidade atual da vida social brasileira. Façamos isso antes que seja tarde demais, porquanto nenhum brasileiro que sofreu com esta tragédia contra inocentes deseja que outras famílias passem pela mesma inconsolável dor.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Em meio ao caos mundial
Cunha e Silva Filho
Na página da Folha de São Paulo, do dia 3 deste mês, o cartunista Angeli, num retângulo do canto superior direito, brinda o leitor com uma situação que espelha com muita perspicácia o difícil e delicado momento presente de conflitos bélicos, sobretudo, agora, em países árabes, com consequências imprevisíveis não só para os que mais sofrem na carne – os civis dominados por longos períodos de ditaduras sangrentas.
No cartum, numa fileira de pessoas de todas as idades, carregando poucos e magros pertences, se dirigem, na condição de refugiados, para outras plagas, para países fronteiriços. O cenário é a aridez dos desertos. A primeira pessoa da extensa fileira de gente se defronta com uma placa cravada em plena areia com o seguinte aviso: “Atenção – Próxima Ditadura a 500 M.”
Ora, nada tão eloqüente para expressar situações trágicas quando estas se traduzem pela dimensão do humor inteligente e antenado.
Aquele contingente, já exausto de tantos padecimentos contra a sua cidadania e seus mínimos direitos de existência e de liberdade, oprimidos há décadas pela mãos de ferro de governantes golpistas que se eternizaram no poder como se fossem proprietários do país, mandando e demandando em tudo e em todos, fortalecidos com exércitos solidamente armados, formando elites dividindo o povo em exploradores e explorados, se vê, assim, compelido a deslocar-se para outras terras com o tênue sonho de encontrar a paz tão almejada.
A placa com aquele aviso tragicômico resume bem o triste destino dessas populações, ávidas para se livrarem dessa espécie de escravidão que são os regimes de força, a exemplo do Egito, da Líbia, do Iêmen, da Síria, da Costa de Marfim, entre outras regiões que sofrem intervenções das grandes potências. Na Serra Leoa, tribos rivais se trucidam entre si, com armas arranjadas por países com algum interesse político-econômico. Que paradoxo, essas tribos canibais, vivendo primitivamente, como quase bichos selvagens, utilizam armas de outras países, armas modernas. As decisões entre elas se resolvem com o extermínio de uma ou outra .Seus chefes, seus anciões preconizam que os combates não devem respeitar nem crianças. Tudo fica, para defesa de seu território, de suas criações de rebanhos, sob a mira mútua das armas dos combatentes. A valorização dos seus guerreiros é admirada pelas mulheres que só respeitam os fortes e destemidos.
O sentido nuclear do cartum reside nessa carência de alternativa de povos que fogem de sua própria pátria e, por mais que deem voltas, vão se deparar com o mesmo obstáculo, ou seja, com o fantasma das ditaduras. As populações que formam os contingentes de refugiados caem sempre no círculo vicioso da discricionariedade - esta forma nefanda, usurpadora da cidadania.
As ditaduras não podem mais existir a esta altura de conquistas tecnológicas e de avanços científicos em tantas outras áreas do saber humano. É uma heresia. Devem ser alijadas para sempre em todos os recantos do Planeta.. Não há povos felizes nem nações que aspirem ao progresso material e ao seu bem-estar sob regimes autocratas. Não creio que a China seja constituída de pessoas plenamente realizadas em todos os sentidos da vida. Sem liberdade de expressão, um país não sobrevive por muito tempo. A citada China comunista como sistema de governo, mas liberal como exportadora e importadora, investiu maciçamente na educação, cujo resultado tem sido excelente, O país se tornou um gigante economicamente, mas como estaria a vida pessoal e íntima dessa superpopulosa nação?
Todas as nações livres devem envidar esforços a fim de que os regimes de força sejam extirpados definitivamente, ainda que as mudanças libertárias sejam conseguidas a longo prazo. Acima das diferenças culturais, linguísticas, religiosas, étnicas etc., todos os povos poderiam, através de organismos internacionais, fortemente comprometidos com a defesa da paz e da liberdade e bem-estar das nações, lutar pela conquista de uma democracia autêntica. Os regimes autoritários já deram sobejas provas de que não melhoram a humanidade. Os povos devem ser soberanos na escolha de seus representantes no sistema de governo. Para isso, a única via possível seria a prática da democracia alicerçada em lídimos valores éticos e espirituais. Democracia, porém, verdadeira, não de fachada, não de fancaria, não feita de grupos interessados em seus próprio bem-estar individualista, egoísta e nada patriota. Este tipo de democracia não é difícil de localizar na América do Sul, onde democracias não passam de grupos no poder meramente tutelados por países hegemônicos ou com tendência e tradição imperialista.
No entanto, para colimar tais objetivos, seria imperioso que os órgãos internacionais de que dispomos procurassem efetivamente livrar-se de seus vícios e de suas incoerências ou parcialidades. Falo da ONU, OEA, OTAN. Lembremo-nos da guerra contra o Iraque, outra ditadura, em que os Estados Unidos, sob liderança de Bush filho, e sem recorrer à ONU, com o auxílio da Inglaterra e de uma coalizão militar multinacional, invadiram aquele país, destruindo tudo à sua frente, com bombardeios usando armas de ponta, trucidando indiscriminadamente militares e civis, sem dó nem piedade.
O motivo alegado pela dupla Bush filho e o ex-primeiro ministro britânico, Tony Blair, era que o Iraque escondia arsenais de armas nucleares, quando se descobriu, pouco depois, que não havia armas nucleares nesse país. Havia, sim, da parte americana e inglesa interesse outros tendo como fulcro as reservas petrolíferas. Mataram milhares de inocentes, jovens, adultos e velhos, destruíram parte da riqueza arquitetônica do país, em suma, reduziu o país quase a escombros.
O governo de Bush filho cometeu tanta insanidade bélica que seus crimes superaram as atrocidadse de Saddam Hussein. Este foi condenado e enforcado. Nada aconteceu com Bush. A ONU, os Tribunais Internacionais contra crimes de guerra nada fizeram para condenar Bush filho. A memória curta da humanidade bem provavelmente já esqueceu de tudo isso. Impunidade total. O presidente americano fez tudo que desejou e saiu de cargo incólume e fagueiro. Gastou rios de dinheiro com a invasão do Iraque, assim como fez no Afeganistão. Exauriu os cofres do Tesouro americano, com um Senado sempre acolhendo seus caprichos e loucuras. Deixou para seu sucessor Obama uma herança de dívidas colossais e consequências que logo se tornaram visíveis na economia estadunidense. A recessão logo tomou vulto no cotidiano americano com repercussões graves em outras países.sobretudo europeus, incluindo, a Inglaterra. A pátria de Lincoln (1809-1865), de Thomas Jefferson (1743-1826) de Benjamin Franklin (1706-1790) e de Washington (1732-1799) não praticava essa “democracia” da era Bush. Eram outros tempos de homens que tinham cultura e sabedoria e vergonha na cara, que tinham caráter e civismo no espírito. Essa democracia e essas figuras ilustres conheceram o que seja justiça e democracia. Por isso está fazendo falta em todo a Terra.
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Na página da Folha de São Paulo, do dia 3 deste mês, o cartunista Angeli, num retângulo do canto superior direito, brinda o leitor com uma situação que espelha com muita perspicácia o difícil e delicado momento presente de conflitos bélicos, sobretudo, agora, em países árabes, com consequências imprevisíveis não só para os que mais sofrem na carne – os civis dominados por longos períodos de ditaduras sangrentas.
No cartum, numa fileira de pessoas de todas as idades, carregando poucos e magros pertences, se dirigem, na condição de refugiados, para outras plagas, para países fronteiriços. O cenário é a aridez dos desertos. A primeira pessoa da extensa fileira de gente se defronta com uma placa cravada em plena areia com o seguinte aviso: “Atenção – Próxima Ditadura a 500 M.”
Ora, nada tão eloqüente para expressar situações trágicas quando estas se traduzem pela dimensão do humor inteligente e antenado.
Aquele contingente, já exausto de tantos padecimentos contra a sua cidadania e seus mínimos direitos de existência e de liberdade, oprimidos há décadas pela mãos de ferro de governantes golpistas que se eternizaram no poder como se fossem proprietários do país, mandando e demandando em tudo e em todos, fortalecidos com exércitos solidamente armados, formando elites dividindo o povo em exploradores e explorados, se vê, assim, compelido a deslocar-se para outras terras com o tênue sonho de encontrar a paz tão almejada.
A placa com aquele aviso tragicômico resume bem o triste destino dessas populações, ávidas para se livrarem dessa espécie de escravidão que são os regimes de força, a exemplo do Egito, da Líbia, do Iêmen, da Síria, da Costa de Marfim, entre outras regiões que sofrem intervenções das grandes potências. Na Serra Leoa, tribos rivais se trucidam entre si, com armas arranjadas por países com algum interesse político-econômico. Que paradoxo, essas tribos canibais, vivendo primitivamente, como quase bichos selvagens, utilizam armas de outras países, armas modernas. As decisões entre elas se resolvem com o extermínio de uma ou outra .Seus chefes, seus anciões preconizam que os combates não devem respeitar nem crianças. Tudo fica, para defesa de seu território, de suas criações de rebanhos, sob a mira mútua das armas dos combatentes. A valorização dos seus guerreiros é admirada pelas mulheres que só respeitam os fortes e destemidos.
O sentido nuclear do cartum reside nessa carência de alternativa de povos que fogem de sua própria pátria e, por mais que deem voltas, vão se deparar com o mesmo obstáculo, ou seja, com o fantasma das ditaduras. As populações que formam os contingentes de refugiados caem sempre no círculo vicioso da discricionariedade - esta forma nefanda, usurpadora da cidadania.
As ditaduras não podem mais existir a esta altura de conquistas tecnológicas e de avanços científicos em tantas outras áreas do saber humano. É uma heresia. Devem ser alijadas para sempre em todos os recantos do Planeta.. Não há povos felizes nem nações que aspirem ao progresso material e ao seu bem-estar sob regimes autocratas. Não creio que a China seja constituída de pessoas plenamente realizadas em todos os sentidos da vida. Sem liberdade de expressão, um país não sobrevive por muito tempo. A citada China comunista como sistema de governo, mas liberal como exportadora e importadora, investiu maciçamente na educação, cujo resultado tem sido excelente, O país se tornou um gigante economicamente, mas como estaria a vida pessoal e íntima dessa superpopulosa nação?
Todas as nações livres devem envidar esforços a fim de que os regimes de força sejam extirpados definitivamente, ainda que as mudanças libertárias sejam conseguidas a longo prazo. Acima das diferenças culturais, linguísticas, religiosas, étnicas etc., todos os povos poderiam, através de organismos internacionais, fortemente comprometidos com a defesa da paz e da liberdade e bem-estar das nações, lutar pela conquista de uma democracia autêntica. Os regimes autoritários já deram sobejas provas de que não melhoram a humanidade. Os povos devem ser soberanos na escolha de seus representantes no sistema de governo. Para isso, a única via possível seria a prática da democracia alicerçada em lídimos valores éticos e espirituais. Democracia, porém, verdadeira, não de fachada, não de fancaria, não feita de grupos interessados em seus próprio bem-estar individualista, egoísta e nada patriota. Este tipo de democracia não é difícil de localizar na América do Sul, onde democracias não passam de grupos no poder meramente tutelados por países hegemônicos ou com tendência e tradição imperialista.
No entanto, para colimar tais objetivos, seria imperioso que os órgãos internacionais de que dispomos procurassem efetivamente livrar-se de seus vícios e de suas incoerências ou parcialidades. Falo da ONU, OEA, OTAN. Lembremo-nos da guerra contra o Iraque, outra ditadura, em que os Estados Unidos, sob liderança de Bush filho, e sem recorrer à ONU, com o auxílio da Inglaterra e de uma coalizão militar multinacional, invadiram aquele país, destruindo tudo à sua frente, com bombardeios usando armas de ponta, trucidando indiscriminadamente militares e civis, sem dó nem piedade.
O motivo alegado pela dupla Bush filho e o ex-primeiro ministro britânico, Tony Blair, era que o Iraque escondia arsenais de armas nucleares, quando se descobriu, pouco depois, que não havia armas nucleares nesse país. Havia, sim, da parte americana e inglesa interesse outros tendo como fulcro as reservas petrolíferas. Mataram milhares de inocentes, jovens, adultos e velhos, destruíram parte da riqueza arquitetônica do país, em suma, reduziu o país quase a escombros.
O governo de Bush filho cometeu tanta insanidade bélica que seus crimes superaram as atrocidadse de Saddam Hussein. Este foi condenado e enforcado. Nada aconteceu com Bush. A ONU, os Tribunais Internacionais contra crimes de guerra nada fizeram para condenar Bush filho. A memória curta da humanidade bem provavelmente já esqueceu de tudo isso. Impunidade total. O presidente americano fez tudo que desejou e saiu de cargo incólume e fagueiro. Gastou rios de dinheiro com a invasão do Iraque, assim como fez no Afeganistão. Exauriu os cofres do Tesouro americano, com um Senado sempre acolhendo seus caprichos e loucuras. Deixou para seu sucessor Obama uma herança de dívidas colossais e consequências que logo se tornaram visíveis na economia estadunidense. A recessão logo tomou vulto no cotidiano americano com repercussões graves em outras países.sobretudo europeus, incluindo, a Inglaterra. A pátria de Lincoln (1809-1865), de Thomas Jefferson (1743-1826) de Benjamin Franklin (1706-1790) e de Washington (1732-1799) não praticava essa “democracia” da era Bush. Eram outros tempos de homens que tinham cultura e sabedoria e vergonha na cara, que tinham caráter e civismo no espírito. Essa democracia e essas figuras ilustres conheceram o que seja justiça e democracia. Por isso está fazendo falta em todo a Terra.
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sábado, 2 de abril de 2011
O Brasil é aqui
Cunha e Silva Filho
Longe de mim desconhecer os grandes problemas que afligem, de maneira diversificada, grande parte do nosso Planeta.
Mas, olhemos também para o que está ocorrendo em nosso solo pátrio. Sabemos todos que o país tem sido assolado por inundações com consequências trágicas e sem uma clara demonstração, por parte das autoridades competentes, de que soluções têm sido procuradas e mesmo resolvidas.
Na prática, as populações atingidas na carne por tantas inundações, em vários regiões do país esquecidas, as populações, as vítimas , os sofridos estão aí a ver navios. Promessas feitas por autoridades federais não têm sido concretizadas, nem localmente, nem ao nível estadual ou federal. Os flagelados das enchentes estão pedindo socorro em vários partes, no Estado do Rio, na região Sul, em regiões do nordeste, os aguaceiros modificaram as vidas das pessoas por completo retirando-lhes o que é o mais básico direito de um cidadão brasileiro: o seu teto, a sua casinha, o seu abrigo, o seu lar.
Pessoas há que já viraram homens e mulheres da rua, os novos sem-tetos, aportando em algum canto de uma cidade, transformando em “lar” esse pequeno espaço ao ar livre sujeito às intempéries e aos perigos da extrema violência dos cen tros urbanos ou à mercê de um ataque de um malfeitor. Ali, naquele cantinho, coloca seus poucos pertences que conseguiu reunir às pressas ao salvarem-se da fúria das inundações. Não têm mais nada senão a precária condição de vida amarga, de novas vidas severinas. Viraram párias.
Não é justo que essas pessoas permaneçam abandonadas pelos órgãos públicos. Onde estão os prefeitos, os vereadores,os deputados, os senadores, os governadores que ainda não mexeram para amenizar socialmente essas populações? Triste sina desses infelizes que nasceram pobres num país de banqueiros e empresários milionários!
O país socialmente vai mal. Basta que voltemos os olhos para outros setores da máquina do Estado que não estão dando conta dos seus deveres e obrigações constitucionais, não provendo as cidades brasileiras de uma educação pública digna, com professores estimulados, de um sistema de saúde que possa atender condignamente a população que nele procura atendimento humano e à altura da classe média e das elites ( por que não ou a utopia só aos ricos pertence?) e de um sistema de segurança pública no qual as pessoas possam confiam plenamente, sem o temor ou mesmo ódio de uma polícia cujos malfeitos viram estereótipos da classe em razão de tantos atos de selvageria praticados por alguns membros mal selecionados e mal preparados para usarem uma arma, quando, ao contrário, o primeiro dever cívico deles é defender os mais fracos contra o poder da violência de todos os tipos.
As polícias civil e militar devem mudar sua imagem e ganhar a simpatia e o reconhecimento da sociedade em todos os seus estratos. Tenho a esperança de que chegará um dia em que os policiais brasileiros, com nova mentalidade, bem-selecionados, com competência e bem remunerados, hão de conquistar o respeito e o apreço do povo brasileiro.Isso também não é uma sonho impossível ou tudo que é bom seria utopia? Creio que não.
O Brasil é aqui, leitor, e por isso mesmo necessita de ajuda urgente em todos os itens mencionados acima. O país real não é esse que mostra índices de crescimento econômico bom, mas dá as costas para problemas crônicos que aí estão aos olhos dos conscientes, não aos olhos das elites políticas que têm bons médicos, bons hospitais, maravilhosos apartamentos ou mansões, sistemas privados de segurança e gastanças bilionárias pelo mundo das grandes cidades.
Para quem acompanha pela televisão alguns problemas considerados sensacionalistas, exibindo as chagas ao vivo da sociedade pobre brasileira, ali se tem uma radiografia do cotidiano do brasileiro indefeso e ignorante de seus direitos de cidadania: mal funcionamento da engrenagem da máquina do governo: na saúde, na segurança, na educação, na moradia, nos transportes de massa.
Basta que os governantes vejam tais programas e deles tirem suas lições que seguramente hão de fornecer-lhes muitos subsídios a fim de encaminhar soluções para os problemas enfocados. Não se mirem tais governantes somente em canais ou jornais que perversa ou ideologicamente ocultam as mazelas de que o povo está sofrendo e sofrendo muitas vezes sem voz própria, raramente manifestada, entre o choro e o desespero, por frases mal organizadas devido à baixa instrução, frases que ecoam num deserto sem soluções, quase gritos que voam como folha seca e inútil aos olhos dos responsáveis pelo bem-estar de um povo. O Brasil é aqui.
Longe de mim desconhecer os grandes problemas que afligem, de maneira diversificada, grande parte do nosso Planeta.
Mas, olhemos também para o que está ocorrendo em nosso solo pátrio. Sabemos todos que o país tem sido assolado por inundações com consequências trágicas e sem uma clara demonstração, por parte das autoridades competentes, de que soluções têm sido procuradas e mesmo resolvidas.
Na prática, as populações atingidas na carne por tantas inundações, em vários regiões do país esquecidas, as populações, as vítimas , os sofridos estão aí a ver navios. Promessas feitas por autoridades federais não têm sido concretizadas, nem localmente, nem ao nível estadual ou federal. Os flagelados das enchentes estão pedindo socorro em vários partes, no Estado do Rio, na região Sul, em regiões do nordeste, os aguaceiros modificaram as vidas das pessoas por completo retirando-lhes o que é o mais básico direito de um cidadão brasileiro: o seu teto, a sua casinha, o seu abrigo, o seu lar.
Pessoas há que já viraram homens e mulheres da rua, os novos sem-tetos, aportando em algum canto de uma cidade, transformando em “lar” esse pequeno espaço ao ar livre sujeito às intempéries e aos perigos da extrema violência dos cen tros urbanos ou à mercê de um ataque de um malfeitor. Ali, naquele cantinho, coloca seus poucos pertences que conseguiu reunir às pressas ao salvarem-se da fúria das inundações. Não têm mais nada senão a precária condição de vida amarga, de novas vidas severinas. Viraram párias.
Não é justo que essas pessoas permaneçam abandonadas pelos órgãos públicos. Onde estão os prefeitos, os vereadores,os deputados, os senadores, os governadores que ainda não mexeram para amenizar socialmente essas populações? Triste sina desses infelizes que nasceram pobres num país de banqueiros e empresários milionários!
O país socialmente vai mal. Basta que voltemos os olhos para outros setores da máquina do Estado que não estão dando conta dos seus deveres e obrigações constitucionais, não provendo as cidades brasileiras de uma educação pública digna, com professores estimulados, de um sistema de saúde que possa atender condignamente a população que nele procura atendimento humano e à altura da classe média e das elites ( por que não ou a utopia só aos ricos pertence?) e de um sistema de segurança pública no qual as pessoas possam confiam plenamente, sem o temor ou mesmo ódio de uma polícia cujos malfeitos viram estereótipos da classe em razão de tantos atos de selvageria praticados por alguns membros mal selecionados e mal preparados para usarem uma arma, quando, ao contrário, o primeiro dever cívico deles é defender os mais fracos contra o poder da violência de todos os tipos.
As polícias civil e militar devem mudar sua imagem e ganhar a simpatia e o reconhecimento da sociedade em todos os seus estratos. Tenho a esperança de que chegará um dia em que os policiais brasileiros, com nova mentalidade, bem-selecionados, com competência e bem remunerados, hão de conquistar o respeito e o apreço do povo brasileiro.Isso também não é uma sonho impossível ou tudo que é bom seria utopia? Creio que não.
O Brasil é aqui, leitor, e por isso mesmo necessita de ajuda urgente em todos os itens mencionados acima. O país real não é esse que mostra índices de crescimento econômico bom, mas dá as costas para problemas crônicos que aí estão aos olhos dos conscientes, não aos olhos das elites políticas que têm bons médicos, bons hospitais, maravilhosos apartamentos ou mansões, sistemas privados de segurança e gastanças bilionárias pelo mundo das grandes cidades.
Para quem acompanha pela televisão alguns problemas considerados sensacionalistas, exibindo as chagas ao vivo da sociedade pobre brasileira, ali se tem uma radiografia do cotidiano do brasileiro indefeso e ignorante de seus direitos de cidadania: mal funcionamento da engrenagem da máquina do governo: na saúde, na segurança, na educação, na moradia, nos transportes de massa.
Basta que os governantes vejam tais programas e deles tirem suas lições que seguramente hão de fornecer-lhes muitos subsídios a fim de encaminhar soluções para os problemas enfocados. Não se mirem tais governantes somente em canais ou jornais que perversa ou ideologicamente ocultam as mazelas de que o povo está sofrendo e sofrendo muitas vezes sem voz própria, raramente manifestada, entre o choro e o desespero, por frases mal organizadas devido à baixa instrução, frases que ecoam num deserto sem soluções, quase gritos que voam como folha seca e inútil aos olhos dos responsáveis pelo bem-estar de um povo. O Brasil é aqui.
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