Fernando Pessoa: “English sonnets, XVII”
Sonnet XVII
MY LOVE, and not I, is the egoist.
Mlove for thee loves itself more than thee;
Ay, more than me, in whom it doth exist,
And makes me live that it may feed on me.
In the country of bridge the bridge is
More real than the shores it doth unsever;
So in our world, all of Relation, this
Is true – that truer is Love than either lover.
This thought therefore comes lightly to Dooubts’s door –
If we, seeing substance of this world, are not
Mere Intervals, God’s Absence and no more,
Hollows in real Consciouness and Thought.
And if ‘tis possible to Thought to bear this fruit,
Why should it not be possible to Truth?
Soneto XVII
MEU AMOR, não eu, o egoísta é.
A ti meu amor ama mais a si próprio que a ti;
Sim mais do que, no qual realmente existe,
Viver me faz a fim de que possa de mim nutrir-se.
No país das pontes a ponte é
Do que as praias que o unificam mais verdadeira;
Destarte, em nosso mundo, no qual tudo se une a tudo, isso
Verdadeiro é – do que dois amantes mais genuíno o Amor é
Portanto, suavemente vem até da Dúvida a porta este pensamento –
Pois nós, deste mundo a substância vendo, não somos mais do que
Simples Intervalos, a Ausência de Deus e nada mais,
Da legítima consciência e do Pensamento Vazios.
E se possível for ao Pensamento este fruto gerar,
Por que não deveria possível ser a Verdade alcançar?
Os temas discutidos neste blog se concentram sobretudo na área de Literatura Brasileira, mas se estendem a outros temas e áreas culturais afins. Os gêneros literários da preferência da produção do autor são crítica literária, ensaios e crônicas. tradução de poesia estrangeira. Áreas de pesquisa e interesse do autor: teoria literária,história literária, vida literária.relação entre literatura, pobreza e violência, literatura universal e literatura de autores piauienses
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Fernando Pessoa: "Sonnet XVI"
Fernando Pessoa: “Sonnet XVI”
Sonnet XVI
WE NEVER JOY enjoy to that full point
Regret doth wish joy had enjoyed been,
Nor have the strength regret to disappoint
Recalling not past joy’s thought, but its mien .
Yet joy was joy when it enjoyed was
And after-enjoyed when as joy recalled,
It must hve been joy ere its joy did pass
And , recalled, joy still, snce its being-past galled.
Alas! All this is useless, for joy’s in
Enjoying, not in thinking of enjoying.
Its mere thought-mirroring gainst itself doth sin,
Yet the more thought we take to thought to prove
It must not think, doth further from joy move.
Soneto XVI
NUNCA A ALEGRIA plenamente alcançamos
Na verdade, o pesar aspira da alegria à fruição,
Não deve a força o pesar desapontar
Da alegria finda recordando, não o pensamento, mas sua aparência.
A alegria, quando desfrutada, alegria foi
E, após a fruição, quando recordada, alegria era
Alegria ter sido deveria antes que alegria na verdade sido haja
E, alegria ainda, relembrada, já que, sendo, tormenta era.
Ai de mim! Inútil isso tudo, porquanto consiste a alegria
No gozo, não na idéia dele.
Da idéia contra si mesma tem o espelho do pecado a força
Refletir basta para que se desfaça a vida plena
Todavia, quanto mais, para contentá-lo, cansamos o pensamento
Menos efeito surte; ao contrário, mais distante da alegria fica.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
Sonnet XVI
WE NEVER JOY enjoy to that full point
Regret doth wish joy had enjoyed been,
Nor have the strength regret to disappoint
Recalling not past joy’s thought, but its mien .
Yet joy was joy when it enjoyed was
And after-enjoyed when as joy recalled,
It must hve been joy ere its joy did pass
And , recalled, joy still, snce its being-past galled.
Alas! All this is useless, for joy’s in
Enjoying, not in thinking of enjoying.
Its mere thought-mirroring gainst itself doth sin,
Yet the more thought we take to thought to prove
It must not think, doth further from joy move.
Soneto XVI
NUNCA A ALEGRIA plenamente alcançamos
Na verdade, o pesar aspira da alegria à fruição,
Não deve a força o pesar desapontar
Da alegria finda recordando, não o pensamento, mas sua aparência.
A alegria, quando desfrutada, alegria foi
E, após a fruição, quando recordada, alegria era
Alegria ter sido deveria antes que alegria na verdade sido haja
E, alegria ainda, relembrada, já que, sendo, tormenta era.
Ai de mim! Inútil isso tudo, porquanto consiste a alegria
No gozo, não na idéia dele.
Da idéia contra si mesma tem o espelho do pecado a força
Refletir basta para que se desfaça a vida plena
Todavia, quanto mais, para contentá-lo, cansamos o pensamento
Menos efeito surte; ao contrário, mais distante da alegria fica.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Há algo errado no Planeta Terra
Há algo errado com o Planeta Terra
Cunha e Silva Filho
É preciso recorrer aos bons espíritos, aos orixás, às rezas, às orações, jamais porém, aos vodus, esses, já se sabe, não trazem felicidade ao solo haitiano. Se possível, seria o caso de se chamar com urgência um padre exorcista para desdemonizar o Haiti e o próprio sofrido, sugado e exaurido Planeta Terra.
Afastemo-nos dos maus espíritos com água benta, crucifixo e muitas preces ou orações. Não estou gostando deste início de ano. Como católico não praticante, está na hora de benzer a Terra. Não vai aqui nenhuma piada de mau gosto. É necessário mesmo benzer nosso planeta. Até em nosso país se tem notícia de tremor de terra. Não, a notícia na TV falou de terremoto no Rio Grande do Norte com certa repercussão de sinais em Pernambuco e na Paraíba. Dá até pra pensar que o mundo inteiro não está imune a sismos e outras catástrofes. Já falei alhures que a Natureza-Mãe está dando o troco a todos nós que dela não estamos cuidando bem. Veja as águas, com as inundações mortais, os furacões com sua trilha de destruição, as geleiras dando mostras de derretimento, as mudanças drásticas climáticas como nunca foram sobre a face da Terra. Temos todos os sinais de alerta.
Agora, é tempo de defender nosso planeta com unhas e dentes numa mobilização em escala mundial, não dando trégua a quem o maltrata sobretudo com fins de ambição de lucros estratosféricos visados por países que só pensam no hic et nunc.
No entanto, sempre me ensinaram na escola que o Brasil não tem vulcões nem terremotos. Temos, sim, tremores de terra, mas não abalos sísmicos da estatura de um terremoto.
Mas, para compensar temos corrupção desenfreada, violência em proporções alarmantes, desmoralização de nossas instituições públicas. Temos o carnaval, o futebol, mulheres lindas - grandes amortecedores da insânia coletiva. Por isso, os governantes dão tanto apoio financeiro e publicitário a esses segmentos da vida social. A frase de Tristão definindo o futebol como o “grande catalizador”, para mim, está superada diante do quadro assaz repetido da violência em que se transformaram as chamadas torcidas, parte das quais se comportam como delinquentes, vândalos, assassinos e fanáticos prontos a qualquer tipo de reação violenta contra torcedores opostos. O que pensariam deles grandes torcedores do nosso meio cultural e amantes do futebol, como Nelson Rodrigues, João Saldanha, escritores como Marques Rebelo, José Lins do Rego, entre tantos e tantos outros torcedores que amavam o fair play dos grandes jogos da história do futebol brasileiro e internacional?Hoje, dia de jogo é dia de apreensão e de medo para os que saem às ruas. Daí tanto aparato policial. E o pior é que esse comportamento antissocial não se restringe ao Brasil. Temos visto o mesmo filme na Inglaterra e em outros países. Costumo dizer que só mudam a língua e o país. O ser humano dito civilizado é o mesmo nos sentimentos e nas reações violentas.
Temos ainda a natureza exuberante, recurso naturais, diversidade climática, todos os níveis sociais que vão da extrema riqueza até à linha mais baixa da pobreza. País de contrastes, do “homem cordial” “país do futuro’, terra do samba e de todos os ritmos musicais. Temos a Amazônia com seus desmatamentos. Temos uma só língua oficial com os variados dialetos regionais e diferentes sotaques, como o nordestino tão apreciado, pelo seu pitoresco, por nosso grande prosador de ficção Érico Veríssimo.
Observe-se a tragédia, agora, no Haiti, na região do Caribe, país sofrido, com problemas crônicas nas questões políticas e sociais. Porto Príncipe, sua capital, com níveis de vida abaixo da linha de pobreza, vivendo conflagrações intestinas, necessitando constantemente do apoio da ONU e de forças de paz, inclusive, do exército brasileiro, que lá tem um contingente há pelo menos cinco anos.
Pois bem, com gostam de dizer os mais velhos, o Haiti, não bastasse seus grandes e sangrentos conflitos internos, agora é devastado por um massacrante terremoto - nunca visto em duzentos anos, afirmou um repórter - catástrofe que, desta vez, não respeitou nem o Palácio do governo presidencial. Pobre e ricos foram vitimados. Contam-se aos milhares os mortos debaixo de escombros de edifícios desmoronados. Infelicidade por toda a parte. “Wasteland’, não a elliotiana, mas a de Porto Príncipe, destroçado sem misericórdia.
No Haiti só há choro, mortos nas ruas, famílias desesperadas, sem destino, sem teto, sem alimento, sem água, sem luz, sem remédio, com falta de médicos, com hospital destruído. Até o socorro dos Médicos Sem Fronteiras lá não está disponível. A Cruz Vermelha, que me consta, está dando apoio na medida das suas possibilidades. Está morrendo gente, muita gente no Haiti. Ajudemos, pois, o Haiti. Mexam-se para isso as nações mais ricas. Até parece que, quando há uma desgraça, uma outra maior e mais intensa de repente surge. Precisamos benzer o Planeta Terra.
Os homens ainda não se deram conta disso. Só as bênçãos são capazes agora de mitigar a tragédia do Haiti. Só Céus terão misericórdia de toda esse infortúnio.
Soldados brasileiros já fazem parte do número de mortos. Lá foram fazer o bem, lutando pela paz. Uma brasileira ilustre, a Dra. Zilda Arns, de 75 anos, médica sanitarista, que em Porto Príncipe, foi coordenadora internacional das Pastorais da Criança e da Pessoa Idosa da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, foi infelizmente mais uma vítima do terremoto.Mulher de valor, cuja vida foi construída em favor dos desprotegidos e dos idosos no Brasil e no exterior. Dela sentiremos falta. Há algo errado com o Planeta Terra...
Cunha e Silva Filho
É preciso recorrer aos bons espíritos, aos orixás, às rezas, às orações, jamais porém, aos vodus, esses, já se sabe, não trazem felicidade ao solo haitiano. Se possível, seria o caso de se chamar com urgência um padre exorcista para desdemonizar o Haiti e o próprio sofrido, sugado e exaurido Planeta Terra.
Afastemo-nos dos maus espíritos com água benta, crucifixo e muitas preces ou orações. Não estou gostando deste início de ano. Como católico não praticante, está na hora de benzer a Terra. Não vai aqui nenhuma piada de mau gosto. É necessário mesmo benzer nosso planeta. Até em nosso país se tem notícia de tremor de terra. Não, a notícia na TV falou de terremoto no Rio Grande do Norte com certa repercussão de sinais em Pernambuco e na Paraíba. Dá até pra pensar que o mundo inteiro não está imune a sismos e outras catástrofes. Já falei alhures que a Natureza-Mãe está dando o troco a todos nós que dela não estamos cuidando bem. Veja as águas, com as inundações mortais, os furacões com sua trilha de destruição, as geleiras dando mostras de derretimento, as mudanças drásticas climáticas como nunca foram sobre a face da Terra. Temos todos os sinais de alerta.
Agora, é tempo de defender nosso planeta com unhas e dentes numa mobilização em escala mundial, não dando trégua a quem o maltrata sobretudo com fins de ambição de lucros estratosféricos visados por países que só pensam no hic et nunc.
No entanto, sempre me ensinaram na escola que o Brasil não tem vulcões nem terremotos. Temos, sim, tremores de terra, mas não abalos sísmicos da estatura de um terremoto.
Mas, para compensar temos corrupção desenfreada, violência em proporções alarmantes, desmoralização de nossas instituições públicas. Temos o carnaval, o futebol, mulheres lindas - grandes amortecedores da insânia coletiva. Por isso, os governantes dão tanto apoio financeiro e publicitário a esses segmentos da vida social. A frase de Tristão definindo o futebol como o “grande catalizador”, para mim, está superada diante do quadro assaz repetido da violência em que se transformaram as chamadas torcidas, parte das quais se comportam como delinquentes, vândalos, assassinos e fanáticos prontos a qualquer tipo de reação violenta contra torcedores opostos. O que pensariam deles grandes torcedores do nosso meio cultural e amantes do futebol, como Nelson Rodrigues, João Saldanha, escritores como Marques Rebelo, José Lins do Rego, entre tantos e tantos outros torcedores que amavam o fair play dos grandes jogos da história do futebol brasileiro e internacional?Hoje, dia de jogo é dia de apreensão e de medo para os que saem às ruas. Daí tanto aparato policial. E o pior é que esse comportamento antissocial não se restringe ao Brasil. Temos visto o mesmo filme na Inglaterra e em outros países. Costumo dizer que só mudam a língua e o país. O ser humano dito civilizado é o mesmo nos sentimentos e nas reações violentas.
Temos ainda a natureza exuberante, recurso naturais, diversidade climática, todos os níveis sociais que vão da extrema riqueza até à linha mais baixa da pobreza. País de contrastes, do “homem cordial” “país do futuro’, terra do samba e de todos os ritmos musicais. Temos a Amazônia com seus desmatamentos. Temos uma só língua oficial com os variados dialetos regionais e diferentes sotaques, como o nordestino tão apreciado, pelo seu pitoresco, por nosso grande prosador de ficção Érico Veríssimo.
Observe-se a tragédia, agora, no Haiti, na região do Caribe, país sofrido, com problemas crônicas nas questões políticas e sociais. Porto Príncipe, sua capital, com níveis de vida abaixo da linha de pobreza, vivendo conflagrações intestinas, necessitando constantemente do apoio da ONU e de forças de paz, inclusive, do exército brasileiro, que lá tem um contingente há pelo menos cinco anos.
Pois bem, com gostam de dizer os mais velhos, o Haiti, não bastasse seus grandes e sangrentos conflitos internos, agora é devastado por um massacrante terremoto - nunca visto em duzentos anos, afirmou um repórter - catástrofe que, desta vez, não respeitou nem o Palácio do governo presidencial. Pobre e ricos foram vitimados. Contam-se aos milhares os mortos debaixo de escombros de edifícios desmoronados. Infelicidade por toda a parte. “Wasteland’, não a elliotiana, mas a de Porto Príncipe, destroçado sem misericórdia.
No Haiti só há choro, mortos nas ruas, famílias desesperadas, sem destino, sem teto, sem alimento, sem água, sem luz, sem remédio, com falta de médicos, com hospital destruído. Até o socorro dos Médicos Sem Fronteiras lá não está disponível. A Cruz Vermelha, que me consta, está dando apoio na medida das suas possibilidades. Está morrendo gente, muita gente no Haiti. Ajudemos, pois, o Haiti. Mexam-se para isso as nações mais ricas. Até parece que, quando há uma desgraça, uma outra maior e mais intensa de repente surge. Precisamos benzer o Planeta Terra.
Os homens ainda não se deram conta disso. Só as bênçãos são capazes agora de mitigar a tragédia do Haiti. Só Céus terão misericórdia de toda esse infortúnio.
Soldados brasileiros já fazem parte do número de mortos. Lá foram fazer o bem, lutando pela paz. Uma brasileira ilustre, a Dra. Zilda Arns, de 75 anos, médica sanitarista, que em Porto Príncipe, foi coordenadora internacional das Pastorais da Criança e da Pessoa Idosa da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, foi infelizmente mais uma vítima do terremoto.Mulher de valor, cuja vida foi construída em favor dos desprotegidos e dos idosos no Brasil e no exterior. Dela sentiremos falta. Há algo errado com o Planeta Terra...
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Por um Brasil melhor
Por uma Brasil melhor
Cunha e Silva Filho
Não há coração que aguente. Por todos os lados, nos bombardeiam com notícias que nos amedrontam, que nos deixam indignados e que ainda,, na mistura de suas diferenças, se tornam uma ópera-bufa dando-nos, ainda de lambujem, um retrato surreal do país.
Onde é que um Presidente da República assina um pacote de medidas de alto alcance social sem primeiro ler o texto? Onde uma filha desarvorada combina com o namorado bandido para que este assalte a mãe dela? Onde pessoas andando pelas ruas do subúrbio de repente recebem balas perdidas e naquele instante morrem estupidamente?
Onde clínicas, sem médicos especializados para certas cirurgias, realizam operações que levam a mortes desnecessárias? Onde um governador, colhido em flagrante de recebimento de polpudas propinas de fornecedores privados ainda continua impune, por cúmulo, ainda determina que sua polícia militar agrida manifestantes que clamam por justiça e honestidade no trato do dinheiro público? Onde assecla do mesmo governo, apanhado colocando maços de notas nos bolsos do paletó, nas meias e, dias depois, reassume a presidência da Assembleia Legislativa do Distrito Federal? Onde governadores de estados brasileiros assolados pelas inundações não se apresentam logo em pessoa a fm de determinar urgentes providências para atender às populações que perderam suas casas, seus bens, seus pertences?
Onde governadores e secretários, aproveitando-se dos seus cargos, gastam rios de dinheiro com passagens e hospedagens luxuosas no exterior, ao mesmo tempo em que em seus estados faltam sistemas de saúde adequados, policiamento mais eficaz, educação pública de qualidade e salários dignos a seus funcionários, como médicos, professores, enfermeiros etc.?
Leitores, não é possível que tanta gente morra assassinada em nosso país, que tanta gente seja assaltada diariamente, em todos os lugares, em todos os bairros, em todos os cantos do país. De há muito a vida se tornou um traste, algo sem importância. “Morreu?’ “Enterre-se.”
Os malfeitores de todas os tipos nem se lixam pelo mal que fazem. Sabem que ficarão impunes na maioria das vezes. Se matam no trânsito, o caso na delegacia se resolve. Paga-se fiança e o criminoso do trânsito volta para casa , quem sabe, até rindo da justiça brasileira.
Diversos escândalos financeiros que deram prejuízos irrecuperáveis à Nação brasileira não colocaram seus culpados na cadeia, uma vez que esta é lugar mais para os pobres e pretos.
Se não houver mudanças em vários setores das instituições do Estado brasileiro, a começar dos três poderes, da moralização política, do endurecimento das leis contra assassinos de crimes hediondos e contra criminosos do trânsito, contra maus políticos e maus governantes, da mais baixa função até a mais alta, a sociedade brasileira será forçada a criar e inventar seus próprios meios para que a mudança geral se torne uma realidade e nosso país possa ser considerado uma Nação séria.
Temos tudo a nosso alcance. O país dispõe de avançada tecnologia, a ciência em muitos ramos está avançada, temos um quadro de professores universitários de bom e ótimo nível. Nossos meios de comunicação estão em sintonia com o mundo inteiro . Temos uma juventude que aspira a viver num país com mais justiça, com uma política moralizada e com um propósito de levar a nossa pátria a um lugar invejável diante de outros países. Não queremos ser hegemônicos, nem imperialistas, nem senhores do universo.
Queremos viver numa pátria sadia, pacífica, com pessoas de bem, com crianças felizes e protegidas, com velhos respeitados, com mulheres emancipadas e com direitos iguais aos dos homens, com uma sociedade que saiba respeitar as diferenças individuais, sem preconceitos de qualquer espécie, sem hipocrisia, sem máscaras.
O de que carecemos urgentemente é ética, sinceridade nos homens que nos dirigem, espírito de conciliação e o entendimento de que só atingiremos metas prioritárias se purificarmos esse país de seculares chagas que persistem nos diversos setores de nossas instituições: corrupção, cinismo, desrespeito às leis, ao direito do próximo e ausência do velho sentimento de civismo pregado por brasileiros que souberam honrar os destinos do país. Em outras palavras, não precisamos de mitos com pé de barro, nem de líderes messiânicos. Precisamos de homens honrados, competentes e que tenham amor ao Brasil.
Cunha e Silva Filho
Não há coração que aguente. Por todos os lados, nos bombardeiam com notícias que nos amedrontam, que nos deixam indignados e que ainda,, na mistura de suas diferenças, se tornam uma ópera-bufa dando-nos, ainda de lambujem, um retrato surreal do país.
Onde é que um Presidente da República assina um pacote de medidas de alto alcance social sem primeiro ler o texto? Onde uma filha desarvorada combina com o namorado bandido para que este assalte a mãe dela? Onde pessoas andando pelas ruas do subúrbio de repente recebem balas perdidas e naquele instante morrem estupidamente?
Onde clínicas, sem médicos especializados para certas cirurgias, realizam operações que levam a mortes desnecessárias? Onde um governador, colhido em flagrante de recebimento de polpudas propinas de fornecedores privados ainda continua impune, por cúmulo, ainda determina que sua polícia militar agrida manifestantes que clamam por justiça e honestidade no trato do dinheiro público? Onde assecla do mesmo governo, apanhado colocando maços de notas nos bolsos do paletó, nas meias e, dias depois, reassume a presidência da Assembleia Legislativa do Distrito Federal? Onde governadores de estados brasileiros assolados pelas inundações não se apresentam logo em pessoa a fm de determinar urgentes providências para atender às populações que perderam suas casas, seus bens, seus pertences?
Onde governadores e secretários, aproveitando-se dos seus cargos, gastam rios de dinheiro com passagens e hospedagens luxuosas no exterior, ao mesmo tempo em que em seus estados faltam sistemas de saúde adequados, policiamento mais eficaz, educação pública de qualidade e salários dignos a seus funcionários, como médicos, professores, enfermeiros etc.?
Leitores, não é possível que tanta gente morra assassinada em nosso país, que tanta gente seja assaltada diariamente, em todos os lugares, em todos os bairros, em todos os cantos do país. De há muito a vida se tornou um traste, algo sem importância. “Morreu?’ “Enterre-se.”
Os malfeitores de todas os tipos nem se lixam pelo mal que fazem. Sabem que ficarão impunes na maioria das vezes. Se matam no trânsito, o caso na delegacia se resolve. Paga-se fiança e o criminoso do trânsito volta para casa , quem sabe, até rindo da justiça brasileira.
Diversos escândalos financeiros que deram prejuízos irrecuperáveis à Nação brasileira não colocaram seus culpados na cadeia, uma vez que esta é lugar mais para os pobres e pretos.
Se não houver mudanças em vários setores das instituições do Estado brasileiro, a começar dos três poderes, da moralização política, do endurecimento das leis contra assassinos de crimes hediondos e contra criminosos do trânsito, contra maus políticos e maus governantes, da mais baixa função até a mais alta, a sociedade brasileira será forçada a criar e inventar seus próprios meios para que a mudança geral se torne uma realidade e nosso país possa ser considerado uma Nação séria.
Temos tudo a nosso alcance. O país dispõe de avançada tecnologia, a ciência em muitos ramos está avançada, temos um quadro de professores universitários de bom e ótimo nível. Nossos meios de comunicação estão em sintonia com o mundo inteiro . Temos uma juventude que aspira a viver num país com mais justiça, com uma política moralizada e com um propósito de levar a nossa pátria a um lugar invejável diante de outros países. Não queremos ser hegemônicos, nem imperialistas, nem senhores do universo.
Queremos viver numa pátria sadia, pacífica, com pessoas de bem, com crianças felizes e protegidas, com velhos respeitados, com mulheres emancipadas e com direitos iguais aos dos homens, com uma sociedade que saiba respeitar as diferenças individuais, sem preconceitos de qualquer espécie, sem hipocrisia, sem máscaras.
O de que carecemos urgentemente é ética, sinceridade nos homens que nos dirigem, espírito de conciliação e o entendimento de que só atingiremos metas prioritárias se purificarmos esse país de seculares chagas que persistem nos diversos setores de nossas instituições: corrupção, cinismo, desrespeito às leis, ao direito do próximo e ausência do velho sentimento de civismo pregado por brasileiros que souberam honrar os destinos do país. Em outras palavras, não precisamos de mitos com pé de barro, nem de líderes messiânicos. Precisamos de homens honrados, competentes e que tenham amor ao Brasil.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Fernando Pessoa: "Sonnet XV"
Fernando Pessoa: “English sonnet XV”
LIKE A BAD SUITOR desperate and trembling
From the mixed sense of being not loved and loving,
Who with feared longing half would know, dissembling
With what he’d wish proved what he fears soon proving,
I look with inner eyes afraid to look,
Yet perplexed into looking, at the worth
This verse may have wonder, of my book,
To what thoughts shall’it in alien hearts give birth.
But, as he who doth love, and, loving, hopes,
Yet, hopping, fears, fears to put proof to proof,
And in his mind for possible proofs gropes,
Delaying the true proof, lest real thing scoff,
I daily live, i’th’ fame I dream to see,
But by my thought of others’ thought of me.
Sonnet XV
COMO INDESEJADO PRETENDENTE no amor, desvairado e trêmulo,
Indeciso entre a idéia de não ser amado e de amar
Que, dissimulando, teme a verdade saber pela metade
Da qual desejasse a certeza do que logo revelado ser receia,
Com medo de saber para o meu interior olho e,
Perplexo, contudo, examino o valor
Do meu livro que este verso possa ter e sugerir e
Pensamento possa dar vida aos corações alheios.
Entretanto, tal como aquele que realmente ama e, no amor, espera,
Embora, saltitante, tema e tema pôr a prova à prova,
E, na sua mente, sondando possíveis provas,
Para não se expor ao ridículo, a prova verdadeira adiando,
Da alegria que meu sonho cria vivo dia a dia
Tirante do pensamento dos outros sobre mim o meu pensamento.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
LIKE A BAD SUITOR desperate and trembling
From the mixed sense of being not loved and loving,
Who with feared longing half would know, dissembling
With what he’d wish proved what he fears soon proving,
I look with inner eyes afraid to look,
Yet perplexed into looking, at the worth
This verse may have wonder, of my book,
To what thoughts shall’it in alien hearts give birth.
But, as he who doth love, and, loving, hopes,
Yet, hopping, fears, fears to put proof to proof,
And in his mind for possible proofs gropes,
Delaying the true proof, lest real thing scoff,
I daily live, i’th’ fame I dream to see,
But by my thought of others’ thought of me.
Sonnet XV
COMO INDESEJADO PRETENDENTE no amor, desvairado e trêmulo,
Indeciso entre a idéia de não ser amado e de amar
Que, dissimulando, teme a verdade saber pela metade
Da qual desejasse a certeza do que logo revelado ser receia,
Com medo de saber para o meu interior olho e,
Perplexo, contudo, examino o valor
Do meu livro que este verso possa ter e sugerir e
Pensamento possa dar vida aos corações alheios.
Entretanto, tal como aquele que realmente ama e, no amor, espera,
Embora, saltitante, tema e tema pôr a prova à prova,
E, na sua mente, sondando possíveis provas,
Para não se expor ao ridículo, a prova verdadeira adiando,
Da alegria que meu sonho cria vivo dia a dia
Tirante do pensamento dos outros sobre mim o meu pensamento.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
Clima, chuva e mortes
Clima, chuva e mortes
Cunha e Silva Filho
O cronista não tem a obrigação da palavra cientifica, da experiência conclusiva, nem do conhecimento em geral. Ele apenas serve de intermediação entre o que pensa como pessoa comum e o leitor. De há muito a crônica perdeu aquela rígida acepção etimológica do grego krónos (tempo) nem mais tem aquele sentido dos cronistas portugueses à Fernão Lopes (século XVI). O fato é que esse gênero para alguns parece ter sua origem literária no Brasil. A crônica, pois, não pode ter o caráter de uma monografia, um ensaio, dissertação ou tese que se fundamentam numa hipótese de trabalho.. Na crônica não há, segundo assinalei atrás, essa pretensão de conclusão, ainda que provisória, sobre um dado tema. Longe disso, seu caráter é antes fugidio, digressivo, centrífugo. Não se pode exigir do cronista a lógica, a inferência dos dados fornecidos pelas ciências exatas, nem tampouco de nenhum outro ramo do saber.
O seu espaço literário é o da completa liberdade sem, porém, o desleixo da linguagem, a qual deve primar pela literariedade, sobretudo aquele tipo de crônica que se deixa permear do lirismo. Quando atinge um alto plano literário, seu valor não deve ser subestimado como gênero menor, como quer o eminente ensaísta e historiador Massuad Moisé.
Mas A crônica - reforço – é um gênero literário já estabelecido e não dá nenhum sinal de decadência ou exaustão. Ao contrário, novos cronistas estão surgindo, com seus estilos próprios e sintonizados com o nosso tempo. Isto porque a crônica se faz de acontecimentos e fatos, de memória e de poesia. Ela dimana da vida e sua movimentação, da novidade, dos acontecimentos sociais e culturais de um povo, do interagir do ser humano, e do próprio enigma de algumas questões do mundo físico ou metafísico. Como gênero literário, não pode ter fim, presumo. Com certa modificação, há de perdurar como o conto, a novela, o romance, o soneto etc.
O compromisso do cronista, no mais das vezes, é com a subjetividade, sua ou de outrem. O que a crônica pretende é opinar com liberdade sobre quase tudo, mas nunca aspirando a ser dona da verdade. A crônica também se subdivide em tipos diferentes de enfoque: a esportiva, a policial, a memorialista, a lírica, a política, a econômica, a religiosa, a científica, a das artes diversas, a ficcional. (esta última não deve se confundir com o conto), a humorística.
Quanto à ficcional, cumpre delimitá-la no que tange ao seu alcance. Diria que a crônica ficcional seria aquela que fica a meio caminho da ficção (do conto) e da realidade referencial. O que ela relata existe, mas dela se pode extrair elementos que pertencem ao domínio da subjetividade, quer dizer, o cronista a constrói mas deliberadamente, ou não, mistura elementos fáticos com a imaginação.
A crônica, assim, se deixa infundir de componentes próprios da poesia.
Rubem Braga foi um exemplo típico do cronista lírico. Carlos Drummond de Andrade, da crônica ficcional, social e lírica. Otto Lara Resende, da crônica político-social , Paulo Mendes Campos, da lírico-ficcional, Ferreira Gullar, da lírica, da ficcional, da política, da crônica de artes plásticas, Fernando Sabino, da ficcional, Raquel de Queiroz, da política (sobretudo no início da carreira), da social, Carlos Eduardo Novais, da ficcional, da humorística, Fausto Wolf, da política, recheada de crítica ferina e corajosa.
Após essas divagações, entro, agora, no tema desta crônica. Ora, leitor, será difícil alguém me convencer de que aquilo que está acontecendo de trágico no país e no mundo não tem a ver com o nosso pouco caso com a defesa de nosso planeta.
Todos nós que já vivemos mais já assistimos a grandes enchentes dos rios. As inundações fazem parte dos males da Natureza. Não há dúvida sobre esse ponto.
Porém, o que se esta vendo em toda parte é um desequilíbrio assombroso índices pluviométricos. Por toda parte, as not´cias se espalham: os rios estão subindo em excesso como nuca visto antes.
No país as notícias de vendavais, acompanhados de chuvas pesadas, se tornaram constantes. Inundações que vêm destruindo tudo, até seculares igrejas históricas. Nessa proporção, com enchentes gigantescas no Rio de Janeiro (vide a tragédia de final de ano em Angra dos Reis), em São Paulo, no interior, em minas, em Santa Catarina, o Rio grande do Sul, no Paraná, no Nordeste. São sinais de alerta para ouvidos não moucos. Os prejuízos materiais, econômicos e sobretudo em vítimas fatias são enormes e preocupantes.
Essa “fúria” da Natureza tem explicação. Está intimamente correlacionada com o efeito estufa, co a poluição crescente provocadas pelas milionárias emissões de CO2. A Terra está muito quente e as estações parecem se embaralhar e, quando mudam, mudam com feições atípicas, pelo excesso de neve ou pleo excesso de calor. A evaporação duplica assustadoramente. As geleiras não cessam – moto contínuo – de paulatinamente derreter. Os mares, os oceanos se avolumam assustadoramente. Não é mau presságio, mas aquilo que já defini como “o sinal das águas.”
A última reunião de autoridades mundiais na Dinamarca, badaladamente cunhada de COP15, praticamente só fez barulho, mas rigorosamente nada de eficaz e urgente decidiu como compromisso legal e aprovado pelas nações participantes. Só logorréia, muito gasto das elegantes comitivas, luxo de hotéis, lautos jantares, indumentária de grife, requinte de jóias, belos aviões, carros suntuosos, tudo para atender aos chefes de Estado de nações hegemônicas, muita tradução para várias línguas, holofotes. É pouco?E como ficamos? Ou não ficamos? Os cientistas sérios do mundo já deram repetidamente seus pareceres sobre a questão climática no planeta Terra. Os dirigentes das nações poluidoras já estão disso informados. Conselhos dos sábios não faltam.
O que falta mesmo é atitude, vontade política séria dos chefes de Estado. Não só atitudes, ações pragmáticas, concretas, determinadas e urgentes. A humanidade toda necessita é de lançar, aos quatro cantos do mundo, manifestos aos líderes mundiais em defesa da sobrevivência de nosso planeta.
Ou os povos civilizados mudam seus hábitos egoístas de consumos ciclópicos ou a “fúria” das águas será implacável como o dilúvio do tempo de Noé.
No desastre que se abateu sobre o paraíso de algumas áreas de Angra dos Reis, um jovem sobrevivente, em canal de televisão, deu um dramático depoimento sobre a morte de sua noiva que ficara debaixo dos escombros de lama, pedra e água. Suas palavras expressam bem a situação climática que está ceifando tantas vidas no país e no mundo: “Só depois da tragédia compreendi que não somos nada. A Natureza pode tudo, é poderosa demais. Passarei, de agora em diante, a respeitá-la muito mais.” Reflitam, autoridades do meu país, enquanto há tempo, sobre esse testemunho sofrido e amargurado de um jovem sobrevivente brasileiro da tragédia.
Cunha e Silva Filho
O cronista não tem a obrigação da palavra cientifica, da experiência conclusiva, nem do conhecimento em geral. Ele apenas serve de intermediação entre o que pensa como pessoa comum e o leitor. De há muito a crônica perdeu aquela rígida acepção etimológica do grego krónos (tempo) nem mais tem aquele sentido dos cronistas portugueses à Fernão Lopes (século XVI). O fato é que esse gênero para alguns parece ter sua origem literária no Brasil. A crônica, pois, não pode ter o caráter de uma monografia, um ensaio, dissertação ou tese que se fundamentam numa hipótese de trabalho.. Na crônica não há, segundo assinalei atrás, essa pretensão de conclusão, ainda que provisória, sobre um dado tema. Longe disso, seu caráter é antes fugidio, digressivo, centrífugo. Não se pode exigir do cronista a lógica, a inferência dos dados fornecidos pelas ciências exatas, nem tampouco de nenhum outro ramo do saber.
O seu espaço literário é o da completa liberdade sem, porém, o desleixo da linguagem, a qual deve primar pela literariedade, sobretudo aquele tipo de crônica que se deixa permear do lirismo. Quando atinge um alto plano literário, seu valor não deve ser subestimado como gênero menor, como quer o eminente ensaísta e historiador Massuad Moisé.
Mas A crônica - reforço – é um gênero literário já estabelecido e não dá nenhum sinal de decadência ou exaustão. Ao contrário, novos cronistas estão surgindo, com seus estilos próprios e sintonizados com o nosso tempo. Isto porque a crônica se faz de acontecimentos e fatos, de memória e de poesia. Ela dimana da vida e sua movimentação, da novidade, dos acontecimentos sociais e culturais de um povo, do interagir do ser humano, e do próprio enigma de algumas questões do mundo físico ou metafísico. Como gênero literário, não pode ter fim, presumo. Com certa modificação, há de perdurar como o conto, a novela, o romance, o soneto etc.
O compromisso do cronista, no mais das vezes, é com a subjetividade, sua ou de outrem. O que a crônica pretende é opinar com liberdade sobre quase tudo, mas nunca aspirando a ser dona da verdade. A crônica também se subdivide em tipos diferentes de enfoque: a esportiva, a policial, a memorialista, a lírica, a política, a econômica, a religiosa, a científica, a das artes diversas, a ficcional. (esta última não deve se confundir com o conto), a humorística.
Quanto à ficcional, cumpre delimitá-la no que tange ao seu alcance. Diria que a crônica ficcional seria aquela que fica a meio caminho da ficção (do conto) e da realidade referencial. O que ela relata existe, mas dela se pode extrair elementos que pertencem ao domínio da subjetividade, quer dizer, o cronista a constrói mas deliberadamente, ou não, mistura elementos fáticos com a imaginação.
A crônica, assim, se deixa infundir de componentes próprios da poesia.
Rubem Braga foi um exemplo típico do cronista lírico. Carlos Drummond de Andrade, da crônica ficcional, social e lírica. Otto Lara Resende, da crônica político-social , Paulo Mendes Campos, da lírico-ficcional, Ferreira Gullar, da lírica, da ficcional, da política, da crônica de artes plásticas, Fernando Sabino, da ficcional, Raquel de Queiroz, da política (sobretudo no início da carreira), da social, Carlos Eduardo Novais, da ficcional, da humorística, Fausto Wolf, da política, recheada de crítica ferina e corajosa.
Após essas divagações, entro, agora, no tema desta crônica. Ora, leitor, será difícil alguém me convencer de que aquilo que está acontecendo de trágico no país e no mundo não tem a ver com o nosso pouco caso com a defesa de nosso planeta.
Todos nós que já vivemos mais já assistimos a grandes enchentes dos rios. As inundações fazem parte dos males da Natureza. Não há dúvida sobre esse ponto.
Porém, o que se esta vendo em toda parte é um desequilíbrio assombroso índices pluviométricos. Por toda parte, as not´cias se espalham: os rios estão subindo em excesso como nuca visto antes.
No país as notícias de vendavais, acompanhados de chuvas pesadas, se tornaram constantes. Inundações que vêm destruindo tudo, até seculares igrejas históricas. Nessa proporção, com enchentes gigantescas no Rio de Janeiro (vide a tragédia de final de ano em Angra dos Reis), em São Paulo, no interior, em minas, em Santa Catarina, o Rio grande do Sul, no Paraná, no Nordeste. São sinais de alerta para ouvidos não moucos. Os prejuízos materiais, econômicos e sobretudo em vítimas fatias são enormes e preocupantes.
Essa “fúria” da Natureza tem explicação. Está intimamente correlacionada com o efeito estufa, co a poluição crescente provocadas pelas milionárias emissões de CO2. A Terra está muito quente e as estações parecem se embaralhar e, quando mudam, mudam com feições atípicas, pelo excesso de neve ou pleo excesso de calor. A evaporação duplica assustadoramente. As geleiras não cessam – moto contínuo – de paulatinamente derreter. Os mares, os oceanos se avolumam assustadoramente. Não é mau presságio, mas aquilo que já defini como “o sinal das águas.”
A última reunião de autoridades mundiais na Dinamarca, badaladamente cunhada de COP15, praticamente só fez barulho, mas rigorosamente nada de eficaz e urgente decidiu como compromisso legal e aprovado pelas nações participantes. Só logorréia, muito gasto das elegantes comitivas, luxo de hotéis, lautos jantares, indumentária de grife, requinte de jóias, belos aviões, carros suntuosos, tudo para atender aos chefes de Estado de nações hegemônicas, muita tradução para várias línguas, holofotes. É pouco?E como ficamos? Ou não ficamos? Os cientistas sérios do mundo já deram repetidamente seus pareceres sobre a questão climática no planeta Terra. Os dirigentes das nações poluidoras já estão disso informados. Conselhos dos sábios não faltam.
O que falta mesmo é atitude, vontade política séria dos chefes de Estado. Não só atitudes, ações pragmáticas, concretas, determinadas e urgentes. A humanidade toda necessita é de lançar, aos quatro cantos do mundo, manifestos aos líderes mundiais em defesa da sobrevivência de nosso planeta.
Ou os povos civilizados mudam seus hábitos egoístas de consumos ciclópicos ou a “fúria” das águas será implacável como o dilúvio do tempo de Noé.
No desastre que se abateu sobre o paraíso de algumas áreas de Angra dos Reis, um jovem sobrevivente, em canal de televisão, deu um dramático depoimento sobre a morte de sua noiva que ficara debaixo dos escombros de lama, pedra e água. Suas palavras expressam bem a situação climática que está ceifando tantas vidas no país e no mundo: “Só depois da tragédia compreendi que não somos nada. A Natureza pode tudo, é poderosa demais. Passarei, de agora em diante, a respeitá-la muito mais.” Reflitam, autoridades do meu país, enquanto há tempo, sobre esse testemunho sofrido e amargurado de um jovem sobrevivente brasileiro da tragédia.
sábado, 2 de janeiro de 2010
Balanço de Letra Viva"
Balanço de Letras Viva
Cunha e Silva Filho
Um ano se passou ou fui eu que passei, diria eu tentando parodiar uma célebre frase de Machado de Assis (1839-1908)? De qualquer forma, passei incólume e, por isso, devo agradecer como o fazia uma ex-professora minha judia, que não conseguiu, ainda moça, escapar de um câncer.
Fazendo o balanço do que consegui e do que não consegui, o saldo foi algo positivo, sem querer dar a este último termo uma acepção de um enunciado do jargão militar. Positivo porque, nesta minha coluna, postei 173 textos no ano que terminou ontem, ou seja, textos , pequenos ou grandes, que, se publicados dia a dia, corresponderiam a uma metade dos dias de 2009 Foi uma colaboração quantitativamente favorável. Mas, foi uma colaboração. Nela pude desenvolver matérias que poderia dividir em resenhas, crônicas, tentativas de ficção, de poesia, de publicação de velhos textos inéditos, de pequenos ensaios, de médios ensaios e de exercícios de traduções, além de de duas versões para o inglês dos poemas “Poema para Izabel” e “Os sinos”, respectivamente, de Jurandir Bezerra, poeta festejado do Pará, e de Adailton Medeiros, estimado poeta maranhense que fez. parte dos poetas do movimento de vanguarda brasileiro denominado “poesia-práxis”, cuja figura central foi a do poeta e ensaísta Mário Chamie, movimento dissidente do Concretismo (1956) que teve o apoio do veterano poeta Cassiano Ricardo (1895-1974), através do seu enssaio “22 e a poesia de hoje” (1961).Esse movimento teve como porta-voz inicial de seus princípios estéticos a revista Práxis. Revista de instauração crítica e criativa, São Paulo, 1962
Com o tempo vamos descobrindo alguns prazeres no domínio literário. Um deles para mim tem sido, nos últimos tempos, o prazer de traduzir, inicialmente, de forma não profissional Não devo esconder o fato de que traduzir dá trabalho, nos envolve por completo e, por vezes, nos deixa insatisfeito por não conseguir alcançar aquele ponto ideal de quem se dá ao labor dessa arte. Mas, a tradução de poemas, como qualquer atividade literária, é passível de revisões, de melhorias, de correções. Semelha àquela ânsia do escritor que está sempre modificando um pouco o seu texto a fim de torná-lo, na sua opinião, melhor e mais aproximado do desejável.Voltaire compara o trabalho da tradução ao da preparação de uma jóia.
Quero crer que meu leitor, a esta altura, da minha produção nesta Coluna, no meu blog, As idéias no tempo, e por vezes, no Diário do Povo, de Teresina, este último repetindo meus artigos de menor extensão, já pode ter formado algum julgamento do que defendo nas minhas matérias sobre assuntos vários. A minha atividade de escritor uma coisa não pode perder de vista: a de expor meu pensamento com independência sobre questões que me estimulam ao debate e, na defesa do meu pensamento, não dou trégua aos inimigos da justiça social, da paz, da integridade física do meu país, da democracia.
Os meus textos ainda se estendem grandemente à luta contra a corrupção das nossas instituições públicas e privadas, contra os desníveis sociais e contra o chamado capitalismo selvagem, que, no fundo, equivale a uma globalização sem controle do neoliberalismo, tentacular, com suas cruéis implicações no seio da vida social brasileira, como a violência, a fome, a máquina do Estado desviada dos seus princípios éticos, a corrupção política, os erros da nossa educação pública e privada. Minhas reflexões ainda se estendem a uma crítica responsável a quaisquer atos e fatos no mundo que atentem contra a liberdade dos povos, contra as liberdades individuais, os oprimidos, os preconceitos de toda espécie e, finalmente, contra as grandes nações que ainda persistem na tentativa de subordinar as nações mais fracas ao seu poder discricionário, hegemônico sob o forte amparo das forças econômicas.
Penso que o escritor, poeta, romancista, dramaturgo, contista, ou de qualquer outra atividade que use da comunicação escrita e oral, não pode deixar de lado a dimensão política, a coragem de se expor ainda que sujeito às críticas dos adversários no campo das idéias e no domínio teórico.
Cunha e Silva Filho
Um ano se passou ou fui eu que passei, diria eu tentando parodiar uma célebre frase de Machado de Assis (1839-1908)? De qualquer forma, passei incólume e, por isso, devo agradecer como o fazia uma ex-professora minha judia, que não conseguiu, ainda moça, escapar de um câncer.
Fazendo o balanço do que consegui e do que não consegui, o saldo foi algo positivo, sem querer dar a este último termo uma acepção de um enunciado do jargão militar. Positivo porque, nesta minha coluna, postei 173 textos no ano que terminou ontem, ou seja, textos , pequenos ou grandes, que, se publicados dia a dia, corresponderiam a uma metade dos dias de 2009 Foi uma colaboração quantitativamente favorável. Mas, foi uma colaboração. Nela pude desenvolver matérias que poderia dividir em resenhas, crônicas, tentativas de ficção, de poesia, de publicação de velhos textos inéditos, de pequenos ensaios, de médios ensaios e de exercícios de traduções, além de de duas versões para o inglês dos poemas “Poema para Izabel” e “Os sinos”, respectivamente, de Jurandir Bezerra, poeta festejado do Pará, e de Adailton Medeiros, estimado poeta maranhense que fez. parte dos poetas do movimento de vanguarda brasileiro denominado “poesia-práxis”, cuja figura central foi a do poeta e ensaísta Mário Chamie, movimento dissidente do Concretismo (1956) que teve o apoio do veterano poeta Cassiano Ricardo (1895-1974), através do seu enssaio “22 e a poesia de hoje” (1961).Esse movimento teve como porta-voz inicial de seus princípios estéticos a revista Práxis. Revista de instauração crítica e criativa, São Paulo, 1962
Com o tempo vamos descobrindo alguns prazeres no domínio literário. Um deles para mim tem sido, nos últimos tempos, o prazer de traduzir, inicialmente, de forma não profissional Não devo esconder o fato de que traduzir dá trabalho, nos envolve por completo e, por vezes, nos deixa insatisfeito por não conseguir alcançar aquele ponto ideal de quem se dá ao labor dessa arte. Mas, a tradução de poemas, como qualquer atividade literária, é passível de revisões, de melhorias, de correções. Semelha àquela ânsia do escritor que está sempre modificando um pouco o seu texto a fim de torná-lo, na sua opinião, melhor e mais aproximado do desejável.Voltaire compara o trabalho da tradução ao da preparação de uma jóia.
Quero crer que meu leitor, a esta altura, da minha produção nesta Coluna, no meu blog, As idéias no tempo, e por vezes, no Diário do Povo, de Teresina, este último repetindo meus artigos de menor extensão, já pode ter formado algum julgamento do que defendo nas minhas matérias sobre assuntos vários. A minha atividade de escritor uma coisa não pode perder de vista: a de expor meu pensamento com independência sobre questões que me estimulam ao debate e, na defesa do meu pensamento, não dou trégua aos inimigos da justiça social, da paz, da integridade física do meu país, da democracia.
Os meus textos ainda se estendem grandemente à luta contra a corrupção das nossas instituições públicas e privadas, contra os desníveis sociais e contra o chamado capitalismo selvagem, que, no fundo, equivale a uma globalização sem controle do neoliberalismo, tentacular, com suas cruéis implicações no seio da vida social brasileira, como a violência, a fome, a máquina do Estado desviada dos seus princípios éticos, a corrupção política, os erros da nossa educação pública e privada. Minhas reflexões ainda se estendem a uma crítica responsável a quaisquer atos e fatos no mundo que atentem contra a liberdade dos povos, contra as liberdades individuais, os oprimidos, os preconceitos de toda espécie e, finalmente, contra as grandes nações que ainda persistem na tentativa de subordinar as nações mais fracas ao seu poder discricionário, hegemônico sob o forte amparo das forças econômicas.
Penso que o escritor, poeta, romancista, dramaturgo, contista, ou de qualquer outra atividade que use da comunicação escrita e oral, não pode deixar de lado a dimensão política, a coragem de se expor ainda que sujeito às críticas dos adversários no campo das idéias e no domínio teórico.
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