segunda-feira, 24 de junho de 2019

UM NOVO FICCIONISTA PIAUIENSE: JOSÉ DE RIBAMAR NUNES




                                        Cunha e Silva Filho

       
           Professor formado em Letras (UFPI), com especialização  em Teoria do Texto e  em  Literatura de Língua Portuguesa, além de  ser advogado e ex-funcionário do Banco do Brasil,  José  de Ribamar Nunes,  já maduro,   lança um  livro   de ficção, uma novela   para ser mais específico, cujo  titulo  logo   espicaça a curiosidade do leitor  pelo seu nome pitoresco  e sugestivo, caracterizando,   de início,  uma  narrativa  definidora  de um  determinado  espaço social e cultural  de Teresina, capital  Estado  do Piauí: Morro do Querosene, Prefácio de Celso Barros Coelho (Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2019. 206 p. Coleção Século XXI, nº 24. Capa e Revisão de Adriano Lobão Aragão.
     Por coincidência,    conheço  o autor  e sei  que é uma pessoa  muito   dedicada e  envolvida  com  a vida literária e cultural   piauiense e, por  essas razões, seria de se esperar que,  a qualquer  tempo,   viesse  a  publicar   uma obra  de estreia  que,  por suas  qualidades   de texto fluente  limpo, correto,  revela um  novo  ficcionista    com domínio  da história a ser contada,  com   perfeita harmonia  no desenvolvimento  de seus capítulos,  de resto,   muito bem  divididos e ainda mais agradáveis à leitura  por serem   curtos na maioria, o mais extenso  não ultrapassando  umas três páginas.
      Ora, uma estratégia  dessas  adotada pelo autor não é fácil de   contentar o leitor   a menos que  o capítulo  concentre em si  bem relatadas  células narrativas,   nos dando a sensação  da unidade  de cada    peripécia e nos impelindo  a ler com prazer os  relatos seguintes do livro.
   Nesse diapasão  de expor  seus vivíssimos, dinâmicos    e saborosos   relatos, perfazendo ao todo  cinquenta e um capítulos,  o narrador nos instiga a conhecer  a vida de bairros pobres teresinenses, alguns meus  velhos conhecidos do  tempo de menino  em Teresina,   como  o Porenquanto a Vermelha, a Piçarra quando partia  com amiguinhos da minha infância e  começo da adolescência em direção  aos banhos do rio Poti,  ou  quando passava  pelos  trilhos  da velha Estação  Ferroviária, ou pelo  velhusco  25 BC.         
     O enredo do Morro do Querosene  se desenvolve  em torno  da vida de aperturas  financeiras da família  de dona Joana que, primeiro, morava  no bairro  pobre do Porenquanto,  depois, sendo obrigada,   por não poder pagar o aluguel,  a fazer mudança para um novo   bairro,  a Piçarra.
     Dona   Joana, mãe dedicada  aos filhos, empregada  doméstica,   ainda  se virava em outras atividades   a fim  de prover  o sustento da família  e ainda mais porque  o marido  a deixara   sozinha à procura    de trabalho em outra terra.   Dos filhos pequenos, em número de quatro,  um deles, o João Luís, vai  desempenhar papel  decisivo na  história,  peça humana de menino a fazer girar a história  e a mostrar o quanto   a memória infantil-juvenil   é capaz de guardar  o bom  e o ruim  da existência humana e, se possível,  tentar  superar  as vicissitudes.   O movimento dos capítulos é acelerado, não havendo nem tempo  para   o leitor  se sentir  entediado, já que  a narrativa  o empurra para a frente  e satisfaz  o leitor  curioso  de conhecer novos e  palpitantes episódios  da novela.      
    Pode-se afirmar que  o personagem João Luís,  tão bem elaborado pelo autor, está fadado a ser uma  criação literária   que seguramente    comporá  a galeria de figuras  infanto-juvenis  da história da ficção piauiense (como aconteceu com Pedrinho,  em Ternura (1993),  romance de Francisco Miguel de  Moura). Sem tal grandeza de  personagem, a narrativa  não teria o bom resultado  que, a meu ver, teve em termos  de composição   ficcional. João Luís é  um personagem  que  salta do texto à vida  pelo convencimento de atributos  humanos   que o autor nele infunde com naturalidade,  sem artifícios  nem jogos de marionetes. Outros  na narrativa até podem  ser  rotulados  como apenas  figurações  sem  suporte   ficcional.
     A ficção de autores piauienses tem  tido razoável fortuna  crítica  em  romances  ou novelas   vivenciados  na cidade de Teresina. De autores do Piauí, posso bem lembrar aqui, no passado mais remoto ou menos remoto, ou mesmo atual, O Manicaca (1909), de Abdias Neve (1876-1928),  narrativa  ambientada na Teresina dos derradeiros anos do século XIX, ou menos remoto,  parte de Ulisses entre o amor e a morte (Teresina, Meridiano,1986),  de  O.G. Rego de Carvalho, Rio Subterrâneo (Teresina: Meridiano, 8ª edição,1888 ),  parte em Teresina, também de O. G. Rego de Carvalho, ou mais atual, Entardecer (2007),  de José Ribamar Garcia,  Meia-vida (1999),  enfocando  principalmente a área do troca-troca de Teresina, de Oton Lustosa, o excelente romance Vozes da  Ribanceira, no qual o cenário principal é o Poti (2003), também de  Oton  Lustosa,   Sabor de vingança (2015),  centrado no espaço da crescente  violência urbana  teresinense de Milton Borges.
    O narrador do  Morro do Querosene, em terceira pessoa,    apresenta um traço  singular:  dando voz ao  pensamento  da  perspectiva   de um personagem,  emprega, aqui e ali,  o discurso indireto livre,  o que  reforça uma forma  multifocal de  narrativa.  Mesmo quando  falando  de João Luís,   a voz do narrador  se orienta  pela perspectiva  ou  ângulo de visão  do pequeno   João Luís. Sendo assim, é    através sobretudo das aventuras infanto-juvenis desse personagem encantador   que a novela  propicia  uma visão por dentro  e por fora  da  realidade social e cultural  daquele  entorno   da Piçarra chamado Morro do Querosene – lugar tão  badalado nas suas    peculiaridades   de ser  o espaço da  prostituição e ao mesmo tempo  de residências  populares  das ruas  circunvizinhas.
      Duas observações  farei ao autor a seguir. Uma, de ordem de construção  textual do primeiro parágrafo   da narrativa, na qual separaria com um  ponto final a frase “Era um dia de domingo” e começaria com  maiúscula  a frase seguinte: “Pela manhã, de um mês de junho amenizava o calor  abrasador de Teresina que só atingiria  o ponto mais alto dali a dois ou três meses.”  A segunda observação  seria    de ordem técnico-narrativa e  se refere ao próprio narrador que se trai e se transforma, por um segundo de tempo de leitura,  em autor, através do uso de um dêitico, na expressão adverbial de lugar “aqui no Piauí” (p. 170). Desse modo,  ele sai da condição de  narrador (elemento interno do enunciado ) e passa à condição de autor (elemento  externo à narrativa )  no fluxo narrativo  em terceira pessoa. Bastaria para contornar   isso,  eliminar  o dêitico e a contração  “no.”
    O Morro seria um espécie de  centro nevrálgico da narrativa  -  uma espécie de personagem   inanimado   dos acontecimentos,   das alegrias, das tristezas, das tragédias,  dores, das desventuras, dos  incidentes  hilariantes    daquela  população  pobre  que ali residia. Para trás, ficara  definitivamente   o bairro Porenquanto, ao qual, malgrado a pobreza,  já estavam  habituados. Deixaram   um travo   de saudades de amizades e  brincadeiras  infantis.
     Por ouro lado,  o novo bairro da Piçarra começava a despertar no  pequeno João, porque  oferecia mais espaço aberto,  a antevisão  do principal  divertimento  da  sua fase da infância e adolescência   - o futebol  - símbolo de outros meninos  de várias gerações  de brasileirinhos   apaixonados por esse esporte, esse  “grande catalizador” assim definido pelo pensador e crítico literário  Tristão de Athayde ( Alceu Amoroso Lima, 1893-1983). 
       A novela é igualmente uma  história  que, se não fosse exemplo de  honestidade   e de dignidade  de alguns de seus personagens despossuídos,  caso houvesse descambado  para  uma dimensão de personagens  desprovidas  de dignidade,  bem poderia ser um  prato cheio para uma novela  neopicaresca   tendo como  protagonista  as aventuras  do menino  João Luís. Entretanto,  o autor  perfilou  um personagem   da envergadura moral   desse menino  que, pelo comportamento   reto,  bem poderia   se enquadrar  numa novela de formação (Bildungsroman) se a continuidade do tempo  dos  episódios atingisse a maturidade  do herói. 
      A novela  faz um recorte  temporal  que, grosso modo,  a situaria entre  os meados dos anos 1950 à primeira  metade dos anos 1960, numa Teresina ainda não  tomada  pelos anos  de modernização  mais  intensa  e de formação de novos bairros  com vida urbana    frenética    acossada pela violência. É nessa  Teresina  que  a vida de João Luís se vai consolidando pelas diversas experiências  e mudanças  físicas, psicológicas, sociais e culturais, em especial a passagem delicada de criança a rapazinho,  a descoberta do sexo, o onanismo,   as motivações,  ainda que  pueris,  amorosas,   o aprendizado do  sexo com marafonas e outras experiências  com  vícios  incentivados por más companhias. 
       Da mesma forma, a visão social cedo despertada   pela frequência do protagonista na fase de crescimento  a outros ambientes sociais  mais   elevados  vai-se alargando  na consciência do João Luís, mas sem que a narrativa  entre no limiar da problematização  das relações de classe.
      Não há esse intenção  pelo menos abertamente declarada. No entanto,    o que  a narrativa  exibe são realidades estratificadas,  a dos despossuídos, dos remediados,  dos ricos. Duas saídas se vislumbram  para a mobilidade social:  a) por inciativa própria  e grande determinação  que possa  elevar   alguém a uma posição socialmente melhor. Poderia ser aqui  o caso de João Luís;  b) pela via de um casamento melhor (Maria Antônia, irmã de João Luís)  para um filha de pais  humildes. 
      A importância da obra Morro do Querosene se reveste nas descrições  e narrações   precisas  e documentais  de uma ficção de costumes   de um bairro  periférico   de Teresina, de  situações  da realidade  vivida e presenciada  pela população  que ali  vivia  à sombra  protetora ou não do Morro. O quotidiano desse enclave social  radiografa, com mão de  mestre,   o pequeno mundo de seus habitantes  sujeito  às intempéries do dinamismo   social avassalador.  A família da  laboriosa  e honesta  dona Joana é apenas  uma   amostra do que seja  um fiel  retrato social  de uma dada fase passada   da vida teresinense.
    Julgo que, com essa obra inicial,   José  de Ribamar Nunes   se insere,  de fato e de direito,   sem alardes nem   apadrinhamentos,   na história da ficção  atual do Piauí.     
             
        

terça-feira, 18 de junho de 2019

TRADUÇÃO DE UM POEMA DE LECONTE DE LISLE (1818-1894) )




                             La mort d’un lion



Étant un vieux chasseur altéré de grand air,

Et de    sang noir des boeufs, Il avait l’habitude

De contempler de haut  les plaines  et la mer,
Et de rugir en  paix, libre en sa solitude.

Aussi, comme um damné qui  rode dans l’enfer,
Pour l’inepte plaisir de cette multitude
Il allait et venait dans sa cage de fer,
Heurtant les deux cloisons, avec sa tête rude.

L’horrible sort, enfin, ne devant plus changer,
Il cessa brusquement de boire et de manger:
Et la mort emporta son  âme vagabonde.

Ô coeur toujours en proie à la ,
Qui tournes, haletant, dans la cage du monde,
Lâche, que ne fais-tu comme a fait ce lion?


  A morte dum leão


Um velho caçador ávido de  ar livre
Habituara-se ao sangue negro dos bois
Contemplava  do alto as planícies e o mar
E rugia  em paz, livre na solidão

Vagando como um réprobo no inferno,
Para  o prazer estéril dessa multidão
Na jaula  de ferro andava  para lá e prá cá,
A  rude juba batendo contra dois  tabiques

Consumou-se,  enfim, agora o  infausto destino
Deixou  bruscamente de beber e comer,
 E  a morte levou-lhe  a alma vagabunda

Oh, coração,  atormentado sempre pela revolta,
Ofegante,   o cárcere do mundo contemplas. 
Covarde,  por que  não ages como o fez esse leão?

                                                         (Trad. de Cunha e Silva Filho)

NOTA:

Retrabalhei,  na medida do possível,  essa tradução do soneto  de Leconte de Lisle. Da primeira  tradução  recebi um dura crítica  de um leitor que, na minha tradução, não via  a beleza que sentia no original  francês com referência a ritmos, métrica e rimas.
Ora  não costumo   empregar,  nas minhas traduções, a rima. No entanto,  lhe dei uma explicação do que penso  da minha tradução e do ato de traduzir. Não sei se ele  leu a minha réplica. Parece-me que não. Não quis polemizar.
Abaixo,  deixo-lhe, leitor e amigo, transcritas  a   crítica à minha tradução primeira e  a minha  réplica  ao censor:

Pois sim, veja só como tradução é uma coisa complicada.
A versão para o português perdeu toda a graça da língua francesa, a métrica ficou comprometida, as rimas se perderam e o caráter de soneto caducou.

Ainda assim, salve Leconte de Lisle!

Vanelois


Cunha e Silva Filho
 5 DE SETEMBRO DE 2012

Venelois  Martin:

      Fico surpreso com a sua "crítica" à minha tradução do soneto de Lecontede Lisle. Primeiro, porque o que você afirma haver da beleza da línguafrancesa no original é algo  para mim muito subjetivo.
Se a língua francesa tem graça, tenho o direito igualmente de afirmar que o poema em português tem , repito, para meus ouvido de brasileiro ,a "graça” da língua portuguesa. Não é preciso que haja a mesma "graça"numa língua e na outra. Pura subjetividade carente de argumentação.
    Quanto a não me preocupar com a metrificação rigorosa do original, assim como com a rima, isso não é, a meu ver, vital ao pensamento sintetizando as ideias do soneto.
     Há compensações inúmeras à disposição do tradutor, e isso eu faço com responsabilidade no ato digno de verter para o meu idioma, respeitando a índole da minha língua, a sua sonoridade, a harmonia interna que só os ouvidos tortos não sabem perceber nem têm a sensibilidade para tanto.
       Ademais, não são só a rima e a métrica que propiciam ao tradutor a realizar uma boa tradução. Como ”caducou”  o  “caráter “desse soneto  na minha tradução? Nenhuma  outra  língua, ainda que do mesmo  tronco linguístico,  possui as mesmas rimas  que  as da língua de origem. Isso já é o suficiente para desqualificar a assertiva do pretenso crítico.
     Um soneto  é bom não porque seja  rimado,   senão todos os sonetos que fossem rimados  seriam bons  em decorrência  dessas muletas.       
      O torneio que dou à tradução bem pode compensar a ausência
desses dois elementos rítmicos e sonoros (métrica e rima) Não vejo a beleza do soneto apenas por este prisma. A beleza está na sua comunicação, no arranjo sintático adequado ao vernáculo, que não pode se escravizar ao original.
    A força do soneto traduzido está na sua verdade sintático-semântico-vocabular sempre obedecendo a uma correspondência interna que o tradutor vai descobrindo no ato da transposição.
      Se a qualidade dos versos de um poema dependesse só das muletas das rimas,  como então   ficariam os poetas  do Modernismo e das diferentes vanguardas que  surgiriam  a posteriori.   
        Finalmente, recordo-lhe que tenho pela língua francesa, levado pelas mãos de meu pai que, por sinal, me lecionou francês na adolescência, o mesmo carinho que dedico ao vernáculo e faço minhas traduções por amor à cultura e à seriedade imprimidos ao que realizo no campo da literatura  sem fronteiras.
   Repito-lhe que se a sua sensibilidade é embotada e não tem ouvidos musicais em língua portuguesa, isso não é culpa minha, como não é culpa sua não ter educação pelo que diz e, ao dizer, o faz mal.

Cunha e Silva Filho


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quarta-feira, 12 de junho de 2019

TRADUÇÃO DO POEMA "NEGRO", DE LANGSTON HUGHES ( 1902-1967)


Negro
I am a Negro:
Black as the night is black
Black like the depths of my Africa,
I’ve been a slave:
Caesar told me to keep his door-steps clean.
I brushed the boots of Washington.
I’ve been a worker:
Under my hands the pyramids arose.
I made mortar for the Woolworth Building.
I’ve been a singer:
All the way from Africa to Georgia
I carried my sorrow songs.
I made ragtime.
I’ve been a victim:
The Belgians cut off my hands in the Congo.
They lynch me still in Mississipi.
I am a Negro:
Black as the night is black,
Black like the depths of my Africa.
Negro
Negro sou:
Escuro como a noite é negra
Negro como da minh’África as profundezas .
Escravo tenho sido:
César me mandou que, limpas, deixasse as entradas das portas.
As botas de Washington lustrei.
Operário tenho sido:
Pirâmides ergui com as mãos
Para o Edifício Woolworth
Argamassa preparei.
Cantor tenho sido:
Pelos caminhos da África à Geórgia
minhas canções dolentes levei
Ragtime compus.
Vítima tenho sido:
Os belgas no Congo as mãos me cortaram.
No Mississippi linchado ainda sou.
Negro sou:
Escuro como a noite é negra
Negro como da minh’África as profundezas

                                                                        (Trad. de Cunha e Silva Filho)

domingo, 9 de junho de 2019

TRADUÇÃO DE UM POEMA DE ALFRED DE MUSSET ( 1810-1833)



TRISTESSE

J’ai perdu ma force et ma vie
Et mes amis e ma gaieté;
J’ai perdu jusqu’ à la fierté
Qu faisait croire à mon génie.
Quand j’ai connu la Verité,
J’ai cru que c’était une ami.;
Quand je l’ai comprise et sentie,
J’en étais déjà degoûté.
Et pourtant elle est éternelle,
Et ceux que se sont passes d’elle
Ici-bas ont tout ignoré.
Dieu parle, il faut qu’on lui réponde.
-- Le seul bien qui me reste au monde
Est d’avoir quelque fois pleuré.

TRISTEZA
Perdi a força e a vida
Meus amigos, a minha alegria.
Até o orgulho perdi
Em pensar que gênio fosse.
Quando a Verdade conheci
Pensava fosse uma amiga.
Ao compreendê-la, senti
O tédio que me causava.
Ela é eterna,
Porém os que com ela cruzam
Cá na Terra a desprezam.
Deus fala. Convém que se Lhe responda
_ O único bem que no mundo me resta
É haver por vezes chorado.
                                                                   (Trad. de Cunha e Silva Filho)

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Tradução de um poema de e.e. cummings (1894-1962)


since feeling is first
since feeling is first
who pays any attention
to the syntax of things
will never wholly kiss you;
wholly to be fool
while Spring is in the world
my blood approves,
and kisses are a better fate
than wisdom
lady i swear by all flowers. Don’t cry
- the best gesture of my brain is less than
your eyelids’s flutter which says
we are for each other: then
laugh leaning back in my arms
for life’s not a paragraph
and death i think is no parenthesis


se primeiro vem o sentimento


se primeiro vem o sentimento
quem atenção pode dar
à sintaxe das coisas
nunca há de te beijar tanto

completamente perdido em ti
enquanto no mundo tem-se a Primavera

meu sangue dirá sim, pois
melhor destino têm os beijos
do que a sabedoria
senhora, pelas flores juro. Não chores
o melhor gesto da minha inteligência é menor do que
o movimento célere da tua pálpebra, a qual diz

sermos feitos um para o outro: 
por isso te alegra, inclinando-te pros braços meus,
visto que a vida não é um parágrafo

nem a morte, penso eu, é um parêntese
                                                                       (Trad. de Cunha e Silva Filho)

domingo, 2 de junho de 2019

SOBRE A REFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA

             
                                                                                             
                                                                                CUNHA E SILVA FILHO

        Estou pensando nessa coisa de Previdência Social que todo mundo quase diz ser a GRANDE responsável pela falência desse instituto federal e, por tabela, dos males financeiros em geral do país. 

      Ora, não tentem me convencer, senhores financistas, economistas, empresários de PENSAMENTO ÚNICO(porque todos, ou a maioria, pensam igual e no melhor feitio da onda do neoliberalismo que se instalou já entre nós há algum tempo.

 Pensam que sou idiota? 

        Por que NÃO vão reduzir substancialmente o tamanho da máquina administrativa do Estado Brasileiro, ignominiosamente assaltado por um partido que ficou no poder por tanto tempo? 

       Por que não reduzir o número ainda gigantesco de ministérios - cabides de emprego conseguidos por politicagem e desídias de políticos do toma lá dá cá? 
       E os gastos pantagruélicos dos Três Poderes, inchados de funcionários, do mais alto escalão ao mais elementar e deste último com salários muito superiores aos de um professor brasileiro, mesmo universitário? 
      E dos gastos dos presidentes do Senado e do presidente da Câmara que vivem em palacetes às expensas da pobreza brasileira? 
        E dos hediondos atos de corrupção praticados contra o pais pelos próprios políticos de fancaria? E de outras gastanças estratosféricas solapadoras do Erário Público? 
      Por que não recuperar a bilionária sangria de propina que vai parar nos bolsos dos políticos e dos magnatas brasileiros conluiados, muitas vezes, com o empresariado estrangeiro de má fé? 
        E por que permitir e aprovar reajustes dos proventos dos membros do  STF e  de outros órgãos da Justiça, quando os barnabés federais não recebem reajuste há pelo menos uns 7 anos? 
     E os altíssimos salários de alguns desembargadores federais ou estaduais que, a par disso, ainda são brindados escandalosamente  com  penduricalhos astronômicos, até pra comprar livros, creches, paletós, alimentação de primeiro mundo etc., etc.? 
       E de outras falcatruas geradas pelo próprio Estado brasileiro? 
     E da falta de comiseração dessa gente toda para com o povo brasileiro afundado em dívidas e misérias, violência e carência múltiplas de uma vida digna? 
POBRE PAÍS!