Cunha e Silva Filho
Assim como, leitor, já se afirmou
uma vez que não há Brasil mas brasis (essa foi a
impressão que meu pai teve quando foi,
em 1968, participar de um Congresso
de Jornalista em Porto Alegre,
viagem que lhe rendeu um artigo “Dois” Brasis”) tomando como comparação a divisão entre Sul e Norte,
podemos dizer que o Natal se divide em natais. O que quero significar
com esta divisão? Simplesmente
que o nosso país, continental como
é, oferece de tudo, todavia de forma
errada e caótica: minoria extremamente
rica e detentora da riqueza financeira
e outra parte subdividida (“dividir
para reinar”) em classes médias difusas. pobreza e miseráveis, tão miseráveis
que nem tantos anos de Bolsa Família conseguiram resgatá-los dessa desumana posição. Em país
socialmente injusto tal qual o
nosso, é de se esperar tamanha
diversidade negativa de bem-estar
de sua população espalhada em seu território.
Daí o sentido principal deste artigo: o Natal múltiplo, cujos
extremos mostram a riqueza dos
poderosos cada vez mais concentradores e
gananciosos a todo custo do bolo
econômico e o Natal dos despossuídos, da fome, da ausência total em
todos os setores da atividade humana: moradia, saúde, salário, alimento, direitos sociais, lazer, em suma, um quadro
de tragédia humana coexistindo no
mesmo espaço geográfico da Federação. Realmente, não dá pra
elogiar os tempos de Natal,
sobretudo dos últimos anos e, em especial, dos – vamos usar um termo em
moda para referir-se ao tal governo
Temer - “desmandos” do PMDB
provocados e projetados ao futuro por essa sigla que causa
calafrios nos brasileiros
conscientes da situação política
de agora.
Como daria certo um partido, no início da ditadura,
foi criado para
servir de oposição seletiva
ao regime de arbítrio? Como se
confiar numa partido que se
compõe de um quadro ministerial
tão insignificante em
competência e em valores humanos e intelectuais ( com exceção do ministro da
Fazenda)? Como se confiar nas intenções, promessas e ações num governo federal
em que alguns membros do poder
estão sendo investigados
pela Lava-Jato?
Se o que o atual governo federal alega
que encontraram o país
arruinado nas finanças e em outros
setores e, para solucionar tão gravíssimos problemas,
vai cobrar do bolso já por
si esvaziado do brasileiro os milhões e milhões de falcatruas e roubalheiras
dos assaltos ao Erário Público,
não seria tal atitude
injusta e perversa? Que culpa tem o brasileiro de que
governantes mancomunados com o alto empresariado tenha
realizado a maior esbórnia de desvios
do dinheiro do Estado brasileiro? E mais: por que penalizar
o nosso povo, os
funcionários públicos com essa história não bem contada de reformas
trabalhistas e sobretudo de reforma
previdenciária, invocando o instrumento
isonomia de teto de aposentados privados e públicos quando se sabe que isso é um projeto
descaradamente injusto?
Acreditaria nessa paridade
de teto máximo igual para todos se a aplicação dela incluísse tanto os , digamos,
senadores, deputados,
juízes, desembargadores, presidente da República, enfim, todos
os que, hoje em dia, usufruem
dos supersalários, acúmulo de
três ou quatro aposentadorias e
outras vantagens que
são, em muitos casos, muito maiores do que os já altos salários que
percebe essa elite dos Três Poderes.
Se não fizerem isso, uma reforma
previdenciária como a que foi
adiada para fevereiro seria um monstro de injustiça
e ilegalidade no tratamento das aposentadorias.
Obviamente, não
quero tampouco ser contrário a uma melhoria dos aposentadores da Previdência Social que, por longos anos, têm sido injusta
com os trabalhadores da iniciativa
privada. No entanto, ao dar
paridade de salários de aposentadoria
aos funcionários públicos que
têm, na maioria de seus quadros,
pessoas de alta competência e dedicação
às suas funções, sejam
equiparados
indiscriminadamente com outros funcionários do setor
privado.
Por outro lado, se houvesse
mesmo isonomia para todos, do
alto da pirâmide à base da pirâmide, eu poderia
acreditar em justiça social
no país. Esses argumentos em
defesa da isonomia são tão insustentáveis até para um leigo que mais me parecem estar o governo elaborando num mundo
surrealista, sob o comando de um
presidente que, sem ter sido eleito,
deu na veneta de resolver os
magnos problemas do Brasil à custa dos
enormes sacrifícios da sociedade.
Se com
esse tipo de reforma previdenciária os donos do poder de plantão estão
pensando em artifícios e estratégias a fim de
angariar vitória nas eleições do PMDB e seus asseclas e aliados em 2018, o que
pretendem não vingará
mesmo, uma vez que o povo não está
mais assim tão imbecil
politicamente e não dará respaldo a um partido que se caracterizou por escândalos e desgovernos ao longa da história
política brasileira.
Há algo que sempre me intrigou no
cenário nacional: os analistas econômicos, com a frieza que lhes é peculiar, de braços dados com a mídia em geral tendenciosa à direita, se comportam como uma imenso séquito
neoliberal de cooptação da vida econômica e não veem
que, no miúdo, o quadro
não é tão panglossiano assim como estamos vivendo no país. Que o digam os menos favorecidos e as donas de casa. Se
alegam que está havendo
retomada do crescimento, esse
fato não se pode negar naturalmente, Entretanto, os analistas
tendem a ocultar o lado que não lhes interessa revelar, o qual inclui
a continuidade de aumento dos preços, dos alimentos, dos remédios, dos planos de saúde, dos aluguéis,
dos condomínios, tarifas públicas, entre outros itens que poderia
citar.
Só lembro a esses comentadores da economia brasileira que o país
não vai bem se apenas crescem
suas exportações, ou diminui sua
recessão. Um pais pode ser rico -
veja os EUA – e, no entanto, ter grandes
problemas sociais, pobreza, violência,
sistema de saúde pública precário, ensino caro em nível superior. Um
país só é feliz se a sua riqueza for melhor distribuída (e não é o caso brasileiro) se a educação, saúde, transportes,
segurança forem aprimoradas, se seu
povo for civilizado, sem preconceitos de
qualquer natureza, unido,
solidário e, last but not the least, se seus
governantes forem probos e benquistos pela sociedade.
Aproveito
este espaço para desejar, do fundo da minh’alma, um Natal humanizado, com paz, saúde, alegria e bem-estar geral. Feliz Natal
em 2017, leitor.
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