terça-feira, 26 de abril de 2016

O RIO DE JANEIRO NÃO ESTÁ BEM








                                              CUNHA E SILVA FILHO



          A “Cidade Maravilhosa,”  se não tiver cuidado,  vai  perder  essa mundialmente  conhecida antonomásia, se não se cuidar a tempo. Cercada de violência nas favelas,  nas ruas, nos bairros,  na zonas sul, no centro,  na periferia, na Baixada Fluminense, na zona oeste, super-povoamento, calor insuportável (efeito estufa),   com sistema de saúde   precário,  violência nas escolas, cidade  marcada  por acidentes injustificáveis e vítimas fatais, como o trágico desabamento da pista de ciclovia  em São Conrado, na Avenida Niemeyer, vandalismo  de  adolescentes em ônibus etc, etc.    
        Há limites para tudo,  até para chamar alguém  de “lindo/a” com  outras   frases,  muitas vezes, meramente  formais.  Não quero insinuar que, quando  chamo alguém de “linda,” esteja  sendo apenas  cortês. Prefiro  usar o o elogio de forma indireta  ou com  outros torneios  retóricos e sutis.
       Contudo,  noto que alguns exageros há, sobretudo via  redes sociais, o Face, por exemplo,  em que chamar  alguém de “lindo/a” virou  uma banalidade. Todos nos tornamos lindos, lindos, lindos! Haja lindeza! Por favor,  não vão enganar a autoestima  do/a amigo/a só por educação  ou hipocrisia “educada”, ou, o que, em velhos tempos, se denominavam “mentiras convencionais de nossa  civilização.” Por outro lado, não me venham definir como  casmurro, resmungão, chato. Performo e constato – eis o que faz a linguagem literária ou não (J.L.Austin).
      Certa dia de aula no mestrado,  um  poeta e estudante desse curso,  não sei por que cargas d’água,  sapecou  o termo “resmungão”para definir o grande poeta Carlos Drummond de  Drummond (1902-1987). Ninguém, ao redor da grande mesa retangular  da sala de aula, mostrou qualquer  concordância. Ainda bem, eu inclusive. Fiquei calado e me arrependo de que tenha  feito isso. Devia sair em defesa do bardo de Itabira.
      Drummond merecia  uma defesa, sobretudo  porque era a matéria prima  do curso que estava  sendo  ministrado pela  saudosa  professora  Gilda Sizklo. O mesmo poeta que também  lecionava (é falecido)  numa  universidade  particular do Rio, em outra  ocasião do mesmo curso, reclamou  de que a professora Gilda, na bibliografia  passiva de Drummond,  incluía  mais estudos  de autores  judeus (Gilda, por sinal,  era judia).
       Mas,  retomemos o tema desta crônica, o Rio de Janeiro, não só a cidade, mas  o estado  todo. Primeiro,  me vem à tona  a situação  angustiante  e injusta em  que estão  vivendo no momento os funcionários aposentados do  estado.  Um caso sério, que merece toda a nossa  indignação, o nosso  repúdio.
       Vou dar dois exemplos: o daquele policial  aposentado  que está sem receber seus proventos, não tem  dinheiro  para comprar  os remédios de que precisa  mensalmente e nem pode comprar o básico da sua alimentação. Ou o daquela  senhora  professora que se queixava de ter dedicado a vida inteira ao ensino e agora não pode  pagar  suas dívidas, seusustento, seu aluguel. Aproveitou para mostrar à repórter  o estado em que se encontrava sua geladeira: praticamente vazia de tudo. Esses dois exemplos são emblemáticos  para   traduzirem  o desmantelo das finanças  estaduais  do Rio de Janeiro.
     O governador, se não me engano, ainda está doente. Substituiu-lhe o velho político  Francisco Dornellles, vice-governador, de  81 anos. Como economista que é, mostrou-se solidário com  a gravíssima  situação de falta de pagamento  dos barnabés estaduais e surpreendeu-me ao afirmar: “Jamais vi uma  situação  financeira tão  delicada, tão trágica,  quanto  a que está atravessando  o estado do Rio de Janeiro.”  Dornelles, com  modos  cansados, e  aparentando ter mais idade, não tinha nada de alvissareiro a declarar sobre  quando  os atrasos  salariais serão normalizados.  
       Agora, vou problematizar  o questão  da falta de dinheiro  no governo estadual. Ora,  não é tão  complexo  assinalar  alguns  motivos  da  quebradeira  fluminense. Primeiro,  os gastos astronômicos feitos pelo governador   Sérgio Cabral  no tempo da Copa Mundial.
         Em seguida,  os gastos  gigantescos com a preparação para os Jogos  Olímpicos que seriam bem-vindos ao país se não houvesse  uma falta de  infraestrutura   para a cidade merecer  sediar  os jogos, agravada com a crise  econômico-fananceira que assola o país  sem misericórdia e com  efeitos  colaterais  sem precedentes,  fazendo-se sentir mais  em alguns estados brasileiros, como  o Rio de Janeiro,  o Rio Grande do Sul.
        Obras  faraônicas realizadas no Rio de Janeiro  com vistas  aos Jogos  Olímpicos necessariamente redundariam em  abalos  nos cofres  fluminenses,  sem se falar   em  possíveis superfaturamentos governamentais a serem  investigados  pelo Ministério Público, Polícia Federal  e outros  órgãos competentes.Do meu ponto de vista,  ousaria afirmar que a crise estadual se embrica  profundamente na crise econômica do governo  federal.
     Mais um ponto de convergência à prática de ilicitudes pode ser rastreado nos gastos da campanha política que deu vitória ao governador  Pezão. Possivelmente,  o seu antecessor já tinha legado ao atual governador uma situação  financeira  falimentar.
       Existe algo de sumamente injusto  na questão de atraso de pagamento  no  Rio de Janeiro. Os  altos cargos do executivo,  do legislativo e do judiciário  não sofreram nenhum atraso  de pagamentos.
     Ora,  os ocupantes desses  cargos, tendo salários elevados,  são os primeiros a receberem  integralmente  seus  vencimentos. Continuam recebendo  em dia, o que  configura, a meu ver,  um despropósito, uma covardia e   uma flagrante  injustiça  praticada contra quem  ganha  menos ou percebe baixos salários, ou ainda  está  na condição  sem voz,  que são os aposentados  de categorias  mais humildes.
      Mesmo recorrendo à Justiça  para obrigar o governo a pagar seus vencimentos,  o funcionalismo   ainda tem suas reivindicações justas indeferidas  pelos  órgãos  oficiais. Ou seja, quem não tem voz, como os menos afortunados  barnabés, vai ter que  passar privações aflitivas  ou até se endividar   com possíveis cantos de sereia que, nas horas de aperto, se aproveitam  do infortúnio alheio e,  com as garras afiadas de Shylocks,  ficam espreitando a primeira  presa  que encontram.

        

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