domingo, 15 de novembro de 2015

Paris não é uma festa









                                             Cunha   e Silva Filho


           Mexer com Paris  é como  ferir  um botão de rosa. Ninguém deveria  machucar  essa Cidade-Luz, encanto  de todos os povos que amam  a cultura, os museus, as artes,  suas célebres universidades,  o cinema, a história, a língua e a literatura francesa, sua civilização,  “ a vitrine do mundo,”   segundo a denominou, se não me engano,  o crítico e historiador  literário  Afrânio Coutinho (2011-2000).
          Montesquieu (1689-1755))  uma vez  num texto afirmou que  os parisienses  são “de uma curiosidade que vai à extravagância.” Como fica essa curiosidade agora que a bela cidade de  um país de grandes escritores, tais como Victor Hugo (1802-1885), Lamartine (1790-1820), Proust (1871-1922), Mallarmé ( 1842-1898), não está precisando   dessa peculiaridade  coletiva  do espírito  parisiense,  visto que o terror  que a abateu  não deixa espaço para a curiosidade saudável, mas  para a apreensão, a tristeza,  o luto,  a rosa ferida,  a nação  despedaçada  pela tragédia  - fruto da ignomínia  de  bárbaros saídos   dos confins   das trevas para virem   cobrir de sangue inocente  a cidade amada dos  escritores, dos  filósofos, dos intelectuais, dos estudiosos,  dos  estudantes,  dos turistas do mundo inteiro que a procuram  por ela ser  a metrópole mais  visitada  do mundo.
       Paris não é uma festa. Com dois massacres   pusilânimes num só ano e, anteriormente,  com um histórico de atentados,  se tornou uma cidade  que merece, sob todos os aspectos ligados à segurança,  ser  mais bem preservada  pelas  autoridades federais  que devem, urgentemente,   aumentar  por mil   a vigilância  da entrada de  imigrantes, sobretudo  vindos  do Oriente Médio.
      Não somente   a linda e  elegante  Paris, mas a França na sua inteireza territorial. Sua liberdade, sua fraternidade,  sua igualdade  já não podem ser praticadas  tanto em  tempos  de terrorismo,  de insegurança e de explosões. Tudo tem limites,  É hora de cuidarmos  mais  das suas ruas, praças,  monumentos,  museus,  enfim,  de todos os lugares, tanto no centro, quanto nos  banlieues.
      Paris não é uma festa.  Os bárbaros não a podem  invadir nem a podem  deixar  assim,  em estado  de  melancolia,  de incerteza,   de tensão, de um   metróple  à mercê de  sanguinários .
    Cada vez mais me convenço  de que  a política de imigração  tem  quer  ser cautelosa, criteriosa, da mesma forma que  para os franceses  natos  deve haver  vigilância nos limites da lei,  a fim de  separarmos o trigo do joio,  quer dizer,    deve-se estar atento àqueles franceses  que deixam seu país para se aliarem  a terroristas.
   Há alguma coisa errada com o sentimento de patriotismo  francês, que não estou  entendendo, mas que,  repito,  muito está  conexionada a uma formação  cultural frouxa e permissiva. Isso tem a ver, de alguma  maneira,  com  a questão  de entrada  de  outros povos, etnias,  não  querendo se afirmar aqui que  o país se feche   a refugiados, a imigrantes ou  se torne   presa de xenofobia. Longe disso.
   Há que  repensar  profundamente essa questão   de melting  pot. Nos Estados Unidos  surgiram  alguns  problemas que ainda preocupam o modus vivendi americano.Haja vista às ondas recorrentes de  preconceitos   raciais com mortes de negros inocentes  assassinados por policiais  brancos, os quais não aprenderam  ainda   as lições de Martin  Luther  King  (1929-1968) infelizmente, e num segundo mandato   de um  presidente   negro e ainda por cima  um  ganhador do Nobel  da Paz.
    Isso é grave.  No Brasil,  idem, pois não podemos   assegurar que aqui  estamos  vivendo uma democracia  racial. Há ainda grandes entraves  implícitos, nós não  desatados  em benefício de uma   vida civilizada  e democrática do ponto de vista   étnico-cultural-religioso.
  Num  mundo globalizado,   virtualmente   interligado,   alguns  prováveis conflitos  surgem  com  essa nova realidade  pós-moderna de deslocamentos  mais  rápidos e contínuos entre  povos  e civilizações diferentes.  
  Há algo  errado que está acontecendo com a formação da cidadania francesa, com a educação  dos franceses que não pode ser relegada a plano secundário a ponto de   jovens franceses  se bandearem  para  grupos  terroristas   que confundem  religião mal assimilada com   o islamismo   professado  para o bem. Esse ensinamento   desvirtuado  das fontes genuínas  do islamismo  não pode ser  digerido  pela mentalidade pela juventude francesa.
   O massacre no Bataclan em Paris é fruto desse desvirtuamento. Se planos terroristas são arquitetados dentro  de Paris ou fora do país é porque  os terroristas  têm  conhecimento  de lugares-alvos de sua  carnificinas.
    O que não se pode tolerar é que jovens  que estão se divertindo ,como é próprio  da sua idade,  sejam   alvos  de ataques   macabros,    sem sentido,   sem justificativa.
    É hora de o governo francês e de outras nações que combatem  o terrorismo do anárquico Estado Islâmico e de outros grupos  terroristas  repensarem    formas de   conterem    esses atentados no Ocidente  europeu.
   Até agora, não vi nenhum pronunciamento  por parte da ONU e do seu Conselho de Segurança. Não adianta  lamentar o que ocorreu em Paris. Urge  planejar formas de   dissuadir  novos atentados com firmeza  e  inteligência. Na Segunda Guerra Mundial não  conseguimos  conter  as forças  inimigas do nazifascismo?
   Por que um  bando  de  sanguinários,  formados  de  fanáticos  religiosos, de assassinos a sangue  frio não foram ainda debelados, quando  hoje  dispomos  de sofisticados   equipamentos  bélicos?
   A França mais uma vez subestimou a ousadia  dos  terroristas. Isso é suficiente para  dar-se  uma basta   a essas iniquidades praticadas contra a “humanidade,” como  assim definiu o Presidente Barack Obama.  O Ocidente não pode  permanecer refém  de potenciais   ataques terroristas.
   Paris não é uma festa. Precisa de todos aqueles  que, um dia,   a visitaram  e se  deslumbraram  para sempre com  a sua beleza  física e sobretudo  cultural.  Paris é de nós todos e, por amarmos  a cultura francesa,  estamos igualmente  enlutados e prontos a defender a Cidade-Luz. Com os franceses nos solidarizamos pinçando essa legenda que vi na tevê   numa  camiseta de uma jovem  francesa: "Je suis  Paris."
    
   



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3 comentários:

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  2. Prezado Dr. Francisco, estou tentando encontrar um superlativo para genial, para poder aquilatar o texto em referência. Além de muitíssimo genial, o seu texto é excelente. Quando digo excelente, não é o excelente de certas "excelências" (apenas nominais, como os famosos "meritíssimos"). Se eu pudesse modificar algo em nossa gramática, começaria pelos pronomes de tratamento, acabaria com essa sem-vegonhice de chamar político de Vossa Excelência. Vossa Excelência para ladrão, velhaco, meliante, só mesmo na República de Banânia (Planeta Pixuleco). Voltando ao assunto principal, o seu texto é excelente, porque é genial, incomparável, sensacional, pois sintetiza, de forma completa, os nossos sentimentos de cidadania e solidariedade pelos fatos que acabaram de ocorrer. Estamos tristes porque o terrorismo quase apagou as luzes da Cidade-Luz, enquanto que, no Brasil, o mau-caratismo acrescido da nossa condescendência com o (des)governo PT, mata mais que o ISIS. É por isso que, também: "JE SUIS PARIS". Meus centuplicados parabéns...!!! Bravo!!! Ao meu amigo: os meus sinceros amplexos de imo peito, do seu fã (de carteirinha) Benhur Cavalcanti.

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    1. Meu mui estimado amigo, Dr. Benhur Cavalcanti:

      Boa noite!

      Receber um feedback vindo de sua inteligência e de sua fina sensibilidade à condição humana me faz sentir o prazer de continuar escrevendo sempre até que não possa mais.
      Qualquer escritor só pode ficar sensibilizado com a força vinda de um amigo sincero, corajosos, lúcido e fraterno como V. Que Deus sempre esteja junto de V. e de sua querida família.
      Tenho acompanhado com interesse o que escreve no Facebook. Aliás, creio que faria figura como jornalista, porque não lhe faltam qualidades literárias e de independência para expressar o que pensa com argumentos indefensáveis em prol de nosso país que, contra a nossa vontade, tem sido maltratado em todos os aspectos por um grupo político discricionário que está conduzindo o Brasil a um beco sem saída manchado de perdição moral, de impunidade, de cinismo, de falácias, de hipocrisias e de ocultamento da real situação da sociedade brasileira, por ele maltratada, vilipendiada nos seus direitos e nos seus reclamos.
      Instalou-se no país um grupo perverso, pretensioso de políticos sem-caráter, em quase todos os partidos e sobretudo no PT.
      Estou temendo por uma fase ainda mais aguda de crise política, econômica e autoritarismo, indiferente às reais reivindicações da sociedade civil.
      O país politica e institucionalmente está enfermo e a causa de nossa miséria social está no rumo que o petismo tem dado aos nossos urgentes e aflitivos problemas, uma vez o petismo é ávido de nunca querer perder a hegemonia política.
      A sua luta em defesa de nosso Brasil, Benhur, é a luta dos brasileiros decentes que não mais suportam o governo dominante e indiferente a todas as classes sociais, sobretudo à classe média.
      Os pobres são bucha de canhão para que o PT se mantenha no poder por longo tempo.Mas, não ha´ mal que sempre dure. Os dias de políticos truculentos estão contados.
      Obrigado, meu amigo, mais uma vez pela sua deferência aos meus textos.
      Cunha e Silva Filho

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