domingo, 22 de dezembro de 2013

Um país chamado Brasil






                                      Cunha a e Silva Filho

                    Abro a  Folha de São Paulo que eu  mesmo,  me deslocando de casa, fui comprar na banca em frente  do Shopping da Tijuca. O jornaleiro, calado,  me entregou  o  exemplar do jornal,  me dando  um troco. Saí da banca neste domingo  bem  próximo do Natal. Na ida e  na volta,   alguns  pensamentos  íntimos, portanto,  inconfessáveis.. Pensei na vida e ao mesmo tempo  me lembrei logo  há quanto  tempo  passou a bater  o meu coração.  Senti cansaço,  de mistura com um  pouco de tédio e amargura. Se fosse um  poeta  romântico, talvez  me  assaltasse o sentimento   do  spleen... 

               Os anos passam. As pessoas que encontrei  no caminho de ida e de volta  pra comprar o jornal quiçá jamais verei de novo. Sinto-me um solitário habitante de uma   ilha  cercada de humanos, ou dos  “esqueletos humanos”  borgianos, por todos os lados. “Oh, humanidade”, como  gosto de  repetir  esta  frase que já se me tornou quase um bordão,    apanhada em Melville! Não vou dizer o título da obra   do  autor  norte-americano que li  no tempo de  universitário  porque não quero dar  mole (brincadeira  minha)  aos pesquisadores  caçadores  de frases  de escritores  famosos a serem  usadas em epígrafes  de seus  ensaios, poesia  ou  ficção. Quero que se deem ao trabalho    insano  de fazer como eu fiz com  respeito a uma epígrafe de Shakespeare que ninguém  soube me informar (nem uma  doutora em literatura inglesa  de uma grande  universidade conseguiu localizar os versos que aparecem  como epígrafe  em Da Costa e Silva,1885-1950, no livro Verônica, de  1927.

             Foi uma luta  homérica encontrá-la. Quase que me dera  vontade  de ler toda a obra do bardo inglês  (Não a li ainda  por inteiro, confesso  meu desleixo imperdoável) de Straford-upon-Avon, cuja data  natalícia, por sinal -   li no Globo do dia  14 passado, - , vai   ser comemorada em  2014. Serão   homenagens justíssimas as que lhe  serão   rendidas pelos   450 anos do nascimento do velho   conhecedor da alma  humana. A reportagem   tem um título que lhe resume a importância  de  escritor universal : “Moderno aos  450 anos depois”.  Mas,  mudemos de assunto, que isso é apenas uma  digressão   à Machado de Assis (1839-1908), ou quem, sabe,  à Sterne(1713-1768).

Um  cidadão brasileiro  não pode  ficar  alheio  aos  erros e desacertos   cometidos  por governos, sobretudo  pelo que aí está. Até agora,  não  consigo  compreender  por que , no exterior ,     tanta gente  louvando  o lulismo e ainda   afirmando  que  o governo do  Sr. Lula é de esquerda. Que diabo de esquerda é  esta  que não  com sigo  vislumbrar  até usando  de uma lupa? Esquerda que  privatiza,   que  mantém  um Congresso  cheio de maracutaias?  Gostaria de  que  esses       sociólogos,   filósofos e  cientistas  políticos  estrangeiros, bem  postos  em  universidades, sobretudo do Velho Mundo,  viessem  acompanhar  o dia-a-dia  do  brasileiro   a fim de que  tomassem   conhecimento  nas fontes originais   dos  grandes  males   que  ainda atolam   o país em   lamaçais  de  vária natureza  semântica. É certo que  alguns passos  no  setor  social  tiveram   ganhos, e mesmo  acho que  os  programas sociais tipo  Bolsa-Família  tenham   melhorado   a vida  das faixas  mais  humildes da sociedade. Mas, acautele-se para o seguinte: o governo  investe maciçamente em  publicidade e  esta  tem efeito inequívoco  sobre espíritos desavisados  ou  ignorantes  da massa  da  população.

Entretanto,  um país não se constrói só  de  melhorias   sociais. “Nem só do pão  vive o homem”.  É preciso  que  seja íntegro,  dê exemplo  de probidade  de gerenciamento  público  e   de dignidade   no  trato com  o setor  privado, não  permitindo  que com  este   uma simbiose   de  ilicitudes  coexista.

Não  é  possível que  se mantenha  um Congresso    onde   campeia   o descaso  com  a  população brasileira   que assiste  diariamente  a notícias que  nos envergonham  como  nação. O mal  é tão  amplo,  tão profundo  que atinge  praticamente   todos  os três poderes, a tal  ponto que  o brasileiro   médio  desacredita  em tudo que    se associe aos governos federal, estaduais  e municipais. As eleições estão  às nossas portas e é chegada a hora  de   mudarmos o nosso   comportamento   de eleitores, repensarmos  no bem do   país e  retirarmos   da Câmara Federal e do Senado  os  políticos   de fachada, os maus  políticos,   com perfis de mensaleiros,  que ali estão unicamente   para  tirar vantagens  de um  povo   que não lê,  não  tem visão  política  nem  compromisso  com  o seu   próprio    país.

Veja,  por  exemplo,  o que   há poucos dias   ocorreu com a  Assembléia Legislativa  do Rio de Janeiro no tocante  à pauta de aumento   de salários  do governador, dos   deputados. Como se sabe,  são os deputados que determinam  o próprio  aumento de seus   salários e  mordomias  apoiados  em não sei quê  lei  ou   estatuto interno, privilégio  este que deveria  ser  de imediato    extirpado  de todas as  casas  legislativas e em todos  os  níveis  de representação   popular). Acontece que,  quando  o  governador   tem  seu salário   aumentado, toda a cúpula do governo,  numa reação   em  cadeia,   é também   beneficiada  com  aumentos e estes não são migalhas  daquelas que  são  dadas para os barnabés, os médicos,  os professores, os funcionários em geral  de   hierarquia  inferior.

O Brasil,  como se pode ver,   pouco mudou em diversos setores.  A modernização aqui trouxe  proveitos, sim, ninguém  pode negar. Contudo  manteve e até  acirrou  vícios   políticos nefastos: corrupção em  elevado  grau,  oligarquia,  clientelismo, fisiologismo,    votos   comprados e o  pior de tudo  da vida  pública: a impunidade  aos que, no  poder,   cometem  desídias,  malversações, peculato.

O país é contraditório  em seus ganhos e perdas. Tem  uma  natureza  barroca nas suas formas de vida e de comportamento, e, além disso,  oferece uma  enigma a ser decifrado  pelos    estudiosos e analistas.Nele cabem tantas definições seculares, que vão do  ufanismo ingênuo  do Conde  Afonso  Celso,  até  definições de há muito    conhecidas de seu  povo  e do seu destino:  “País do  Futuro (de Stefan Zweig), terra do  “homem  cordial, ”  expressão cunhada e só entendida  ao pé da letra  quando  não foi  esta  a  intenção  real  que lhe deu   o historiador e crítico Sérgio Buarque de Holanda. País do samba,  país do carnaval,  país   da corrupção, da malandragem  de cima e de baixo,  país macunaímico (em alusão  ao romance modernista Macunaíma, de Mário de Andrade)  terra dos bruzundangas (em alusão  à obra  de Lima  Barreto Os bruzundangas)  país do futebol e de suas  torcidas  fanáticas  até ao extremo de se tornarem   criminosas. País  exuberante, desde  as suas riquezas  naturais até  as curvas sensuais  depreendidas pela arquitetura de Oscar  Niemayer..

Nos contrastes e confrontos,  o Brasil  mantém  ainda um alto  índice de analfabetos  funcionais e um  elevadíssimo  índice de criminalidade, de violência de vária natureza, entre  familiares,  entre  estranhos,  protagonizada  em assaltos,  estupros,   excesso de velocidade nas estradas  e nas ruas da cidade motivado  por usos de álcool, drogas e irresponsabilidade  de motoristas.  País em que adolescentes   criminosos  matam  a sangue frio   crianças,   jovens, adultos e idosos e, o que é mais gravoso,  ficam  impunes  protegidos que são  pela  lei  da menoridade   penal. De resto,  a impunidade  da  nação brasileira  tem  um  alcance tão  tentacular  que   não  pune  os crimes de colarinho branco, sobretudo  de  políticos   estelionatários e vendilhões. Arranjaram um meio de prender   os corruptos  de alto coturno  através  da prisão semi-aberta e de mordomias   mantidas  intramuros   prisionais  quando  os presos  que vêm  da  pobreza  chafurdam  em  prisões  que mais   são   campos  de concentração  nazista, Um  ilustre Ministro do Supremo  Tribunal  Federal, estarrecido,  confessou  que  nossas  prisões   são  uma vergonha  para  a nação.

Na saúde  estamos longe  de  termos   um tratamento   humano,  pois nos faltam  hospitais,  médicos,   infraestrutura  nos que já existem e,  por isso,  os  hospitais brasileiros, - insista-se – os públicos em geral,    são  uma espécie de  antecâmara da morte  por   falta  de  meios   de tratamento em tempo devido  e em leitos em quantidade  necessária. Enquanto  isso,  a cúpula do poder em Brasília  tem  jatinhos  da FAB para  atender  a  presidente  do Senado e a outros   detentores  de altos cargos  federais com  finalidades   fúteis   como  casamentos  de  amigos   correligionários  ou,  como   noticiou a  imprensa  televisiva,  para  fazer  implante de cabelo do Renan Calheiros. Ora,  leitor,    o gasto  faraônico com  esses  políticos   é um  escarro  no rosto dos cidadão brasileiro,  sobretudo dos   despossuídos  de  saúde,  transporte e educação   de qualidade. Oh, como  gostaria de que  que  os brasileiros  atentassem para  essa ciranda  de  descalabros  produzidos  pela  República  do Planalto e  se mobilizassem  fraternalmente  para   alijar  de uma vez  por todas  toda   essa corja  de  parasitas   do  Erário Público!
que
É por isso que tanto  inveja – saudável  inveja! -  me causa  saber  que em alguns países    tenham nascido figuras   tais como  um Gandhi, um  Lincoln, um Benjamin  Franklin, um Churchill, um Franklin Delano  Roosevelt, um Martin Luther King,  um Mandela e alguns  poucos outros   homens  eminentes  que  têm  uma nobre  missão  a cumprir com o seu  povo  e o bem-estar  das suas  nações.

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