Cunha e Silva Filho
O final de um ano é motivo
de lançar um olhar
para o que fizemos ou deixamos de fazer no cotidiano apressado do
homem contemporâneo. Como os assuntos são múltiplos e nos apontam para tantas direções,
para tantos ângulos da vida, me
limitarei aqui ao tema das leituras, e
aí se incluem os variados tipos: o jornal(Folha de São Paulo, O Globo, a
revista (entre outras, a Presença, do Conselho Estadual
do Piauí), a internet, na qual
posso ressaltar o Gutemberg
Project e, last but not least,
o livro sobretudo. Quanto ao último, devo
afirmar que deixei a desejar:
empilharam-se livros de diferentes assuntos, cujas leituras
assumo comigo o compromisso
de fazer no próximo ano,
No entanto, num tipo de livro me detive com maior intensidade, visto que se
correlaciona com uma pesquisa. na área da crítica literária. Até julho do próximo ano,
estarei afundado em leituras
teóricas afuniladas para a crítica literária e para a filosofia,
história, teoria literária e história literária.
Não é tarefa
fácil ler centralmente a obra
de dois críticos brasileiros, Álvaro Lins e Afrânio Coutinho. Difícil tarefa porque
temos o compromisso intelectual de ler e, em
algumas situações, reler
praticamente todo o grosso
das obras de cada autor e, além
disso, as leituras de dois autores
reenviam, por sua vez, para outras leituras cruzadas, para
outros críticos, outros ensaístas, outros
estudiosos, nacionais ou
estrangeiros, traduzidos ou
no original.
Um tema nuclear como
objetivo de desenvolvimento demanda
uma mobilização de leitura
de natureza transversal, uma vez
que nenhum assunto, tema ou recorte
de um estudo se restringe
ao insulamento das obras de autores selecionados,
por exemplo, de dois
autores, mas abre
um canal para uma constelação de leituras paralelas, um feixe de remissões
a uma multiplicidade de
autores, ou seja, é uma
abertura a um diálogo com vozes
múltiplas e por vezes
diversificadas em relação ao
objeto da pesquisa. Ou seja, estudar aspectos atinentes
à crítica literária de dois autores é penetrar no
domínio da metacrítica e, por isso,
seu alcance é universal tanto quanto estudar
a literatura em si.
Outra dificuldade,
encontrar as obras–chaves às
vezes difíceis de serem encontradas
nos sebos, nas livrarias virtuais,
na internet. A gente
tem até que contar com a
boa vontade de alguns amigos que nos ajudam
a encontrar um livro que
não achamos. Outras vezes, o autor
cita obras que aparecem na
relação das obras completas, mas na verdade
não chegaram a serem editadas. Eu
mesmo estou vivendo um momento
desses,
Estou
procurando uma obra de Álvaro Lins, de título Girassol
em vermelho e azul, que, segundo
anunciara o próprio autor, em
livros publicados pelas
Edições de Ouro, seria editada,
em 1963 pela Civilização Brasileira. Por sinal, os estudos
que aparecem nos livros das
Edições de Ouro não passavam de capítulos
de obras anteriormente publicadas com outros
títulos. A algum provável
leitor e admirador daquele
crítico que tenha
conhecimento de um exemplar da citada
obra, peço, através desta coluna,
que me dê alguma indicação
ou lugar onde
possa adquirir aquela obra. Esta
forma de publicar partes de
capítulos de obras antes
saídas a lume por outras
editoras, em estudos
ou artigos que, originalmente, provinham
de reunião e seleção de
artigos ou estudos
em Suplementos Literários ,
embaraça o trabalho do
pesquisador, como bem
ressaltou a professora e ensaísta Adélia Bezerra de
Meneses Bolle num estudo de muita
penetração sobre o
pensamento crítico de Álvaro Lins.
O curioso é que
numa obra de Lins ele remete o leitor
para a referida obra, que, segundo suas palavras, seria
uma espécie de documentos
complementares por meio de cartas
dirigidas a autores por
ele lidos e analisados
durante o largo período em que militou na imprensa,
principalmente no antigo Correio
da Manhã, no Rio de Janeiro.
Outra dificuldade do pesquisador é com artigos publicados em periódicos, revistas dos anos 1940, 1950 e
1960.Neste caso, a única saída
é recorrer à Biblioteca Nacional, à Academia Brasileira
de Letras ou até entrar em contato com
os descendentes ainda vivos
do autor, ou mesmo a depoimentos
de pessoas que ainda
estão vivas e sobre as quais sabemos
que tiveram contato
mais direto com o
autor pesquisado.
Não está
também descartada a possibilidade
de deslocamento a
outros lugares do país
onde possamos fazer
pesquisa.
No caso de
Afrânio Coutinho, tem-me sido mais
fácil a pesquisa, já que
posso contar com vários
fontes aqui no Rio de Janeiro e eu mesmo
consegui,graças à gentileza do filho
do crítico, o professor
Eduardo Coutinho, da UFRJ, a maior
parte dos livros-chaves.
Um última
dificuldade que o pesquisador
arrosta neste país é não ser algumas
vezes contemplado com grandes
instituições de apoio financeiro ao
pesquisador, como a CAPES e o CNPq, uma vez que o número de bolsas liberadas
é muito restrito e a seleção
pode não ser tão justa assim. Pesquisar às suas
expensas é coisa de louco
porquanto se gasta o que
não se tem durante a fase
de levantamento de dados, de
aquisição de livros, de uso
da internet, da compra de material
de impressão, de tinta
de computador, deslocamento para
diferentes lugares do domicílio do
pesquisador e até, segundo frisei antes, para outros
estados da Federação,
onde se possa coletar subsídios de vária natureza
para a pesquisa em andamento.