Cunha e silva Filho
A vitória das urnas de um candidato, em muitos casos, não, passa da vitória do poder do dinheiro, privado ou público, sobre o eleitor.Algo, contudo, está mudando para melhorar: os eleitores, em massa, nestas eleições municipais brasileiras deram já o primeiro sinal de insatisfação com as coisas da política. Foram milhares de ausências de eleitores desta vez. Isso, pelo menos, nos sinaliza para uma situação inusitada.
De tanto verem cair o nível de confiança dos candidatos ou de candidatos que, por este motivo, ficaram sob suspeita de corrupção ou péssima administração nas prefeituras, o eleitor brasileiro comporta-se como gato escaldado, i.e., não confia em quase ninguém, desinteressou-se pela política e, se fossem consultados, em plebiscito, talvez escolhessem o voto facultativo e não o obrigatório, como está ainda em vigor na legislação eleitoral brasileira.
Há uma ideia corrente entre nós segundo a qual não se tem mais confiança nos políticos mais velhos, o que é uma falácia. Ser candidato jovem não significa ser bom candidato que tenha metas novas, modernidade de visa, competência e talento para a política com P maiúsculo. O que faz de um candidato um bom político é preparo, competência, tino administrativo, amor à democracia e caráter com a res publica. Esses são atributos que independem da idade .
Num país como o nosso, cuja história republicana nos últimos anos passou por mudanças drásticas que lhe fizeram mal e por presidentes que, de uma forma e outra, prejudicaram o povo brasileiro, seja por corrupção, seja por autoritarismo, seja ainda por um tipo de desenvolvimento fragmentado, ou seja, praticando um governança que se pode avançar economicamente, por outro lado, ainda mantém velos ranços da política de conluios abertos ou de portas fechadas, sem, desta forma, permitir transparência com os compromissos democráticos ainda a serem alcançados pelo sistema presidencialista. Para conquistar o apoio de seus diverso partidos, o presidente, o governador ou o prefeito usa de tantas formas de cooptação que, no fundo, descaracterizam o significado autêntico dos partidos políticos. Ora, coligações oriundas de diversas correntes ideológicas se enlaçam tão intimamente que o resultado configura uma absoluta ausência de unidade orgânica e coerência na práxis da política.
Para piorar ainda mais a vida política brasileira, no governo do PT, passamos por vexatórios exemplos de falta de valores éticos imprescindíveis ao país. O exemplo do “Mensalão”, envolvendo práticas ilícitas de fazer política mediante o concubinato entre o público e o privado a fim de conseguir maioria de votação para projetos do governo é a evidência mais cristalina de quanto ainda estamos distantes de uma maioridade política entre nós. Negar o “Escândalo do Mensalão”, guardadas as devidas proporções de estrago moral das instituições brasileiras, seria como negar um fato histórico como o Holocausto, além de ser uma insensatez e crime de lesa-pátria. Se neste escândalo estava em jogo o dinheiro do Erário Público, ou seja, do povo brasileiro, através de transferências de dinheiro de bancos públicos para pagamento de propinas ou para até mesmo enriquecimento ilícito por cometimento de crime de peculato, fica problemático ou mesmo constrangedor não punir os responsáveis principais pelos crimes alegados. A absolvição dos indigitados principais será considerado um golpe terrível para a nossa democracia.
Quiçá por isso é que o absenteísmo nas urnas tenha sido tão grande este ano. O fato de alguém anular seu voto na cabine, ou votar em branco são insofismáveis provas de descontentamento do eleitorado pelos políticos brasileiros. São estas circunstâncias que deverão ser pesadas pela nossa Justiça Eleitoral e sobretudo pelos nossos governantes.
O grande sinal de enfado do nosso povo pelos políticos já foi assim indicado. Nosso políticos precisam, portanto, ponderar suficientemente sobre outros componentes negativos que contribuem para a descrença nos políticos são os problemas crônicos que a sociedade civil está duramente sofrendo – em todos os níveis sociais -, ou seja, nas áreas da segurança das pessoas, com violência pipocando em todos os cantos do país, com mortes de inocentes, sequestros, assaltos, em casa ou na rua, com vítimas fatais, violência contra a mulher, alguns graves problemas ligados à saúde pública, aos transportes de massa (violência de motoristas andando em alta velocidade e pondo em risco a vida dos passageiros, aumento do custo de vida, das tarifas públicas e privadas, aumento extorsivo dos planos de saúde a ponto de se tornarem um gargalo no bolso dos usuários.
Se, no setor privado, e em algumas governos estaduais e municipais, os funcionários têm algum pequeno aumento salarial, no governo federal, entretanto, muitos setores do funcionalismo estão sem aumento há, pelo menos dois anos. Ora, isso é uma flagrante injustiça contra os funcionários, como são exemplos os professores do ensino médio federal e universitário.
Por outro lado, o legislativo, o executivo e o judiciário recebem seus polpudos aumentos, sobretudo os deputados e senadores que determinam os seus próprios aumentos salariais e suas regalias que, somadas, constituem elevadíssimos salários! O povo, indignado com razão , está vendo este escândalo e desperdício de dinheiro do contribuinte e dos que pagam impostos de renda ou os impostos embutidos nas tarifas, nas compras de todos os itens possíveis.
Tudo isso não será mais do que suficiente para explicar a indisposição da sociedade com os políticos, com a presidente da República e o consequente afastamento, segundo referi, de milhares de eleitores das urnas? Festejar a vitória das eleições é muito fácil, mas refletir profundamente sobre os gravíssimos problemas nacionais subjacentes aos gritos de vitórias de candidatos reeleitos não me parece razão para os requebros de roda de samba e hipocrisia populista de todas as cores ideológicas. Como tem sido fácil enganar um povão de baixo nível de consciência política. O poder de plantão sabe disso e faz a festa.
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