Cunha e Silva Filho
O leitor já percebeu o ritmo frenético de nossos pós-modernos dias globais? Assaltados pelo air féerique da pressa de tudo conhecer, de tudo saber, de tudo ver, de tudo ser para agora, para “ontem”, no qual o “ontem “ é a expressão oxímora do melhor exemplo para expressar essa corrida lunática para algum lugar de cujo destino não temos a mínima certeza onde se localiza. Meu tempo subjetivo mal consegue alcançar com passos cambaleantes toda essa pressa , essa corrida louca e desenfreada que para os mais velhos se tornou uma espécie de obstáculo e de cansaço.
Sim o cansaço da pós-modernidade, das multidões dos shoppings, que viraram o locus amenus às avessas dos citadinos, nesse ir e vir de gente gerador da anomia principalmente das grandes cidades mundiais. Gente, por toda a parte, gente e solidão, gente e isolamento, gente e indiferença, gente, gente, gente. Onde ficou o encanto de um certo equilíbrio já morto e sepultado ? Não me queiram julgar um saudosista empedernido. Não, não o sou seguramente. Apenas me aborrece o excesso de tudo e do todo que nos circunda, que nos constrange , que nos deixa cada vez mais insulados em nós mesmos.
Há pouco vi uma reportagem sobre o que alguns jovens estão querendo para si agora. Sabem o que seja? Conseguir, antes dos trinta anos, atingir o topo de um carreira em sua área de atividade. Ora, isso não passa de um exagero e num desejo censurável. Onde se viu alguém querer começar a ascender profissionalmente a partir do ponto mais elevado de uma empresa ou de uma outra atividade que demanda maior experiência e amadurecimento? Estão loucos, o que pensam que são, pequenos gênios da pressa? “Quem tudo quer, tudo perde.
“ Há tempo para tudo, para o trabalho, para o prazer,” diz um pensamento em francês. O mundo não vai se acabar amanhã, não obstante certos boatos que por aí estão sendo espalhados para atemorizar os incautos.
Calma, apressados de nossos tempos. Saibam primeiro ver cada etapa da existência com prudência e com o suor do seu rosto feito de preparo, de tempo e de amadurecimento intelectual e humano. A natureza não dá saltos. Tudo a seu tempo e em sua hora. Forçar o tempo, a experiência não vivenciada, os estudos não alicerçados, os obstáculos não transpostos é dar sinal de imaturidade e vaidade vazia. Ao contrário, lutem para conseguir vitórias que sejam atingidas dentro da normalidade e dos desejos acalentados. Não estou tentando aqui exercer alguma coerção de desejos que não podem ser reprimidos em se tratando da luta por uma vida de regalias e de glamour que, segundo alguns jovens, deve ser conquistada em pouco tempo. Tampouco não estou tentando retardar as metas a serem colimadas.
O que combato são os excessos da pressa a todo custo. Vocês hão de argumentar: “A vida é curta, o tempo passa rápido, não há lugar para a paciência , e sim para a pressa de conseguir tudo agora e já, i.e., viver a vida com folga, com o prazer e as delícias da mocidade, viver o mais que puder, usufruir de todos os prazeres bons que a vida material, sobretudo hoje, nos proporciona. Para nós vale, sim, o epicurismo adaptado aos novos tempos. Deixar escapar tudo isso nos vai levar ao infortúnio, à velhice, às doenças e às frustrações.” Talvez sim, talvez não. Na existência não há certezas de nada, a não ser da nossa inescapável condição mortal.
Vejo, numa reflexão mais profunda, esta exacerbação dos jovens não como culpa deles somente, mas do próprio ritmo de vida e de competitividade oriundos do sistema capitalista mundial, inclusive com igual força de competitividade em países comunistas, a exemplo da China. Reconheço que os jovens temem perder a corrida do tempo, receiam não terem êxito dentro de uma faixa etária acima da qual já poderão ter problemas com o fato da idade. No entanto, a felicidade na profissão deixa de ter sua validade ética se é lograda através dos jogos sujos do individualismo fora dos limites, do querer só para si.
Saber dividir o tempo é um velho conselho que meu pai me dava e que, de alguma forma, procurei seguir até hoje. De nada adianta forçar a natureza das coisas. “Festina lente” (“Apressa-te lentamente”) - frase, segundo Suetônio (75?-160?), historiador romano, proferida por Augusto ( 63 a. C. – 14 d. C), imperador romano. Saibam os jovens esperar, mas vigiando o tempo, não se deixando arrastar pelas protelações descabidas, pela indolência, pela falta de disciplina e determinação.
Não queiram, entretanto, os jovens meter os pés pelas mãos, sobretudo porque todos temos nossos limites e nossos ritmos de realizações e de maturidade. O que dá certo para uns não necessariamente vai dar para outros. Somos desiguais e isso, antes de ser um defeito, é uma qualidade. A diversidade cumpre seu papel no equilíbrio da vida em sociedade.
Aprendamos com os maiores, ou seja, os mais velhos, que, se a pressa é prejudicial, também a falta de organização em nossas vida profissional e em nosso preparo intelectual deve ser uma lição que começa cedo - o que não significa compactuar com a doentia sede da pressa contemporânea -, tal como o fruto de uma colheita, cujos passos devem ser obedecidos sob pena de o fruto sair com defeito e sem utilidade. Cumpriria tentar – isto sim - descobrir precocemente, através da atenção dos pais, da escola, por exemplo, qual é o nosso objetivo a ser perseguido para uma vida vitoriosa, saudável e útil tanto para nós quanto para a coletividade. Seria esse um dos caminhos que vislumbro pelos quais se poderá concretizar a tão sonhada felicidade.
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