Cunha e Silva Filho
Não há como negar que o país, não obstante os avanços conquistados em alguns níveis sociais, sobretudo das classes rotuladas de desfavorecidas, os muito pobres e os que saíram da extrema pobreza, a inserção da sociedade civil no circuito do consumismo trazido pelo capitalismo desenfreado das três últimas décadas e em ritmo crescente teve forte influência em mudanças de padrões de comportamento do indivíduo, sobretudo oriundos das nações mais adiantadas do planeta e, em particular, dos EUA via diversas formas de mídia, tendo à frente a internet e os outros meios de comunicação hoje amplamente interconectados, de tal sorte que a televisão, o celular, os mais diversos gadgets que dia a dia estão invadem nosso país, todos eles visando a dar acesso de informações em nível interplanetário a seus usuários. São mudanças radicais e imediatas que os mais velhos não conseguem acompanhar nem mesmo assimilar.
Um país como nosso, que ainda mantém alto índice de assimetrias sociais, culturais, econômicas e de baixo nível de escolaridade e de qualidade de formação ainda muito desfavorável em relação às nações adiantadas, dificilmente consegue o equilíbrio necessário no inter-relacionamento entre seus habitantes, divididos que estão pelo fosso enorme das mencionadas assimetrias. Em outras palavras, o país, em algumas áreas de sua estrutura sócio-cultural, mostra-se em plena sintonia com o mundo avançado na tecnologia e, em outros domínios da vida social e da estrutura do Estado, bastante atrasado, como na saúde pública, na segurança, nos transportes.
O Brasil, enquanto funciona burocraticamente com serviços de alta tecnologia para movimentar parte de sua máquina do Estado, por outro lado sofre a defasagem de oferta de qualidade na educação fundamental e média de nossa escolas públicas, e de parte da privada. Temos universidades com quadros de professores de alta competência e ao mesmo tempo nos faltam infraestrtura de condições de trabalho, plano de carreira que não sofra com o tempo achatamento salarial, para que seus mestres possam transferir conhecimento e desenvolver melhor nível de pesquisa inicial (iniciação científica) na graduação e em nível de pós-graduação, além de sobre os mestres recaírem problemas que interferem profundamente na formação dos estudantes, como salários ainda não compatíveis para a relevância da missão dos docentes.
O Brasil, enquanto funciona burocraticamente com serviços de alta tecnologia para movimentar parte de sua máquina do Estado, por outro lado sofre a defasagem de oferta de qualidade na educação fundamental e média de nossa escolas públicas, e de parte da privada. Temos universidades com quadros de professores de alta competência e ao mesmo tempo nos faltam infraestrtura de condições de trabalho, plano de carreira que não sofra com o tempo achatamento salarial, para que seus mestres possam transferir conhecimento e desenvolver melhor nível de pesquisa inicial (iniciação científica) na graduação e em nível de pós-graduação, além de sobre os mestres recaírem problemas que interferem profundamente na formação dos estudantes, como salários ainda não compatíveis para a relevância da missão dos docentes.
Antigamente, costumava-se usar a expressão “os dois brasis’, i.e., o Sul, adiantado e o Norte, atrasado. Isso não cabe mais hoje. As realidades se misturam e, tanto uma região quanto outra apresentavam e ainda apresentam disparidades em setores múltiplos, quer dizer, o arcaico tanto pode se divisar em alguma parte de regiões mais adiantadas, quanto o moderno em regiões subdesenvolvidas. Tudo depende do setor e das condições de cada região.
Bem, todo esse pano de fundo, serve neste artigo para ressaltar duras realidades por que está passando o nosso país. A modernidade de que falo aqui está conexionada com componentes de vida que surgem de várias situações de vida social, as quais estão ligadas a valores materiais e morais, tendo como epicentro o sistema capitalista gerador simultaneamente de formas hedonistas de vida e de individualismo que, por sua vez, propiciou a banalização da vida em variadas formas de convivência, seja interpessoal, de amizade, de emoções, mesmo diante da dor alheia. Vivemos uma fase crucial do "eu sozinho", do descarte de quem não nos pode oferecer nada, sobretudo materialmente.
. Vivemos a desenfreada corrida da competição em direção ao supremo valor atribuído aos que supostamente mais são dotados na ordem de seleção natural da pessoa humana - espécie de neoevolucionismo darwiniano na sociedade material-virtual.
. Vivemos a desenfreada corrida da competição em direção ao supremo valor atribuído aos que supostamente mais são dotados na ordem de seleção natural da pessoa humana - espécie de neoevolucionismo darwiniano na sociedade material-virtual.
Isso que os ingleses chamam de “rat race”, pela própria inerência de sua natureza competitiva, é profundamente desumano e aniquila qualquer resquício de natureza sentimental e emocional. O que impulsiona seus seguidores, se assim podemos dizer, obter sucesso e chegar ao pódio.
Só vale para os seus adeptos e admiradores se o competidor chegar primeiro, mostrar que é melhor, que sabe mais, que tem mais competência. Não existe um meio termo e a plateia que o aplaude só tem olhos para ele. O resto se torna escória, figura raté como diria o grande crítico social Lima Barreto (1881-1922) em Os Bruzundangas (1922) que estou relendo com prazer, uma caricatura do país da Velha e nascente República e um prognóstico de um Brasil “país do futuro,” com tantas semelhanças ainda em vigor para vergonha de nossa decantada “modernidade”
Ninguém quer saber dos decaídos da vida. A sociedade das celebridades e do idiotia do efêmero – e isso vale para o espaço universal das sociedades civis afluentes e ditas civilizadas. - que está na moda, só vale para os vitoriosos, os quais parecem os únicos em geral a "merecerem " “ prêmios.
Não é de admirar que, homens e mulheres, cada qual a seu modo, sendo cercados por todos os lados por essa aparente e ilusória realidade real-virtual, tentarão buscar, por todos os meios, sobretudo os ilícitos, os criminosos, os hediondos, os expedientes da força que atos indignos passam a exercer num país de impunidade de leis anacrônicas. E por isso mesmo é que falo de assimetrias de realidades sociais brasileiras, que permeiam a intimidade de lares mal construídos. Lares construídos sobre alicerces da imoralidade, do interesse, da ausência do amor. Lares construídos sem a cumplicidade sadia e duradoura, daí resultando a previsibilidade dos mais abomináveis crimes que o ser humano possa cometer.
Doente está a nossa sociedade, campeã da impunidade, da certeza de que pode matar e não ser punida de acordo com a gravidade do delito, sociedade que se encontra num emaranhado de leis e de brechas legais que fazem de um assassino de trânsito, de um assaltante desalmado, de um monstro, homem ou mulher, um bicho capaz de esquartejar um ser humano, matar uma crianças, um adultos, uma velho.
Quem acompanha a crônica policial no país sabe que, dia após dia, está em níveis insuportáveis o cotidiano da sociedade brasileira. Nem seria preciso e urgente a pena de morte para os grandes crimes. Basta que o criminoso cumpra a sentença do juiz na inteireza de sua duração legal, sem brechas, nem progressões,nem tampouco o desmoralizado conceito de “bom comportamento,” que não passa de uma hipocrisia legal.
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