segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Um poema de Percy Bysshe Shelley (1792-1822)

Ode to the West Wind


1

O wild West Wind, thou breath of Autumn’s being,
Thou from whose unseen presence the leaves dead
Are driven like ghosts from an enchanter fleeing,

Yellow and black, and pale, and hectic red.
Pestilence-stricken multitudes! O thou
Who chariotest to their dark wintry bed


The winged seeds, where they lie cold and low,
Each like a corpse within its grave, until
Thine azure sister of the Spring shall blow


Her clarion o’er the dreaming earth, and fill
Driving sweet buds like flocks to feed in air
With living hues and odours plain and hill;


Wild spirit which art moving everywhere;
Destroyer and preserver; hear, oh hear!


2


Thou on whose stream, ‘mid the steep sky’s commotion,
Loose clouds like earth’s decaying leaves are shed,
Shook from the tangled boughs of heaven and ocean,

Angels of rain and lightning! There are spread
On the blue surface of thine airy surge,
Like the bright hair uplifted from the head

Of some fierce Maenad, even from the dim verge
Of the horizon to the zenith’s height,
The locks of the approaching storm. Thou dirge

Of the dying year, to which this closing night
Will be the dome of a vast sepulcher,
Vaulted with all thy congregated might

Of the vapours, from whose solid atmosphere
Black rain, an d fire, and hail will burst: O hear!


3

Thou who didst waken from his summer dreams,
The blue Mediterranean, where he lay,
Lulled by the coil of his crystalline streams,

Beside a pumice isle in Baiae’s bay,
And saw in sleep old palaces and towers
Quivering within the wave’s intensive day,

All overgrown with azure moss, an d flowers
So sweet the sense faints picturing them! Thou
For whose path the Atlantic’s level powers,

Cleave themselves into chasms, while far below
The sea-blooms and oozy woods which wear
The sapless foliage of the ocean know

Thy voice, and suddenly grow grey with fear,
And tremble and despoil themselves: Oh hear!

4

If I were a dead leaf thou mightest bear;
If I were a swift cloud to fly with thee:
A wave to pant beneath thy power, and shave

The impulse of thy strength, only less free
Than thou, O uncontrolable! If even
I were as in my boyhood, and could be

The comrade of thy wanderings over heaven,
As then, when to outstrip thy skyey speed
Scarce seemed a vision, - I would ne’er have striven

As thus with thee in prayer in my sore need.
Oh1 lift me as a wave, a leaf, a cloud!
I faint upon the thorns of life! I bleed!

A heavy weight of hours has chained and bowed
One too like thee – tameless, and swift, and proud.

5

Make me thy lyre, even as the forest is:
What if my leaves are falling like its own?
The tumult of thy mighty harmonies

Will take from both a deep autumnal tone,
Sweet though in sadness, Be thou, Spirit fierce,
My spirit! Be thou me, impetuous one!

Drive me dead thoughts over the universe,
Like withered leaves, to quicken a new birth;
And, by the incantation of this verse,

Scatter as from an unextinguished hearth
Ashes and sparks, my words among mankind;
Be through my lips to unawakened earth

The trumpet of a prophecy! O Wind,
If Winter comes, can Spring be far behind?


Ode ao Vento Ocidenal


1

Oh, Vento Ocidental selvagem, exalas dos seres do outono o cheiro,
De tua presença invisível, as folhas mortas
Lançadas são tal como fantasmas fugindo de um mágico.

Multidões delas de peste acometidas !
Amarelas, pretas, pálidas e sanguíneas! Ó tu
Que, em carruagens, te transportas ao seu sombrio canteiro de inverno

As sementes aladas, nas quais jazem frias e miúdas
Cada qual como um cadáver na sua cova, até que
Tua azul-celeste irmã da Primavera toque

O seu clarim sobre a terra em sonhos, e encha de
Pressurosos suaves rebentos iguais a flores povoando o ar,
Nas planícies e colinas, com cores e odores vivos.

Espírito selvagem que por toda a parte se move;
Destruidor e preservador: escuta, oh, escuta!

2
Tu, em cuja corrente, em meio à íngreme convulsão do firmamento,
Onde, como folhas murchas da terra, nuvens dispersas se derramam
Galhos emaranhados do céu e oceano sacudiste,


Anjos da chuva e dos raios! Aí espraiados
Sobre a superfície azul de teu vagalhão etéreo
Qual brilhantes cabelos levantados

De alguma terrível Bacante, que vão da fina borda do
Horizonte às alturas do zênite,
As madeixas da tempestade que se avizinha. Nênias entoas

Ao ano que se despede, para o qual esta noite se acaba
Será a cúpula de um vasto sepulcro
Construído com todo o teu poder concentrado

De vapores, de cuja sólida atmosfera
Chuva negra, e fogo e granizo arrebentar-se-ão: Escuta!


3

Tu que de fato acordaste de seus sonhos de verão,
O azul Mediterrâneo, onde jazia,
Acalentado pelo azul espiralado de suas correntes cristalinas,

Junto a uma ilha de pedra-pome na baía Baiae,
Viste adormecidos vetustos palácios e torres
Agitando-se num dia mais intenso de ondas,

Invasão completa de musgos e flores azuis
Tão suaves que os sentidos não conseguem pintá-las! Tu
Por cujo caminho as forças do nível do Atlântico

Abrem-se em abismos, enquanto, bem no fundo,
As florações marinhas e as florestas lodosas, que destroem
A folhagem seca dos oceanos,
Se agitam e se anulam, conheces

Tua voz e súbito te tornas medroso: Escuta!

4

Ah, fosse eu uma folha morta que pudesses segurar,
Ah, fosse eu uma nuvem veloz para contigo:voar
Uma onda suspirando por sob teu poder e extirpar

O impulso da tua força, só que menos livre
Do que tu, ó incontrolável! Se pelo menos
Ainda estivesse na minha infância e pudesse ser

O companheiro de tuas andanças nos céus
Pois então, quando fosse para superar tua velocidade celeste
Mal pareceria uma visão, - Nunca teria eu feito tanto esforço

Quanto assim contigo em prece nas horas de dolorida necessidade.
Oh! ergue-me como se uma onda fosse, uma folha, uma nuvem!
Caio sobre os espinhos da vida! Sangro!

Um fardo enorme de horas acorrentou-me e me oprimiu
Alguém também como tu – rebelde, dinâmico e orgulhoso.


5

De mim fazes a tua lira, igual assim à floresta:
O que ocorreria se minhas folhas com as dela caíssem!
A desordem das tuas poderosas harmonias

Um profundo tom outonal retirarão de ambos,
Suave embora triste. Sê tu, Espírito selvagem,
Meu espírito! Fazes de ti o meu ser, impetuoso espírito!

Conduze meus pensamentos mortos através do universo,
À semelhança da folhas murchas, a fim de um novo nascimento apressar;
E, pela magia destes versos,

Difundir, como se viessem de uma lareira sempre ardente,
Cinzas e centelhas, minhas palavras à humanidade
Através de minha boca para uma terra adormecida

Sê tu, ó vento, a trombeta de uma profecia!
Com o retorno do inverno, não poderia a primavera logo sucedê-lo?


(Trad. de Cunha e Silva Filho)







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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Gaddafi: depois de morto

Cunha e Silva Filho


Mais uma etapa vitoriosa se cumpriu no tocante aos movimentos rebeldes conhecidos como “A Primavera Árabe”. Muammar Gaddafi está morto. Foi trucidado, levou tiros, pancadas, foi surrado como um bandido qualquer desses tão conhecidos na América do Sul e num país chamado Brasil.
O ditador sanguinário, que manteve relações com alguns países ocidentais e do próprio Oriente, procurou seu destino, cavou sua própria cova. Eis o destino reservado a quem tiraniza um povo. Não há quem contenha um povo indignado ao extremo.
De alguma forma, as imagens horripilantes, meio manchadas pela tela das TVs., inconscientemente me fazem recordar a matança do Czar russo Nicolau II e da família imperial na Revolução Russa de 1917, com a implantação do regime bolchevique e, em seguida, com a formação da Rússia Soviética.
Não se pense que esteja defendendo a ditadura líbia ou reprovando a queda de Gaddafi. O que me interessa aqui comentar é a forma da atrocidade, em situações de guerra civil, a falta de uma linha correta de tratar governantes, ainda que estes sejam mentores de matanças de compatriotas. O que não pode haver são excessos de barbárie que, ipso facto, se tornam tão hediondos quanto o que cometeram os tiranos. Destituir tiranos através de procedimentos legais, posto que mediados por órgãos internacionais de defesa da paz mundial, é uma coisa; cometer matança pura e simples, sob forte sentimento do ódio e da indignação, justo que seja, não faz sentido se visto pela ilegalidade e ausência de julgamento em Tribunal Internacional competente.
Os EUA fizeram o que bem entenderam na invasão do Iraque, aniquilando militares e populações até de civis, num bombardeio que mais fazia pensar na chegada do Armaggedon, usando todo o seu poderoso arsenal militar de extermínio e, naquela época, o Iraque não foi socorrido pelos instituições mais importantes para deliberar sobre a segurança e resguardo da soberania dos países, como a ONU, a OTAN. Bush filho não foi julgado por nenhum fórum internacional. Ao arrepio da Lei , sem consultar ninguém, alvitrou o que lhe fosse conveniente para liquidar com Saddam Hussein sem necessidade imperiosa alguma. Mesmo sob a alegação de estar invadindo o Iraque porque este país continha armamento nuclear – o que se provou que não tinha - ainda assim cometeu atrocidades ilimitadas contra não só a população indefesa, como contra o patrimônio histórico do país. E mais: deslocou um gigantesco contingente de soldados para “manter e consolidar “ a fase de transição para uma novo governo tutelado pelo governo americano. Os EUA causaram perdas incalculáveis de soldados americanos na invasão do Iraque. Economicamente, levou o país a fazer gastos astronômicos nas ações bélicas e na manutenção das tropas militares, provocando prejuízos financeiros ao povo americano cujas consequências ajudaram a conduzir o país à gravíssima situação de endividamento atual. Milhões e milhões de dólares foram inutilmente perdidos numa guerra desnecessária, injusta e tresloucada. Bush filho passou ileso e entregou a batata quente para Barack Obama.
Só esperamos que, com a queda de Gaddafi, as potências que, através da OTAN, combateram as forças militares do ditador, com bombardeios e com ajuda em material bélico, não se transformem em outros exemplos de países paternalistas que, no fundo, estejam vislumbrando alguma gorda recompensa econômica via petróleo. Esta hístória já aconteceu em outras épocas e, portanto, cumpre que as nações democráticas e soberanas estejam atentas aos desdobramentos no país de Gaddafi. A era do colonialismo ou do neo-colonialismo deve ser encarada como uma página virada e não como um ato em potência.
A “Primavera Árabe” não pode nos decepcionar, como sugeriu um prognóstico sombrio de um jornalista e escritor brasileiro. Ou seja, organizado em suas primeiros passos um governo de transição, é de se esperar que seus líderes mais em evidência não permitam que o país sofra um retrocesso caindo nas mãos de um novo déspota tanto ou mais sanguinário do que Gaddafi. Desse risco, não estamos livres se levarmos em conta o prognóstico do jornalista.
Neste aspecto, cumpriria à ONU principalmente precaver-se contra os inimigos da liberdade e da democracia. No entanto, na organização de um Estado democrático, há que haver retidão e senso de alta responsabilidade dos organismos internacionais. Ensinar os princípios fundamentais da democracia para povos que viveram longos anos sob regimes autoritários demanda paciência, equilíbrio e grande renúncia por parte dos órgãos internacionais.
O objetivo supremo será dar suporte às nações mais fracas e de culturas bem diferentes das do Ocidente. No conjunto de problemas a serem enfrentados não se poderão deixar de lado as questões religiosas, étnicas, de tribos, de grupos que representam alteridades, costumes e hábitos de vida social diversos dos países ocidentais. A globalização que aí está talvez seja um meio de se poder equacionar estratégias que sirvam de orientação, de aprendizagem e de buscas de caminhos ou vias de adaptação aos estilos de vida ocidental. A palavra-chave, neste caso, seria adaptar sem perder as raízes, a identidade nacional, entendida, porém, esta sem xenofobias nem discriminações nem recorrer a recursos de ultrapassadas teorias deterministas.
O mal das civilizações reside nos extremismos e no espírito do fanatismo míope e perigoso. O homem não nasceu sabendo, mas surgiu na Terra para dotar-se de conhecimento, de saber reconhecer diferenças sem cair no sentimento de hostilidade em relação ao diferente. Podemos ser diferentes em muitos aspectos sem com isso perdermos a racionalidade, a capacidade de discernimento e de consciência plural da vida e dos homens. Até os animais irracionais aprendem desde que sejam ensinados e treinados adequadamente.
Com estas e outras sugestões visando ao bem-estar do indivíduo considerado na sua universalidade de ações e de comportamentos, acredito que aos poucos os ditadores desapareçam em definitivo do convívio humano.

Gaddafi: depois de morto

Cunha e Silva Filho


Mais uma etapa vitoriosa se cumpriu no tocante aos movimentos rebeldes conhecidos como “A Primavera Árabe”. Muammar Gaddafi está morto. Foi trucidado, levou tiros, pancadas, foi surrado como um bandido qualquer desses tão conhecidos na América do Sul e num país chamado Brasil.
O ditador sanguinário, que manteve relações com alguns países ocidentais e do próprio Oriente, procurou seu destino, cavou sua própria cova. Eis o destino reservado a quem tiraniza um povo. Não há quem contenha um povo indignado ao extremo.
De alguma forma, as imagens horripilantes, meio manchadas pela tela das TVs., inconscientemente me fazem recordar a matança do Czar russo Nicolau II e da família imperial na Revolução Russa de 1917, com a implantação do regime bolchevique e, em seguida, com a formação da Rússia Soviética.
Não se pense que esteja defendendo a ditadura líbia ou reprovando a queda de Gaddafi. O que me interessa aqui comentar é a forma da atrocidade, em situações de guerra civil, a falta de uma linha correta de tratar governantes, ainda que estes sejam mentores de matanças de compatriotas. O que não pode haver são excessos de barbárie que, ipso facto, se tornam tão hediondos quanto o que cometeram os tiranos. Destituir tiranos através de procedimentos legais, posto que mediados por órgãos internacionais de defesa da paz mundial, é uma coisa; cometer matança pura e simples, sob forte sentimento do ódio e da indignação, justo que seja, não faz sentido se visto pela ilegalidade e ausência de julgamento em Tribunal Internacional competente.
Os EUA fizeram o que bem entenderam na invasão do Iraque, aniquilando populações até civis, num bombardeio que mais fazia pensar na chegada do Armagedon, usando todo o seu poderoso arsenal militar de extermínio e, naquela época, o Iraque não foi socorrido pelos instituições mais importantes para deliberar sobre a segurança e resguardo da soberania dos países, como a ONU, a OTAN. Bush filho não foi julgado por nenhum fórum internacional.. Ao arrepio da Lei , sem consultar ninguém, alvitrou o que lhe fosse conveniente para liquidar com Saddam Hussein sem necessidade imperiosa alguma. Mesmo sob a alegação de estar invadindo o Iraque porque este país continha armamento nuclear – o que se provou que não tinha - ainda assim cometeu atrocidades ilimitadas contra não só a população indefesa, como contra o patrimônio histórico do país. E mais: deslocou um gigantesco contingente de soldados para “manter e consolidar “ a fase de transição para uma novo governo tutelado pelo governo americano. Os EUA causaram perdas incalculáveis de soldados americanos na invasão do Iraque. Economicamente, levou o país a fazer gastos astronômicos nas ações bélicas e na manutenção das tropas militares, provocando prejuízos financeiros ao povo americano cujas consequências ajudaram a conduzir o país à gravíssima situação de endividamento atual. Milhões e milhões de dólares foram inutilmente perdidos numa guerra desnecessária, injusta e tresloucada. Bush filho passou ileso e entregou a batata quente para Barack Obama.
Só esperamos que, com a queda de Gaddafi, as potências que, através da OTAN, combateram as forças militares do ditador, com bombardeios e com ajuda em material bélico, não se transformem em outros exemplos de países paternalistas que, no fundo, estejam vislumbrando alguma gorda recompensa econômica via petróleo. Esta hístória já aconteceu em outras épocas e, portanto, cumpre que as nações democráticas e soberanas estejam atentas aos desdobramentos no país de Gaddafi. A era do colonialismo ou do neo-colonialismo deve ser encarada como uma página virada e não como um ato em potência.
A “Primavera Árabe” não pode nos decepcionar, como sugeriu um prognóstico sombrio de um jornalista e escritor brasileiro. Ou seja, organizado em suas primeiros passos um governo de transição, é de se esperar que seus líderes mais em evidência não permitam que o país sofra um retrocesso caindo nas mãos de um novo déspota tanto ou mais sanguinário do que Gaddafi. Desse risco, não estamos livres se levarmos em conta o prognóstico do jornalista.
Neste aspecto, cumpriria à ONU principalmente precaver-se contra os inimigos da liberdade e da democracia. No entanto, na organização de um Estado democrático, há que haver retidão e senso de alta responsabilidade dos organismos internacionais. Ensinar os princípios fundamentais da democracia para povos que viveram longos anos sob regimes autoritários demanda paciência, equilíbrio e grande renúncia por parte dos órgãos internacionais.
O objetivo supremo será dar suporte às nações mais fracas e de culturas bem diferentes das do Ocidente. No conjunto de problemas a serem enfrentados não se poderão deixar de lado as questões religiosas, étnicas, de tribos, de grupos que representam alteridades, costumes e hábitos de vida social diversos dos países ocidentais. A globalização que aí está talvez seja um meio de se poder equacionar estratégias que sirvam de orientação, de aprendizagem e de buscas de caminhos ou vias de adaptação aos estilos de vida ocidental. A palavra-chave, neste caso, seria adaptar sem perder as raízes, a identidade nacional, entendida, porém, esta sem xenofobias nem discriminações nem recorrer a recursos de ultrapassadas teorias deterministas.
O mal das civilizações reside nos extremismos e no espírito do fanatismo míope e perigoso. O homem não nasceu sabendo, mas surgiu na Terra para dotar-se de conhecimento, de saber reconhecer diferenças sem cair no sentimento de hostilidade em relação ao diferente. Podemos ser diferentes em muitos aspectos sem com isso perdermos a racionalidade, a capacidade de discernimento e de consciência plural da vida e dos homens. Até os animais irracionais aprendem desde que sejam ensinados e treinados adequadamente.
Com estas e outras sugestões visando ao bem-estar do indivíduo considerado na sua universalidade de ações e de comportamentos, acredito que aos poucos os ditadores desapareçam em definitivo do convívio humano.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Destino dos ditadores versus vozes prudentes

Cunha e Silva Filho



Muamar Kadaffi foi mais um exemplo dos indivíduos que, governando pelo regime de força, se entronizam no pode através de golpes. E principalmente de golpe baixos sacrificando numerosas vítimas, derramando sangue por toda parte, não respeitando ninguém nem nada. Para eles a Lei são eles próprios, a nação é deles, de sua família e partidários mais próximos. Formam seu próprio exército com soldados que viram verdadeiros capachos do poder ilegítimo. Tais soldados não pensam, não raciocinam, obedecem cegamente às selvagerias determinadas pelos ditadores. Ai de quem ousar contrariar as ordens desses senhores donos do direito de viver e de morrer de seus compatriotas. O povo é uma abstração. Só serve para atender às suas determinações e aos seus caprichos tresloucados. Estão sempre acima da Lei das nações organizadas e com certo grau de estabilidade institucional, já que atualmente não há governos e sistemas políticos rigorosamente democráticos.
A História dá Humanidade está cheia desses exemplos, com variadas cores, com diferentes níveis de autoritarismo, com formas novas de dominar povos com a mão de ferro. A lista é enorme: Stálin, Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Idi Amin, Mubarak, Saddam Hussein e, agora, Kadaffi. É fácil prever quem é , na linha de sucessão da queda, o seguinte.
Meditando sobre o passado, a gente constata as contradições do curso dos acontecimentos que fazem a História e aí vemos ditadores cumprimentando, em ocasiões solenes, líderes importantes considerados democráticos ou homens da paz. Todos sorridentes. Nem imaginavam eles que estavam diante de feras e de indivíduos sanguinolentos prontos a cometer desatinos e genocídios, prontos a matar indiscriminadamente dezenas e milhares de civis compatriotas, prontos a fazer acordos com países em detrimento de outros países. Não dá mesmo para entender o gênero humano. Tudo, no concerto das nações, tanto as do Ocidente quanto as do Oriente, não passa de conjunturais interesses econômicos, geopolíticos. Não existe pax universalis. Tudo não é mais do que uma “comédia de erros” seguida, contraditoriamente, de um tragédia. Comédias que ainda se repetem e tragédias que não parecem ter fim.
È bem verdade que um fato novo não pode ser negligenciado por quem observa o triste palco mundial: A Primavera dos Árabes não significa apenas um fato real mas - quem diria - se converte em lições na vida dos povos. Do mundo bárbaro ou civilizado. Há uma grande ideia ainda germinativa e de natureza convergente, independente de culturas e etnias, de idades ou nacionalidades. Esta grande ideia tende a uma unidade de pensamento de que há muito tempo, senão séculos, o ser humano necessita: a de dar voz ao que de essencial ele possui de consciência, de bom-senso, de solidariedade e de consenso no que respeita a uma convivência sadia – não diria ideal para que não me imputem com a pecha de utópico - que começa a dar seus primeiros sinais. Tal é o exemplo do movimento denominado “Ocupem Wall Street”, em Nova Iorque.
Pode quem quiser dizer que o comportamento desses jovens é pueril, passageiro e não redundará em nada. Não creio nesta versão própria dos espíritos globalizados que têm sua inteligência e sua formação cultural voltadas para o pragmatismo das visões norteadas pelo capitalismo, pela vida financeira , pela confiança na globalização neoliberal. O fetichismo capitalista, a “religião” do poder econômico pertence a traços do ser humano muito semelhantes a quase patologias sociais dos indivíduos fanáticos, de indivíduos que foram treinados intelectualmente para pensar a partir e seus interesses financeiros, seja como teóricos da economia pró-neoliberalismo seja como atores empenhados no jogos das Bolsas de Valores, nas projeções de ganhos de dividendos, dos títulos, de lucros cada vez maiores, sem limites, sem preocupações com valores morais nem humanitários e, o que é pior, em escala global.. O que os impele são a avidez a todo preço e a todo custo.Massacram as massas, os pobres pelas aperturas financeiras, pelos juros extorsivos, pela fraude, pela manipulação de taxas, de emolumentos etc. etc. Essa é uma “ditadura silenciosa, mas tão letal ao indivíduos quanto os massacres das baionetas e dos tanques.
Aquilo que os rebelados civis fizeram e têm feito no mundo árabe , no fundo, equivale às vozes dos que não estão mais aguentando o massacre, a ditadura econômica, a fraude financeira nacional e transnacional. Por outras palavras, o que a humanidade de bem deseja a todo custo é poder viver com dignidade, não ser espoliada pelas forças do mercado hostil. Os jovens indignados e íntegros que se espalham pelas cidades do mundo divulgando suas ideias de liberdade, de emprego, de melhoria de vida, de direito a ter um emprego e uma família, e de se rebelarem contra instituições bancárias e com a prepotência dos multimilionários dos países mais ricos do Planeta não se diferenciam das vozes indignadas dos rebeldes árabes.
O mundo, a esta altura, está cansado do engodo e falcatruas globais, de políticos de mãos sujas, de egoístas que se encontram em todas os setores da vida social. O que os árabes e os jovens ocidentais mais querem é poderem exercer, através de suas reivindicações pacíficas, lideranças sem necessariamente vínculos políticos, mas que redundem na transformação dos comportamentos da nações que, ricas, perdulárias, só se preocupam com os seus próprios mundos dos negócios e com o estímulo ao consumismo por eles, ricos, prestigiados. A massa da população ficou ilhada nos seus limites de liberdade relativa, de pensamento silenciado, de direitos postergados.
A verdadeira revolução mundial depende das mudanças da política, do combate à corrupção de toda espécie e de uma distribuição de riqueza feita sob a égide dos valores humanos e não financeiros. Se Estados totalitários não deram certo e se agora com a exacerbação do capitalismo o mundo não tem melhorado em valores absolutos, ou melhor, o capitalismo tem dado sinais de grandes descontentamentos e mesmo indignação entre o povos que por ele optaram, resta procurar um realinhamento de convivência política, com liberdade e bem-estar.
Enquanto houver milionários egoístas no mundo inteiro insensíveis à sorte dos outros, i.e., dos pobres, dos explorados, seja por governos, seja pela engrenagem realimentadora do funcionamento do capitalismo, como consumismo, individualismo, ausência de solidariedade, avidez dos que vivem de investimentos improdutivos que só visam aos lucros tentaculares, as vozes dos grupos heroicos de Wall Street e dos rebeldes da “Primavera Árabe hão de gritar até que os donos do poder econômico mundial mudem sua ética e sua falta de sensibilidade e, o que é mais grave, não enfrentem a fúria dos indignados, que têm seus limites ainda que tardios.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Até que enfim!

Querer minimizar o grupo de manifestantes do movimento de protesto chamado “Ocupem Wall Street” é tentar tapar o sol com a peneira.
Não consigo ir fundo nas minhas memórias e delas retirar alguma manifestação, exceções feitas à Guerra do Vietnã, aos movimentos de igualdade racial, ou mais remotamente, à Grande Depressão de 1929. A visão que, por muito tempo, se teve dos EUA é a de um país capitalista, com maioria protestante e como a terra dos multimilionários, celebridades do mundo dos negócios, do mundo artístico, dos donos das mansões paradisíacas, da sociedade do dinheiro, do consumo estratosféricos.Como dizia, manifestações de protestos de cunho social sobre a política econômica americana, falar de pobreza extrema de cidadão americanos soaria quase como uma fato inventado de mau gosto. É certo que os EUA passaram pelo desassossego trágico do 11 de Setembro, porém este é um acontecimento que foge ao ponto central deste artigo.
Discordo da posição do sociólogo americano Michael Burawoy (Folha de São Paulo,09/10/11), da Universidade de Berkeley (EUA) que não enxerga no grupo de protestos “Ocupem a Wall Street” maior significação com consequências danosas ao capitalismo americano. Prefiro me alinhar às argumentações mais realistas e sensíveis do colunista do New York Times, Paul Krugman(O Globo, 08/10/11), diante dessa gente que, para o citado sociólogo de Berkeley, não passa de protestos de “excluídos,’ não como ele entende, de “explorados”. Por “explorados” quer ele significar indivíduos que têm trabalho, “posição estável,” sem, todavia, se importarem com a inevitável condição de espoliados pelo capitalismo nacional ou transnacional. Convém notar nesta questão dos protestos que até o presidente do Fed de Dallas, Richard Fisher, numa palestra no Texas, afirmou serem procedentes os protestos dos manifestantes.
O título do artigo de Krugman é explicitamente ácido e impactante: “Contra os malfeitores.” O lúcido jornalista não poupa os banqueiros ambiciosos, Shylocks da pós-modernidade, do neoliberalismo tentacular. O articulista vai até à raiz da questão crucial entre exploradores, explorados e acrescentaria de minha parte, os “excludentes” de que falou o sociólogo Michael Buravoy.
Para auferirem somas multimilionárias de dinheiro se aproveitaram da chamada “abertura do mercado” – espaço econômico-financeiro no qual se comportam com a liberdade suprema e o direito de tocar investimentos meramente especulativos, que não visam a nenhuma melhoria das condições de vida das populações.Só o que lhes aguça o interesse são os dividendos, “ o quanto deu na Bolsa”, os lucros fáceis e tanto melhores quanto mais altos encontrem fontes de investimentos em países de altos juros que, assim, lhes renderão fábulas de dólares e , em seguida, transferências de lucros para os paraísos fiscais e para seus gastos nababescos com iates, carros milionários, mulheres bonitas e sibaritismo de vida.
Krugman cita todos os atos praticados por banqueiros agiotas sem escrúpulos que em ações seguidas reveladoras do desrespeito à pessoa humana, como foi o caso da famosas tramóias em foram de “bolhas” resultantes de empréstimos suspeitos, com o socorro obtido com o governo federal e igualmente com o aval conseguido com políticos a fim de estes lograssem, junto ao Estado financiador e salvador de bancos quebrados, juros mais baixos e, após passada a crise, novamente se beneficiarem das regulações estatais, ou seja, o estatismo é bom quando o neoliberalismo se dá mal. O Leviatã temido transmuda-se em Papai Noel, ou melhor, em Santa Claus do neoliberalismo global. Que contrassenso e ironia macabra! No final da refrega, esses banqueiros terminam por saírem ilesos e lépidos das negociatas por eles cometidas.
Numa reportagem de meia página, sob o título geral “Turbulência Global”, vê-se o quanto a toda poderosa Wall Street – centro financeiro do capitalismo planetário – não pode mais ocultar a verdade dos fatos sobre a delicada questão econômico-social de parte do povo americano.
Na foto reproduzida no jornal podemos perceber sem esforço o rumo que tomaram os protestos se espalhando por cidades como Washington, Los Angeles, Tampa, Nova Jersey, Filadélfia, Chicago, Houston, Nashville, Seattle, entre outras.
Basta analisar semiologicamente os pôsteres, os cartazes e as fisionomias dos participantes para entendermos que não é tão simples assim o movimento de protestos americanos.Vejam-se algumas frrases para ilustração: “Este nãoç ´pe o futuro que nos prometeram”; “Empregos, nãoç acortes”; “Paz, não guerra”; “Covbrem impostos dos ricos”; “O reinado dos bancos, corporações gan aanciosas”; “Políticos não são mercadoria” etc., etc.
Este é o país do “sonho americano”, “A Terra da Promissão”, o lugar encantado da imigração passada, da clandestinidade a peso de ouro e do fracasso da imigração à custa de vidas humanas.
O momento crítico requer paciência e prudência. Quando os americanos, em diversas cidades importantes, difundiram a onda de protestos é sinal de que imperativo se torna uma busca urgente para reduzir esse desgaste.
Qual seria a relação, pergunto, em ter as manifestações dos povos árabes pela liberdade e governos democráticos e esse sinal não desprezível de americanos descontentes com um longo tempo de silêncio voluntário ou de alienação conveniente a cada cidadão o americano?
Existem pontos comuns entre as duas situações evidentemente. Há uma frase que se está tornando um slogan: “O tempo das ditaduras acabou”, frase que foi proferida pelo ex-presidente Bush pai no tempo da Guerra do Golfo. Para a conjuntura americana atual,, a frase corresponderia : “Basta de tanta protelação com respeito ao sistema financeiro americano.”
Os manifestantes da “Ocupe m a Wall Street” parecem ressoar semelhantes protestos próprios de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, i.e., na América Latina, na América do Sul, no Caribe, em países africanos etc., etc.
Uma questão fulcral se impõe a um debate sério e profundo: o modelo neoliberal globalizado já deu farta demonstração de que é imperfeito e injusto, além de lesivo ao bem-estar dos povos. Há que se transformar em alguns pontos-chave, o primeiro dos quais seria a moralização da vida econõmico-financeira dos países que já passaram por amargas experiências (e ainda estão, como na Grécia). Sem mudar o comportamento ético daqueles que lidam com as finanças nacionais, será cada vez mais impossível de lidar com os sistemas de moedas, a riqueza natural, os bens da Natureza, o meio-ambiente global, o exagero da produção industrial-tecnológica em seu afã de mais e mais servir ao consumismo internacional, numa espécie de guerra entre mercados sem que haja um equilíbrio necessário entre compra e venda, moeda e câmbio, a questão dos juros. Sobretudo, atacando com virulência o mal do novo tempo: produzir riqueza proveniente do trabalho, da indústria e do comércio, do setor de serviços, e reduzir o tipo mais pernicioso de riqueza: a de ganhar dinheiro sem o suor do trabalho mas às expensas da agiotagem nacional e internacional.
Esta suposta riqueza sem finalidades de desenvolver os países pobres e miseráveis não é senão um câncer maligno que deve ser extirpado do mundo dos negócios no país e entre países. Esta falaciosa riqueza só traz vantagens aos investidores de papéis podres.
A continuarem em suas investidas de ganhos fabulosos conquistados nas especulações oportunistas e insensíveis do hiper-individualismo mercantilista, os senhores do big business globalizado só irão provocar novos protestos da humanidade que, com justiça se volta contra a opressão da pobreza, do desemprego, da falta de perspectivas de vidas dignas. Os regimes políticos,, as formas de governos, os sistemas políticos que se acautelem, aqui e alhures.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Um poema de Edna St. Vincent Millay (1892-1950)

On hearing a symphony of Beethoven


Sweet sounds, oh, beautiful music, do not cease!
Reject me not into the world again.
With you alone is excellence and peace,
Mankind made plausible, his purpose plain.
Enchanted in your air benign and shrewd,
With limbs a-sprawl and empty faces pale,
The spiteful an d the stingy and the rude
Sleep like the scullions in the fairy-tale.
This moment is the best the world can give:
The tranquil blossom on the tortured stem.
Reject me not, sweet sounds! Oh, let me live,
Till Doom espy my towers and scatter them,
A city spellbound under the aging sun.
Music my rampart, and my only one.


Quando ouço uma sinfonia de Beethoven

Oh, melodiosos son,s divina música, eterna sempre!
O mundo outra vez não me recuses.
Só contigo existem a paz e a beleza,
A humanidade plausível, seu intento explícito.
Fascinada com seu ar generoso e penetrante,
Com seus desajeitados membros e rostos pálidos e vazios,
Os rancorosos, os mesquinhos e os grosseiros
Dormem qual lavadores de prato dos contos de fadas.
O melhor que o mundo oferecer pode é este instante:
Do caule torturado o desabrochar tranquilo.
Melodiosos sons, não me rejeites, vida quero.
Até que a Parca minhas torres aviste e as espalhe,
Sob o sol envelhecendo uma cidade encantada,
Música, muralha minha, sem igual.

(Trad. de Cunha e Silva Filho)