quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A AGENDA MÁGICA



                                                                                      PARA ELZA



                                         CUNHA E ASILVA FILHO



          Era uma agenda diferente, entre o sonho e o sono. No entanto, tinha algo que me chamava por demais a atenção: a sua brancura, a sua luminosidade  de  forma tão  intensa que doía na minha vista. Era um clarão  como  um olhar um  sol   a pino  num verão carioca  de mais de quarenta graus.   Que agenda exótica! Estava  colocada numa prateleira  de  uma das minhas estantes,  na parte que dá espaço depois da organização dos livros. Em comparação com as outras agendas que tive, ou melhor, que ganhei  de presente (já que, por sinal,   nunca comprei  nenhuma agenda pra mim  na vida) nos dias  festivos de final de ano,  essa agenda era algo quase impalpável.

        Ali estava naquela estante da sala, a agenda impressa (sim, sei que era impressa) que surgiu ali   de repente e se mostrava pra mim  como se fosse uma pessoa  viva desejosa de que eu a examinasse e  a folheasse em cada página   com aquelas  divisões  de praxe: os meses em três  idiomas, os números de dias,   uma mapa-múndi,  uma mapa em que aparecia só  o Brasil verde-amarelo,  os espaços destinados  às anotações  à semelhança de diários,  enfim,  uma agenda  como tantas que   se espalham  por aí, quer nas papelarias,  quer, já compradas,  nos  diversos  lugares  ( ou lares) nos quais por ventura se encontrassem.

     Eu a chamei de mágica  em razão  do inusitado    encontro meu com ela  naquela prateleira   mencionada linhas atrás. Nem mesmo sei por que foi se alojar ali,  com aquele brilho todo,  a luz  intensa, aquele clarão   em torno  dela  ofuscando a minha vista e  ao mesmo tempo   me deslumbrando  por   tê-la encontrado  ali. Como foi surgir ali? Não me recordo   quem pudesse tê-la levado pra aquele  canto  cercado de livros e de lindas lombadas. Oh, aqueles livros queridos e amados por toda a vida! Uns dois ou três velhíssimos, do tempo do Brasil  Império.

     Até agora, não posso atinar   quem seja o verdadeiro  dono daquela  agenda  luminosa. Quem seria? Decerto  não era minha. Por que  se exibiu ali  num piscar de olhos? Me lembro de que ainda estava deitndo na cama  de manhã bem cedinho quando me veio  à lembrança  um tanto difusa  a imagem da agenda mágica.   O pior é que, ao lado da agenda mágica, havia uma  impressa bem  simplória, do mesmo tamanho   que teimava em aparecer  ao lado da agenda  mágica. Que confusão  pra minha  mente agora  que agora  não sabe se tudo fora um  sonho ou se era verdadeira, concreta,  aquela agenda ofuscante  de tanto brilho   lembrando   raios laser  cortando, em movimentos pra cima de pra baixo,   o espaço   de uma tela  de cinema.

       Não nego que  gosto de agendas impressas,  da mesma forma que ainda  me fascinam  os cartões de Natal  impressos  e com belas mensagens  de final de  ano. Tenho  várias  de diversas épocas, todas  anotadas  com certa  confusão  espacial  e  falta de cronologia. Nuca fui uma pessoa muito  organizada  com  papéis e impressos. É defeito de nascença.  Não tem  jeito de consertar.    Por outra lado nunca me atraíram  as agendas  eletrônicas. Tenho-as no  meu celular, no meu computador,  porém  ali ficam   virgens pra sempre.

     Volto para a agenda mágica, junto daquela outra impressa,  cuja presença não sei  explicar.Vejo ambas e não  sei por que  insistem  em  se mostrarem  uma ao  lado da outra. Levanto-me da cama,  vou direto à sala. Qual não foi  a minha surpresa! Vejo que só  a agenda luminosa  se encontra na prateleira.

         A outra que   aparecia junto dela  se evanesceu. O que eu pensava que era a verdadeira  não era. Nem parecia somente uma ilusão de ótica.  Entretanto,  a agenda mágica ali estava me atraindo pra junto  de si, como a me pedir que a examinasse toda,  em todos os seus   detalhes: a textura do papel,   a cor  da página,  os números,  os meses, os anos,  os outros  itens  comuns  a uma agende que  se preze. De inopinado, tive a sensação de que aquela agenda  era minha. Mas  quem  a deu pra mim? Que eu me lembre, ninguém  me falou  que  era um presente de um amigo,  de um filho, de um parente,  de um não sei o quê. Ora,  essa sensação de que aquela magia de  agenda  fosse minha me exultava, me deixava mais leve,  menos tenso. Sim.  Seguramente  era minha, sim.  

  Comecei a examinar  novamente  todo aquele encanto e formosura de agenda.  A luminosidade   quase a  me cegar os olhos  curiosos  e  ávidos  de   ter a certeza  de que  era minha e de não  mais ninguém.  Quando  me levantei da cama e  fui pra sala, não havia nenhuma outra pessoa  já acordada. Todos ainda dormindo  naquela  manhã que mal  iniciava. De repente, alguém  veio por detrás de mim e disse:  “É minha.”     

           

domingo, 16 de dezembro de 2018

CRIMES NA CATEDRAL : MIMETISMO IANQUE?


CUNHA E SILVA FILHO
Não é esta que lhe estou agora escrevendo uma crônica-reportagem nem colhi tampouco dados mais consistentes e de natureza policial-investigatória. O que me chamou a atenção de observador para os crimes da Catedral em São Paulo pelo menos, duas coisas básicas: 1) o inusitado do lugar do crime horripilante; 2) uma associação que faço no que diz respeito à poderosa influência que os países hoje sofrem do mundo civilizado e do mundo bárbaro.
Sempre tenho meditado muito sobre assassínios cometidos, sobretudo no EUA, com matadores bem armados que, de repente, chegam a um local e começam a atirar em pessoas inocentes, sejam crianças, adultos, adolescentes, idosos, pouco importa. O palco do crime vira uma tragédia sem proporções e ganha manchetes pelo mundo afora. O mais terrível: o culpado comete suicídio e reduz todo poder de punição legal a nada. Só restam mortos, inocentes e, geralmente, um culpado. O ato insano, abominável vira metafísica para filósofos farta matéria investigações e pesquisas de psiquiatras, psicólogos, sociólogos e antropólogos.
Óbvio que crimes hediondos sempre houve na Humanidade. Os EUA nem se fala. Tanto assim que lá o cinema americano é muitíssimo fértil na produção de filmes de horror, de crimes inimgináveis, tanto por cineastas menores quanto por gênios como o emblemático Alfred Hitchcock.
Uma hipótese minha e que venho há algum tempo amadurecendo é que o fato de uma civilização centrada cada vez mais no locus urbano e num mundo globalizado e virtualizado com crescente aumento de tecnologia e sofisticação de modos de vida e de automatismos tende a exercer uma forte influência deletéria na psique do ser humano, principalmente de indivíduos muito inclinados, seja por tendência inata de desarranjo mental, seja por outros motivos inconfessáveis, a partirem para maquinar atos diabólicos contra inocentes e indefesos. O caso desse homem ainda moço em São Paulo seria um paradigma desse tipo de gente com potencial para atitudes brutais e letais. São verdadeiras armas humanas a serviço de um cérebro estiolado e talvez até sem cura por parte da Medicina, porém que pelo mens poderiam ser tratadas pelos órgãos de saúde do país. O que não pode é ficarem livres nas ruas com um perfil desses de estranhos hábitos. Esse foi o caso do atirador da Catedral.
Outra circunstância reveladora é que o atirador que mato quatro ou cinco pessoas, consoante demonstraram as investigações policias e divulgadas pela imprensa escrita televisa e nas redes sociais, era um criminoso anunciado dado que, em casa e recluso no seu quarto, usava como divertimento, ou não, jogos eletrônicas, desses que mostram ao usuário como atirar em seres humanos aleatoriamente – é isso mesmo o que quero dizer.
Ora, esse tipo de jogos, nas mãos de psicopatas, pode ser uma prévia de futuros atos criminosos por parte de doentes mentais não tratados. Cumpre repensar até que ponto esses jogos eletrônicos podem estimular ações violentas e crimes macabros. No entanto, vejo com preocupação esse tipo generalizado de brincadeiras virtuais de matança indiscriminada. Os multimilionários fabricantes desses gadgets deveriam pensar duas vezes com o que podem provocar de pernicioso e de deformação de personalidades nessa meninada que se utiliza desses jogos banalizadores desse valor inestimável e sem preço, que é a vida.
Observe-se, ademais, o fato sinalizador de que o atirador em casa parecia ter o costume de fazer anotações, formulando, na loucura de seu conturbado mundo interior, possíveis planos de cometer uma agressão inaudita e trágica. Ele estava seguramente, por conta do seus delírios alucinatórios, pronto a perpetrar um crime ominoso como o fez ao final Tudo aponta nessa direção, nesse comportamento doentio nesse ensimesmamento, nesse isolamento, nessa vida antissocial, reclusa, na solidão trágica dos alienados.
Essa barbaridade não será certamente a primeiro nem a última de que temos notícia aqui e no exterior, sobretudo nos EUA. Mais uma vez, estou pronto a repensar os meus conceitos sobre o uso indiscriminado de armas de fogo no meu país, porém deixarei para um outra ocasião esta questão espinhosa e altamente polêmica.

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O AUTOR E AS GRALHAS






                                            Cunha e Silva Filho



                Alguns escritores nem querem ouvir  falar  em gralhas, essas coisinhas  tipográficas   que saem da impressão  de um livro  para atormentar  ou mesmo  atazanar  a vida dos  autores. Contudo, elas existem  e como! Nuns mais que em outros. Colegas de atividade da escrita me falam  que não devo  me preocupar tanto com  esses indesejados  defeitos, os quais de resto, já vêm de longa data.

               Do tempo das impressões algo medievais, da preparação impressa quase manual dos velhos  jornais  até chegar aos  linotipos,  que havia no interior, nas redações dos jornais provincianos, no meu caso,  os jornais de Teresina dos anos 1950. Certo é que jornais havia  no meu tempo de menino  quando ia à Redação do jornal  O Dia,  de Mundico Santilho, pegar uma prova de artigo de meu pai a fim de que, em casa, ele corrigisse  à mão  os erros e, depois, levasse de volta para a Redação. Quantas vezes não  apanhei  na Redação desse jornal  artigos de meu pai! Na época,  não me interessava  pela leitura de jornais, coisa  que  só vim a fazer lá pelos  14 anos.

              Me pai era rigoroso  demais com os erros de  impressão e, mesmo  assim, se queixava de que, ao sair  o jornal  para circulação, ainda encontrava gralhas. Não tinha jeito. Um diplomata brasileiro chegou  uma vez  a  afirmar que em seus livros publicados por  editoras  de prestígio,  sempre encontrava erros  de digitação,  mesmo depois de uma, por assim dizer,  rigorosa revisão feita.

             Ora, isso me leva a  mencionar  a seguir trecho de Monteiro Lobato (1882-1948) citado  por um dos  melhores ficcionistas regionalistas   de Santa Catarina, o Enéas Athanázio. No trecho, Lobato  alude à agonia  de autores diante de  erros  de revisão,  dessa maneira   definindo-a exemplarmente:   “A luta contra o erro tipográfico tem algo de homérico. Durante a revisão erros se escondem. Fazem-se positivamente  invisíveis. Mas, assim que o livro sai, tornam-se visibilíssimos sacis  a nos botar a língua em todas as páginas, Trata-se de um  mistério  que a ciência ainda não conseguiu decifrar.” 

            Tudo o que  expus linhas atrás   se prende ao fato de que, na minha produção  publicada, que  é pequena, mas  a não publicada  em livro é bem maior, três de quatro livros meus  tiveram um só edição até hoje que não me agradou por inúmeras gralhas  e outros defeitos   de edição, não só por minha culpa, mas por culpa do editor. 

            Entretanto,  posso lhe afirmar, leitor, que toda essa produção editada já passou agora pelo meu crivo de revisão  escrupulosa,  malgrado aquela certeira    observação de Monteiro Lobato.

            Não concordo com aqueles  que julgam  os autores pelos erros tipográficos de sua produção. Um bom autor vale mais do que um mau autor com livros publicados  em edições  limpas de  gralhas. Não se  deve medir a   qualidade de um livro pelos erros tipográficos  da edição.

           O valor  da obra  vale pela  elevação  e a densidade de pensamento, por  sua originalidade, por seu alcance  logrado numa determinada  área do conhecimento,  pelo que a constitui  nos seus  componentes literários, estilísticos, expressivos,  intrínsecos. O bom leitor de obras literárias  ou de  outra natureza  está mais  interessado é na substância   do livro, não nas suas exterioridades  e adereços.       

          Quem pensa que um autor  seja  avaliado  pelo número de erros tipográficos  contados  pelo leitor  está equivocado,  porque o leitor perspicaz, tolerante,  como deve ser um bom leitor,  conhece  uma obra  boa ou ótima ainda que com falhas  tipográficas  e sabe distinguir entre a aparência   de qualidade de um livro  da essência da sua  qualidade. Portanto,   um autor não vai se queimar junto aos seus pares ou  fiéis leitores somente por  ter falhas de revisão mais escrupulosa.

            Lima Barreto (1881-1922) foi, por algum tempo,  criticado  por ser negligente com a  sua linguagem literária, o que,  na realidade,  não passava de estratégia do autor de um discurso ficcional  moldado às característica  não alinhadas  a uma   linguagem literária  sequestrada e desgastada   já à altura do que  se chamou Pré-Modernismo. Os críticos da sua época não souberam em geral  reconhecer-lhe  os méritos  de grande prosador  e inventivo  ficcionista da realidade dos mais humildes e injustiçados, ou seja, da voz e da linguagem  dos oprimidos. A conquista de seu real  relevo como ficcionista  só lhe veio mais tarde e sobretudo  graças aos críticos  e ensaístas brasileiros  das gerações mais recentes.   

            Enfatizo, por fim,   reafirmando que  os  bons autores,  os críticos, os ensaístas, sejam de que gêneros literários forem,  serão, sim, julgados e  avaliados pela grandeza  das suas obras, não pelas gralhas de sua produção  editada.

domingo, 18 de novembro de 2018

NO FACEBOOK: ENTRE O COMENTÁRIO E O ARTIGO




                   

                                                                       Cunha e Silva Filho





             Habituado que fui, desde adolescente,  a escrever em jornais de Teresina,  mais  do que receber feedback  ou comentários por escrito do tipo dos  que  hoje se fazem,  sobretudo no  Facebook,  não ignoro o fato de que, nas redes sociais de  tempos  de intensas   e velocíssimas  virtualidades, ainda sinto um certo  incômodo  ou mal-estar com algumas reações  de usuários  intempestivas e nada civilizados. Vemo-nos  agora amiúde com uma desvantagem, a de sermos  por vezes alvos de comentários  desairosos,  repugnantes e pernósticos, partidos de qualquer  indivíduo desconhecido.     

          Ao passar  por aquela  antiga experiência de jornal que, de ordinário, é  mais  independente e muito menos exposto à  pluralidade de público-leitor, percebi um sinal  de iminentes ameaças e verifiquei  que,  nas redes sociais,   o alvo é mais vulnerável se não observarmos as devidas   precauções.                    

        Na experiência do Facebook,  rede social a que já me ajustei em alguns aspectos da comunicação  instantânea e ao mesmo  tempo efêmera, por umas  três  ou quatro vezes me defrontei com  pessoas,  por exemplo,  do universo acadêmico brasileiro que adentraram  a minha página do Facebook e tentaram me  desancar até  do ponto de vista  intelectual, ou seja,  perversa e gratuitamente, sem demonstrar o mínimo senso de ética profissional. Tal foi  o caso de um tal de  Pós-doutor Camilo de não sei das contas.

        Procurou me desqualificar   esse mentecapto  de Letras Falidas e Hipotecadas do invólucro  de conhecidos feudos universitários  desalojados de humanidade (máxime da vocação para as  Letras, campo da sensibilidade exigida pela própria condição de servidor das Letras)   e de respeito aos pares  que não se alinham às suas  preferências  e gostos   literatoides e teoricatras. Vade retro,  capadócio da contraliteratura  e dos sentimentos invertidos e avessos  do seu caráter   crapuloso de  docente do ensino superior   de um anônimo campus universitário dos rincões  baianos possa  exibir  

        A esse tipo de cafajestismo de “qualificado” professor de universidade pública, o meu repúdio  veemente e a minha  consciente constatação  de que não passa de um  mestre-escola de fancaria,  um mero copiador de  papel carbono  do mais abastardado  valor  moral e ético.

       O pior é  que um energúmeno desses anda praticando desmandos no domínio da Literatura e da Linguagem. Indivíduos desta laia somente merecem  o desprezo  e  os açoites devidos ao mau-caratismo do qual esse pulha perfila um paradigma de desrespeito  à sua própria classe. Diria dele como faria esse guru da alma humana, o chamado Bruxo do Cosme Velho, através da boca de um dos seus personagens: ”Que a terra lhe seja leve.”

           Depois dessa digressão que não podia silenciar, volto ao centro semântico  deste artigo. É preciso diferenciar  o comentário de um usuário-escritor de um artigo  por ele  escrito no   espaço de um  jornal,   revista,  livro.  O primeiro expressa apenas um reação intelectiva  espontânea, mas quase sempre  pouco densa;  o segundo,  é uma escrita de caso pensado, um vontade  de desenvolver com mais fundamento um determinado tema que necessite  de mais elevado   tratamento de linguagem e da maneira de aproximação do tema a ser abordado.  O comentário usualmente é feito  com menos rigor, mormente por ser  fruto da impulsividade de,  num átimo,  ser alinhavado no espaço vertiginoso   da página do Facebook. 

          Por outro lado, no tipo de escrita como é o comentário  feiciano, da mesma forma não se pode negligenciar certos princípios básicos de redação: correção gramatical (ortografia,  concordância, uso da crase, regência,   pontuação,  uso do hífen etc.),   cuidados com  a coesão e a coerência  textuais e, finalmente, revisar o que ficou  impresso antes  de clicar o “enter.”

          No artigo, o usuário da língua, ao se dispor  a escrever acerca  de um assunto relativo  à natureza de seu texto, deve observar com extremo cuidado  o seu repertório  de conhecimentos, a consulta  a fontes, a verificação  dos dados referenciais, o seu   estilo  de escrita, a contribuição pessoal  a ser incorporada  ao texto e uma maneira toda particular de captar a atenção do leitor e seduzi-lo a dar continuidade à leitura do seu texto.

         Portanto,  no comentário, a ênfase dever ser posta na página  virtual com elegância, apreço a quem se dirige o seu comentário, sem o vezo de sofomania tão  encontradiço   nas pessoas  pernósticas. Mais: respeito  à inteligência  alheia, sem o recurso abominável  de uma mente estiolada pela  ausência  de  ética  e de acato ao  pensamento alheio dissonante. Uma  outra boa dica ao usuário do Facebook: ao ser atacado verbalmente  por um conhecido ou  estranho, o primeiro passo deve ser o do bloqueio do intrigante e a sua eliminação  sumária  da lista  de amigos ou conhecidos.

      Essas ponderações que estou  fazendo aqui nasceram de experiências desastrosas por não haver selecionado  com critério as pessoas  que me  permiti serem  arroladas à minha  lista de amigos feicianos.Por não ter eu me acautelado a fazer essa seleção, por algumas vezes  me tornei vítima de maus usuários ou até mesmo   por usuários  que julguei serem  meus amigos. Com uns pouco encetei breves polêmicas que reusltaram no  aumento de desafetos que venho infelizmente   colhendo, até de conhecidos ou daqueles que se rotulavam meus amigos. Só com o sofrimento e a experiência, passamos a separar  cautelosamente o joio do trigo.

      Para finalizar este texto, eu diria que preferencialmente me sinto mais à vontade quando  escrevo meus artigos ou outros  tipos de textos improvisados inerentes ao comentário – uma espécie de composição escrita sob   o   calor da discussão desencadeada por um  primeira e ligeira leitura, ao contrário  do artigo, deliberadamente  amadurecido  e mais alicerçado  nas ideias  expendidas.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

COMENTÁRIO-REFLEXÃO SOBRE ESQUERDISMO E DIREITISMO NO BRASIL E NO MUNDO

                                                                                     CUNHA E SILVA FILHO
           Meus estimado amigo, V. afirmou tudo de forma clara e convincente, até ricamente fundamentado nas duas principais vertentes político-ideológicas, ambas nocivas à continuação da espécie humana: a Direita fascista e a Esquerda cavilosa e assassina (basta, entre outros, o exemplo do stalinismo). 
        Tudo bem: quero registrar aqui o meu sentimento de profunda aversão e repúdio à direta - cancro sanguinolento do fazer histórico pela supressão de vidas. Entretanto, não podemos esquecer de que a esquerda, ou melhor, a práxis do comunismo ( não os princípios do marxismo autêntico) não fica atrás na sua selvageria e no seu repugnante modus operandi de governar os povos, a começar dando apoio bélico a países cujos autocratas têm perpetrado os mais infames assassínios da contemporaneidade. 
       Haja vista o emblemático apoio bélico dado pela Rússia ao genocida Bashar Al-Assad. Outra coisa a considerar: tanto a direita perversa e covarde quanto a esquerda abolem aquilo que é mais caro ao espírito dos homens : o amordaçamento do livre pensamento. 
        Só isto é suficiente para abalar qualquer tentativa de viver humanamente, quer dizer, sem ter liberdade de ir e vir, sem ter liberdade de pensar, de escrever, de divergir etc. Independência e pensamento dialético seriam impossíveis à bem-aventurança na sociedade humana. 
        Se o Brasil fosse governado discricionariamente, ou por regimes de força, como foi na ditadura militar-civil de 1964 a 1985 e em outros tempos sombrios da ditadura varguista (Estado Novo), por exemplo, não estaríamos aqui com liberdade de falar, escrever, opinar, contraditar, argumentar, xingar mandatários, juízes, instituições governamentais etc. como, repito, estamos fazendo agora., pois a censura desses governos de exceção nos obstaria a tudo isso e ainda nos mandaria para a masmorra, ou mesmo para o pelotão de fuzilamento, esquadrões da morte, ou outras práticas hediondas de ceifar sem julgamentos e conformidades legais, vidas e esperanças de felicidade. 
       Estes são, entre outros a que aqui não desejo me estender, os motivos mais candentes para que eu abomine tanto o Fascismo quanto o Comunismo. Forte abraço do amigo Francisco da Cunha ( Cunha e Silva Filho)


sábado, 10 de novembro de 2018

A difícil condição do professor brasileiro do ensino público fundamental e médio: um depoimento e uma reflexão


                                                         CUNHA E SILVA FILHO


       Eu trabalhei no magistério estadual como professor concursado de provas e títulos durante um bom tempo. No entanto, durante todo o período em que lecionei, vendo tantas greves inúteis, cheguei à conclusão de que jamais o professor brasileiro do ensino fundamental e médio, no setor público, seria valorizado pela sociedade, mormente com salário compatível com a alta função de ensinar. Tal não aconteceu.
     Tive que pedir demissão do ensino público (estadual). Procurei, na mesma atividade, outros caminhos, e tudo mudou para melhor, ainda que não seja essas mil maravilhas. Por outro lado, o que desejo salientar é   outro fato que, a meu ver, é  relevante.
      Desde os meados dos anos 1970, em jornais no Piauí, ainda muito moço, escrevi muitos artigos sobre a questão salarial e sobre a deplorável condição de desvalorização dos docentes públicos, não do ensino superior federal ou estadual, que sempre foi muito melhor do que no ensino público, fundamental e médio.
      Além disso, urge fazer uma distinção básica: há o ensino particular de qualidade no setor privado, formado dos grandes colégios ou escolas de elite  nos diversos estados brasileiros, ou pelo menos, em alguns e o ensino privado de  baixa ou baixíssima  qualidade na mesma situação.
Portanto, que as pessoas não misturem as duas situações falando da qualidade do ensino fundamental e médio federal e privado, com se este último apenas fosse de alta qualidade.
O mesmo vale para o ensino fundamental municipal e privado no tocante à qualidade. Em síntese, as escolas do ensino fundamental dos pobres, as que são administradas pelas prefeituras e as escolas nesse mesmo nível de ensino da elite.
      Há que considerar ainda as escolas dos níveis fundamental e médio federais que são de alta qualidade, como o Colégio Militar do Rio de Janeiro, estas também localizadas em alguns estados da Federação, o Colégio Pedro II, as Escolas Técnicas federais,  algumas Fundações de ensino militar e , alguns colégios mantidos pela Polícia Militar.
     O sucateamento do ensino fundamental e médio, estadual ou municipal, remonta há longos anos, diria, a grosso modo, desde o período da Ditadura Militar-Civil quando os governadores eram nomeados pelo governo federal, os chamados biônicos. Desde então, nunca houve um melhoria efetiva salarial e de valorização da atividade docente. Na realidade, nunca os governantes brasileiros deram a devida atenção aos professores do ensino público, mesmo no ensino universitário.
      Sempre os professores tiveram que se desdobrar  em três, quatro ou até cinco empregos (escolas, faculdades). Hoje, nos casos assinalados neste comentário, e nas situações consideradas linhas atrás, pouco ou nada melhorou e, ao contrário, piorou, porque, a par de não serem reconhecidos socialmente, os professores ainda enfrentam a extrema violência nas escolas por parte de alunos delinquentes ou em face de condições adversas e aviltantes de trabalho perto de comunidades violentas, como, sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo,  e seguramente em outros estados do país.
     Gostaria de ligeiramente levantar uma questão muito diretamente ligada ao professorado: os governos sabem bem que, em muitos casos, a atividade docente é exercida por mulheres, principalmente no ensino fundamental e médio.
    Ora, grande parte das professoras tem seus maridos, muitas vezes bem empregados, ou até gente endinheirada. Eu mesmo conheci muitos casos assim. Ora, sabedor disso, os governantes, que são bem malandros, pensam: para que pagar bem as professoras que têm maridos (claro, nem todas) bem postos economicamente na vida?

    E, assim, durante décadas, os governantes de plantão vêm desprestigiando uma das profissões mais sublimes e vitais da Humanidade.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

PENDOTIBA É UMA PASÁRGADA


Cunha e Silva Filho
         
        Esta crônica não tem a pretensão de ser fiel aos dados que por ventura aqui nomeio, mas que existe a cidade existe. Num reportagem da Bandeirante (?) sobre lugares agradáveis de se viver. Pendotiba é um delas.
        Para quem deseja a paz, a tranquilidade, a segurança, o deixar aberta a porta de entrada de sua casa, a população pequena. Pendotiba é o recanto certo e liquído. Tudo nela é paz, sossego, vida simples, lugar onde todos se conhecem uns aos outros. Cidade na qual conversas entre moradores se prolongam por horas a fio. Ninguém nela tem pressa. Todos ali querem apenas viver sem embaraços sem sobressaltos, sem correrias. Uma vida simplória, sem grandes desejos, sem grandes aspirações. Vida do homem despojado e confiante apenas no bem-estar desse lugar
        Sempre eu fui um sujeito urbano, O campo, embora o sinta agradável e sadio. me é quase desconhecido. Um ex-amigo muito inteligente uma vez me falou que jamais deixaria o Rio de Janeiro com todos os seus graves problemas, por outra cidade do país. quer da área rural, da roça, no campo, do interior ou como antigamente se gostava de anglofilamente afirmar, da “hinterland”.
       Não, ele é um inveterado urbanófilo, alguém que ama a alegria da cidade grande, dos barulhos, das sirenes, dos tumultos, dos engarrafamentos, da poluição, da vida noturna feérica, de tudo que constitui o canto de sereia das metrópoles ou megalópoles.
      O campo, para ele, seria o final do caminho, triste e cinzento. Sua disposição seria, portanto, para enfrentar os embates múltiplos da vida urbana. Do que ele, se não me falha o pensamento, chamava de “loucura urbana.”
       Pindotiba, ao contrário, seria a morte em vida para esse ex-amigo. Não tanto para mim que, de quando em vez, gosto de espairecer num lugar afastado da trepidação e da multidão urbana, visto que amo os lugares em que todo mundo se conhece praticamente, onde ainda se vê alguém com um sorrio estampado no rosto prodigalizando-nos, de manhã, ao passar pela gente, com um simpático “bom dia.”
      Na grande cidade, esse gesto seria interpretado como uma saudação de alguém com um parafuso a menos. Ora, é exatamente essa humanidade à moda antiga e demodé de trato social que me delicia e me deixa inebriado e ainda confiante no ser ser humano .Nem tudo está perdido, falo com os meus botões ao receber de um desconhecido um cumprimento desses. Isso seria o bastante para ganhar o meu dia naquela cidadezinha perdida e acolhedora.
     A impressão forte que tenho é que a grande cidade se me afigura como se, de repente, eu estivesse no estrangeiro, como se falassem em uma outra língua ainda que a dominasse. É tudo tão mecânico, tão formal, tão impessoal, tão longe do coração e tão perto do cerebral, da lógica, do racional, que me sinto amiúde um estranho dentro do meu próprio país e da cidade que elegi como residência há tantos anos.
     Passamos a pé em dias seguidos pelos mesmos lugares e, nas calçadas, vemos outras pessoas jamais vistas e que igualmente jamais talvez vejamos em nossas vidas. Ah, como tem ser humano na Terra, ou melhor, numa cidade grande, afluente! Na Pindotiba, volto a enfatizar, nada disso acontece.
     A vida dos transeuntes é um livro aberto, uma voz única, um aceno de amor e de compartilhamento entre pessoas simples, um lugar único, uma experiência não malograda, repetida à exaustão entre pessoas que se conhecem, se respeitam e se admiram. A anomia é algo fora de cogitação nessas pindotibas da vida. Na grande urbe, não, impera a indiferença, o olhar carrancudo dos homens que passam por nós. Quem quer lá saber de quem passe por nós!
       Pindotiba é uma Pasárgada para mim. É lá que terei a mulher que quero na cama que escolherei. Lá sou amigo do rei. Vou-me embora pra Pindotiba. Aqui não ficarei. Vou-me embora pra Pasárgada, lá encontrarei a filha que nunca tive na terra de Pindotiba. Vou-me embora, sim, pra lá. Talvez lá cante o sabiá.
Rio de Janeiro, 08 de novembro de 2018.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

DIA DE FINADOS: UMA SIMPLES HOMENAGEM




                                                                                                 CUNHA E SILVA FILHO

       Neste Dia de Finados não almejo ser nada, mas apenas ser um amigo, um simples amigo com uma palavra amiga, uma palavra amiga, algo tristonha e elegíaca contra a minha vontade. Por que tristonha? Porque a data no Calendário do Ano leva à relembrança, não de mortos, mas de vivos, de vivos dentro do nosso maravilhoso mundo interior, no qual guardamos, livre da hipocrisia e das refregas terrenas, o nosso lado mais afetuosamente rememorativo.

Salve 2 de Novembro! Salve! Não porque desejássemos este Dia, mas porque nele estamos em geral imbuídos dos nossos mais caros e entranhados sentimentos de Homenagem a todos aqueles que nos deixaram um dia a fim de se eternizarem.

Manuel Bandeira (1886-1968), esse vate lírico da humildade dos sentimentos e das emoções líricas, chamava ao Dia dessa Passagem de "a indesejada das gentes." Sim, porque para nós ocidentais, a ausência, o passamento de um ente querido torna-se doloroso, insuportável, porém, com o fluir dos dias e anos, vai-se transformando num consolo suportável malgrado carregado das marcas das lágrimas que, de quando em quando, despontam no recôndito de nosso universo interior.


Assim, tudo se vai ajustando: a dor aguda da perda e o tempo que a vai amenizando até chegar a uma lembrança inteiramente situada num recanto de nossa memória mais enternecida e mais acalentadora, um silêncio amoroso, acalentado e eloquente a um só tempo porque a finitude se cruza com a eternidade numa linha do horizonte de um Grande Encontro algum dia do futuro. 
Para concluir essas reflexões de tributo aos nossos entes queridos que já se libertaram da matéria da vida, quero invocar esse linha de verso do maior poeta do Piauí:

EU VIM AO MUNDO PARA TER SAUDADE."
DA COSTA E SILVA (1885-1950).

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

A AMIZADE: BREVÍSSIMA REFLEXÃO





                                                                                      CUNHA E SILVA FILHO

           


          NA QUESTÃO DA "AMIZADE" - UM TEMA SEMPRE CARO ÀS MINHAS ELUCUBRAÇÕES SOLITÁRIAS -, EU ME PERGUNTO COMO É EVASIVO O SENTIDO QUE A PALAVARA "AMIGO" TEM ENTRE INÚMERAS VARIAÇÕES SEMÂNTICAS IRRADIADAS POR ESSA PALAVRA.

           AFINAL, O QUE VEM A SER MESMO UM AMIGO OU UMA AMIGA? QUANTOS ANOS, MESES, HORAS, MINUTOS E SEGUNDOS TEM UMA AMIZADE? MEU DEUS, ME AMEDRONTAM TANTAS DÚVIDAS SOBRE AS ACEPÇÕES QUE O TERMO PODE INVOCAR CONTRADITORIAMENTE AO QUE DEVERIA SER O LÍDIMO, PRMIITIVO SENTIDO DO TERMO, OU SEJA, O SEU SIGNIFICADO PLENO, UNITÁRIO, VERDADEIRO, FRANCO, CRISTALINO, ABISSAL, METAFÍSICO, SEI LÁ?

        O CERTO É QUE NÃO QUERO A AMIZADE BANAL, CERIMONIOSA, CONVENCIONAL, FORMAL, VOLÁTIL, EFÊMERA, CLICHERIZADA, ESVAZIADA, CIRCUNSTANCIAL, INSTANTÂNEA, EM QUE A PALAVRA "AMIZADE" POSSA FAZER PARTE DA
COMUNICAÇÃO SOCIAL E AFETIVA.
          
       SÓ SEI QUE HÁ TEMPOS ANDO PROCURANDO A AMIZADE COM AQUELA MESMA LANTERNA QUE OUSEI PEDIR EMPRESTADO, NO TEMPO E NO ESPAÇO, A DIÓGENES, EM PLENA LUZ DO DIA, ATRÁS DE UM HOMEM DE BEM.