domingo, 7 de agosto de 2011

Sobre lançamentos de livros

Cunha e Silva Filho



Os lançamentos de livros, muitas vezes, em vez dos eventos que misturam marketing, mídia e autoria, consagrada ou não, se transformam em histórias constrangedoras, tristes e até como provas de que as pessoas não dão, em alguns casos, lições de educação, solidariedade e civilidade.
O caminho é este: a editora manda confeccionar e distribuir os convites do lançamento às pessoas indicadas para o evento e, no dia, aprazado da gloriosa “noite de autógrafos”, digamos, de cem convidados, só aparecem 10, gatos pingados.Um senhor comparecimento...
O evento se mostra ainda mais decepcionante quando, no convite, consta a informação de que aos presentes se oferecerá um coquetel. Com isso, o editor e o autor, com frequência, se previnem dos contratempos, ou seja, ao proporcionarem um coquetel, com garçons e tudo, isso constitui um chamariz ou atração para as supostas presenças dos convidados.
Porém, pode-se contar com mais um agravante: ainda que o lançamento venha acompanhado do mencionado coquetel, mesmo assim pode haver fracassos de ausências e, portanto, de baixa ou quase nula vendagem. Neste caso, não há Deus que venha acudir os desapontamentos e reparar os estragos com os custos do evento: bufê, garçons e aluguel do espaço.
Soube de um caso de uma colunista famosa que, ao lançar um livro, somente compareceram ao local do evento oito pessoas. E olhe que a colunista mantém há longo tempo uma coluna em jornal de grande circulação e de âmbito nacional. Por conseguinte, é difícil prever se um lançamento vai dar certo ou errado. Nunca se sabe. A história de lançamentos de livros guarda muitos segredos que só os deuses saberiam revelar...
Chegou-me ao conhecimento que de uma outra feita um conhecido professor universitário da área de direito lançou uma obra e, no dia do evento, não apareceu ninguém, nem mesmo a esposa deu o ar de sua graça. Que vexame para o ser humano, quanta falta de humanidade e de respeito às pessoas!
Por outro lado, quantas mediocridades, por estarem associadas à mídia e aos círculos diversos das pessoas ditas “famosas”, as hoje em dia chamadas de “celebridades,” publicam livros aos montões (muitas vezes até escritos por ghost-writers) e os vendem como água. Pelo menos, na “noite de autógrafos” elas fazem a festa dos editores e autores sorridentes ao verem as filas quilométricas à espera dos autógrafos.
Oh, mundo burguês feito de pó de arroz, de anéis de brilhantes e colares de ouro, não sabeis o quanto me provocais risos rabelaisianos ante vossas superficialidades, hipocrisias, convenções e conversas regadas a futilidades sobre assuntos de que não entendeis patavina, ou sobre temas que me deixam enjoado de tanta sensaboria e idiotice, sobretudo envolvendo insípidos diálogos sobre consumo ditado pelas modas e que fazem as delícias do mercado e a riqueza dos empresários.Como me cansam vossas “adiposidades cerebrais” (Mário de Andrade (1893-1945), “Ode ao burguês) de pensamentos vazios e comportamentos padronizados, de vossos sentimentos afetivos azeitonados de interesses econômicos nos relacionamentos entre o homem e a mulher, ou entre adolescentes frívolos e robotizados que, passando por nós, com olhos distantes parecem não serem mais do que corpos sem alma.
Como são apropriados alguns contos de João Antônio (1937-1996) que, pelo voz do narrador, ilustram tão bem a vida besta e rasa de certa classe média (para aquele o escritor, classe mérdea) em que a obtusidade de situações do cotidiano nos é mostrada sempre com ironia e sarcasmo e que já aparecem neste primor de narrativa que é o conto “Tatiana pequena”(do livro Abraçado ao meu rancor). Mesmo na obra--prima Malagueta, Perus e Bacanaço (1963) já dava sinais de que esse estrato social mais elevado estava na mira de sua crítica como mais uma temática central de sua ficção ao aludir a bairros e gente da alta classe social brasileira da cidade de São Paulo.
Retomo o fio quebrado pela digressão, e volto a falar de lançamentos de livros como evento em si, nos quais se vende muito no dia marcado, mas, quando o livro passa à distribuição nacional e vai para as livrarias e shoppings, não acontece o esperado sucesso de venda. Dá-se o que se chama de encalhe O escritor Armando Nogueira (1927-2010) em suas vendas de livros de crônicas, numa entrevista na TV, se definira como um campeão do encalhe.
Diante de tantas circunstâncias cercando o sucesso ou o fracasso de vendagem, escritores há que agem idiossincraticamente: 1) Publicam suas obras, mas sem os alardes e holofotes das “noites de autógrafos”. Acredito que neste grupo estão Dalton Trevisan e Rubem Fonseca, entre outros, que fogem às badalações midiáticas. Ao publicarem um livro novo, este vai logo para as prateleiras das livrarias;
2) Outros editam seus livros e realizam lançamentos limitados a, por exemplo, academias, sindicatos, associações culturais, momentos em que, como é hábito nesses meios, seus livros são apresentados a públicos convidados com solenidades e ainda uma apresentação do autor discorrendo sobre aspectos relevantes da obra lançada;
3) Ainda há outro caso, aquele no qual o autor publica uma reduzida edição de livros e os distribuem a amigos, bibliotecas ou outras instituições culturais. Até podem aproveitar e convidar amigos mais chegados e realizar um lançamento em espaços de livrarias com a despesa toda por conta do autor. O que sobra de livros, coloca, quando lhe é permitido, alguns volumes em consignação em livrarias.
Assim como existem decepções por falta do comparecimento de convidados a lançamentos, há também desapontamentos com respeito a convidados a palestras previamente programadas em academias ou outras agremiações culturais. O comparecimento pingado de convidados cria sérios constrangimentos aos organizadores ou coordenadores de palestras e arrasa com o “ego” do palestrante. É maldade pura, só perdoada se um convidado faltar por um motivo inadiável. Compromissos são compromissos. A única saída é rezar para que convidados de boa vontade estejam presentes aos eventos. Todavia, não há como lutar contra algumas práticas e usos deseducados e deselegantes.

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