quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Kaddaffi nos estertores



Cunha e Silva Filho


Nunca concordei com as posições políticas de Bush pai, mas me recordo de uma afirmação que dele ouvi pela TV que tem lá um dose de visão política positiva pelo menos no seu conceito de reprovação a países que ainda mantêm governos ditatoriais: “A era das ditaduras já passou!.” Fora uma afirmação do presidente Bush pai. Bush referia-se, naquela época, à queda da ditadura de Stroessner, no Paraguai.
O tema da ditadura tinha sido então me rendido uma breve crônica “Meditações sobre a ditadura,” que se encontra no meu livro As ideias no tempo (Gráfica do Senado/Academia Piauiense de Letras, 2010, p. 238-239) em que deblatero as ignomínias causadas por qualquer regime de força que se implante no mundo. E observe-se que o nosso planeta ainda vivia e tinha inúmeros “modelos” de ditaduras em vigor, muitas das quais intocáveis pelas nações civilizadas que lideravam a política no Ocidente e no Oriente e, portanto, tinham muito forte influência ou interesses econômico e geopolítico pelos regimes de força que elas mesmas contraditoriamente reprovavam, como seriam um exemplo típico os EUA.
O que, em verdade, se pode ressaltar como ganho político a esta altura do início da segunda década do terceiro milênio é o quadro da realidade da chamada “Revolução Árabe”, ou também “Primavera Árabe” compreendendo o período entre 2010 e 2010, seguramente um ciclo de transformações que já está sinalizando para significativas mudanças de rumos nos destinos da sociedade civil ou em gestação de ser assim denominada. Por isso, agora de forma mais distanciada, já é possível ter-se a perspectiva de novos governos que, através de grupos rebeldes de oposição a regimes autoritários há décadas implantadas em terras árabes, os casos do Egito, da Síria, da Tunísia, e do da Líbia, entre outros.
Analistas políticos já acentuaram ter sido esse fenômeno de explosão de rebeldia uma reação mais do que natural do que já se podia esperar, diante da ultrapassagem da indignação humana na consciência lúcida desses povos. Os protestos aguerridos, seguidos da luta armada de guerrilheiros, de grupos de oposição ao regime dos tiranos, se manifestaram num crescendo de fúria e indignação onde os céus árabe ou africano não seriam o obstáculo único e solitário, porquanto eles estariam transpondo outros paradigmas de vida e de respeito à vontade própria de cada pessoa.
O insulamento do mundo árabe não ficaria mais para as calendas das gregas. O mundo globalizou-se para o bem ou para o mal e, se ao bem tocasse a parte mais libertadora, as ideias de nações democráticas forçosamente entrariam em circuito pelo mundo afora, sobretudo com a maciça propagação das redes sociais. Ideais de justiça social, de conquistas de direitos e de capacidade de poder contestar livremente, sem as peias das tiranias, começaram a vicejar em países muçulmanos. Os direitos à vida, ao trabalho, à vontade própria, à escolha de seus representantes nos governos, ao voto democrático seriam verdadeiros ímãs atraindo povos de formações diversas, de costumes díspares e de consciência política distante do conceito de democracia haurido nas fontes gregas da Atenas Clássica.
Kaddaffi está sendo procurado. Seu fim chegou. “Não há mal que dure sempre.” O fim dos déspotas parece significar a moira das tragédias gregas, ou o fatum (destino) dos romanos. .Todos os ditadores, por se parecerem tanto, ainda têm a condição do rebaixamento, que é o riso da comédia, ou melhor, da farsa. Farsantes, como todos, terminam seus dias no esquecimento, ou punidos exemplarmente pelos homens com a perda da vida pontuada que foi pelo desrespeito à dignidade do ser humano. A tragédia, infelizmente, nestas histórias de facínoras do poder discricionário, não está ainda encerrada. Faltam alguns personagens. Adivinhem quem será o próximo?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um poema de Louis Mercier (1870-1951)



Chez nous

Septembre. La journée est transparente et pure.
L’automne semble um beau souvenir de l’été,
Et ne menace pas encor les feuilles mûres.

Le ciel est une coupe immense de claret.
Le visage sacré de la terre respire
La paix, la plenitude et la fécundité.

Lês vignobles, hereux dans le fleuve, se mirent,
Sous l’eau calme, chargés du don des pampers lourds,
Les coteaux inclinés se regardent sourire.

Autour de son clocher, lá haut, sommeille un bourg:
La chaleur, sur les toits, vibre et se reverbère,
Et l’on entend chanter les poules dans les cours.

Pas une âme dehors. C’est la saison prospère
Où sans qu’il soit aidé par le travail humain
Seul dans les champs deserts, le grand soleil opère
Le miracle éternel que nos donne le vin.

Em casa

Setembro. Translúcido e puro é o dia.
Parece o outono do verão uma bela lembrança
Que não ameaça ainda maduras folhas.

O céu, imensa e límpida taça
Respira da terra o sagrado rosto
A paz, a plenitude e a fecundidade.

Felizes, os vinhedos no rio se refletem,
Sob a água calma, carregados da dádiva dos pesados pâmpanos,
Inclinadas em sorrisos se abrem as encostas.

Lá no alto, em volta do campanário, dormita uma vila:
O calor, por sobre os telhados, vibra e reverbera,
E, aí, se ouve nos pátios, das galinhas o canto.

Lá fora, nenhuma vivalma. Estação por excelência
Na qual, sem mesmo do humano trabalho o cuidado,
Sozinho, nos ermos campos, realiza o grande sol
O eterno milagre que nos dá o vinho.

(Trad. de Cunha e Silva Filho)

domingo, 21 de agosto de 2011

Pedro, um brasileiro


Cunha e Silva Filho


No caldeirão geral e estonteante que são as imagens e assuntos da TV, há uns dois ou três dias me surpreendi com uma reportagem que me levou até as lágrimas: o calvário de Pedro. Mecânico de profissão, da Baixada Fluminense, mulato, não velho nem moço, ganhando uns seiscentos reais mensais. Surgia na tela, durante a matéria da reportagem, com um livro que deve/devia ser lido por todo brasileiro alfabetizado, ou não o sendo, para vergonha de uma nação, que possa ouvir de alguém ler algumas partes cruciais em que a Constituição Federal do Brasil em vigor proclama como obrigações impostergáveis do Estado brasileiro nos trechos em que fala de proteção a todos que nascem nesta pátria . É no ponto em que o mecânico lê, de vive voz, o que o país oficial deveria fazer em benefício de seus cidadão que o tom dramático atinge um clímax, ou seja, quando tudo que lê teoricamente, na prática, não se obedece da parte do próprio governo federal. É letra morta, lei que não pega, que não deu certo na sua inteireza e na universalidade. Ou nas palavras incisivas e indignadas do mecânico,: “ Tudo isso que leio na Constituição não passa de hipocrisia da Carta Magna!”
Pedro se queixa de um problema muito grave. Ele está sofrendo de má circulação numa das pernas que já dá sinais de chagas com a possibilidade de entrar em estado de gangrena. Não foi por descaso que chegou a esse lamentável estado de saúde. Foi por desídia do sistema de saúde publica do Rio de Janeiro, diria, tanto do estado quanto do município. Foi mais ainda, foi por zelo estúpido da burocracia, da falta de empenho até de funcionários subalternos, quando, em cada hospital, sua pretensão lhe era sempre vedada, alegando-se que ali não se podia realizar tal tratamento, que fosse para um posto na Pavuna, bairro carioca, e lá obtivesse o pedido oficial, carimbado, timbrado, assinado e o escambau!
Pedro obedecia. Pacientemente, trazia de novo ao hospital, o documento de encaminhamento para internação ou tratamento ambulatorial. Hospital, em Ipanema, por sinal, de referência que, da mesma forma que tantos outros, por ele percorridos em vários bairros, da Zona da Baixada, passando pelos subúrbios, Zona Norte até a Zona Sul, não lhe deu atenção, alegando uma funcionária que o seu caso não configurava tratamento de alta complexidade, especialidade central dessa instituição de saúde. Pedro foi, assim humilhado - numa das vezes, bateram-lhe com a porta na cara! - na sua a dignidade de homem, de ser humano, de brasileiro, de eleitor, de cidadão.
Este último hospital ainda lhe dissera que o seu encaminhamento não valia nada, pois era um simples papel sem timbre, quer dizer, colocou, ademais, sob suspeita o doente, pois, para qualquer leigo na área, Pedro, o mecânico, um brasileiro pobre e sacrificado, relata que peregrinou desde o posto de saúde do seu bairro, procurando um encaminhamento médico para fazer o tratamento da má circulação em algum hospital público do Rio de Janeiro e tudo que conseguira até o momento da reportagem fora debalde. Marcava-se num hospital uma data para o início do tratamento e, no dia combinado, nada de concreto acontecia.
Em resumo, o caso aflitivo de um brasileiro que não goza da proteção do governo num dos seus deveres vitais: o direito a ter saúde e, portanto, o direito à vida.
O calvário de Pedro não é mais do que o símbolo malfezejo de um país que, até hoje, tem transformado suas obrigações para com o cidadão em casos de polícia. Isso, sim pode se definir como discriminação, exclusão, desrespeito e descaso com o povo brasileiro.
Quando o Presidente, o Vice-Presidente, ministros, congressistas, ou outras autoridades do Planalto adoecem, a história é outra: baixam logo aos hospitais de primeiro mundo, quando não, são imediatamente transferidos para grandes hospitais de países adiantados, em geral os EUA.
Por isso, tenho lá minhas dúvidas quanto a Encontros de ex- isso, ex- aquilo para fins de debelar a pobreza no país, quando para isso são necessárias mudanças estruturais complexas que envolvem divisão de riquezas de ricos para miseráveis. Mudanças que não se sustentam com discursos ou promessas de cúpulas formadas das elites dos setores econômico-financeiros e da política nacional, sobretudo agora, no terceiro período em que o PT tem as rédeas do governo e não está nada confortável com os numerosas escândalos surgidos no seio do seu próprio espaço partidário ou em coligações com as famigeradas bases aliadas desde quando assumiram o poder
Diante de uma nação que está afundada em graves crises setoriais, educação, saúde, extrema violência, segurança, agravadas pelo fantasma da impunidade, que parece não querer chegar a um fim, seria ingenuidade pensar-se que tais belos objetivos propalados por diferenças político-ideológicas, serão de fato colimados. Seria possível que, da noite para o dia, um país amanhecesse com suas elites acostumadas às imperiais regalias se transformando em salvadores dos seus próprios erros e desmandos? Seria muito ingênuo se nisso acreditasse.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ações tímidas contra as ditaduras





Cunha e Silva Filho


Causa espécie que grupos rebeldes e civis de países árabes, Líbia e Síria, por exemplo, estejam ainda lutando contra sangrentas ditaduras dizimando, indiferentemente, populações civis indefesas sem que potências democráticas como os EUA e países europeus, através de seus organismos internacionais (ONU, OTAN) usem meios mais drásticos para livrarem aqueles países de regimes despóticos que estão cometendo toda sorte de violências sem termo.
É impensável que essa situação se prolongue por mais tempo, uma vez que, quanto mais ações efetivas forem postergadas, mais crescerá o número de mortos, o que caracterizará um quadro real de genocídio, ou seja, de crimes contra a humanidade, cujos responsáveis terão que enfrentar julgamentos nos tribunais internacionais.
Não entendo por que, até agora, têm sido tímidas as represálias de nações civilizadas contra os citados ditadores. Será porque não desejam perder benefícios diretos de ordem econômica que impeçam medidas militares estrangeiras em consonância com as forças rebeldes ? Países-membros da ONU já não reconheceram as forças rebeldes como legítimos interlocutores e, portanto, facções que bem poderiam substituir interinamente os ditadores até que um governo livre e democrático possa organizar e realizar eleições livres?
O que não pode permanecer é esse estado de derramamento de sangue, estado de desordem e esfacelamento das estruturas básicas da sociedade.
Os ditadores Kadafi e Bassar AL-Assad não têm mais legitimidade junto à sociedade civil e à comunidade internacional. Ambos já deram suficientes exemplos de serem inimigos de seu povo. São criminosos e não podem dirigir os destinos político-administrativos de suas nações. Neste sentido, é que se faz urgente a intervenção bélica de contingentes armados sob a responsabilidades dos organismos internacionais de que dispomos.
Com explicar que forças internacionais estejam combatendo no Afeganistão contra os guerrilheiros talibãs, ou facções terroristas como a Al Qaeda? Os Estados Unidos não estão ainda baseados no Afeganistão com outros forças internacionais?
A humanidade está cansada e indignada de ver na TV, de ler nos jornais, nas revistas e na Internet matanças de inocentes, explosões de construções, prédios, patrimônios e residências nas cidades líbias e sírias.
Tais cenas de matanças e de horror, de tanto serem repetidas pelos diversos meios de comunicação, em diferentes lugares e situações desse países árabes, parecem estar se naturalizando, banalizando-se, entorpecendo os sentimentos de solidariedade entre as pessoas, sobretudo neste mundo globalizado bombardeado de notícias das quais o homem moderno não consegue infelizmente se libertar a fim de, por um momento, poder meditar sobre o sofrimento alheio de homens em guerra lutando para defender e preservar o seu mais precioso valor: a vida. Todos os países devem se ajudar, apoiando os indefesos contra governos tirânicos, no combate à fome, nos problemas financeiros.
São essas ações que dignificam os homens e deles fazem criaturas realmente grandiosas. Como diria o genial Chaplin (1889-1977): “Não sois máquinas! Sois homens”.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O presente


Cunha e Silva Filho

Para Cunha e Silva, centésimo sexto ano de seu nascimento


O leitor nem imagina o quanto comove a alguém que do próprio pai recebe um presente diferente. Diferente porque nada tem a ver com um objeto concreto de valor, um presente que não é uma camisa nova, um par de sapatos, um terno, um relógio nem outros tantos itens que deixam alguém bem contente por algum tempo. O presente que ganhei há quarenta e sete anos ninguém esquece nunca, pois já se tornou parte espiritual da minha vida. Ele não veio de uma fábrica, de uma indústria nem do balcão de uma loja elegante e sofisticada, dessas que deliciam os empedernidos consumistas de hoje.
O meu presente é atemporal, situa-se na esfera das estrelas e nos planos mais elevados da espiritualidade. Não é feito de matéria-prima, não tem etiqueta, nem foi posto em anúncio de alguma revista vistosa e de impressão impecável, como são estas belas publicações cheias de publicidades e apelos em formas de lindas mulheres com olhares sensuais, e que trazem entrevistas de pessoas famosas do momento.
Meu presente é de outra ordem. Feitos de palavras bem escolhidas e brotadas do fundo do coração. Fez-se de ritmos, de melodias , de musicalidade. Sua intenção, antes de ser estética, é a de exprimir sentimentos ternos, carinhosos, que combinam saudades, lágrimas e esperanças de mistura com uma alguma incerteza do futuro. Também a ele não faltam rimas que em parte ajudam a dar maior cadência ao todo harmonioso.
Presente feito em gênero antigo, de limitados versos. Seu tema gira em torno da partida de alguém que vai para longes terras e para trás deixa os entes que mais preza, bem como outras lembranças: seus pais, irmãos, irmãs, amigos, amores acabados, interrompidos, desejados, sonhados e falhados. Deixa mais: a terra natal, os amigos de sua época, a fisionomia da sua cidade, seu calor, seu sotaque, seus costumes, sua história, sua cultura, seu canto no lar, suas leituras, alguns escritos juvenis publicados em jornais, seus ex-professores, seus parentes, suas ruas queridas, o Parnaíba, o Poti, suas diversões, seus passeios a pé com um primo, suas noites de amor, suas igrejas, sobretudo a de São Benedito, suas construções, o Palácio de Karnak, suas praças, a Rio Branco e a Pedro II, o Liceu Piauiense, o Rex e o Theatro, seus logradouros que aprendeu a amar, seu então único prédio mais alto que dá para a Praça João Luís Ferreira.
Este presente o recebi pouco dias depois que saí de Teresina. É um soneto de meu pai de título “Talismã”. Pode não ser um poema de um grande poeta, mas afetivamente é como se o fosse e por isso tem a perfeição das coisas simples e belas de que gostamos. Os poetas têm lá seu tanto de vaticínio, de profético. Foi publicado no jornal “Estado do Piauí”, jornal para o qual meu pai colaborou durante longos anos com artigos assinados e artigos de fundo. Eu próprio escrevi vários artigos para o velho e extinto jornal de Josípio Lustosa. Do poema tenho ainda um envelhecido recorte que guardo comigo há quase cinquenta anos.Eis o presente de meu pai escrito com as lágrimas da dor da partida de um filho que, com apenas dezoito anos, iria enfrentar a vida no Rio de Janeiro:


O Talismã.

Ao meu bom filho Cunha e Silva Filho

Cunha e Silva

Com lágrimas nos olhos te vi partir,
Com lenço branco pra mim acenavas
Da janela do avião a sorrir
Pra mim que, com tristeza, me deixavas.

Logo que o avião voo tomava,
Prolongado adeus me concedeste,
Emotivo, lágrimas enxugava
No lencinho que me ofereceste.

Este lencinho tenho-o guardado
E só quero revê-lo quando chegares,
Um dia, com teu sonho realizado.

O talismã da tua felicidade
É ele, meu filho, e, ao regressares,
Devolver-to-ei com ansiedade.

sábado, 13 de agosto de 2011

Por um Rio de Janeiro digno de ser maravilhoso





Cunha e Silva Filho


Estamos vivendo fases tormentosas em nosso pais. Nesta crônica, me limitarei a apenas uma: a violência, com ações hediondas cometidas em todas as escalas sociais. Violência que parte de todos os cantos da sociedade. Não estarei exagerando ao afirmar que o povo carioca está com medo de sair de casa, seja de carro, de trem, de metrô e principalmente de ônibus, este último meio de transporte muito maltratado pelos órgãos fiscalizadores. Aliás, o medo é duplo: quer pela imperícia de motoristas que mais parecem psicopatas ao volante, colocando em risco a vida dos passageiros ao imprimirem alta velocidade aos veículos sob sua responsabilidade, quer pelo pavor de os passageiros poderem ser mais outras vítimas de assaltos.
Com uma polícia militar despreparada para enfrentar situações de emergência, tais como assaltos ou sequestro de ônibus, conforme ocorreu na semana passada em pleno centro nervoso do Rio de Janeiro, com passageiros desesperados com a violência de facínoras ameaçando-lhes a vidas, os cidadãos de bem do Rio de Janeiro se encontram completamente reféns nas duas situações mencionadas.
Por outro lado, lemos artigos ou reportagens de jornais em que especialistas de várias áreas discutem teoricamente modos de vida melhor e mais saudável para o futuro da cidade do Rio de Janeiro tendo em mira os cronogramas a serem respeitados com vista às realizações da Copa Mundial e dos Jogos Olímpicos. Arquitetos, planejadores urbanos, antropólogos, sociólogos, em debates amplos, com raras exceções, transmitem uma exagerada impressão de otimismo que me deixa preocupado.
Não é possível termos sucessos naquelas realizações esportivas e a necessária paz social se não atacarmos de imediato os flagelos que insistem em permanecer afrontando a população, sobretudo os mais carentes e desprotegidos. Há uma série de ações efetivas que devem partir de iniciativas tanto do prefeito quanto do governo estadual que, se não forem equacionadas e resolvidas em curto e médio prazo, colocarão por terra os projetos de modificações ambiciosas da paisagem urbana e dos modos de vida social do povo carioca.
Por isso, medidas urgentes se fazem necessárias nos setores da segurança, da saúde, dos transportes que não podem ficar só no papel. Investimentos maciços, com a ajuda do governo federal nesses setores, não podem ser desviados ou transformados em outros escândalos financeiros.
Antes de tudo, as obras indispensáveis à concretização dos dois grandes eventos mundiais esportivos mobilizarão ações principalmente dirigidas à segurança do indivíduo, seja do habitante do Rio, seja do turista brasileiro ou estrangeiro. Julgo ser estes anos que antecipam os dois megaeventos a ocasião mais adequada hoje para reduzir a patamares mínimos o alto grau de violência em que vive a população carioca. Quando bandidos atacam pessoas indefesas, executam uma juíza de direito e praticam outros atos de selvageria contra a sociedade do Rio de Janeiro, torna-se quase impossível pensar-se no sucesso da Copa Mundial e dos Jogos Olímpicos .
Setores como o turismo, a hotelaria e o comércio em geral devem fazer pressão junto aos governos municipal e estadual no sentido de que soluções para as mazelas do Rio de Janeiro sejam urgentemente encontradas.. Portanto, não é hora de produzir otimismo em excesso com promessas de que o flagelo da violência será eliminado em decorrência das transformações arquitetônicas que estão planejadas para a cidade do Rio de Janeiro. É preciso que o turista e o habitante do Rio realmente possam constatar que modificações de fato ocorrerão no espaço físico da Cidade Maravilhosa. Contudo, elas não podem deixar de acompanhar-se de um esforço prioritário em setores vitais: segurança, saúde e educação pública. É mister que ao povo do Rio de Janeiro se devolva uma cidade em clima acolhedor, de paz, de alegria e bem-estar, sem o que o envio de reforço militar vindo de Brasília mais uma vez seja apenas para dar um ilusório e provisório período de segurança e vida melhor .Só desta forma poderemos ter orgulho de sediar os dois megaeventos com êxito e demonstração de que o Rio de Janeiro – Cidade Maravilhosa -, mundialmente famoso, faz jus a esta antonomásia.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Um poema de Edna St. Vincent Millay (1892-1950)



Um poema de Edna St. Vincent Millay (1892-1950)




I know I am but summer to your heart

I know I am but summer to your heart,
And not the full four seasons of the year;
And you must welcome from another part
Such noble moods as are not mine, my dear.

No gracious weight of golden fruits to sell
Have I , nor any wise and wintry thing;
And I have loved you all too long and well
To carry still the high sweet breast of Spring.

Wherfore I say: O Love, as summer goes,
I must be gone, steal forth with silent drums,
That you may hail anew the bird and rose
When I come back to you, as summer comes.

Else will you seek, at some not distant time,
Even your summer in another clime.


No teu coração, sei, sou apenas verão

No teu coração, sei, sou apenas verão,
Jamais plenamente as quatro estações serei para ti;
Essas novas variações do tempo, querido, não me pertencem.
Em outras paragens com alegrias deves encontrá-las.

Nenhum gracioso peso de áureos frutos vender consigo
Nem tampouco qualquer coisa sábia de inverno
Mas, ainda assim, te tenho amado sempre e muito
Para poder o alto e doce sentimento da Primavera ter comigo,

Afirmo, pois: Oh, amado, à medida que o verão se afasta,
Sumir devo, em segredo, com minha música em silêncio,
A fim de que possas, outra vez, o pássaro e a rosa acolher
Ao voltar para ti, tão logo venha o verão.

Do contrário, não tardarás a procurar
Até mesmo em lugar diferente o teu verão.

(Trad. de Cunha e Silva Filho)




segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Os intelectuais não se entendem





Cunha e Silva Filho


No passado e no presente a história literária brasileira está mergulhada em intrigas, invejas, ressentimentos, vias de fato, injustiças, indiferenças e, em nível mais elevado de debate, em polêmicas. A começar das incompreensões no próprio seio dos movimentos literários ou periodizações, as dissensões se instalam com grupos novos defendendo suas propostas ou manifestos de independência no que respeita ao estilos ou estilos anteriores, o que, de alguma maneira, explica ou justifica a dinâmica interna e específica do fazer literário. Não deixa de ser um jogo ancestral entre a velha e a nova geração num período histórico considerado.
Quem chega, deseja a desestabilização do estilo anterior, como se o novo fosse sempre “superior” ou “melhor” do que o antigo. Nada mais longe da verdade. O caráter de dinamismo da escrita literária fala mais alto do que as relatividades das vanguardas. O que convém ter em mira é o sentido de modificações que instrumentalizadas pelas realidades sociais e culturais diferentes acompanhando o ritmo da História, sem vezos de alcances de perfeição e formas ideais.
Portugal e o Brasil são dois países em que a polêmica alcançou, mais naquele do que neste, considerável fortuna crítica. Em Portugal, cujas primeiras notícias datam da época dos trovadores e jograis, serve de ponto alto a polêmica conhecida como “Questão Coimbrã”, embate ácido entre o Romantismo e o Realismo, dividindo, no plano intelectual, figuras consagradas da velha geração liderada por Antônio Feliciano de Castilho(1800-1875) apoiado pelo destemido e mordacíssimo romancista Camilo Castelo Branco (1825-1890). Do outro oposto, representando as novas idéias os escritores Antero de Quental (1842-1891) e Teófilo Braga (1843-1924) procurando desqualificar o Romantismo chamado “decadente,” encarnado na produção ficcional de Camilo Castelo Branco.
No Brasil, segundo Naief Sáfadi, a polêmica não é tema tão freqüente assim, podendo-se asseverar que um dos seus capítulos mais conhecidos é aquele alusivo ao poema “A Confederação dos Tamoios” (1857), de Gonçalves de Magalhães (1811-1882) polêmica que resultou na publicação de oito cartas de José de Alencar reunidas em Cartas sobre a Confederação dos Tamoios (1860) escritas sob o pseudônimo de “Ig.” Nelas Alencar assinala como defeito na elaboração daquele poema a ausência de vigor poético e, além disso, refere à precariedade de sua maneira de conceber a figura do índio, segundo ele, artificialmente composto. Ora, o próprio Alencar foi também, por sua vez, vítima de crítica semelhante, que lhe apontavam idealizações exageradas na caracterização física e psicológica do indígena brasileiro. Em defesa de Magalhães, saíram Araújo Porto Alegre (1806-1879) e o imperador D. Pedro II (1825-1891). Defendendo Alencar esteve Pinheiro Guimarães (1832-1877)
Outras polêmicas, na década de 1880, poder-se-iam mencionar aqui. As de Carlos de Laet (1847-1927) com os portugueses Camilo Castelo Branco e Castilho e outra com Valentim Magalhães(1859-1903) sobre uma questão até sem muita relevância, a de saber (!) quem seria o melhor poeta brasileiro Gonçalves Dias (1823-1864), Castro Alves (1847-1871) ou Luís Delfino (1834-1910).
Ainda naquela mesma década, houve uma destacada polêmica entre Júlio Ribeiro (1845-1890), romancista, gramático e filólogo, famoso por sua verve cáustica em assuntos de política (Cartas sertanejas, 1885) e o Pe. Sena Freitas, a propósito do romance naturalista, A carne, zombeteiramente chamado “A carniça” pelo crítico Agripino Grieco ( 1888-1973).
Algumas outras polêmicas se tornaram suficientemente divulgadas: a de Tobias Barreto (1839-1889), em 1883, com os padres maranhenses Joaquim Albuquerque (1867-1934) e Casemiro da Cunha, sobre questões de clericalismo no meio cultural brasileiro. As polêmicas de Sílvio Romero (1851-1914) com Teófilo Braga, com José Veríssimo (1857-1916) e com o gramático Laudelino Freire (1873-1937)
Famosa ficou também a polêmica de Rui Barbosa (1849-1923) que manteve com o seu ex-professor Ernesto Carneiro Ribeiro() versando sobre a redação do Código Civil Brasileiro (1903). Em resposta às críticas de Carneiro Ribeiro, Rui escreveu a célebre Réplica à defesa da redação do Código Civil Brasileiro, 1904) que lhe valeu, da parte do opositor, uma Tréplica.
Anos depois, outras polêmicas surgiram, como aquela travada entre Cassiano Ricardo (1895-191974) e Fernando de Magalhães tendo por eixo da discussão Cecília Meireles (1901-1964) e a Academia Brasileira de Letras. Osório Borba e Menotti del Picchia (1892-1988) polemizaram sobre o tema da crítica literária brasileira, Osório desanca o regionalismo e o caráter personalista daquela crítica.
Não podemos esquecer entre outras, as polêmicas entre o Pe.. Leonel Franca (1893-1948) e José Oiticica(1882-1957). Em outra ocasião, Oiticica, que era anarquista e gramático, terçou armas com o linguista e filólogo Sílvio Elias (1913-1998).
Finalmente, para não alongar o objetivo deste artigo, que não é o de desenvolver em profundidade o tema da polêmica literária no país, lembraria a polêmica acérrima entre dois críticos de grande valor, mas de diferente tendência teórica e visão cultural : Álvaro Lins (1912-1970) e Afrânio Coutinho(1911-2000). A raiz da polêmica situa-se a partir da publicação da obra de Coutinho, A filosofa de Machado de Assis (1940). A natureza dessa polêmica tem fundamentação argumentativa nos campos da estilística e da visão crítica de autores que influenciaram a ficção machadiana. A meu ver, a diatribe, até extrapolando para o plano pessoal, foi, primeiro, provocada por um ensaio de Lins sobre aquela obra de Coutinho. A reação de Coutinho foi imediata e duríssima.
Todos esses comentários me vieram à baila após recentes leituras de duas crônicas de Ferreira Gullar publicadas na sua coluna do Caderno Ilustrada da Folha de São Paulo, nas quais menciona o nome de Augusto de Campos a respeito de uma afirmação deste sobre o que pensava do escritor e poeta modernista Oswald de Andrade (1890-1954). O fato se resume no seguinte: num encontro de Gullar com Augusto de Campos, no Rio de Janeiro, em 1955, na Spaghettilândia, na Cinelândia, Centro do Rio. Gullar relatou numa das crônicas acima referidas que Augusto chamara Oswald de Andrade de “irresponsável.”, julgamento que Gullar imediatamente rechaçara.
Augusto de Campos, em artigo recente publicado naquele mesmo jornal, desmentiu o que Gullar escrevera a respeito do encontro, afirmando que não houve tal encontro, mas não negou que chamara Oswald de Andrade de “irresponsável”.
Pelo que conheço de Gullar, o que a questão levanta é não só evidência de vaidade da parte que pretende ter sido quem julgou com acerto – o que não foi o caso de Augusto de Campos - e de forma antecipadora um escritor de inegável qualidade como Oswald. Ao contrário, fora Gullar quem acertara em cheio no julgamento justo e antecipado sobre a poesia de Oswald de Andrade.
Quanto a saber se Augusto de Campos, numa releitura mais cuidadosa da obra de Oswald, conseguiu que o autor de Serafim Ponte Grande (1933) fosse reconhecido como figura de relevo na poesia brasileira, isso torna as justificativas de Gullar bastante louváveis.
Agora, ao trazer à discussão a questão do encontro e da opinião negativa de Augusto para um deslocamento de assunto relacionado à dúvida sobre o valor e importância de poemas de Gullar, a história se complica e, então, não há como não tomar o partido de um poeta de alta expressão como Ferreira Gullar. Daí para diante, de um lado e de outro, os entrerveros só a custo conseguem se manter em bases educadas, uma vez que a verrina da polêmica já se instalou nos campos intelectual e pessoal, o que, no último caso, empobrece qualquer polêmica em alto nível conduzida. É uma pena que assim hajam chegado a tais divergências.

NOTAS:

1.SÁFADI, Naief. Verbete sobre “Polêmica” na literatura brasileira. In: Dicionário de literatura (direção de Jaccinto do Prado Coelho). 3 ed., 2º vol. L/S. Porto: Figueirinha, p. 838-839. Ver também o verbete “Polêmica” na literatura portuguesa. PRADO COELHO, Jacinto do. Idem, ibidem, p. 837-838.
2. Nomes de escritores cuja indicação de data de nascimento e morte não aparecem neste artigo serão incluídos posteriormente no corpo do texto logo que devidamente localizados. A ressalva vale também para os nomes de obras e datas de publicação.

domingo, 7 de agosto de 2011

Sobre lançamentos de livros

Cunha e Silva Filho



Os lançamentos de livros, muitas vezes, em vez dos eventos que misturam marketing, mídia e autoria, consagrada ou não, se transformam em histórias constrangedoras, tristes e até como provas de que as pessoas não dão, em alguns casos, lições de educação, solidariedade e civilidade.
O caminho é este: a editora manda confeccionar e distribuir os convites do lançamento às pessoas indicadas para o evento e, no dia, aprazado da gloriosa “noite de autógrafos”, digamos, de cem convidados, só aparecem 10, gatos pingados.Um senhor comparecimento...
O evento se mostra ainda mais decepcionante quando, no convite, consta a informação de que aos presentes se oferecerá um coquetel. Com isso, o editor e o autor, com frequência, se previnem dos contratempos, ou seja, ao proporcionarem um coquetel, com garçons e tudo, isso constitui um chamariz ou atração para as supostas presenças dos convidados.
Porém, pode-se contar com mais um agravante: ainda que o lançamento venha acompanhado do mencionado coquetel, mesmo assim pode haver fracassos de ausências e, portanto, de baixa ou quase nula vendagem. Neste caso, não há Deus que venha acudir os desapontamentos e reparar os estragos com os custos do evento: bufê, garçons e aluguel do espaço.
Soube de um caso de uma colunista famosa que, ao lançar um livro, somente compareceram ao local do evento oito pessoas. E olhe que a colunista mantém há longo tempo uma coluna em jornal de grande circulação e de âmbito nacional. Por conseguinte, é difícil prever se um lançamento vai dar certo ou errado. Nunca se sabe. A história de lançamentos de livros guarda muitos segredos que só os deuses saberiam revelar...
Chegou-me ao conhecimento que de uma outra feita um conhecido professor universitário da área de direito lançou uma obra e, no dia do evento, não apareceu ninguém, nem mesmo a esposa deu o ar de sua graça. Que vexame para o ser humano, quanta falta de humanidade e de respeito às pessoas!
Por outro lado, quantas mediocridades, por estarem associadas à mídia e aos círculos diversos das pessoas ditas “famosas”, as hoje em dia chamadas de “celebridades,” publicam livros aos montões (muitas vezes até escritos por ghost-writers) e os vendem como água. Pelo menos, na “noite de autógrafos” elas fazem a festa dos editores e autores sorridentes ao verem as filas quilométricas à espera dos autógrafos.
Oh, mundo burguês feito de pó de arroz, de anéis de brilhantes e colares de ouro, não sabeis o quanto me provocais risos rabelaisianos ante vossas superficialidades, hipocrisias, convenções e conversas regadas a futilidades sobre assuntos de que não entendeis patavina, ou sobre temas que me deixam enjoado de tanta sensaboria e idiotice, sobretudo envolvendo insípidos diálogos sobre consumo ditado pelas modas e que fazem as delícias do mercado e a riqueza dos empresários.Como me cansam vossas “adiposidades cerebrais” (Mário de Andrade (1893-1945), “Ode ao burguês) de pensamentos vazios e comportamentos padronizados, de vossos sentimentos afetivos azeitonados de interesses econômicos nos relacionamentos entre o homem e a mulher, ou entre adolescentes frívolos e robotizados que, passando por nós, com olhos distantes parecem não serem mais do que corpos sem alma.
Como são apropriados alguns contos de João Antônio (1937-1996) que, pelo voz do narrador, ilustram tão bem a vida besta e rasa de certa classe média (para aquele o escritor, classe mérdea) em que a obtusidade de situações do cotidiano nos é mostrada sempre com ironia e sarcasmo e que já aparecem neste primor de narrativa que é o conto “Tatiana pequena”(do livro Abraçado ao meu rancor). Mesmo na obra--prima Malagueta, Perus e Bacanaço (1963) já dava sinais de que esse estrato social mais elevado estava na mira de sua crítica como mais uma temática central de sua ficção ao aludir a bairros e gente da alta classe social brasileira da cidade de São Paulo.
Retomo o fio quebrado pela digressão, e volto a falar de lançamentos de livros como evento em si, nos quais se vende muito no dia marcado, mas, quando o livro passa à distribuição nacional e vai para as livrarias e shoppings, não acontece o esperado sucesso de venda. Dá-se o que se chama de encalhe O escritor Armando Nogueira (1927-2010) em suas vendas de livros de crônicas, numa entrevista na TV, se definira como um campeão do encalhe.
Diante de tantas circunstâncias cercando o sucesso ou o fracasso de vendagem, escritores há que agem idiossincraticamente: 1) Publicam suas obras, mas sem os alardes e holofotes das “noites de autógrafos”. Acredito que neste grupo estão Dalton Trevisan e Rubem Fonseca, entre outros, que fogem às badalações midiáticas. Ao publicarem um livro novo, este vai logo para as prateleiras das livrarias;
2) Outros editam seus livros e realizam lançamentos limitados a, por exemplo, academias, sindicatos, associações culturais, momentos em que, como é hábito nesses meios, seus livros são apresentados a públicos convidados com solenidades e ainda uma apresentação do autor discorrendo sobre aspectos relevantes da obra lançada;
3) Ainda há outro caso, aquele no qual o autor publica uma reduzida edição de livros e os distribuem a amigos, bibliotecas ou outras instituições culturais. Até podem aproveitar e convidar amigos mais chegados e realizar um lançamento em espaços de livrarias com a despesa toda por conta do autor. O que sobra de livros, coloca, quando lhe é permitido, alguns volumes em consignação em livrarias.
Assim como existem decepções por falta do comparecimento de convidados a lançamentos, há também desapontamentos com respeito a convidados a palestras previamente programadas em academias ou outras agremiações culturais. O comparecimento pingado de convidados cria sérios constrangimentos aos organizadores ou coordenadores de palestras e arrasa com o “ego” do palestrante. É maldade pura, só perdoada se um convidado faltar por um motivo inadiável. Compromissos são compromissos. A única saída é rezar para que convidados de boa vontade estejam presentes aos eventos. Todavia, não há como lutar contra algumas práticas e usos deseducados e deselegantes.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um poema de Sully Prudhomme (1839-1907)

Un songe


Le laboureur m’a dit en songe: “Fais ton pain”;
Je ne te nourris plus: gratte la terra, et sème”.
Le tisserand m’a dit: Fais tes habits toi-même”
Et le maçon m’a dit: “Prends la truelle en main.”

Et seul, abandoné de tout le genre humain,
Don’t je traînais partout l’impacable anathème
Quand j’implorais du ciel une pitié suprême,
Je trouvais dês lions debout dans monchemi.

J’ouvris les yeux , doutant si l’aube était réele:
De hardis companagnons sifflaient sur leur échelle,
Les métiers bourdonnaient, les champs étaient semés.

Je connus mon bonheur, e qu’au monde où nous sommes
Nul ne peut se vaner de se passer des hommes;
Et depuis ce jour-là, je les ai tous aimés.


Um sonho

Em sonho me disse o lavrador; “Faze teu pão.
Não contes mais comigo.: cava a terra e semeia”.
Disse-me o tecelão: “Tua roupa, faze tu mesmo”.
E me disse o pedreiro: “Pega a colher de mão”.

Sozinho, abandonado por todo o gênero humano,
Cujo implacável anátema por toda a parte arrastava,
Ao suplicar aos céus pela piedade humana,
Diante do meu caminho leões, atentos, encontrei.

Os olhos abri, não crendo que fosse real a aurora.
Valentes operários de construção, em suas escadas, assobiavam.

A felicidade conheci, e mais, no mundo onde vivemos
Ninguém se gabar pode de ser melhor do que outrem..
Daquele dia em diante, a todos passei a amar.

(Trad. de Cunha e Silva Filho)