domingo, 7 de fevereiro de 2010

Reflexões sobre a notícia de um poeta morto

Reflexões sobre a notícia de um poeta morto


Cunha e Silva Filho


Morreste, poeta! Tinhas valor, deixaste obras, traduziste autores célebres. Até escreveste uma obra com título que, aglutinados nos seus elementos léxicos, forma o nome de tua pequena terra natal no interior do Paraná. Uma cidade com pouco mais de cem anos. Cidade acolhedora, muito fria e, às vezes, muito quente.
Te desenraizaste do teu berço natal. Mudaste para a cidade grande, grande e maravilhosa, embora vítima da mais cruel violência de que já se teve notícia ultimamente. Cidade também acolhedora, cálida, de tantos imigrantes que nela se fixaram em definitivo. Quem bebe das suas águas e respira os seus ares, dificilmente regressa ao berço natal. Faz como os saudosistas da poesia galega.
Na cidade grande viveste. Pouca gente talvez te conheça – quem, porém, conhece hoje em dia os poetas? -, mas estás citado nas melhores histórias da literatura brasileira. Pela crítica especializada, eras considerado grande poeta.
Na tua terrinha natal, pessoas com certo conhecimento da cidadezinha, do seu povo, da sua história e da sua cultura, te conheciam, mencionavam com respeito teu nome. No ano passado, nesta coluna, fiz uma crônica, na qual mencionei, de passagem, um texto teu que um amigo, já falecido, me presenteara. O texto se encontra numa revista da tua cidadezinha, e fala teoricamente sobre poesia. Texto instigante, onde revelas conhecimento profundo da arte poética e de literatura. Texto primoroso. Poeta foste por vocação e por conhecimento de causa. Te preparaste e te atualizaste para fazeres poesia.
Como outros grandes poetas brasileiros, não entraste para a Academia Brasileira de Letras. Será que desejavas nela entrar? Não sei, nem me interessa sabê-lo.Não quero me meter nessa seara.
Poeta morto, foste para a morada dos mortos e deixaste a “morada do ser” em forma de poesia e de cuidados com a palavra e a cultura literária.
No JB, Idéias & Livros ( 16/01/2010), na seção Informe Ideias, sob a rubrica “lágrima”, da coluna do editor Álvaro Costa e Silva, há um breve registro do teu falecimento, mencionando algumas de tuas obras e traduções que realizaste
Conheci tua terra natal. Até lá morei por uns poucos dias. Comprei lá uma casinha que, pouco tempo depois, vendi. Como o teu, o meu destino é a cidade grande.
Que posso fazer por ti? Ora, que pergunta tola me faço agora! A única coisa que posso fazer por ti é ler teus livros, conhecer-te mais pela lado magnífico da Arte Poética. Só esta aproxima os sensíveis, os não-pragmáticos, os que pouco dão importância às glórias fátuas e efêmeras do hedonismo contemporâneo e pressuroso.
Nunca nos vimos nem nos falamos. Oh, cidade grande das distâncias interpessoais! De ti nem conheço a obra toda deixada. Só ti vi numa foto antiga, com alguns traços particulares, como um bigodinho, um rosto meio cheio, cabelos lisos penteados para trás.
Li, no entanto, alguns poemas teus, Têm valor. Soube que trabalhaste no comércio, que não te formaste, que também ganhaste, em 1958, o Prêmio Olavo Bilac. Além deste prêmio, ganhaste outros prêmios graças ao valor da tua poesia
Escreveste alguns livros de poesia: Melodias de estio (1952); Iniciação ao sonho (19550; O poder da palavra (1959); Ir a ti (1969); O andarilho e a aurora (1971); Sons de ferraria (1989) Publicaste ainda Pedra de transmutação (1984). Traduziste A feiticiera, de Michelet; O livro dos demônios, de Sinistrati de Ameno, Bucólicas, de Virgílio e Arte de amar, de Ovídio. Na pesquisa sobre a tua produção poética anotei algumas discrepâncias entre historiadores quanto a datas de publicação das tuas obras.
O nome do poeta, a quem venho me dirigindo até aqui, é Foed Castro Chamma, falecido no Rio de Janeiro, no dia 12 de janeiro passado, onde morava desde 1941. Nasceu em Irati, Paraná, em 1927. Aos leitores meu convite ao conhecimento da sua poesia.

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