Os espinhos da crítica literária
Cunha e Silva Filho
A crítica literária em jornais, chamada de rodapé, que, no país, se cultivou quase sempre com brilhantismo, conheceu seu apogeu a partir do Modernismo com a atividade desenvolvida por intelectuais, entre outros, como Tristão de Athayde, Agripino Grieco, Álvaro Lins, Afrânio Coutinho, Temístocles Linhares, Sérgio Buarque de Holanda, Wilson Martins, Antonio Candido, só para ficarmos com alguns nomes mais antigos. Desse pequeno grupo só Candido e Wilson Martins ainda estão vivos. Nem todos eles mantiveram-se como críticos exclusivamente, de vez que dividiam a judicatura crítica com o magistério. E até por vezes como diplomata por certo período, como é o caso de Álvaro Lins. Porém, do grupo mencionado só dois podemos dizer que, salvo engano, cultivaram quase com exclusividade os rodapés: Agripino Grieco e Wilson Martins. Este último exerceu também a docência superior, no país e no exterior.
Cada um deles, por sua vez, possuía sua linha de pensamento crítico, que ia desde o humanismo estético-filosófico de abertura para uma crítica expressionista (Tristão de Athayde), ao impressionismo de cunho satírico (Agripino Grieco), ao impressionismo humanístico de visão arejada e original (Álvaro Lins), à nova crítica de base anglo-saxônia (Afrânio Coutinho), ao humanismo impressionista renovado e aberto às novas tendências crítico-sociais de alcance universal (Temístocles Linhares), à crítica de base erudita e histórica (de Sérgio Buarque de Holanda), ao impressionismo erudito-historiográfico (de Wilson Martins), à crítica sociológico-estético-formal (de Antonio Candido), considerando essas classificações da maneira mais esquemática possível.
Cunha e Silva Filho
A crítica literária em jornais, chamada de rodapé, que, no país, se cultivou quase sempre com brilhantismo, conheceu seu apogeu a partir do Modernismo com a atividade desenvolvida por intelectuais, entre outros, como Tristão de Athayde, Agripino Grieco, Álvaro Lins, Afrânio Coutinho, Temístocles Linhares, Sérgio Buarque de Holanda, Wilson Martins, Antonio Candido, só para ficarmos com alguns nomes mais antigos. Desse pequeno grupo só Candido e Wilson Martins ainda estão vivos. Nem todos eles mantiveram-se como críticos exclusivamente, de vez que dividiam a judicatura crítica com o magistério. E até por vezes como diplomata por certo período, como é o caso de Álvaro Lins. Porém, do grupo mencionado só dois podemos dizer que, salvo engano, cultivaram quase com exclusividade os rodapés: Agripino Grieco e Wilson Martins. Este último exerceu também a docência superior, no país e no exterior.
Cada um deles, por sua vez, possuía sua linha de pensamento crítico, que ia desde o humanismo estético-filosófico de abertura para uma crítica expressionista (Tristão de Athayde), ao impressionismo de cunho satírico (Agripino Grieco), ao impressionismo humanístico de visão arejada e original (Álvaro Lins), à nova crítica de base anglo-saxônia (Afrânio Coutinho), ao humanismo impressionista renovado e aberto às novas tendências crítico-sociais de alcance universal (Temístocles Linhares), à crítica de base erudita e histórica (de Sérgio Buarque de Holanda), ao impressionismo erudito-historiográfico (de Wilson Martins), à crítica sociológico-estético-formal (de Antonio Candido), considerando essas classificações da maneira mais esquemática possível.
A minha intenção nesse artigo é apenas refletir em torno das implicações do crítico com o seu objeto de trabalho intelectual: julgar obras nos diversos gêneros. A função do crítico pressupõe uma posição delicada junto não só aos autores, mas também junto aos próprios críticos. No primeiro caso, ao crítico cabe responder aos valores ou ausência de valores estéticos de uma obra fundamentado na sua experiência de leitor e de seus recursos de abordagem do fenômeno literário. Neste caso, recai sobre ele a responsabilidade de orientar leitores e ao mesmo tempo de mostrar qualidades ou deficiências de um autor desde que não caia no vezo demolidor.
O que não deve fazer o crítico é não ser honesto no que respeita a autores Não estou convencido da afirmação de que um autor não dê nenhuma atenção aos críticos. Aos autores interessa, sim, o julgamento de um crítico sério e competente. A cosmovisão (Massaud Moisés) constitui parte essencial da atividade crítica. Para que ler uma obra literária senão para lhe extrair dados da experiência de vida e modos de compreender o mundo, os homens e a própria Arte? No segundo caso, o papel do crítico, diante de outro ou outros críticos, segue linhas de concordâncias ou de discordâncias teóricas, o que necessariamente não significa que um crítico seja, por si só, adversário de um outro intelectualmente.. A história literária brasileira tem demonstrado que alguns críticos, por razões de linhas estéticos diferentes, se tornam inimigos e, às vezes, passam até à inimizade pessoal. Citaríamos os exemplos das polêmicas entre Sílvio Romero e José Veríssimo, ou mais próximos de nós, entre Álvaro Lins e Afrânio Coutinho, Nelson Werneck Sodré e Wilson Martins ou entre críticos sociológicos e críticos estruturalistas ou de outras correntes do pensamento crítico. As rivalidades muitas vezes chegam a tal ponto que, em referências acadêmicas bibliográficas, um não cita o outro.
Os julgamentos críticos criam ressentimentos, aversões mútuas, que são guardados para sempre e sobretudo para algumas ocasiões em que o crítico rigoroso ou mesmo injusto, tendo criado muitos inimigos na vida literária, não consegue ter acesso a determinadas instituições culturais dependentes de escrutínios para nelas ingressarem
A atividade crítica é também desgastante física e intelectualmente dado que, com o crescimento demográfico e cultural do país nos últimos quarenta anos, pelo menos, seria impossível dispor-se de rodapés com críticos acompanhando a produção editorial do país nos vários gêneros literários. São muitos os autores em todo país.. O que ocorreu foi o surgimento das chamadas resenhas, que, semanalmente pelo menos, comentam as novas publicações.. O trabalho da crítica mais densa ficou circunscrito aos muros das universidades. Daí também que o crítico literário não remunerado seja obrigado a exercer a crítica esporadicamente, muito embora desejasse escrever com muito maior assiduidade sobre os livros que recebe. O que, no mínimo, pode fazer é agradecer a gentileza de alguns autores lhe enviarem livros pedindo comentários.. Acredito que a solução em parte seja, a médio ou longo prazo, que o crítico, dentro de suas possibilidades, vá reunindo aos poucos artigos ou ensaios para posterior publicação em livro.
O fato de o crítico ou ensaísta não dar pronta resposta a uma quantidade enorme de livros que recebe deve-se a essa impossibilidade de um trabalho que, em outros tempos e outros contextos culturais e editoriais, pudesse ser realizado nos moldes dos antigos rodapés de jornais dos principais centros hegemônicos do país.
O que não deve fazer o crítico é não ser honesto no que respeita a autores Não estou convencido da afirmação de que um autor não dê nenhuma atenção aos críticos. Aos autores interessa, sim, o julgamento de um crítico sério e competente. A cosmovisão (Massaud Moisés) constitui parte essencial da atividade crítica. Para que ler uma obra literária senão para lhe extrair dados da experiência de vida e modos de compreender o mundo, os homens e a própria Arte? No segundo caso, o papel do crítico, diante de outro ou outros críticos, segue linhas de concordâncias ou de discordâncias teóricas, o que necessariamente não significa que um crítico seja, por si só, adversário de um outro intelectualmente.. A história literária brasileira tem demonstrado que alguns críticos, por razões de linhas estéticos diferentes, se tornam inimigos e, às vezes, passam até à inimizade pessoal. Citaríamos os exemplos das polêmicas entre Sílvio Romero e José Veríssimo, ou mais próximos de nós, entre Álvaro Lins e Afrânio Coutinho, Nelson Werneck Sodré e Wilson Martins ou entre críticos sociológicos e críticos estruturalistas ou de outras correntes do pensamento crítico. As rivalidades muitas vezes chegam a tal ponto que, em referências acadêmicas bibliográficas, um não cita o outro.
Os julgamentos críticos criam ressentimentos, aversões mútuas, que são guardados para sempre e sobretudo para algumas ocasiões em que o crítico rigoroso ou mesmo injusto, tendo criado muitos inimigos na vida literária, não consegue ter acesso a determinadas instituições culturais dependentes de escrutínios para nelas ingressarem
A atividade crítica é também desgastante física e intelectualmente dado que, com o crescimento demográfico e cultural do país nos últimos quarenta anos, pelo menos, seria impossível dispor-se de rodapés com críticos acompanhando a produção editorial do país nos vários gêneros literários. São muitos os autores em todo país.. O que ocorreu foi o surgimento das chamadas resenhas, que, semanalmente pelo menos, comentam as novas publicações.. O trabalho da crítica mais densa ficou circunscrito aos muros das universidades. Daí também que o crítico literário não remunerado seja obrigado a exercer a crítica esporadicamente, muito embora desejasse escrever com muito maior assiduidade sobre os livros que recebe. O que, no mínimo, pode fazer é agradecer a gentileza de alguns autores lhe enviarem livros pedindo comentários.. Acredito que a solução em parte seja, a médio ou longo prazo, que o crítico, dentro de suas possibilidades, vá reunindo aos poucos artigos ou ensaios para posterior publicação em livro.
O fato de o crítico ou ensaísta não dar pronta resposta a uma quantidade enorme de livros que recebe deve-se a essa impossibilidade de um trabalho que, em outros tempos e outros contextos culturais e editoriais, pudesse ser realizado nos moldes dos antigos rodapés de jornais dos principais centros hegemônicos do país.
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