sábado, 25 de janeiro de 2020

Referências bibliográficas: algumas observações


                                                                                     Cunha e Silva Filho

          Procurando algumas obras a fim de completar a bibliografia de um prefácio que acabo de escrever co-adjuvando a autora, me senti impelido a lhes apresentar meus amigos, colegas e leitores em geral , uma questão de sociologia da literatura e até mais de vida literária.
          Para o festejado e amado escritor Monteiro Lobato (18812-1948), a vida literária, nos seus bastidores, à boca pequena, não passa do que afirmei em meu livro "As ideias no tempo" sobre o que pensava o autor de" Urupês" (1918)).
           Permitam-me uma autocitação: “ O maior pecado que cometemos é, sem dúvida, o desejo de pensar que, no domínio intelectual - aqui pensamos nas palavras de Monteiro Lobato – coexistam só bondades e honestidade, pureza e autenticidade.”
           Segue adiante, a organização da bibliografia do livro a ser lançado. Não lhes vou adiantar o tema nem o nome do autor para deixá-los com aquele gostinho de curiosidade em saber do que fala o livro em questão.
Provavelmente, alguns leitores possam até dar um palpite, tentar adivinhar ou mesmo estranhar o ocultamento do livro a ser ainda lançado. Tomara que o seja e não demore muito a data do lançamento.
          No entanto, o motivo deste artigo é comentar alguns pecado ou pecadilhos de quem prepara, por exemplo, obras de historiografia literária e tenha que decidir o número de autores que, no juízo do autor, nesse gênero, nelas constarão e serão objetos de análises ainda que sejam despiciendas. Seguem abaixo, os autores e respectivas obras constitutivas da bibliografia, assim como alguns reparos meus sobre os acima-citados “pecados ou pecadilho” da bibliografia do livro a ser lançado:

Acervos do Arquivo de Cunha e Silva e entrevistas com os políticos Manoel do Bar (falecido), João Almeida (falecido), Emília da Paixão ( carinhosamente apelidada de Bizinha (falecida), Chico Câmara, médico Agenor Lira. Depoimentos dos entrevistados pela professora de história Euzeni Dantas (Patrimônio Histórico ) e Ronaldo Moura, Museus e Carnavais de Amarante..
Boletim Informativo, Arquivos de Amarante. s/d.
BRASIL, Assis. A poesia piauiense no século XX. Antologia. Coleção Poesia Brasileira. Organização introdução e notas de Assis Brasil. Rio de Janeiro:: Imago Ed.;Teresina, PI.: Fundação cultural Monsenhor Chaves, 1995, 328 p. Obra de importância capital para o leitor ter uma visão ampla de autores piauienses, principalmente, pela exposição clara e criteriosa de comentários críticos.
CANDEIRA FILHO, Alcenor. Aspectos da literatura piauiense. Teresina: Editora e Gráfica da UFPI, 1993, 131 p.
CASTELO BRANCO, Homero. Ecos de Amarante. Rio de Janeiro: Litteris Editora, 2001, 423 p.Ver p.310-316.
CASTRO, Nasi. Amarante – um pouco da história e da vida da cidade. Teresina: Projeto Petrônio Portella, 1986, 64 p. Introdução, sob o título “Amarante e a memória piauiense,” de M. Paulo Nunes, p. 3-4.
.......... Amarante, folclore e memória. 3 ed. Teresina: COMEPI, 2001. Reproduz Introdução de Dagoberto Carvalho Jr. e prefácio de Virgílio Queiroz.
Encontro Cultural em Amarante. Boletim informativo, 1985.
-------. Amarante, folclore e memória. Teresina: Projeto Petrônio Portella, 1994, 226 p. Introdução de Dagoberto Carvalho Jr. Prefácio de Virgílio Queiroz.
MOREIRA LIMA, Lourenço. A Coluna Prestes, marchas e combates. 3. Ed. São Paulo, SP.: Editora Alfa-Ômega.
MORAES, Herculano. Visão histórica da literatura piauiense. Rio de Janeir: Companhia Editora Americana, 1976;179 p. É um edição ainda bem esquemática, abrangendo mais informações biobibliográficas.
...........Visão histórica da literatura piauiense. 4. ed. em três volumes. 4. Ed.Teresina: H. M. Editor, 1997.
Essa novas edições já dão um passo bem mais amplo na questão de metodologia, de historiografia literária e de apreciações críticas pertinentes e originais.
         Entretanto, nela são omissos escritores piauienses como Cunha e Silva Filho e outros. Silva Filho já havia publicado livro, talvez a primeira Dissertação de Mestrado escrita por um piauiense e que recebeu nota excelente da Banca Examinadora da Faculdade de Letras da UFRJ, em 1994, de título "Da Costa e Silva: uma leitura da saudade, uma análise pioneira na questão do eixo temático. Esse ensaio foi, posteriormente, publicado em livro, em 1966, pela Academia Piauiense de Letras em convênio com a Universidade Federal do Piauí(UFPI).
         Desde 1963, aproximadamente, vinha publicando, em jornais de Teresina, artigos sobre literatura e outros temas e gêneros literários elogiados por intelectuais do Piauí, entre outros, do porte de A. Tito Filho (1924-1992) Darci Fontenele de Araújo (1916-1974), Jeremias A, P.Silva (Drumond). Entretanto, não obtive informação se ainda esse autor é vivo)),

MOURA, Clóvis. Argila da memória. São Paulo: Ed. Fulgor, 1963. Nesta obra, o poeta centraliza seu tema nos motivos suscitados pela cidade de Amarante. ............ Flauta de argila.- memória revisitada.Teresina: Gráfica Editora Júnior Ltda., 1992. Nesta obra, o autor, mais uma vez revisita, pela memória, a velha Amarante, o Piauí como um todo. Apresentação de M. Paulo Nunes
MOURA, Eleazar. Amarante antigo: alguns nomes e fatos. Gráfica Santa Maria, s. d.177 p, Inclui fotos. s/d.Ver Terceira Parte: Fatos e ocorrências do Amarante antig
NETO, Adrião Neto. Escritores piauienses de todos os tempos: dicionário biográfico Teresina: Halley S.A, 1995. 510 p.. 5211 fotos
o. Subseção 11: Educação e Cultura, p.111-113.Ver também, na Quarta Parte, a reprodução da Entrevista concedida ao Professor Cunha e Silva, à Revista Educação Hoje p. 125- 135.
SANTOS. Luís Alberto dos. Amarante,PI.(Personalidades e fotos marcantes). Teresina: Gráfica Ipanema, 2011.
TEIXEIRA PACHECO, José Luís Bizinha, o legado vivo da cultura de Amarante. Teresina, PI.: Gráfica Editora Uruçuí., 2014.
MOURA, Francisco Miguel de. Literatura do Piauí.(1859-1999). Teresina: Edição da Academia Piauiense de Letras/convênio com o Banco do Nordeste, 2001. 295 p.
----------.Literatura do Piauí. 2, ed,, revista, ampl. e atualizada.

        Essa obra é bem superior à versão anterior (de Ovídio Saraiva aos nosso dias). A ótica metodológica é melhor do que as outras congêneres, excetuando, a meu ver, as análises e comentários do autor, quase sempre indo ao cerne do valor literário, maior ou menor, de escritores piauienses. É um bom instrumento de pesquisa para futuras gerações de estudiosos, historiadores de literatura e críticos literários.
       Gosto do escritor Chico Miguel de Moura como poeta de valor e como crítico arguto num julgamento sem favor algum. É pena que o autor, não obstante a citação passim no volume, não me dedique  uma só passagem comentando a minha obra de forma independente e particular como fazem os verbetes de dicionários de literatura, por exemplo, para citar o melhor no país, o de Afrânio Coutinho (1911-200)," Enciclopédia de literatura brasileira" (2001) em dois volumes.
       Creio que sou um "outsider" porque não sou um figurão da política nacional nem um soba piauiense dessa mesma política. No entanto, modéstia à parte, fui sempre um ensaísta ou articulista me ocupando com vários escritores piauienses. Na adolescência, em jornal de Teresina, o primeiro escritor de ficção sobre quem escrevi, foi, se me lembro bem, o saudoso escritor J. Miguel de Matos (1923- ?), comentando a novela "Brás da Santina" (1953), seu livro de estreia. Era militar, autodidata, porém foi principalmente escritor de temas literários diversos, com alguns trabalhos muito bons. Tinha uma vocação para a crítica literária e foi um bom analista de autores piauienses.

        Tendo eu já considerável produção (algumas inéditas) publicada em jornais e revistas piauienses e algumas obras editadas e, hoje, graças à Internet e ao meu Blog “As ideias no tempo,” ao site de jornalismo literário “Entretextos” dirigido pelo atuante escritor Dílson Lages e ao site internacional www.academia.edu.com. Atualmente,  venho escrevendo para a Revista romena Oriozon Literar Contemporan, 
       Seria uma omissão de ordem técnica e historiográfica  não merecer maior atenção em histórias literárias de autores piauienses. Quem quiser obter mais informações sobre o meu Curriculum Lattes ou o meu Curriculum vitae independente, terá que fazer por outros canais de comunicação virtual ou escrita.
         Uma situação de natureza historiográfica me faz sentir fora da órbita dos escritores que fazem parte do sistema literário ou canônico da literatura produzida no Piauí.
        Julgo que, da mesma maneira, se queixariam, por razões semelhantes, outros exemplos de autores piauienses de mérito. É lamentável essa omissão. É um deslize numa obra que se pretende  acadêmica. Tal fato aconteceu igualmente com o meu pai (a historia aqui se repetiu de pai a filho) que, sendo um jornalista político doutrinador muito fecundo e brilhante, independente e corajoso, só mereceu uma pequena nota de rodapé de um autor piauiense num livro sobre a história da imprensa piauiense.
      Meu pai, que tinha a veia de polemista e o modo sarcástico de fazer retratos hilariantes de personalidades políticas, ou não, com muito humor,  verve burlesca e caricatural, pulverizando o êmulo, não deixou passar essa omissão involuntária, ou não, em brancas nuvens. Deu-lhe o troco em artigo contundente num jornal de Teresina.


TITO FILHO, A. Governadores do Piauí. 2. ed, Rio de Janeiro: Editora Arte Nova, 1975.
SILVA, CUNHA E. A experiência de quem viveu parte da história do Piaui. Entrevista concedida ao acadêmico (APL), escritor, professor e jornalista Cunha e Silva pela Revista Educação Hoje Ano III - nº 06 – Revista trimestral – 15/10/86, p. 17-22. Inclui fotos do escritor e jornalista político da época da entrevista.
SANTOS, Luís Alberto dos.(Bebeto). Amarante - Personalidades e fotos importantes.Tersina.PI.,: Gráfica Ipanema, 2011.
PACHECO. José Teixeira. Bizinha.o legado vivo da cultura de Amarante, ,2014.
SILVA FILHO, Cunha e. Da Costa e Silva: uma leitura da saudade. Prefácio da Profa. Dra. Gilda Salem Szklo, ensaísta, crítica literária e professora de literatura brasileira da UFRJ., Rio de Janeiro, 17 de junho de 1996.Teresina,PI: Academia Piauiense de Letras (APL)/Universidade Federal do Piauí (UFPI). 1966, 108 p.
SILVA, Da Costa e. Zodíaco (1917), In: _ Da Costa e Silva - Poesias completas. 1885/1985. 3ª ed. Rio de Janeiro, RJ.: Editora Nova Fronteira, em convênio com o Instituto Nacional do Livro e Fundação Nacional Pró-Memória Edição do Centenário (1885/1985), revista e anotada por Alberto da Costa e Silva. Ver Seção "Minha Terra" (p.170.             Na sua generalidade, quase todo o conjunto da obra dacostiana metaforiza a cidade de Amarante.
SOUSA CASTRO, Olemar de. Minhas duas pátrias. Rio de Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2009 Ver o capítulo “Voltando a Amarante,” p. 53-64.
---------,Sob o sol poente.2.ed. ampliada. Rio de Janeiro: Câmara Brasileira de jovens Escritores, 2010.
...........Minhas duas pátrias. 2, ed, Rio de Janeiro, RJ.: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2009.

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terça-feira, 7 de janeiro de 2020

QUANDO FIZ SESSENTA ANOS AGORA QUE JÁ COMPLETEI SETENTA E QUARO ANOS

FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS



Cunha e Silva filho


                                                                  A meus filhos Francisco Neto e Alexandre

Queridos amigos e amigas!

          Certas datas de aniversário são importantes, como o primeiro aniversário de uma criancinha, a data dos quinze anos(sobretudo para as debutantes ), dos cinquenta, dos sessenta. Paro aqui porque ainda espero outras etapas. Completo sessenta, na realidade, já os completei no dia 7 deste mês de dezembro. No entanto, o que vale é a ação, a intenção, o valor simbólico demarcado.
         Vou seguir um conselho de minha esposa. Se cheguei a esta idade deve ter sido por vontade divina. Descobri, nesta nova fase de vida, que a Arte, sem o viver é incompleta. Vou, pois, completar-me com a Arte (especialmente com a arte literária, com a Literatura). Tenho amigos e conhecidos que não gostam de dizer a sua idade verdadeira. Eu não me importo com isso . A Arte, em todas as suas manifestações, equivale a viver com júbilo, emoção, plenitude, dignidade.
         Meu pai, Cunha e Silva (1905-1990) em carta, me confessou que aos sessenta se viu chamado pela musa Calíope. Segundo ele, poesia nele brotou diante da “amarguras da vida. Eu, ainda que com amarguras, não vou me tornar poeta, não obstante tenha, de forma bissexta, incursionado pelo terreno poético com alguns poucos poemas de menor “voltagem, ” poemas circunstanciais, diria melhor, presunção de jovens que pensam fazer tudo no campo literário. Vou, porém, continuar meus estudos literários aliando o prazer da análise ao julgamento estético.
        No mundo a criação artística, o ponto final só se dá com a nossa passagem do domínio terreno para o da dimensão do espírito. Claro que sentimos o fluir dos dias, meses, anos, décadas e séculos;Por outro lado, a temporalidade é pejada de subjetividade. Eis por que, no nosso particular mundo interior, não nos percebemos velhos e descartáveis.
        A nossa velhice está nos outros através dos rótulos e das discriminações .Uma vez minha mãe Ivone, uma bela mulher, me falou que, à altura dos setenta anos, não se sentia idosa. Sentia-se sempre plenamente remoçada. Meu pai, por sinal também, nunca deixou escapar qualquer resquício de sentimento negativo com a vida de idos, mesmo ao chegar aos oitenta anos. Por que essa atitude? Porque ele e mamãe amavam a vida e tinham ainda sonhos e esperança em dias melhores.
       Gilberto Freyre (1900-1987), notável sociólogo brasileiro, certa vez formulou a ideia de um tempo tríbio - um tempo que para ele somaria o passado, o presente e o futuro numa espécie de fusão de temporalidades, nas quais a sensação resultaria num eterno presente, como forma de não nos apegarmos tão-somente, ao meu juízo, com a preocupação das apreensões do futuro. Tal sensação, ou melhor, percepção desse eterno presente, seria uma maneira de nos sentirmos dentro da contemporaneidade. Não vejo, assim, coisa mais saudável ao espírito para regressarmos ao passado com saudades e aproveitar o presente da melhor forma possível.
       Um texto límpido e fascinante do psiquiatria Augusto Cury, numa abertura a um capítulo do livro Pais brilhantes, Professores fascinantes 7 ed.( Rio de Janeiro: Sextante, 2003,p. 103) há o seguinte pensamento: “Se o tempo envelheceu o seu corpo mas não envelheceu a sua emoção, você será sempre feliz.”
       Essa emoção não a quero perder visto, porquanto não entendo a vida sem a emoção, como não a entendo sem o choro, a sensibilidade, a solidariedade e a dor do outro. Isso não é pieguismo inócuo, porém demonstração inequívoca de que alguém se toca diante de fatos e acontecimentos que nos fazem vibrar de alegria, chorar de emoção ou chorar pela tristeza alheia. Por isso, a arte da comédia, a arte do drama e da tragédia têm seus fundamentos derivados do riso, do ridículo e da catarse.
       Reunindo vocês aqui, amigos queridos e diletos de longa data, amigos mais novos, de coração lhes agradeço pelo carinho de suas presenças no playground do meu prédio. Aqui tenho amigos, cujos laços cada vez mais se estreitaram ao longo do tempo, como da mesma forma tenho nesse recinto outros amigos mais recentes que tive o grato prazer de com eles travar amizade sincera.

       Para concluir, espero que se sintam como se estivessem em suas casas. Tenho dito.