Cunha e Silva Filho
Se dirijo a minha atenção ao país e à sua realidade multifacetada, com pontos
positivos e com pontos negativos, posso
imaginar que nem tudo está perdido e há muita coisa está a feita por
parte dos que nos governam cercados de mil manchas de violência, de impunidade e de desrespeito aos eleitores.
Sei que o Brasil, na condição de ainda emergente, procura saídas para uma recuperação financeira. Por outro lado, vejo que a espada de Dâmocles ainda se vê
claramente suspensa sobre algumas
cabeças de políticos envolvidos
na famigerada Operação Lava Jato,
dando-nos a estranha sensação de que poucos de nossos homens públicos atualmente estão inocentes no
que concerne a seu currículo político. Nem a figura do atual ocupante da Presidência da República está
incólume no mapa labiríntico dos
conchavos, do recebimento de supostas propinas e
do conluio degradante com parte
do alto empresariado.
Ora, numa situação moralmente
suspeita, na qual se meteram tantos
homens públicos dos altos
escalões da governo federal e dos governos estaduais e municipais, agrava-se cada vez
mais a antiga boa imagem
em que grandes políticos do país desfrutavam, uns mais, outros menos, junto ao eleitorado.
O discurso político se
abastardou, foi para o fundo do poço e,
mesmo havendo ainda exceções de
homens públicos zelosos que realmente desejam o bem do Brasil, esse diminuto número de políticos
competentes e sérios não tem
força suficiente para fazer a necessária faxina da podridão que se alastrou e contaminou a maior parte dos setores vitais de nossa
República.
Alguém
com razão poderia argumentar: “E
os políticos jovens não seriam os mais indicados para
fazer uma varredura da
politicalha nacional?” Não
necessariamente. Já pensaram que muitos políticos das gerações mais novas, ao
chegarem aos seus mandatos são filhos
ou parentes dos velhos caciques e sobas da tumultuada nossa história política. Claramente há
também algumas exceções, porém as exceções não alteram a maioria
inepta e não confiável. A
mocidade nunca foi atestado de idoneidade
moral de um cidadão. Jovens há que têm
dignidade tanto quanto velhos
há que não a têm.Os exemplos, em nossa
política, se multiplicam.
Na realidade,
muito pouco se altera na vida
política em termos de qualidade
de seus quadros em razão de que a
estrutura política brasileira está fadada a
manter o mesmo estado de anacronismo de nossa antigas práticas
de nepotismo, de fisiologismo, de
compadrio, de troca de favores e do
jeitinho brasileiro de encontrar
uma maneira de atuação dos partidos e de seus regulamentos internos
corporativos mantidos e
assegurados de tal sorte que, na
aparência, finge-se modernizar-se e moralizar-se para uso externo.
Contudo, intramuros, os privilégios,
sempre salvaguardados a todo custo, não são alterados. Há sempre delongas para
empreender-se uma robusta reforma política
que, assim, vai sendo empurrada
pela barriga.
Na minha experiência de observador da realidade
política, primeiro regional, e
depois, nacional, sei de inúmeros casos de bons candidatos, no passado e no
presente, que nunca foram eleitos porque
são pobres e honestos.Na
política, eleger-se depende de dinheiro para campanhas, de patrocínio, de
fundos políticos públicos
e, por ser desta forma,
candidatos bem postos na
vida, endinheirados ou amigos de endinheirados, empresários,
conseguem se eleger.
Em linguagem política de hoje, depende de caixa 2, de propinas, de
marqueteiros inescrupulosos, de dinheiro
sujo, de lavagem de dinheiro e até de fontes
financeiras do tráfico. Daí, chegamos ao estado mais execrável da história
política nacional que resultou nesse
atoleiro de indignidade em que se transformou nossa vida pública,
sobretudo nos últimos quinze
anos com uma série de escândalos envolvendo
a maioria dos mais conhecidos
políticos brasileiros da atualidade e e do passado.
A Operação Lava Jato, com o apoio da logística da Polícia
Federal e do Ministério Público, em todas as suas diligências, tem
inegavelmente procurado moralizar
e dignificar a estrutura do
Estado Brasileiro, principalmente nas
investigações e apurações de
práticas espúrias envolvendo
milionárias somas de
dinheiro desviado do Tesouro
Federal que foram para as mãos
de políticos corruptos, alguns hoje presos ou sob
investigações.
Isso tudo conseguido graças a um conluio,
por longo tempo, entre grandes empresários e políticos em relevantes funções da administração federal, como também altos
funcionários de empresas estatais. Os
dois lados, governo federal ou estadual,
ou municipal, recebiam propinas vultosas
em licitações com cartas marcadas beneficiando
regiamente aqueles empresários mediante custos
superfaturados.
Todos esse fatores resultaram dolorosamente
na quebradeira de alguns estados brasileiros, sendo exemplos o sucateamento do governo
do Estado do Rio de Janeiro, a partir
das duas desastrosas administrações de Sergio Cabral, além
da situação delicada das finanças
de outros estados brasileiros, como o
Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santos, de que se tem notícia até
agora.
Mas não só de políticos nocivos quero
falar. Há um outro lado da
questão, a meu ver, muito conexionado com o
tipo de educação propiciada ao
brasileiro: o papel do eleitorado. Há uma longa prática
abjeta que campeia entre os
eleitores, ou seja, a falta de educação política,
de formação cultural, de
aprendizagem dos conhecimentos,
componentes que formariam um
leitor mais competente, menos
propenso a ser engabelado por políticos
de má índole, caçadores de votos dos
incautos e dos ignorantes.
Se hoje está um pouco
melhor a visão do eleitor quanto a questões políticas, sociais e culturais, persiste
ainda fortemente o tipo de eleitor que se vende - é o termo adequado -
ao candidato a um mandato
por migalhas, por um par de
calcados, alguma pequena ajuda financeira e outras vantagens mínimas. Isso ocorre sobretudo nas
camadas menos letradas, sem nenhuma
consciência de cidadania e de seus próprios direitos constitucionais.Esse comportamento do eleitorado ignaro se repete em outras eleições onde os mesmos candidatos da ciranda da malandragem voltam s serem eleitos indefinidamente e o que seria um voto virtuoso se torna um voto vicioso e impatriótico. Paradoxalmente, a questão do voto é muito complexa, em todas as camadas, letradas ou não, existe o voto inescrupuloso.
Somente com o aperfeiçoamento de nosso ensino e de nossa educação,
reduzindo ao mínimo a taxa de analfabetismo
absoluto e de analfabetismo
funcional é que haverá um salto qualitativo no desempenho melhor e na conquistada autonomia de escolha
feita pelo eleitor brasileiro. No
entanto, para que isso venha a acontecer, urge que
homens responsáveis pelos órgãos superiores da educação
estejam dispostos a um
reforma profunda do ensino
em todo o território nacional,
respeitando as particularidades regionais e fazendo cumprir os programas
curriculares, aperfeiçoando a
formação dos professores públicos e privados da pré-escola,
do ensino fundamental e médio, e valorizando
a carreira do magistério – esta
uma velha questão que não foi até hoje
tratada em profundidade e com a vontade
política efetiva (não no papel e nas promessas de governantes populistas) de se desejar
melhorar a situação de quase completa desvalorização da figura
do professor até o ensino médio. A sociedade que não respeita seus professores jamais alcançará um alto nível
de civilização. Na China, no
Japão, em alguns países europeus, o
professor é valorizado e o ensino é de
alta qualidade.
Uma vez,
um educador brasileiro fez
referência ao ensino brasileiro que, segundo ele, se dividia em escolas para ricos e escolas para pobres. Essa
indecência ainda perdura em todos os sentidos.
O pais, neste terreno, ainda
marca passo para vexame das nações desenvolvidas.
Por outro lado, a
educação que atinge um elevado
patamar de eficiência anda pari passu com um país bem administrado em todos os setores da vida pública e
privada.
Para isso,
teria que haver moralização de nossas instituições públicas e da competência de nossos governantes (a começar do Presidente da
República) os quais deveriam, antes de tudo,
ter um altíssimo compromisso
com o bem-estar da sociedade e um conhecimento profundo das suas desigualdades, das suas
misérias e das suas injustiças nos dos setores
que mais estão exigindo a
presença e a autêntica liderança da
autoridade não imposta mas conquistada
pelo voto válido e consciente: a mão segura e firme do Estado diante do mais alto índice de violência a que chegou
o nosso país: a saúde, o transporte, a habitação,
a já mencionada educação - fator
nuclear do qual realmente depende a
grandeza de qualquer país.