Um poema de Henry W. Longfellow (1807-1882)
THE DAY IS DONE
The day is done, and the darkness
Which falls from the wings of Night,
As a feather is wafted downward
From an eagle in his flight.
I see the lights of the village
Gleam through the rain and the mist,
And a feeling of sadness comes over me,
That my soul cannot resist.
Come, read to me some poem,
Some simple and hearfelt lay,
That shall soothe this restless feeling,
And banish the thoughts of day.
Not from the grand old masters,
Not from the bards sublime,
Whose distant footsteps echo
Through the corridors of Time.
For, like strains of martial music,
Their mighty thoughts suggest
Life's endless toil and endeavor;
And toçnight long for rest.
Read from some humbler poet,
Whose songs gushed from his heart,
As showers from the clouds of summer,
Or tears from the eyelids star;
Who, through long days of labor,
And nights devoid of ease,
Still heard in his soul the music
Of wonderful melodies.
Such songs have power to quiet
The restless pulse of care,
And come like the bnediction
That folows after prayer.
Then read froçm the tresured volume
The poem of thy choice,
And lend to the rhyme of the poet
The beauty of thy voice.
And the night shll be filled with music,
And the cares, that infest the day,
Shall fold their tents, like the Arabs,
And as silently steal away.
FIM DO DIA
Foi-se o dia. A escuridão
Da Noite sobre as asas desce,
Qual penas suavemente soltas
Em pleno voo de uma águia.
Do vilarejo as luzes avisto
Na chuva e nevoeiro rebrilhando,
Com sentimento de tristeza me envolvendo
À minh'alma irresistível.
Venha um poema me ler,
Um velho, singelo e sentido poema
Que mitigar me venha inquieto sentimento,
E do dia o pensamento afastar.
Não versos d'antanho célebres mestres,
Nem de sublimes bardos,
Cujos rastros, longínquos, ressoam
Pelos corredores do tempo.
Pois, semelhantes às inquietações da música marcial,
Sugerem poderosos pensamentos seus
Da vida o trabalho e o esforço derradeiros
Para esta noite só descanso almejo.
Verso de um poeta mais simples apenas quero ler,
Cuja música do coração jorra,
Qual chuva de nuvens de verão,
Ou dos olhos lágrimas brotadas.
Para quem, por longos dias de labuta,
E de noite e canseiras,
Ainda sim mesmo ouvir consegue n'alma a música
De sublimes melodias.
O condão de livrar têm essas canções
Da tristeza a inquieta pulsação,
E como bênçãos surgem
Logo após concluídas orações.
E, depois, leia do volume precioso
O poema de sua preferência,
Emprestando às rimas do poeta
De tua voz a beleza.
A noite, assim, há de música saciar-se,
E as dores que o dia aborrecem,
Hão de as tendas desfazer, à feição dos árabes,
Em completo silêncio esvoaçando-se.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
Os temas discutidos neste blog se concentram sobretudo na área de Literatura Brasileira, mas se estendem a outros temas e áreas culturais afins. Os gêneros literários da preferência da produção do autor são crítica literária, ensaios e crônicas. tradução de poesia estrangeira. Áreas de pesquisa e interesse do autor: teoria literária,história literária, vida literária.relação entre literatura, pobreza e violência, literatura universal e literatura de autores piauienses
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Ponto Recluso
Cunha e Silva Filho
Chamarei de ponto recluso a situação injustamente inferiorizada de alguns intelectuais brasileiros, diante do vasto e multifacetado espaço literário do país, no que concerne a participações deles em encontros literários, sobretudo a concorrida Flip (Festa Literária Internacional de Paraty, Rio de Janeiro) que, este ano, completou o seu 8º Encontro. O assunto, quero frisar, acompanho de longe, ou seja, pelo jornal
Este ponto recluso implica uma forma de proposital e pouco justo isolamento de alguns escritores por parte dos organizadores quanto às indicações de escolhas de participantes brasileiros e estrangeiros. Se visto pelo ângulo da grande imprensa, os organizadores e coordenadores são identificados, porém o que não se sabe claramente são as verdadeiras justificativas das escolhas, i.e., não se sabe ao certo como são escalados os participantes, os motivos das opções, assim como por que alguns já participaram mais de uma vez em detrimento de outros que nunca para esta Festa foram convidados.
Com respeito ao evento de Paraty, o jornal “O Globo”, no Caderno Prosa & Verso (31/de julho de 2010), estampou dez fotos de escritores brasileiros selecionados para participarem da já famosa e aguardada Festa literária anual. Alguns sorridentes, outros, menos. Enfim, os agraciados. Ocorre, entretanto, que a reportagem mostrou também as fotos dos que nunca foram até hoje convidados, os quais, mostrados na reportagem, somam dezesseis. E repare que não se incluem aqui os famosos etc de Rachel de Queiroz, como costumo repetir para situação semelhante
Entre o grupo de convidados e de não-convidados, no que respeita a prestígio e qualidade literária, em linhas gerais, não há superioridade de um em relação ao outro. Simplesmente, no grupo dos não-convidados, havia ainda alguns que, se fossem chamados, não iriam porque não desejavam esse tipo de Encontro de escritores, conforme as afirmações deles mesmos que aparecem nas legendas sotopostas às fotos. Outros desses excluídos declaram que aceitariam participar desde que fossem convidados.
Além dos dois grupos, há que levar em consideração um terceiro e implícito: o daqueles escritores que são os excluídos absolutos, aqueles que formam esse considerável número de bons e mesmo importantes escritores de todos os Estados brasileiros que ainda não passaram pelo crivo da visibilidade, palavra agora muito em voga para designar nomes, em toda as áreas, que alcançaram repercussão nacional.
A inclusão ou exclusão, em nível nacional, é um fenômeno que se assemelha aos consagrados em outros campos da atividade humana:: futebol, artes, medicina, jornalismo, publicidade etc.
Todo artista, profissional, escritor aspiram ao reconhecimento como uma consequência natural de seu esforço, de sua determinação, de seu trabalho e de seu talento.
Alguns que se isolam, os avessos aos apelos midiáticos, muitas vezes assim se comportam como um modo indireto de querer chamar para si mesmos as atenções da mídia. O curioso é que, contra a vontade deles, ou não, terminam se popularizando devido à própria atitude arredia, à excentricidade ou ao comportamento antissocial. Seriam exemplos, entre outros, os ficcionistas Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.
Os organizadores desse tipo de evento cultural dão lá seus motivos para convidarem esse ou aquele nome. Entretanto, não custa perceber que, nos bastidores da vida literária nacional, sobretudo no eixo Rio-São Paulo, existe uma cerrada cortina de fumaça através da qual sabe Deus como transcorrem as conversas, as escolhas, as discussões em torno de quem merece ser ou não chamado a tomar parte em tais festivais que, por sua natureza, envolvem muitos fatores, interferências, mediações, acertos, em suma, uma cadeia de conexões pessoais aqui e além-fronteiras, sem falarmos em outros componentes nada desprezíveis: o comercial e o do complexo e vantajoso mundo editorial globalizado.. Se fôssemos definir todo esse conjunto de situações e interesses diversos na simbiose entre literatura, autores e consumo de leitura, bem se poderia denominá-lo de política literária.
Regionalmente, alguns Estados brasileiros bem podem já estar acompanhando esta forma de evento cultural, naturalmente em proporções muito mais modestas. O Piauí, ao que parece, já consolidou a chamada SALIIPI, obviamente com os mesmos traços particulares de inclusões e exclusões. São os discípulos de Paraty.
Chamarei de ponto recluso a situação injustamente inferiorizada de alguns intelectuais brasileiros, diante do vasto e multifacetado espaço literário do país, no que concerne a participações deles em encontros literários, sobretudo a concorrida Flip (Festa Literária Internacional de Paraty, Rio de Janeiro) que, este ano, completou o seu 8º Encontro. O assunto, quero frisar, acompanho de longe, ou seja, pelo jornal
Este ponto recluso implica uma forma de proposital e pouco justo isolamento de alguns escritores por parte dos organizadores quanto às indicações de escolhas de participantes brasileiros e estrangeiros. Se visto pelo ângulo da grande imprensa, os organizadores e coordenadores são identificados, porém o que não se sabe claramente são as verdadeiras justificativas das escolhas, i.e., não se sabe ao certo como são escalados os participantes, os motivos das opções, assim como por que alguns já participaram mais de uma vez em detrimento de outros que nunca para esta Festa foram convidados.
Com respeito ao evento de Paraty, o jornal “O Globo”, no Caderno Prosa & Verso (31/de julho de 2010), estampou dez fotos de escritores brasileiros selecionados para participarem da já famosa e aguardada Festa literária anual. Alguns sorridentes, outros, menos. Enfim, os agraciados. Ocorre, entretanto, que a reportagem mostrou também as fotos dos que nunca foram até hoje convidados, os quais, mostrados na reportagem, somam dezesseis. E repare que não se incluem aqui os famosos etc de Rachel de Queiroz, como costumo repetir para situação semelhante
Entre o grupo de convidados e de não-convidados, no que respeita a prestígio e qualidade literária, em linhas gerais, não há superioridade de um em relação ao outro. Simplesmente, no grupo dos não-convidados, havia ainda alguns que, se fossem chamados, não iriam porque não desejavam esse tipo de Encontro de escritores, conforme as afirmações deles mesmos que aparecem nas legendas sotopostas às fotos. Outros desses excluídos declaram que aceitariam participar desde que fossem convidados.
Além dos dois grupos, há que levar em consideração um terceiro e implícito: o daqueles escritores que são os excluídos absolutos, aqueles que formam esse considerável número de bons e mesmo importantes escritores de todos os Estados brasileiros que ainda não passaram pelo crivo da visibilidade, palavra agora muito em voga para designar nomes, em toda as áreas, que alcançaram repercussão nacional.
A inclusão ou exclusão, em nível nacional, é um fenômeno que se assemelha aos consagrados em outros campos da atividade humana:: futebol, artes, medicina, jornalismo, publicidade etc.
Todo artista, profissional, escritor aspiram ao reconhecimento como uma consequência natural de seu esforço, de sua determinação, de seu trabalho e de seu talento.
Alguns que se isolam, os avessos aos apelos midiáticos, muitas vezes assim se comportam como um modo indireto de querer chamar para si mesmos as atenções da mídia. O curioso é que, contra a vontade deles, ou não, terminam se popularizando devido à própria atitude arredia, à excentricidade ou ao comportamento antissocial. Seriam exemplos, entre outros, os ficcionistas Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.
Os organizadores desse tipo de evento cultural dão lá seus motivos para convidarem esse ou aquele nome. Entretanto, não custa perceber que, nos bastidores da vida literária nacional, sobretudo no eixo Rio-São Paulo, existe uma cerrada cortina de fumaça através da qual sabe Deus como transcorrem as conversas, as escolhas, as discussões em torno de quem merece ser ou não chamado a tomar parte em tais festivais que, por sua natureza, envolvem muitos fatores, interferências, mediações, acertos, em suma, uma cadeia de conexões pessoais aqui e além-fronteiras, sem falarmos em outros componentes nada desprezíveis: o comercial e o do complexo e vantajoso mundo editorial globalizado.. Se fôssemos definir todo esse conjunto de situações e interesses diversos na simbiose entre literatura, autores e consumo de leitura, bem se poderia denominá-lo de política literária.
Regionalmente, alguns Estados brasileiros bem podem já estar acompanhando esta forma de evento cultural, naturalmente em proporções muito mais modestas. O Piauí, ao que parece, já consolidou a chamada SALIIPI, obviamente com os mesmos traços particulares de inclusões e exclusões. São os discípulos de Paraty.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Um oema de John Greenleaf Whittier (1807-1892)
Um poema de John Greenleaf Whittier (1807-1892)
THE WORSHIP OF NATURE
The harp Nature’s advent strung
Has never ceased to play;
The song the stars of morning sung
Has never died away.
And prayer is made, and praise is given,
By all things near and far;
The ocean looks up to heaven,
And mirrors every star.
Its waves are kneeling on the strand,
As kneels the human knee,
Their white locks bowing to the sand,
The priesthood of the sea!
They pour their glittering treasures forth,
Their gifts of pearl they bring,
And all the listening hills of earth
Take up the song they sing.
O CULTO À NATUREZA
Com a criação da Natureza da harpa os sons
Jamais cessarão
Das estrelas da manhã a canção
Não esmaecerá jamais.
Preces se elevam, louvores se entoam
Para as coisas todas, próximas ou distantes,
Do oceano os olhos aos céus se erguem
Cada estrela refletindo.
Na praia se ajoelham suas ondas
Imitando esta humana ação
Beijar vêm a areia suas madeixas,
Santidade marinha!
Dos seus tesouros o brilho esparzem,
Suas dádivas de pérolas trazendo
E as colinas todas terrestres, escutando,
A aprendida canção recolhendo.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
Nota do colunista: Encontrei uma brechinha, no meu apertado tempo de estudos e pesquisas, para retomar este espaço de prazer junto ao leitor.
THE WORSHIP OF NATURE
The harp Nature’s advent strung
Has never ceased to play;
The song the stars of morning sung
Has never died away.
And prayer is made, and praise is given,
By all things near and far;
The ocean looks up to heaven,
And mirrors every star.
Its waves are kneeling on the strand,
As kneels the human knee,
Their white locks bowing to the sand,
The priesthood of the sea!
They pour their glittering treasures forth,
Their gifts of pearl they bring,
And all the listening hills of earth
Take up the song they sing.
O CULTO À NATUREZA
Com a criação da Natureza da harpa os sons
Jamais cessarão
Das estrelas da manhã a canção
Não esmaecerá jamais.
Preces se elevam, louvores se entoam
Para as coisas todas, próximas ou distantes,
Do oceano os olhos aos céus se erguem
Cada estrela refletindo.
Na praia se ajoelham suas ondas
Imitando esta humana ação
Beijar vêm a areia suas madeixas,
Santidade marinha!
Dos seus tesouros o brilho esparzem,
Suas dádivas de pérolas trazendo
E as colinas todas terrestres, escutando,
A aprendida canção recolhendo.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
Nota do colunista: Encontrei uma brechinha, no meu apertado tempo de estudos e pesquisas, para retomar este espaço de prazer junto ao leitor.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Por amor ao pai
Cunha e Silva Filho
Há pouco a TV mostrou uma das mais pungentes e dolorosas cenas que já vi: um menininho palestino de cinco anos, lutando bravamente para impedir que o pai fosse preso por soldados judeus indiferentes. Razão da prisão: o pai, porque necessitava muito de água para a sobrevivência da família, foi obrigado a desviar uma pequena parte do curso de um riacho para sua casa. O apresentador do noticiário fez um comentário espirituoso em cima do visto nas imagens dramáticas: “Ora, a água é de todos.”
O movimento do cinegrafista focando, em primeiro plano, o desespero da criança que, inconsolada, não aceitava a ação violenta contra o pai, me parece um final de tragédia grega. O pequeno palestino, gritando, chamando pelo pai que cercado estava de militares levando-o a um lugar onde seria preso, sem julgamento, mas apenas num ato autoritário, era o exemplo mais corajoso de um filho inocente que se vê impotente para livrar o pai de uma situação aterradora.
Não precisava alguém falar árabe para entender a linguagem universal dos gestos, do olhar e dos movimentos convulsos que tomavam conta do mundo interior daquela criancinha procurando, de todas as formas, se desvencilhar das mãos dos soldados que tentavam contê-la inutilmente. Não havia forças que a dominassem tão decisivos eram seus movimentos para se livrar dos braços e das mãos de soldados impassíveis e sem compaixão. Soldados que ali estavam para cumprir ordens nascidas da repressão da equívoca política israelense, dos acordos de paz que não se materializam nunca e, ao contrário, são unilateralmente rompidos.De acordos que, por não serem respeitados, tornam-se geradores de barbáries e truculências cometidas - veja-se o ato incongruente e discricionário – no próprio território pertencente aos palestinos, como é a Faixa de Gaza.
O pequeno palestino, de certa forma, alça-se a símbolo da luta contra a injustiça e a prepotência de quem detém o poder das armas sobre indefesos a serviço de ordens superiores, ordens do Estado de Israel. Onde ficam os princípios humanitários e religiosos (ou serão mais econômicos, com forte apoio norte-americano congraçado ao lobby financeiro dos poderosos judeus nos EUA?) de um povo tão massacrado pelas forças do nazifascismo que, na Segunda Guerra Mundial, culminou com o fatídico genocídio, mais conhecido como Holocausto? Será que, hoje, os judeus estão se vingando daquele genocídio concentrando seu ódio contra um bode expiatório, no caso, os sofridos palestinos? Quero crer que não seja esse o motivo principal.
Onde está agora aquele pequeno palestino que defendia o pai com unhas e dentes, enfiando-se por entre as pernas dos soldados inimigos, chamando-o insistentemente, não se deixando vencer pelas forças de braços e mãos opressores que não lhe queriam permitir alcançá-lo lá adiante, cercado de soldados de rostos carrancudos e pouco se importando com o choro, os gritos e os gestos valentes e decididos de uma criancinha para quem a liberdade do pai era o único bem que, na sua inocência e fragilidade, tão corajosamente desejava preservar? “Pai, eu quero meu pai. Pai! Pai! Pai...! Quero meu pai! Não levem meu pai!
Aquela criança cada vez mais se distanciava do pai e, finalmente, se perdia de nós diante do corte súbito da imagem televisiva.
Quem poderia, leitor, jamais esquecer a voz do pequeno palestino, no meio dos soldados, clamando, desolado, abandonado, contra os inimigos da paz e da liberdade?
NOTA: O colunista ficará algum tempo afastado para realizar estudos e pesquisas que lhe tomarão tempo integral.
Há pouco a TV mostrou uma das mais pungentes e dolorosas cenas que já vi: um menininho palestino de cinco anos, lutando bravamente para impedir que o pai fosse preso por soldados judeus indiferentes. Razão da prisão: o pai, porque necessitava muito de água para a sobrevivência da família, foi obrigado a desviar uma pequena parte do curso de um riacho para sua casa. O apresentador do noticiário fez um comentário espirituoso em cima do visto nas imagens dramáticas: “Ora, a água é de todos.”
O movimento do cinegrafista focando, em primeiro plano, o desespero da criança que, inconsolada, não aceitava a ação violenta contra o pai, me parece um final de tragédia grega. O pequeno palestino, gritando, chamando pelo pai que cercado estava de militares levando-o a um lugar onde seria preso, sem julgamento, mas apenas num ato autoritário, era o exemplo mais corajoso de um filho inocente que se vê impotente para livrar o pai de uma situação aterradora.
Não precisava alguém falar árabe para entender a linguagem universal dos gestos, do olhar e dos movimentos convulsos que tomavam conta do mundo interior daquela criancinha procurando, de todas as formas, se desvencilhar das mãos dos soldados que tentavam contê-la inutilmente. Não havia forças que a dominassem tão decisivos eram seus movimentos para se livrar dos braços e das mãos de soldados impassíveis e sem compaixão. Soldados que ali estavam para cumprir ordens nascidas da repressão da equívoca política israelense, dos acordos de paz que não se materializam nunca e, ao contrário, são unilateralmente rompidos.De acordos que, por não serem respeitados, tornam-se geradores de barbáries e truculências cometidas - veja-se o ato incongruente e discricionário – no próprio território pertencente aos palestinos, como é a Faixa de Gaza.
O pequeno palestino, de certa forma, alça-se a símbolo da luta contra a injustiça e a prepotência de quem detém o poder das armas sobre indefesos a serviço de ordens superiores, ordens do Estado de Israel. Onde ficam os princípios humanitários e religiosos (ou serão mais econômicos, com forte apoio norte-americano congraçado ao lobby financeiro dos poderosos judeus nos EUA?) de um povo tão massacrado pelas forças do nazifascismo que, na Segunda Guerra Mundial, culminou com o fatídico genocídio, mais conhecido como Holocausto? Será que, hoje, os judeus estão se vingando daquele genocídio concentrando seu ódio contra um bode expiatório, no caso, os sofridos palestinos? Quero crer que não seja esse o motivo principal.
Onde está agora aquele pequeno palestino que defendia o pai com unhas e dentes, enfiando-se por entre as pernas dos soldados inimigos, chamando-o insistentemente, não se deixando vencer pelas forças de braços e mãos opressores que não lhe queriam permitir alcançá-lo lá adiante, cercado de soldados de rostos carrancudos e pouco se importando com o choro, os gritos e os gestos valentes e decididos de uma criancinha para quem a liberdade do pai era o único bem que, na sua inocência e fragilidade, tão corajosamente desejava preservar? “Pai, eu quero meu pai. Pai! Pai! Pai...! Quero meu pai! Não levem meu pai!
Aquela criança cada vez mais se distanciava do pai e, finalmente, se perdia de nós diante do corte súbito da imagem televisiva.
Quem poderia, leitor, jamais esquecer a voz do pequeno palestino, no meio dos soldados, clamando, desolado, abandonado, contra os inimigos da paz e da liberdade?
NOTA: O colunista ficará algum tempo afastado para realizar estudos e pesquisas que lhe tomarão tempo integral.
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