segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Tributo amoroso a Vivien Leigh

Tributo amoroso a Vivien Leigh


Cunha e Silva Filho



Deixo as leituras mais cansativas e me volto para o retrato de Vivian Leigh (1913-1967). De pronto me vem a primeira imagem daquela inglesinha, ( posto ter nascido na Índia, em Darjeeling) de porte pequeno (1,61 de altura), muito clara, com a sua cintura fina, seus cabelos não tão lisos, seu rosto perfeito e, principalmente, seu olhar – que olhar fascinante, especulativo!
Sua voz – que voz tão feminina! - delicada, suave, encantadora, belíssima, sobretudo se consideramos o todo do rosto, o nariz, a boca, a testa, as sobrancelhas, mostrados na tela do Rex (ou do Theatro) em Teresina, naquele papel de bailarina desempenhado numa história de um grande amor que teria sido completo se não fossem as circunstâncias históricas mundiais (Segunda Guerra Mundial) provocando mudanças no destino dos personagens; num, a frustração do amor incompleto, noutro, a tragédia individual diante da vergonha moral, no filme “A Ponte de Waterloo”(1940), onde Vivien contracena com um dos maiores galãs americanos, Roberto Taylor - admiração superlativa de mamãe e certamente de tantas jovens nascidas nos anos vinte).
A história daquele par amoroso me fascinou. Entretanto, mais me encantou para sempre foi a figura dessa mulher belíssima, que me marcou a memória estética, o conceito de beleza feminina.
Não creio que outra atriz me chamou tanta a atenção desde a juventude como a minha doce Vivien Leigh. Que estranho fascínio exerce uma bela jovem estrangeira na memória de um adolescente e que, com o tempo, não se desfaz?
Olhando-lhe uma bela foto (presente de meu filho Francisco Neto) reconstituída pelos novos recursos da tecnologia no campo da arte fotográfica, percebo que Vivian Leigh está ainda viva. A beleza não morre mesmo; ao contrário, se intensifica com o passar do tempo.
O belo olhar, com aqueles olhos esplendorosamente azuis e com um quê de interrogação só não fascina aos que não sabem ver a beleza de uma mulher.Você se lembra, leitor, daquele close inesquecível em que, na tela, praticamente só se viam os lindos olhos azuis de Vivien, supervalorizados pelo gesto sensual do levantar um das sobrancelhas? Isso está em “O vento levou,” filme que, mais adiante, cito e brevemente comento.
O mesmo olhar me transporta para outro filme famoso, que fez época no mundo todo: “E o vento levou”(1939) Ah, que fascinação aquele início do filme quanto, na suntuosa casa de Tara, a linda Scarlet, na flor dos anos e na mais perfeita das formas físicas femininas, encantava a tantos pretendentes! Sua figura querida descendo aquela escadaria enorme para ir ao encontro dos convidados, tem a duração do eterno, do belo e do trágico. Scarlet, a jovem filha dos prósperos proprietários de uma Tara ainda não tisnada do sangue dos infortúnios da Guerra da Secessão, ali estava diante da fascinação de milhares de film-goers pelo mundo afora. O Sul dos EUA ainda convivia com restos de paz e de esperança. Não tardava a eclodir a conflagração entre irmãos americanos. No filme, o centro de tudo é Scarlett O’Hara, com todos os defeitos morais da personagem na trama.O filme é baseado no belo livro de título homônimo, escrito por Margaret Mitchell.
Sim, no filme tudo é Scarlett. Sem ela, ele seria diferente, não teria o sucesso que teve. Sempre torci para que, no final pelo menos, a bela jovem terminasse com o estouvado e simpático capitão Bret . Como, dizia eu na adolescência em Teresina, essa linda mulher se apaixonaria pelo feioso Ashley (interpretado por Leslie Howard) que, além do mais, a preteriu para a doce Melanie, protagonizada magistralmente pela bonita Olivia de Havilland?
Olho novamente para o retrato de Vivien Leigh e penso no tumultuado casamento (o segundo) dela com o grande ator inglês Lawrence Olivier. Sei bem que Olivier não era feio, mas ao lado da belíssima Vivien, era pouco para ela. É difícil separar Vivien Leigh de seus personagens, além do mais porque para mim, que me tornei seu fã incondicional, vencido pela sua beleza e pelo seu olhar, a Vivien que conheci na tela é a que me seduz, visto que foi por esse meio que a conheci. Ama-se a imagem que nos seduz. E essa imagem tem força de perenidade.
Vivien, na vida privada, não foi feliz. Não sei – me pergunto – como pessoas tão fascinantes não tiveram vida feliz, harmônica, cheia de amor, cercada, no final da vida, de paz? As estrela do cinema nascem, a meu ver, para seus papéis, não para a vida no seu cotidiano amorfo, repetitivo, afundado em frustrações.. Quando as estrelas, na vida real, usam o álcool e outros vícios ou estimulantes artificialmente fabricados, parecem reforçar a idéia de que apenas na tela nossas amadas soam mais reais do que o cansaço da vida. Olho pra você, Vivien, e a minha paixão pela sua beleza e pelo seu mistério permanece num tempo que é eternidade.

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