quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Alcides do Nascimento e a violência brasileira

Cunha e Silva Filho


Descobrir quem matou covardemente o jovem Alcides do Nascimento, 22 anos, estudante de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, é obrigação da polícia e da justiça. Mas, isso não se torna suficiente para dar satisfação à sociedade brasileira. Não problematiza o problema por detrás da violência feroz que ataca o país para vergonha de nossas autoridades, de nosso dirigentes, que não mostraram, até hoje, políticas públicas que, coordenadas e harmonizadas entre si, possam dar um combate sem trégua à impunidade.
Quando o gravíssimo problema da violência sem medida chega aos níveis em que se encontra, é hora de exigir do Estado brasileiro medidas e ações urgentes voltadas para um série de mudanças em várias esferas do poder, mobilizando sobretudo os nosso órgãos de segurança pública, as polícias civil e militar para uma reavaliação do que se tem feito nessa questão e do que se pode fazer de imediato para conter o crescimento desenfreado da selvageria sobretudo urbana que está destruindo cada vez mais a convivência normal na vida das pessoas.
No meu juízo, é urgente que se repensem as penas aplicadas contra facínoras que infestam o país. Criminosos do tipo dos que barbaramente assassinaram um jovem e promissor estudante quase ao final da conclusão de seu curso continuarão, em outros lugares do país, nas metrópoles e nas pequenas cidades, cometendo as mesmas atrocidades caso não sejam exemplarmente tratados com uma justiça que iniba futuros crimes, que faça o criminoso pensar duas vezes, diante do rigor de penalidades cumpridas à risca, antes de ceifar vidas inocentes. Só com modificações substanciais do Código Penal e a extinção de regalias para delinqüentes de alta periculosidade, poder-se-á, numa primeira fase, diminuir os altos índices de crimes brutais ou hediondos.
É tão catastrófica a situação da violência brasileira que não descartaria o instrumento legal da prisão perpétua para os crimes mais bárbaros. É hora de pensar também nas penas que hoje se aplicam a infratores adolescentes. Reintegrá-los à sociedade é dever do Estado, mas, nos caso de crimes hediondos, tratá-los como se fossem crianças ingênuas seria um passo para trás na solução de todos os determinantes de ordem social-econômica que levam à criminalidade galopante.
O exemplo de Alcides, um jovem pobre, negro, filho de uma ex-catadora de papel que, tendo estudando em escola pública, ascende a uma vaga de um primeiro lugar numa instituição superior do ensino público federal, é digno de reflexão a sociólogos, antropólogos e aos governantes. Acho mesmo que nem fez parte de cota para que ingressasse com brilhantismo na universidade. O argumento de ser pobre, excluído, negro, não é fator decisivo para o fracasso de um jovem carente à felicidade pessoal e a um futuro que tudo indicaria ser venturoso e de paradigma para outros jovens excluídos como ele. O sucesso muito depende da formação familiar, do apoio dos pais, ou da mãe sozinha.
Quanta emoção senti quando uma reportagem recente na televisão comentou que Alcides, com o auxílio da bolsa de iniciação científica, ainda arranjava uma modo de repartir um pouco para pagar o cursinho de vestibular de uma irmã. Que exemplo de desprendimento e de fibra num jovem de tão pouca idade como ele!
Eu também conheci jovens pobres de escolas publicas que, pelo esforço despendido nos estudos, conquistaram seu lugar em universidade pública de alto conceito. Alguém me pode argumentar que criminosos não tiveram oportunidade. Foram levados ao crime pela necessidade, pela pressão da fome, ou porque estavam drogados. Isso ainda não me convence. Os criminosos que mataram Alcides à porta da casa dele, segundo informou a imprensa, iam matar uma outra pessoa. Como não a encontraram, por pura maldade, por pura selvageria – bestas feras da humanidade -, resolveram dar cabo de um inocente em lugar do outro. Contra essa hediondez, conclamo os homens de bem deste país do carnaval, do samba, do futebol e das mulheres bonitas. Não - diria para aquele turista alemão – aqui certamente não é um paraíso. Procurem este em outra região.Chamar de paraíso só porque aqui faz um calor infernal é brincadeira .

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