quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sudeste brasileiro em tempos apocalípticos




                                       Cunha   e Silva Filho

    As informações que me  passam  os jornais ou outros meios de comunicação  é que, em quarenta anos,  nunca se conheceu, máxime em São Paulo, um  período  de  falta de água  nos rios  que  servem  à população  paulista e especificamente  à metrópole  de  São Paulo. Os reservatórios   de que dispõe  esta cidade  estão   em níveis  de   ameaça à população, mas  ameaça mesmo,  com  possíveis consequências   de alto  impacto  para seu  povo,  seu comércio, sua indústria, enfim,  a sustentabilidade  desse grande e vital  Estado  brasileiro.
     De resto, a capital   paulista  está enfrentando  de início   estiagem e contraditoriamente   inundações, quer dizer,   sofre com  os estragos  das grandes inundações , dos raios,  das tempestades  e diminuição   severa  de suas fontes de  água potável, como se já não bastasse  uma série de outros  graves   problemas  enfrentados  por  São Paulo, sendo o maior deles a violência  desmedida  no cotidiano  da capital.  
     A reação  dos paulistanos    e paulistas  tem se mostrado  de várias formas: lamenta  pela  escassez de períodos  de chuva mais prolongados e  reclama,  com   justiça  e direito,   dos   responsáveis  pela  administração estadual  e  municipal. E com   razão.
      Não somente  é culpado  o  atual  governo  de São Paulo, de vez que o fenômeno  de escassez de água  potável  deveria  há muito ser  tratado com  a maior   responsabilidade  possível. O setor  que cuida  do abastecimento de água  é um dos pontos   deploráveis na  questão  que se discute  neste artigo.  Com o crescimento descomunal da capital  sobretudo  demográfico,    exigindo  uma  demanda  gigantesca  de  suprimento   de água   para uso  humano, as autoridades   que  governaram  São Paulo  pouco  ou  nada fizeram   e nada  previdentes   se   mostraram   quanto   ao futuro  da capital  e do estado  em geral.
      A isso  chamaria de  governar  improvisadamente  em alguns setores vitais  como o  do abastecimento  de  água  de qualidade  para  a população. Obras  de engenharia  que se fizeram   - construção de reservatórios -  não  demonstraram  nenhuma  visão  prospectiva  do que  poderia  ocorrer  no estado de São Paulo. E, em proporção menor,  a mesma crítica  se estende aos  estados  do Rio de Janeiro, cuja capital  é outra   metrópole super-demográfica, com  Minas Gerais, idem.
      Com o conhecido  defeito da improvisação  em lidar com  a coisa pública, nenhum dos  governantes ( e  esta crítica  se dirige a quase todos  os governos  estaduais do país ao longo da nossa  história), teve, repito,  uma visão  mais   arejada do que, com o vertiginoso  crescimento da  população, sobretudo de imigrantes, poderia  acontecer   com o nosso  potencial  hídrico. 
    Por falar em  improvisação, leio, em  tradução minha,  um capítulo didático  em inglês,  de Eugênio Malanga (1), em que,  louvando  o progresso e a grandeza deda cidade de São Paulo,  faz um  assertiva desta  ordem,  que vale,  para os dias sombrios atuais da metrópole, como  se fora um  vaticínio:  “A fundação  de São  Paulo nada tem  de  espetacular. Não foi  planejada, não se desenvolveu,  não foi  planejada  para ser uma  grande  cidade. Aconteceu por acaso.”  Por outro lado,  em outro  trecho,  aquele autor  recorda que,  pelo  progresso  e  crescimento  vertiginosos  de São Paulo,  ela já se comparou  a Chicago,  a Detroit e lhe chamaram até de “a Manchester  brasileira.”
   Por conseguinte,  não  devemos  culpar  a Natureza  só  pelo que está vivendo  São Paulo; com ameaças climáticas e pluviométricas  da mesma ordem estão dando sinais    o Rio de Janeiro e Belo |Horizonte, outra capital   de grande  concentração  demográfica.
   O que não pode  permanecer  é esse estado  de insegurança sobre   como  viverão  essas capitais  com  crescente  escassez de água   para uso  humano.
   Os governadores  dos três  estados já estão até falando em  racionamento  “pesado”  de  água  para a  população,  numa  proporção  de causar  horror:  cinco dias  sem água para dois  dias com água  nas torneiras.
   Não me venham  tais governadores   tentar  tampar o sol com uma peneira   com afirmações   que são meias-verdades a fim de esconder  a completa   ausência  de   tirocínio e de espírito de previsão  que são  condições   básicas  a quem  governa   um estado da federação..
  Os prejuízos  da população já são   enormes  com  a falta  de água. Como,  pois,  ficarão   funcionando  os hospitais,  as escolas, as universidades,   o corpo de bombeiros, os restaurantes,   os asilos,  os apartamentos,  para não mencionar  tantos  e tantos outros setores   que, sem  água,  não poderão  resistir  por muito tempo?
    A Presidente  Dilma afirmou  que pela Constituição cabe  aos estados    a resolução   desses problemas   relativos  à  falta de água.  Ela está  redondamente  enganada. Somos uma  República  Federativa  com   estados    que funcionam  conjuntamente  com  o  apoio do Executivo Federal. A situação que se nos apresenta é de emergência,  de exceção,  de necessidade  do  suporte do governo  federal,  até  mesmo   e sobretudo   na destinação   urgente  de recursos   financeiros  para  solucionar  em curto  prazo   o sufoco  por que está  passando   São Paulo.
     A Presidente da República não pode absolutamente  se omitir  na discussão   urgentíssima    a fim de  formular um  plano   emergencial  para   estudar   e equacionar,   com  o  auxílio  inestimável de  nossos  engenheiros  e cientistas, sem descartar  nossos  especialistas no assunto  das melhores  universidades  brasileiras, uma saída  técnica  para prover  São Paulo   e os outros dois estados de formas de canalização, por exemplo, através de ductos,  como  fez a Rússia em relação  ao gás   transportado  para outros  países    da Europa. Transposição de rios brasileiros   não é a única    correta  solução e o que se tem visto   neste sentido  tem  tido  efeito  contrário e  prejudicial   ao fluxo   navegável  dos rios. Haja vista essa obra  que  se está  tentando  realizar (dizem até que  a obra  está  paralisada!), i,e,,  a transposição do Rio  São Francisco,  que  tem dado sinais  de    se tornar  um rio  temporário com algumas  fontes  de água  já  secas.
         É inconcebível que  o  país  que  tem  o maior rio  do mundo  em volume de água  esteja   passando  por  este  flagelo  da seca,  assemelhando-se,   em alguns  aspectos,   ao  “Polígono das Secas”  do Nordeste. Será que   teremos, então, no futuro,  ficcionistas reproduzindo cenas  de Vidas secas, obra-prima de Graciliano Ramos (1892-1953) com novos  Fabianos,   Sinhas Vitórias e  cachorras  Baleias tendo    a cidade  de São Paulo como  o espaço da tragédia  brasileira? Seria cômico se não fosse trágico.
        As populações dos três estado  do Sudeste  devem se unir  e exigir  urgentíssima  posição dos seus governantes e da própria  Presidente Dilma  satisfação  para esta situação   tão  aflitiva  aos estados  afetados, principalmente   São Paulo. Se alegarem  que  não têm  condições   financeiras de bancar  uma obra   de grande vulto  para   resolver   este  premente  e mesmo  dramático    problema  por que atravessam  os  paulistanos e  paulistas, seria  o caso de se  indagar:  e o dinheiro  que  o escândalo da Petrobrás   desviou do Erário Público,  ou seja,  do  povo brasileiro?
         E as outras falcatruas ( os escândalos do “Mensalão”) cometidas  durante  a gestão Lula e, sob outras formas, na de Dilma? E a gastança   com  os vencimentos   de marajás   de   senadores  e  deputados federais, de ministros do Estado, do número   desmedido de ministérios, do  escândalo da  Petrobrás, reafirmo,    dos cartões  corporativos,   do dinheiro  público  canalizado para as campanhas  políticas, entre tantos outros “malfeitos” (jargão  da própria  Presidente)  do governo  federal?  Ora,  não me venham  declarar que  não   dispõem de   dinheiro  para realizar  obras   de alta envergadura  a fim de  amenizar  o sofrimento  dos paulistanos e , quem sabe,  dos cariocas e mineiros?
        Se existe estiagem, reconheço, mas não me venham convencer de  que  a culpa   do descalabro  em São Paulo  é só da Natureza. O dedo  humano  tem  um  efeito  muito  mais  pernicioso porque  pode levar  a cidade ao caos  e à desordem  na luta  individual e ignorante:   “-- um gole d’água, por amor de Deus!


(1) MALANGA, Eugênio. Vamos aprender  inglês. v. II. São Paulo: Editora  “Ave Maria” Ltda.,1959, p. p.83-84.  

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A INJUSTIÇA, SEUS MALES E ALGUMAS SOLUÇÕES

       


                                                Cunha e Silva Filho


          Só quem já sofreu  injustiça  sabe o quanto  ela machuca,  decepciona,  acabrunha,  causa indignação   e é deletéria. Entre os males humanos, a injustiça é a que provoca  mais  censura   em qualquer parte,  em qualquer circunstância da vida.
        A ação injusta penetra todos  os ângulos da vida  social,   coletiva,  comunitária,  nacional  e internacional. Veja-se um  exemplo típico: a injustiça  da fome  mundial ainda  neste  quinze anos  iniciais do  século.  Em regiões da África, das  Américas (incluindo  o nosso  Brasil)  grassa  como  um  câncer, ceifando  sobretudo  crianças,   animais,  o homem. Este quadro de  desumanidade se torna mais    reprovável, para  dizer  o mínimo,    quando  sabemos  que a  riqueza do  planeta Terra está  nas mãos de  1% dos  chamados   milionários!
      Temos  organismos   internacional para  cuidarem da   diminuição  da pobreza, ou melhor, dos que   se situam abaixo do nível  desta? Sim temos, e, por mais que  façam,  o mal  da fome  resiste. A razão  primaria  para   esse permanente   estado de miséria não é fácil de  localizar: encontra-se no fator  econômico,  ou seja,  nas desigualdades   criadas  pelos  sistemas   de governo das nações, pelo descaso  global  contra a educação mundialmente  considerada  pelos  organismos   internacionais,  pelos desvios  de dinheiro  através  da corrupção    generalizada, sobretudo  em  países de baixo  nível de escolaridade.
    Outros   fatores   pelos  quais  a  fome  não  foi ainda  extirpada em tempos  de progresso e  tecnologia  tão complexos e avançados  - contradição   extrema! -  podem ser   identificados   na questão do individualismo   dos países,   nos gastos   com   armamentos   de ponta que só servem a um  fim : a destruição da Terra. Falta, a meu ver,   um gigantesco  projeto  supra-nacional que se  encarregaria  de   estudar   com  profundidade,   sem  condicionamentos  políticos,  ideológicos  e religiosos. É factível isso? É, sim. 
   O tratamento  que agora  se deveria  dar aos problemas  gravíssimos mundiais  tem que passar  por questões  envolvendo  o meio-ambiente,  a climatologia,   o espírito desideologizado e uma  mente  global   insubmissa  às contingências fortemente  nacionalistas.   É claro que não  estou   advogando   a ideia de que   o  planeta seja  conduzido  por um  órgão  que determinasse e se imiscuísse  na soberania dos povos, mas um   organismo supra-nacional que  fosse  presidido  apenas  pelo espírito  de natureza humanitária,  sem  populismos,   sem  laivos  de  imperialismo  ou  de grande  potência   dominadora    como   no século  passado  tivemos e mesmo,   de formas diferentes,  em séculos   da História  dos povos.
    Eliminar  ou amenizar  suficientemente a injustiça, creio,  teria que  passar  por  essas mudanças de cunho  humanístico na   condução  dos destinos   do homem  no  mundo.
  Esquecer  a gravidade do  problema da fome, da pobreza, da injustiça, enfim,  considerada  em  todas as suas manifestações – e são inúmeras -  infra-estrutura do Estado,   saúde,  educação,   a questão da violência, a impunidade, a infância abandonada, a desagregação familiar, a corrupção,  a politicagem, a  incompetência  de governantes,  a desídia  em  lidar com  a coisa pública, a malversação   do dinheiro  público,  o individualismo    exacerbado das pessoas   de alto  padrão  de vida, o consumismo   excessivo,  a falta  de uma dimensão   espiritual ("the missing dimension") de que  já falou  um  pastor  americano, Herbert W. Armstrong (1),  que  oriente  os indivíduos a serem,   desde a  infância,  pessoas  dignas,  honestas e solidárias,  estaria na contramão  de  toda um comportamento  das sociedades  e dos governos fundamental à batalha  contra  as  injustiças que  podem se  incrustar  no emprego, na fábrica,  no hospital, na escola, na universidade,  nos tribunais, de justiça, nos esportes,  nos  estádios, quer dizer,  a injustiça  é um  mal  ubíquo instalado  para   destruir  inocentes  e humilhados em tempos de terror  e espanto  universais.

(1) ARMSTRONG,  Herbert W.. Autobiography of Herbert W. Armstrong. v. 1. World  Church of  God, 1986, USA, 646 p.).


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Dois notáveis educadores piauienses




                                         Cunha  e Silva Filho


    Uma vez, em crônica,  falei  que  o período  inicial  do meu  curso   primário não me foi, ao contrário de tanta gente a quem  cumprimento  pela  felicidade  que desfrutou nesse período escolar,   bafejado  pela  alegria  plena,  por um ar  de eterna  felicidade. Me lembro de que   os primeiros  dois ou três anos,  mudei muito de escola,  estudei  em escolas  particulares sem renome,  em  aulas particulares  de reforço  à leitura,  (uma delas tinha  como   responsável a professora  Dona Eremita, velhota  durona,  exigente, me dava um certo medo). Ainda nas minhas perambulações,   estudei  na conhecida Escola    Demóstenes  Avelino, cujo dono era o  professor  Felismino Weser.
          Estudei ainda  num grupo escolar por um ano ou menos do que isso, que  ficava  em frente ao  Palácio de Karnak,  ou seja no espaço  que  estaria  incluído  o que posso liricamente  chamar “coração  de Teresina”, até que,  lá para  a terceira  série ou quarta,  meu  pai (e os  meus dois  irmãos mais velhos,  Sonia e Winston)  me levou   para  cursar  o final  do  primário  no Ginásio  ” Des.  Antonio Costa,” famosa e popular instituição  de ensino  que dominou  largo  período  do  ensino  privado  teresinense. Era dirigido  por dois  irmãos,  o  professor  Francisco Melo Magalhães e o  professor  Domício  Melo  Magalhães.
       No  instante em que ingressei  no Domício, nome  por que era  carinhosamente  denominado  aquele  ginásio,  posso  lhe afiançar,  leitor,   que houve em mim  uma transformação que bem  poderia  ser  de natureza epifânica. Perdi  o medo  de escola,  criei ânimo,  desabrochei  para  as delícias  da aprendizagem,   da leitura,  da escrita, da matemática. Só sei que, da terceira  série, pulei  para o   exame de admissão. O caminho  estava aberto e o futuro seria o limite.
      Sentia que a  estrada do saber se me abria para sempre,  sem  tempo  fixado. Era tudo deslumbramento,   emoções,  desejos  insopitáveis  de conhecimento, de superação,  de  vencer,   de aprender  pra valer e tudo  feito  do prazer  de aprender  por aprender,  sem  imposições dos pais,  de amigos,  de parentes.  Era uma   tomada de  posição minha e de mais ninguém.   
    Nesse período  de exuberância  infantil,  convivi na sala de aulas com os  irmãos  Magalhães. Com o professor Melo,  assim  o chamávamos,   aprendi  o conteúdo  de matemática; com o  professor  Domício,   de forma  lúdica,   aprendi  a  prestar  atenção  aos detalhes  de  quadros  que  trazia  para a sala e nos  ensinava a  fazer uma descrição: “O quadro que vamos   descrever  representa ...”.  Até hoje me soam   comovidamente   aquelas suas  palavras.
       Do professor   Domício,  aprendi  os rudimentos  da geografia  e história, que complementava com um  velho  livrinho  destinado ao  exame de admissão  e de outros  livros   da biblioteca de papai destinados  àquele  nível. 
       Quando enfrentei  as provas  do exame de admissão ao ginásio,   estava bem  e até recebi elogios  de um  professor  querido, o professor João Batista,  que,  no ginásio,  me lecionou    latim  e  canto  orfeônico. João Batista  era um  mestre  por vocação. Tinha  deixado a batina,  casou-se. Acredito que foi muito feliz. Foi  um grande incentivador meu e fazia  questão de me elogiar  pro  papai, que  obviamente   se orgulhava  de mim.
     Os irmãos  Magalhães  fizeram  história  na educação  piauiense.  Eram de Piracuruca. Formaram-se em direito em Teresina, mas preferiram  se dedicar  ao magistério. Conta-se que arrostaram muitas dificuldades   de possíveis  inimigos   invejosos,  porquanto  seu  Ginásio  era repleto de alunos.
      Porém, nada os impediu  de  dirigir  essa  grande  e popular    escola   particular. Nele lecionaram  grandes figuras  de professores  de alta competência. Posso mencionar alguns:  Lysandro  Tito de Oliveira (geografia)  Valdemar Sandes (língua  portuguesa),  Cunha e Silva (francês),  João Antonio (ciências)  Jose Eduardo (inglês),  Alcides Lebre (desenho)  Francisco  Viveiros (inglês),   João Batista (já citado),   professor  Tonhá, hipocorístico do  professor  amarantino Antônio Veríssimo de Castro, grande   estudioso  do vernáculo, filólogo,  professor de   português, professor, autor de obras sobre língua  portuguesa e dicionarista, na área de etimologia, Edmar  Vasconcelos de Sant’Ana (desenho), autor,  se não me engano, de um  único  romance de título estranhamente  simbólico,   Quando?...,  Depois da Quermesse! (impresso pela  editora Vozes,  Petrópolis,RJ, 1995), no qual, na capa, consta apenas  “Sant’Ana”  como autor.A obra de Sant'Ana recebeu  elogios  de  um professor  universitário  inglês, Bruce Corrie,  de  José Louzeiro e de  jornalista  Raúl Soeiro
      Outros  professores  de mérito  lecionaram  no  Ginásio  “ Des. Antonio Costa.”  Por  terem sido professores meus  por muito  pouco tempo,  os nomes  deles me escapam  à  memória. Umas  observação:  creio que,  pelo  recorte de  tempo  dessas memórias,  todos  os citados  ilustres  mestres, a quem  presto  nesta coluna  minha   gratidão  perene,  já  estejam, como nos versos  finais do poema  “Profundamente” de Manuel  Bandeira (1886-1968): “__Estão todos  dormindo/Estão todos deitados/Dormindo /Profundamente.(Libertinagem, 1930)
      Os irmãos Magalhães sofreram reveses, incompreensões, até   injustiças, seguramente  por se  tratar de um educandário   que  batia  recordes  de  número de alunado.O Ginásio  era até  injustamente  criticado,  por pessoas  desavisadas, por  expressão do tipo  “escola  PP,”  que  queria dizer: se o aluno  pagasse a mensalidade,  passaria  de ano.Nada mais  injusto  e  falso. Jamais  renegaria  o valor   moral  e  educativo  do Ginásio  “Des.  Antonio Costa.” 
       Todo  o período  em que  tive  a honra  de ser aluno desse  colégio foi  pontilhado  de contentamento,  de  sentimento   de   alegria,   de compartilhamento, de amizades  feitas, de entrosamento  entre mim  e o  colégio e de ter sido  considerado  um   aluno  respeitado   e querido  por meus  mestres e elos diretores, os irmãos  Magalhães. Razão tinha   Olavo Bilac de  atribuir  um   importância  elevada ao ginásio – base  de todos os futuros   cometimentos que, se me deram  tantas   canseiras, também  me  realizaram  como   estudioso.
   Nos dias de treinamento para  as  “paradas” de “Sete de Setembro” é que se via  a numerosidade de  estudantes   do colégio.  O educandário não fazia, entretanto,  parte dos grupo de  colégios  da chamada  elite   teresinense. Contudo,   isso não  diminui  a grandeza  que   esses irmãos significavam     para   o campo   árduo da educação piauiense.
    Muito aprendi com o  professor Mello e com o  professor  Domício, cujas  personalidades   opostas  pelo  temperamento, no entanto,   se  completavam  e davam, assim,  uma unidade de dupla de  docentes  que nasceram   para  a sublime arte de ensinar e divulgar   sabedoria  em companhia  do ilustre   corpo docente escolhido a dedo.
     No  já envelhecido  Certificado de Conclusão do Curso  Ginasial,   que o Ginásio “ Des.  Antonio Costa”  me conferiu no ano letivo de 1960, no alto  da página modelo  7  do diploma, logo abaixo  do  símbolo de nosso  pendão e do  órgão  responsável pela  validade  do documento, Ministério da Educação e Cultura,  impresso  em preto e branco  se  encontra o nome, em  caixa alta,    do colégio, assim como o do fundador, J. R. Magalhães Filho; o endereço  da instituição, Rua   Felix Pacheco, nº 1589; o “fone”, 2645; a cidade, Teresina ; o Estado, Piauí. E, para completar os dados burocráticos, esta emblemática  afirmação  de Platão (428/427  a.C.- 348/347 a. C.)  : “A educação é a mais  valiosa  herança que os pais  podem  deixar aos filhos.”

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O meio-ambiente é a palavra-chave




                                 Cunha e Silva Filho


       Em incisivo artigo  publicado no Globo (17/01/2015), o cientista  político  Nelson  Paes Leme tece com argúcia e oportunidade  algumas  observações acerca  do  recente atentado  contra o jornal  francês  Charlie  Hebdo do qual   resultou a morte de  talentosos cartunistas  e de outras  pessoas , causando  uma comoção  nacional  e um grande  repercussão  no exterior.
     Porém, acertadamente,  Paes Leme não deixa escapar   a chance de  fazer  um  pertinente    alerta: que não apenas  as multidões  conduzidas por chefes de Estado   europeus  se  unam  contra o terrorismo, mas que,   no conjunto de  problemas  mundiais  de alta  relevância  existe  a questão  do meio-ambiente,  da preservação da Natureza-mãe,   esquecida  com frequência  em  manifestações  de massas  da envergadura  que foi a da morte dos  cartunistas.
    Para o cientista político, a “sobrevivência da humanidade” e da “bioesfera” se encontram   entre as prioridades  urgentes  que deveriam estar na pauta  dos impasses  a serem   debatidos  amplamente  no mundo  inteiro. Lutar contra  o terrorismo   é uma questão de honra  para  os países que  prezam a democracia, mas  olvidar  um outro  inimigo que nos espreita,  a derrocada  da vida em nosso  planeta,  é da  mesma maneira    vital para os  seres humanos  deste  início  de século.
      Segundo  o  cientista  político,  a visão dos  problemas  de enorme   significação  para  a preservação  de nosso  planeta é  tema que deve  ser  considerado  num programa amplo  interdisciplinar  envolvendo o maior número  possível  de  equações   conducentes   a estratégias para  estancar  a reação   da natureza contra os que a   destroçam  por muitos meios: poluição,   efeito  estufa provocado  pelo  uso   excessivo  do dióxido de carbônio,  inundações,    afrontosas  mudanças climáticas, tempestades,  explosão demográfica nas metrópoles,  desmatamento  das florestas tropicais,   incompetência   das autoridades, ganância  financeira,   gigantismo  das urbes,  demandas  econômicas,   desperdício  dos recursos da natureza,  tudo isso, repito,  em decorrência do  descaso do homem moderno  por preservar,   na medida   justa e humana,   o que nos  resta  do planeta. 
      No Brasil,  temos várias consequências  do mau tratamento  da natureza pelo  homem:   a situação   da seca em São Paulo,  a degradação do rio  São Francisco,  o fornecimento de água  potável  para  São Paulo,   os apagões   já registrados,  o  extremo  calor no Rio de Janeiro jamais visto. A expressão “Rio  45 graus” já era, pois a sensação térmica  pode chegar a  50 graus! Qualquer habitante com mais idade  do  Rio de Janeiro  percebe  que a cidade  já foi  menos quente. São Paulo, idem.
      Paes Leme sublinha  um dado   de extrema   importância: a humanidade  pensa  mais  nos problemas humanos  do que na  prática  e cultivo   do entrosamento  entre  a “espécie  humana e a história evolutiva das demais  espécies.”  Para ele,  uma não  pode  se separar da outra. É o todo  do Planeta que  estamos  pondo em  risco e afundando  na destruição. O perigo  é o homem, não a natureza. E o homo economicus  ainda joga  papel  saliente e decisivo; caso não o  faça,  ele estará   cavando sua  própria cova, se é que ainda haverá  cova  para todos. Será como aquela   advertência, algumas vezes já citada por este colunista,   ainda  tão atualizada de  Bertrand Russell (1872-1970): “ Só há dois caminhos para a  humanidade,  a paz ou a destruição  total.”
     Para ele,  falta a  nós  uma  visão  “holística,” ou seja,  um   encaminhamento   dos problemas de  maneira   geral e em conjunto. Não se poderia  levar  só  em conta       a questão econômica, que é relevante, mas  não é a mais   premente  à felicidade  terrena.
     Segundo  Paes Leme,  ou haverá  interdisciplinaridade  no   ataque aos problemas  do meio-ambiente,  ou  estaremos  caminhando  para  uma   posição  perigosa de sobrevivência ainda neste século. As  sugestões,  expressas de forma cristalina  pelo  cientista  político, são no sentido de que, em  primeiro lugar, se dê  prioridade ao chamado  “Índice de Desenvolvimento  de Desempenho Sustentável” e não,  como  se faz  amiúde  no trato  de questões   cruciais  para a salvação do  planeta Terra,   prioritariamente ao  PIB.
   E, por falar  naquele  Índice,   Paes Leme adverte o leitor  para  a posição   pouca honrosa  para o  Brasil que,  em 2014,  cujo EPI se coloca na 62ª  posição do “ranking mundial”! Mesmo  na América Latina,  encontra-se o  Brasil  em   posição   vergonhosa, ou seja,  fora  do conjunto de dez  países   que  se situam num ranking  mais expressivo. Acentua  o  cientista  político  que   tal  posição   inferior  de nosso  país   não faz jus  à condição de que  aqui  se encontra, como dádiva  da natureza,  o  "pulmão do mundo", aludindo  à nossa  Amazônia.

     O artigo de Paes Leme é polêmico  é ,  a meu ver,   de   grande   interesse  para   todos aqueles  que desejam  que seus  netos e  bisnetos   tenham   sobrevivência  ao longo  deste século. Mas, o artigo  não se sustenta  no vazio.  É rico de  detalhes e  observações  que devem ser   medidas  com  toda a  atenção que merece o assunto. 
    Para tanto, cita   importantes autoridades  científicas,  como a de do astrofísico  Martin Rees, autor do apocalíptico  Our final  century (em tradução  livre, Nosso  século  final), ou do  biólogo também britânico James  Lovelock, com  seu livro,  A vingança de Gaia, ou ainda  a do filósofo John  Gray, com seu livro  Cachorros de palha. Para  Paes Leme,  os três formam uma   “espécie de  trilogia do apocalipse" na Inglaterra e o mais   assustador  é que  suas previsões  já incluem  os  “próximos  50 anos!
      Ressalte-se que  o citado  Martin Rees se  fundamenta  em   índices  analisados   conjuntamente, ou seja,  usa  o  citado  EPI, IDH e  PIB. Ou seja,  não se prende tão-só ao  fator  de ordem  econômica. Além disso, critica os gastos   astronômicos  de  países civilizados  com armamentos,    os quais só servirão  para    precipitar  ainda mais  as posições   nada  alvissareiras  para a sobrevivência  na Terra.
     Além disso,   a própria OTAN, de acordo com  suas próprias fontes,  dobraram seus  gastos militares, atingindo  cifras de  trilhões de dólares. Os EUA, também. Tudo isso  só pode  provocar    indignação  e  consternação dos homens   que lutam  pela  paz e pela  bem do  Terra. 
     De qualquer  forma,   o artigo de Paes Leme é útil  e  original e, como  cientista político,   não  se furta a   fazer  analogias  com  outros temas  que,  estruturalmente,    se  imbricam   na  tentativa de  entender  as implicações   da  desordem  do Planeta,  sobretudo do   “aquecimento  global”,  cujos  efeitos  hoje em dia,  em  nossas metrópoles e mesmo  no interior,  já  dão  sobeja  prova  de que  o  planeta  Terra está  muito doente  e, por conseguinte,   necessita  da atenção  de todos  os  povos do mundo,   sobretudo  dos que  mais  concorrem  para   a  deterioração    da  atmosfera.
   Refletir sobre um artigo  dessa  dimensão  social  não somente serve  de alerta  aos “donos do mundo”  mas  também  abre os olhos  de grupos da paz que,  em todo  os países,    deveriam lançar campanhas    de esclarecimento  sobre  a nossa  própria sobrevivência     neste tão  desolado   mundo contemporâneo.  
 


sábado, 17 de janeiro de 2015

O Mundo em desasssossego




                                        Cunha   e Silva Filho


          Para qualquer lado que  dirigirmos  nosso  olhar contemporâneo,  seja  no  Brasil,  seja em  outras partes  do planeta Terra,  tudo conspira contra a esperança,  a paz,  a  tranquilidade das pessoas.  Se as ciências e a tecnologia  trouxeram  tantas possibilidades  de uma vida  melhor,  que nos vieram  proporcionar  mais conforto,   facilidades  instantâneas de comunicação,   avanços  na medicina,   na robótica,   nos meios de  aquisição  do saber  em  todas as áreas  conhecidas, em  proporção   inversa  têm crescido os desmandos  de nossos  dias em  crescente   estado de tensão  do convívio  humano.
      Em outras palavras,  o mundo está  em desassossego provocado  pelas guerras civis, pelos  desentendimentos   religiosos,  políticos,  ideológicos, étnicos,   enfim,  por  desentendimentos entre países, cuja manifestação   hoje mais    insidiosa  se conhece  pelo  termo  “terrorismo”  - recurso   pusilânime  de  trucidar   vidas de inocentes  que não podem  responder   pelos   erros  e   perversidades   cometidos   por governos   tanto no Ocidente  quanto  no Oriente. Sabemos que o Ocidente  não é tão anjo assim, como  não  são anjos  os  seguidores   fanáticos     do terrorismo nacional  ou internacional.
   O alvo  agora  não  se limita aos EUA. Ele se  desloca  intempestivamente  para  a Europa  e o  próprio  Oriente. O pior ainda é que  o terrorismo   de grupos   do tipo Al –Qaeda,  ou dos Estado  Islâmico, tem  recrutado   europeus para suas  fileiras, sobretudo   europeus com   ascendentes   não-ocidentais. Jovens  são  facilmente  manipuláveis   por lavagem   cerebral   inoculada pelo veneno da barbárie.Tais jovens se  bandeiam   para   facções   terroristas    autoritárias e assassinas   que  invocam  para si   modos  de vida  e de  crença   religiosa como se fossem   a melhor   forma   de  comportamento   humano  e   de princípios   de vida.  Se entendermos   essa atitude   como  islamismo,  então  os grupos   terroristas   estão deformando   a leitura   do  Alcorão e, no mínimo,  estão  apresentando o  islamismo  como   algo que  ele  não é:  um doutrina  espiritual  que   pratica  o  bem, que não pode ser   assassina nem  covarde nem  terrorista,  nem  expansionista,  i.e.,   imaginar-se como    a única   forma   de    o mundo   pautar-se   na sociedade atual.
    Sabemos   que  os modos de civilização   ocidental  não são  também  modelos,  em alguns aspectos da vida,  a serem imitados.  Há muitos   erros  de mores  ocidentais  que  precisam  ser  corrigidos   em  várias  dimensões,  tanto   éticas,  políticas quanto religiosas. Muito lixo moral   ainda se mantém  intacto  na  sociedade  ocidental e, se fôssemos citar alguns,   teríamos  o excesso do hedonismo,  a desigualdade  social,  a corrupção  em  elevado  grau,  a impunidade  em algumas regiões dos continentes sul-americano, asiático, africano,  a criminalidade  e a violência  galopantes,  o populismo  demagógico   de   alguns  governantes e a desmoralização   da classe  política, sem  deixar de mencionarmos   a dissolução   do comportamento    sexual   de  parte do   Ocidente, sendo um  bom exemplo  o  Brasil.
   Alguns  setores da indústria cultural   não  dão  bom  exemplo de formação   moral  e espiritual   da sociedade  afundada  no espelhamento    propiciado   por  algumas  formas  de   arte de entretenimento,  como   o cinema trash,   um incentivador   e  estimulante  da criminalidade e do caos  urbano, que faz  a riqueza  do produtores e  atores em  filmes de   baixo nível  importados  dos EUA. Ora,   essa  películas  assistidas  por  gente praticamente  de quase  o mundo inteiro e por  parte de   consumidores sem nenhum  parâmetro  ou código moral e familiar,  concorrem  em muito para  a desorganização   de um  mundo  high tech     comprometido até às raízes com   os vício das drogas e  o  ingresso, ainda na  infância e adolescência, no  mundo  do crime  organizado,  do narcotráfico,  da violência  sem fim  como a que  temos    presenciado  ad nauseam  na  vida cotidiana  brasileira,  sobretudo  nas grandes cidades,  porém  tampouco  ausentes  nas pequenas   cidades brasileiras.
   Esse planeta  em desassossego, pelo terrorismo já atingiu  a nação mais desenvolvida  do   mundo, os EUA,  já passou, agora,  para  a França,   já atingiu a Bélgica e a Alemanha e tem feito  estragos   sanguinolentos  em conflitos  bélicos  na Síria,  no Iraque,  no Afeganistão, Paquistão e em outras regiões.
   Por outro lado, para enfrentar  o famigerado   terrorismo  é necessário que o Ocidente  cumpra   igualmente    certos deveres de casa, sobretudo   em grupos    de sistemas  ideológicos   neofascistas, como  temos  na Europa  e em outros  países.
  Urge que  o Ocidente  se conduza  da mesma sorte  com   comportamentos    políticos,  sociais à   altura   de suas  conquistas  de direitos   humanos  e de cidadania,   execrando  quaisquer  formas  de    retrocessos   xenófobos, de eurocentrismo, de igualdades apenas aparentes  e não  reais, e de retaliação   com   os  estrangeiros   que  escolheram  países   como segunda pátria e lá  só  desejam   viver em paz com a sua família, como aquele  exemplo de uma família   judia que vivia  em Paris e que,  após o ataque  terrorista ceifando a vida de cartunistas  famosos e de outras  pessoas ao mesmo  tempo,  apavorada, se dizia  sem segurança  na bela e elegante  capital  parisiense e, por esse motivo, seus membros   voltaram  para  Jerusalém onde, segundo  o pater familiae,  pelo menos  lá se  sabia  onde ficava o perigo, ao contrário  de Paris que, para ele,  estava em qualquer parte  da velha  terra de grandes escritores, filósofos e artistas, uma espécie de pátria da cultura  com o fascínio  de irradiação  pelo  mundo.
         Questões fundamentais como controle de  imigração,  fiscalização  rigorosa  da situação   de cada  estrangeiro  residente  na França (o mesmo  valendo  para outros países  que  recebem  estrangeiros asilados),   deles exigindo  direitos e deveres  de  estrangeiros  e realizando  uma   avaliação   precisa e profunda  das condições de vida  social   dos  estrangeiros naturalizados e dos filhos   destes nascidos  na França,  têm   que ser   cuidadosamente  examinadas.
       De nenhuma  maneira,  os  imigrantes  devem ser  discriminados   nem tratados como   cidadão de  segunda   classe. Contudo,   uma revisão  dessas questões  não  pode ser  negligenciada  pelas autoridades   francesas. E essa precauções  devem  ser  igualmente   levadas  em  conta  em outros  países europeus,  ou não.Todos  esses problemas  foram   gerados  após as  guerras   civis   no Oriente e, por força  dessa condição subalterna,   ressentimentos  morais  e de submissão    imposta  pelos  países  colonizadores deixaram  marcas  de  ódio    após  o período de colonização  de  países   por  nações   ocidentais. É o  caso  do Níger em que,  hoje mesmo,   queimaram a bandeira  francesa  em solidariedade   aos terroristas   mortos.

       É forçoso  que os organismos internacionais  de defesa das nações, grandes  ou pequenas,  se debrucem  para   encontrar  pontos  de   convergência  em direção   ao confronto, infelizmente   já estabelecido,  entre   terroristas  ditos muçulmanos  e  nações  ocidentais. É preciso  que,  nos debates  que virão   dos impasses  trazidos   pelo alastramento do terrorismo, localizado ou   internacional, saibamos   separar  o  joio do trigo. Não confundir   muçulmanos  bem intencionados  com  jihardistas ou "Estado  Islâmico" é uma das vias  mais   fecundas  em direção  a uma  paz ainda que provisória.  Não é uma questão magna entre bárbaros  e civilizados, mas  entre  o justo  desejo  de  combater  quem  realmente  é o inimigo  que  não admite   processos   civilizatórios  diferentes.  O respeito ao outro  nem sempre  vale como  uma premissa  de reconhecimento   justo e de justiça   isenta.  

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Protejamos a cidade de São Paulo




                                                          Cunha e Silva Filho


          Não irei falar da violência em São Paulo, que é catastrófica. Deixemo-la pelo menos  neste artigo São Paulo, a cidade,  o interior  também  estão  vivendo  suas vacas magras, com problemas  de toda ordem, sendo dois deles de   consequências   sérias: a cidade  sofre  por  falta       de água para abastecer  o cotidiano  de seus habitantes. Li, num legenda na TV,  uma frase que me  amargurou como brasileiro:  “São Paulo vira deserto.” Além da escassez da água, padece também  de chuvas  e tempestades  que a dilaceram , fazendo um estrago enorme, com  árvores  caindo sobre  postes,  carros,  casas,  às vezes  causando  mortes   e com um  percentual   elevadíssimo  de  raios que   atingem a grande metrópole  da América Latina – o sustentáculo do  país na indústria, nas fábricas,   no comércio. São Paulo  não merece o que  está  vivendo  agora. Por isso,  os brasileiros  devemos fazer alguma coisa por  essa  cidade  de magnitude  ímpar para  a engrenagem  do país  na sua totalidade. 
      Se suas  fontes de água  estão sumindo,  se  seus reservatórios   estão  em  baixa,  há que  se fazer  urgentemente  algo   à altura   da grandiosidade    dessa cidade.  Não é possível que  não se  vislumbre  uma  solução  científico-tecnológica  para que  a cidade  possa  voltar  a passados  anos  de  traquilidade  no que concerne  à água potável.
     Vejo que a situação calamitosa de São Paulo,  nos itens  da água  e  das  inundações,  não são  somente obras  da natureza,  mas  indiscutivelmente aí tem o dedo   destruidor e  depredador do homem e da  negligência  e imprevidência  de  seus governantes  que não  se mexeram  para  fazerem  algo de   construtivo   a fim de  amenizar   as agruras  por que os paulistanos  e os paulistas  estão  passando. Veja um exemplo gritante:  o do rio Tietê, que  há tempos  tem sido  massacrado  com a poluição e o descaso  das autoridades  que, ao longo dos anos,  nada fizeram  para  que  esse importante   rio,  que   é presença    contínua  na paisagem urbana,    de quem mora  em  São  Paulo e de quem  passa  pela cidade. A despoluição do  rio  Tietê  seria  uma obra   de grande   significação   cívica  e  de sustentabilidade  ambiental  da  vida   cidade. Não é a natureza que  está matando  esse rio,  é o   homem e sua mão   destruidora. `Foram  e são seus prefeitos e governadores.  Foi e é a ignorância de seus habitantes   que  concorreram e concorrem  para  sujar  as águas  do Tietê. Que vergonha pra nós brasileiros quando  vemos  rios bem cuidados como  o Tâmisa,  o Sena,   o Mississipi, o Danúbio,  o Tejo. São os rios que dão,  por assim dizer,  alma  e vida às cidades. Sem eles,  as cidades  não existiriam.
    Se os governos  têm  dinheiro  para obras  faraônicas  e por vezes dispensáveis,  por que não   investir já  numa forma   moderna  de  devolver  ao sistema hídrico  paulistano e paulista  a capacidade de abastecer   os habitantes   da cidade  e do Estado? O país  é rico  em   grandes rios. Por que não  planejar  e  executar  obras  que  levem  água  em quantidade  compatível  com  a demanda   enorme dos paulistanos?     É uma vergonha  para nós  brasileiros  sabermos que  lugares  desérticos do  Oriente  se transformam  em  áreas férteis. De que adianta  tanto   volume d'água  de  grandes  rios  brasileiros  se  é  mal  distribuído?
  Resolver  os dois  problemas   de alta relevância  e vitais   à cidade  de São Paulo constitui  uma obrigação  inarredável do governador  de São Paulo. Não se pode   esconder do povo e dos brasileiros  o que    está  atravessando  São Paulo  de privação   de água  potável e  de  uma urgente   infraestrutura  moderna  de  escoamento  da água  pelos bueiros e  pelas   meios  subterrâneos. As torneiras  paulistanas   estão  secando,  os filetes d’água estão sumindo e os habitantes   da cidade  já não mais  aguentam    tantas promessas  e conversa fiada  das autoridades. 
   Ao prejudicarem  o abastecimento  de água   de São Paulo, ao  não cuidarem   para   solucionar  os estragos   das chuvas torrenciais, os governos  municipais e estaduais  poderão ser responsabilizados   pelos    grandes    prejuízos  materiais  e  econômicos    de São Paulo.  Os paulistanos  não vão suportar   períodos mais    longos   de    escassez de água  e de danos  ao patrimônio   particular  que  logo logo  afetarão  a  arrecadação   de impostos    e de tarifas   diversas. O parque industrial  também  não  suportará   deficiências   dessa  natureza.
  São Paulo não  vai “virar um deserto.”  Se isso  por acaso  acontecesse, seria uma tragédia. Ainda  bem que Mário de Andrade (1893-1945), louvador  do rio Tietê não está mais vivo  para  ver a tantas  tantas desgraças    desse rio.
  O brasileiro em geral não sabe  reclamar  pelos erros e   omissões dos governantes. Parece que ficaram anestesiados  depois  de  manifestações  públicas  que praticamente não  deram em nada. Pelo contrário,  o  governo federal, com o seu  novo  homem  forte da Fazenda,   só parece   estar interessado  em    recuperar,  com  impostos  e  aumentos  do custo de vida,  os destroços que  fizeram  em gastanças   de  campanhas  para  um partido   se manter no  poder escondendo   todos  os  abacaxis  que  estavam  abafados  nos discursos demagógicos  da campanhas para  presidente,  deputados e senadores.  Será que,  só depois  de  saírem  vitoriosos descobriram    todos  os  desastres   financeiros   provocados  pelo  próprio  partido  do governo?  Por que não  discutiram  antes  que  a  inflação  estava alta, que o povo  seria   sacrificado com  aumentos de energia e o escambau?  A imoralidade de um governo não conhece limites   de  cinismo  e de  promessas   falsas  que não  serão  cumpridas.
   Mas, voltemos  a São Paulo. Penso que se não houver uma mobilização geral  (veja o exemplo da união civil  de uma  país como  a França  em torno  de uma  causa, a da liberdade   de expressão) contra as duas calamidades  por que  está  passando   o espaço físico   de São Paulo,  a cidade pode entrar em colapso. Falta de água e   fortes chuvas  não atingem  só os pobres,  as periferias. Os bairros   luxuosos dos bacanas   também  já estão dando sinais  de  mal-estar. Do  mal-estar  é um  pulo para a indignação   e o confronto  com   as autoridades.
  De nada vale  o governador  Alckmin  reconhecer que   São Paulo está   em fase de   economizar  água. Por que não  o  declarara  antes? Os problemas agudíssimos  dos paulistanos   aí estão  clamando  por   ações  construtivas,   realizáveis. Já está passando da hora  de  o governador  e o  prefeito arregaçarem  as mangas  e lutarem  de imediato   para  procurarem   amenizar  o sofrimento  do  povo  e dar  continuidade  à “locomiotiva do  país.”   São Paulo  não pode esperar. Que venham  as obras  e as ideias  dos que   querem  ver   a cidade  funcionando e para isso  não faltam   cérebros  e gente  inteligente em várias  áreas   que, se chamadas,   seguramente   darão  todo o seu   suporte   e expertise a fim de   encontrarem    caminhos   mais  felizes  e   realizáveis para  a maior metrópole  do país.
   O país não funciona  plenamente sem   a  prosperidade de São Paulo. O Padre José de Anchieta (1534-1597), um dos fundadores  da cidade de São Paulo, já canonizado,  só terá que agradecer  a todos que    se voltarem  para   salvar  a cidade  da natureza  inclemente  e dos inimigos  desta. 

   

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Tradução do poema "Écoutez," de Paul Verlaine (1844-1896)






                        Écoutez


Écoutez la chanson bien douce
Qui ne pleure que  pour vous  plaire.
Elle est discrète, elle est légère:
Um frisson d’eau sur de la mousse!

La voix vous fut connue (et chère?)
Mais à présent elle est  voilée,
Comme une veuve désolée,
Pourtant comme elle encore fière,

Et dans les longs  plis de son voile
Qui palpite aux brises  d’automne
Cache et montre au coeur que s’étonne
La vérité comme une étoile.

Elle dit, la voix reconnue,
Que la bonté c’est notre vie,
Que de la  haine e de l’envie
Rien ne reste, la mort  venue.

Elle parle aussi  de la gloire
D’être simple sans plus  attendre,
Et de noces  d’or e du  tender
Bonheur d’une paix sans victoire.

Acccueillez la voix que persiste
Dans  son  naîf  épithalame.
Allez, rien n’est meilleur à l’âme
Que de faire une âme moins triste!

Elle est “en peine” e de “passage”
L’âme que souffre sans colère,
Et comme sa morale est claire!...
Écoutez la chanson  bien  sage.




                     Escutai


Escutai  esta canção tão doce
Que apenas chora  para vos contentar.
Discreta, sim, singela, sim:
De  água um frêmito no musgo!

Conhecida  (e querida?) se fez a voz
Agora,  porém, velada está
Qual viúva  desconsolada.
Não obstante,   quão ainda altiva se mostra!

E nas longas dobras de seu véu
Palpitando com as brisas  do outono
Oculta  e mostra  ao  coração surpreso
A verdade de uma estrela.

Diz a voz  reconhecida
Que de nossa vida  a bondade é parte,
Que, após a morte, o  ódio e a inveja
Nada  significam.

Da glória  por igual  discorre
De ser simples   sem mais  nada esperar.
Fala das bodas de ouro e da comovente
Felicidade de uma paz sem vitória.

Acolhei a voz que persiste
Em seu  ingênuo epitalâmio.
Ide,  nada é tão  precioso    à alma
Quanto   suavizar-lhe   a tristeza!

A voz, um “átimo,  uma “ fugacidade”
A alma  que sofre sem  cólera.
E, em sua moral,   quanta   transparência!...

                                                                          (Trad. de Cunha e Silva Filho)










                

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Facebook: uma ferramenta útil para a democratização da escrita




                                                         Cunha   e Silva Filho



        Ninguém  pode  negar  o  grande passo dado a milhões  de  pessoas  que,  no  Face, como  é  com certa intimidade  tratada essa rede   social,  trocam  ideias e    se comunicam  por   escrito. E  não seria exagerado  afirmar:    grande  chance tem o  usuário de   poder expressar-se livremente tanto quanto  possível através desse meio  grandioso que  - não podemos    esconder esse fato - possui, sim,  seus defeitos  quando  empregado  para  fazer o mal. No entanto,  o saldo  é  positivíssimo. Tornou-se um  modo  autodidático  de   levar as pessoas  a  pesquisar, refletir,   organizar  seu pensamento, muitas vezes de  forma  extraordinária  dependendo  do talento e da competência de cada um.
     Algumas vezes,  me queixei  de que o Face seria  um espaço para  futilidades,  fofoca e exibicionismo. Pode até ser em alguns  aspectos, mas,  no geral,   é  uma  fonte geradora   de ideias,  de discussões,   de  expressão  livre  do pensamento, ainda que  o seu seja  algumas  vezes discordante de  outros.  Pouco  importa.
   O que  é evidente é sua capacidade aglutinadora,    de fórum  de  debates, de permitir  o extravasamento  da indignação  contra  injustiças,  de  divulgar   ideias   iluminadoras,  de suscitar   novos  ângulos  de  ler o mundo, as pessoas. Todos  os  aspectos   do cotidiano  nacional  ou mesmo   do exterior  no Face  podem ser    veiculados  com erros,  com acertos,  mas  sempre com  a  liberdade  dos que  pensam  de forma igual ou  diferentemente.  O Face vive desses contrates,  dessa espécie de  “melting  pot”   de fatos e acontecimentos  que   atiçam  a curiosidade  e  a  intervenção  por escrito dos indivíduos. O Face veio para ficar.
     Já se disse que ele   estava  alimentando  o mau hábito de escrever errado ou  de forma  excessivamente   abreviada. Qual nada!”  Tenho  lido  textos,   frases  que   bem poderiam   ser assinadas  por  bons  jornalistas,   escritores,  cronistas,  pensadores, filósofos,  poetas, dramaturgos, cientistas, enfim, profissionais de  várias  áreas, enfim, uma  gama de   pessoas  comuns ou com  maior ou menor  visibilidade. Porém, refuto  aquele argumento  visto que o usuário,   ao  escrever,  em geral, de  maneira  rápida,   com esse ritmo   fortalece e desenvolve  a habilidade  de  selecionar    ideias,  formas  de escrita,  sentido   de  concisão e coerência  a fim de  poder   organizar  os  enunciados.
    Politicamente, o Face muito tem ajudado a  evitar  o pensamento  chamado  “único,”   mostrando, através de seus  diversos   usuários, que   aquele  é múltiplo e nenhuma ideia  semanticamente  unívoca  pode ser   geradora    de avanços    em qualquer   campo  da  inteligência. Reconhecer o outro,  o diferente,  ainda que  possamos   achar que  ele está errado, é não  perceber que   algumas  ideias  podem ser  relativizadas.  O pensamento  único  é próprio  dos governos   antidemocráticos, que   julgam  o mundo  sob  um  só  lado, uma  só dimensão.  Sua natureza  tem  traços  fascistas, autoritários,  absolutistas.  O pensamento deve ser exercido  de  modo  construtivo,   dialeticamente,  sem donos das verdades.
   Outro papel saliente do Face é  conceder  a possibilidade   de liberdade  de  crenças,   religiosas,  políticas,  filosóficas,   de modos de vida,  de mostrar   diversidades culturais,   nacionais,   universais. .
    É pena que o Face  possa  por vezes  levar, como  já  aludi linhas atrás,  a certo exibicionismo, excessos   de  narcisismos, exposições  sensualistas  que  não   se ajustam  a  uma  ética    desejável  neste sentido.   
   Mas, o que  centraliza  a linha  deste artigo  são os   pontos   qualitativos   do usos da linguagem,  do    treinamento,   do  escrever  continuadamente e ao mesmo  tempo  do ler  o que  se escreve  nessa  rede  social.  Ler e escrever são habilidades que  se harmonizam e  só produzem      melhoria    de nível   de  escrita, propiciando  a “fluência”   da linguagem  escrita. Acredito que em  nenhum tempo,  antes  da internet,  o mundo  tenha  escrito tanto.
    A prática da redação, diria   positivamente  forçada,  a fim de  dar conta   de uma   pergunta e de um  fato ilustrativo de um texto,   de um vídeo, veio  auxiliar enormemente   o ato da escrita e,  em consequência,    melhorar   o uso  da linguagem   das  pessoas. Não sei se a ciência  linguística  já havia previsto  essa    mudança  revolucionária  da comunicação    virtual.
   Deixando  de lado  o  mau uso  da  internet  e das redes sociais,   os ganhos   com  o mundo virtual    são incalculáveis.  Depois da Imprensa de Gutemberg,  a internet é a segunda  mais   importante   invenção  do  mundo  da comunicação. E imagine o leitor que, a princípio, este colunista   até  tinha  receio de  não  aprender a lidar  com  o básico   do computador.Veja-se o  função  informativa do Google. Não obstante  nele muita coisa  não seja  fonte segura,   não deixa de ser  um  instrumento   valiosíssimo  de pesquisa,  em muitos casos   fazendo  as vezes  de  verdadeiras  bibliotecas.  além disso,    pondo  o  usuário,    em fração  de segundos, com dados   que esteja    procurando.
   O Google é uma gigantesca  obra  de referência, indispensável  a várias categorias de profissionais no mundo  inteiro. É claro que é um work in  progress. Contudo,  como seria   o  mundo   atual,   o da pressa, do imediatismo (com  muitas  negativas  desvantagens  para  os mortais) sem a invenção  do computador e de todos os seus  desdobramentos  tecnológicos?
   Não aconselho que  os  viciados  no Face e em  outras redes  sociais  abandonem  esses recursos,  mas que  o   utilizem  com  moderação, porquanto   eles tomam  muito  o nosso   precioso  tempo.
   Não  o substituam  pelo  contato  pessoal,  que é muito mais    importante e não  tem  substituto  à altura.  As amizades  têm  que ser cultivadas no tête-à-tête de preferência. O Face,  ao contrário,  para as  muitas funções  a que  me referi. Da mesma sorte,   outras mídias  escritas não podem ser nunca  negligenciadas,  os jornais, as revistas,  os livros impressos, as exposições,  as feiras  de livros,  as visitas aos museus,  as vernissages,  o  cinema, o teatro,  o circo,   a conferência (presencial), a televisão, o rádio. O grande  barato  é  saber como  combinar  de maneira  harmônica,  sem   excessos  de preferência,  todos  esses meios  de  comunicação,  de conhecimento,   de saber.
   O professor de língua  portuguesa, ou, para outros,  de  língua  brasileira,   deve estar  atento a tudo isso. Na multiplicidade  de  recursos  audiovisuais,  virtuais,  escritos,  falados,   há que  saber  dizer onde  um  deve ser  de preferência   usado, e principalmente  o  professor  competente  há de saber como   lidar  com proveito  e sem  discriminações   com  todo  esse  enorme leque   de opções  em que a língua  falada  se contamina com a  escrita  de modos  variados, a par de  ainda ter que situar  bem  o  papel  da  língua  literária,  seu estudo  e   sua  prática de leitura,  e  hermenêutica.  Tudo isso  não deixa de ser  um   vigoroso   desafio: encontrar   elos  sem embaralhá-los  e confundir  a cabeça  dos jovens  e adultos no sentido de  conquistar, simples e didaticamente,   os usos multifacetado da língua na situação própria  e desejável.
   O que nunca será  de bom alvitre  é  dificultar   o  estudo   da  gramática e a prática da redação   empregando  uma metalinguagem  que  às vezes me parece  competir   com   o jargão  tecnicista-terminológico  das ciências. Tecnicalidades em demasia não  são, por si só, necessários componentes de atualização  e renovação   na práxis  do  estudo  da língua  e  no manejo de  expressar o pensamento   do espírito  humano. 
 A teoria linguística não deve competir simplesmente  pelo fato  de que a linguagem da tecnologia  e a da ciência se tornaram   impermeáveis  aos não-iniciados. A linguagem  da comunicação entre os indivíduos não deve nem  pode  rivalizar com o jargão terminológico da tecnologia e  da ciência. 
 Ao alto nível dos estudos linguísticos  não tem correspondido uma melhora significativa na redação  dos estudantes. Veja-se o resultado da última  prova do ENEN, na qual, na redação,  quinhentos  mil  estudantes  obtiveram  nota  zero! 
  O caminho  mais  adequado  é  o progresso  nos estudos  linguísticos  sem os vezos   ainda   remanescentes   do estruturalismo que, pelo  exagero   e  ensinamento  mal conduzido,  apavorou,   pelo menos,  a minha geração  nos anos  setenta.


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Charlie Hebdo: a ferocidade insana dos fanáticos terroristas




                                                             Cunha  e Silva Filho



          France Immortelle é o belo título  de dois volumes antigos da magnífica  obra  didática da década de  1940, de Cleófano L. de Oliveira,    ilustrado  professor de francês e literatura  e de português e literatura  em São Paulo, a cujas  páginas,, até em pesquisas  recorri sobre  literatura  francesa. Esse título,   a meu ver,  resume  o que nós latinos,  que amamos  a cultura francesa,  o sentido simbólico  do  que representa    Paris,  a “Cidade-Luz,”  ou a “vitrine do mundo,”  na afirmação do crítico e historiador Afrânio Coutinho (2011-2000). Lamentamos profundamente  o  recente duro  golpe  covarde  e  ignaro   de  terroristas  tresloucados contra  notáveis  artistas  do cartum. Terroristas  que não sabem  nem mesmo   avaliar  o que seja o  papel  do  cartunista,  de quem  faz charge, caricatura e  humor com  arte  não visando,  é claro,  a denegrir  a imagem   de ninguém,  mas a provocar   o riso, os exageros   da espécie  humana, sejam  eles quais forem.  Não anunciam a tragédia, mas  a comédia do riso, da galhofa, das loucuras  humanas. Se, por vezes,  exageram,  é porque  desejam  que   o mundo  seja  mais leve,  mais justo  e mais  cultivado.
     O grande erro que,talvez   tenham  contido foi  em algumas pautas  mexerem  com  vespeiros  de  jovens  sem massa  cinzenta,   que não sabem   bem  estimar  até onde  um  possível ofensa  possa   macular a imagem  de  líderes  religiosos.
    O ato  terrorista contra    notáveis   cartunistas   distingue como  uma   maldade tão superior  à arte - uma criação  livre e amoral -    que assassinar artistas  e  outras pessoas   que,   próximas deles  ou  implicadas  no atentado por  razões  de  trabalho   no jornal e pela condição de serem   duas delas  policiais  no cumprimento  do dever, o ato  terrorista  e diabólico se anula e se torna, assim,  mais   repulsivo e condenável.
   Vivemos   momentos  sombrios  em todo o mundo,  civilizado ou  não, e um desses  há tempos  assumiu  sua  face mais   odienta   e abominável – o terrorismo -  ação  covarde,  que mata  pessoas  indefesas,  em qualquer lugar,   sem respeitar  ninguém,  apenas   impulsionados  pela    mente   doentia  de praticar   o mal  sem dó nem  piedade.
    Não sou  contra   a entrada  de imigrantes em algum  país,  todavia os tempos atuais   nos  forçam  a  sermos  mais   atentos e critérios  na concessão de  asilo  a  estrangeiros  de  algumas    regiões  do mundo. A globalização   de  ondas migratórias, provocadas  por  guerras  e conflagrações de povos   que  abandonam seus  países de origem,   tem sido  responsável  por permitir  o ingresso  de  indivíduos  suspeitos  e que são  instrumentos potencialmente    geradores   de  ações  terroristas  iminentes.Cumpre haver uma vigilância  constante nos  países  onde  exista   número   substancial  de   asilados.  São os casos hoje em dia dos EUA, da Inglaterra,  da França, do Brasil, em ter  outros   países.
     O exemplo recente  da morte de doze pessoas  em Paris  é apenas um alerta para que autoridades   do Estado  se  acautelem  contra   ataques   dessa natureza.  Não  é de modo algum   fazer  ressurgir  a xenofobia. O ódio ao  apenas  por ser estrangeiro não  se recomenda  como medida   contra  terroristas. Há pessoas  boas,  adaptada  culturalmente a um  pais que as abrigou  que   jamais   farão  mal    à terra  que adotaram  como  segunda ou  terceira  pátria, não importa.  
    Veja-se o  que ocorrem  no  Brasil. Recebemos bem os estrangeiros que aqui aportaram,  criaram  raízes ,  aumentaram suas   descendência  e, muitas vez,  nem mais querem  regressar à pátria de origem. São exemplos de  convivência pacífica  árabes, sírios e judeus, japoneses  e   chineses. Aqui continuam  com suas   religiões,  seus  cultos,   sua fé sem que exista  mais o  ódio  entre si.
    A questão  de grupos   pertencentes a rede Al-Qaeda, o agora   denomina do grupo  “Estado  Islâmico” e outros  menos conhecidos  deverão constituir o alvo  principal   dos órgãos de segurança  da paz  mundial, tendo à frente a ONU. Para eles,  não deverá  haver  trégua sob  pena de os países  que vivem  em relativa  paz    sofreram  duros  golpes  de novos atentados  em qualquer  parte.
    Ainda que  deixando   penalizados  os homens  que respeitam  a liberdade  de expressão e  de imprensa em qualquer parte do mundo  onde haja  o exercício  pleno desse bem supremo, os grandes  artistas  da  caricatura,  liderados por Stéphne Carbonier, o Charb e o seus três outros   companheiros  do cartum,  foram  executados    covardemente  em Paris  quando   estavam  cumprindo  seus papéis. Pelo  traço  inconfundível de cada um,  produzindo   o riso,  a sátira, a reflexão,  o humor   e o exercício  da inteligência  gráfica perde a cultura  cartunista mundial   quatro    homens  cujo  principal   esforço  de vida foi   ridicularizar  a pantomima  humana,  os defeitos   de poderosos e tantos outros  ângulos  da cultura da Humanidade graças à magia  da obra de arte eloquentemente    retratada  na deformidade   consciente   das formas visuais  e  da sua  correspondente  forma  de discurso   escrito.