São Paulo chora
Cunha e Silva Filho
A situação pluviométrica de São Paulo extrapolou os limites da paciência humana. São Paulo chove. Seria mais correto assim afirmar, mesmo transgredindo a norma linguística. “Chove em São Paulo” não expressaria toda a carga de dor dos seus habitantes, especialmente os menos afortunados..
Essa população, que forma o lumpemproletariado, lembrando os personagens andrajosos e famintos do contista João Antônio(1937-1996), mora nos piores lugares, à beira de córregos, de rios, de encostas e de outros locais perigosos. São pessoas que não se aguentam mais diante de tantas perdas, humanas e materiais.
Os pobres perdem o sustento da família, como é exemplo o caso de uma senhora ainda jovem, com sete filhos, vista na TV, cujo marido perdeu um carro velho com o qual ganhava a vida vendendo alguma mercadoria por conta própria.
A fúria das águas continua inclemente. Tudo derruba, tudo destrói, tudo invade. As pequenas casas de construções frágeis dos bairros humildes de São Paulo são inundadas há mais de um mês, com dias e dias seguidos de chuva forte castigando a população carente, matando crianças, adultos, idosos. Quando não mata, destrói os pertences dessa imensa população sofrida, formada em geral de migrantes nordestinos. Lá vão por água abaixo móveis, eletrodomésticos, comestíveis. Tudo se perde. Por vezes, essa gente perde objetos comprados com muito sacrifício e a prestação. Muitas vezes, nem a primeira prestação foi paga ainda. As águas sobem e transformam os leitos dos rios e córregos em perigosas correntezas fluindo horizontalmente ou transbordando pelas margens, invadindo, sem dó nem piedade, os lares pobres da velha São Paulo. Contraditória Natureza!
Até nos faz pensar que a natureza revolta é muito mais impiedosa com os menos assistidos. A resposta pode ser simples: os pobres moram perto dos piores lugares da cidade. Os especialistas em planejamento urbano diriam que efetivamente essa é a verdade. Entretanto - acrescentariam eles -, isso podia ser evitado desde que governos se preocupassem com a melhoria das condições de vida da pobreza, possibilitando que essa população desvalida tivesse moradia em áreas seguras da cidade e com toda a infraestrutura urbana próxima ou semelhante aos bairros bem servidos pelos ricos. Não é uma utopia, mas dependeria de efetivas práticas sociais minimizadoras das gritantes diferenças de qualidade de vida entre afortunados e desafortunados.
Eu bem sei que os luxuosos bairros paulistanos estão livres dessas pequenas, médias ou altas catástrofes. Seus prédios se localizam em áreas bem escolhidas, em solo seguro, compatibilizando, além do mais, construções suntuosas com o meio ambiente sustentável.. Condomínios, mansões, palacetes ou apartamentos enormes de primeira grandeza, feitos de material de construção da melhor qualidade, projetados por grandes arquitetos e engenheiros e vendidos a peso de ouro. Seus donos, muitas vezes, não enfrentam o trânsito caótico e inundado da capital paulista. Eles dispõem de helicópteros. São os milionários, que falam a mesma língua do universo dos ricos em qualquer parte do planeta.
A prefeitura da cidade de São Paulo, o governo do Estado devem repensar seus planejamentos urbanos, procurando, na ciência e na engenharia, tão avançadas hoje, gente séria, competente e sobretudo dotada de um sentido profundamente social da existência humana. Os Países Baixos não resolveram as grandes ameaças das águas do mar, tornando a vida urbana uma realidade com segurança quase absoluta em termos de riscos para seus habitantes?
São Paulo não pode se dividir entre a segurança dos poderosos e a infelicidade e dor dos flagelados de águas assassinas. Que me perdoem as águas por esse qualificativo disfórico.
Cunha e Silva Filho
A situação pluviométrica de São Paulo extrapolou os limites da paciência humana. São Paulo chove. Seria mais correto assim afirmar, mesmo transgredindo a norma linguística. “Chove em São Paulo” não expressaria toda a carga de dor dos seus habitantes, especialmente os menos afortunados..
Essa população, que forma o lumpemproletariado, lembrando os personagens andrajosos e famintos do contista João Antônio(1937-1996), mora nos piores lugares, à beira de córregos, de rios, de encostas e de outros locais perigosos. São pessoas que não se aguentam mais diante de tantas perdas, humanas e materiais.
Os pobres perdem o sustento da família, como é exemplo o caso de uma senhora ainda jovem, com sete filhos, vista na TV, cujo marido perdeu um carro velho com o qual ganhava a vida vendendo alguma mercadoria por conta própria.
A fúria das águas continua inclemente. Tudo derruba, tudo destrói, tudo invade. As pequenas casas de construções frágeis dos bairros humildes de São Paulo são inundadas há mais de um mês, com dias e dias seguidos de chuva forte castigando a população carente, matando crianças, adultos, idosos. Quando não mata, destrói os pertences dessa imensa população sofrida, formada em geral de migrantes nordestinos. Lá vão por água abaixo móveis, eletrodomésticos, comestíveis. Tudo se perde. Por vezes, essa gente perde objetos comprados com muito sacrifício e a prestação. Muitas vezes, nem a primeira prestação foi paga ainda. As águas sobem e transformam os leitos dos rios e córregos em perigosas correntezas fluindo horizontalmente ou transbordando pelas margens, invadindo, sem dó nem piedade, os lares pobres da velha São Paulo. Contraditória Natureza!
Até nos faz pensar que a natureza revolta é muito mais impiedosa com os menos assistidos. A resposta pode ser simples: os pobres moram perto dos piores lugares da cidade. Os especialistas em planejamento urbano diriam que efetivamente essa é a verdade. Entretanto - acrescentariam eles -, isso podia ser evitado desde que governos se preocupassem com a melhoria das condições de vida da pobreza, possibilitando que essa população desvalida tivesse moradia em áreas seguras da cidade e com toda a infraestrutura urbana próxima ou semelhante aos bairros bem servidos pelos ricos. Não é uma utopia, mas dependeria de efetivas práticas sociais minimizadoras das gritantes diferenças de qualidade de vida entre afortunados e desafortunados.
Eu bem sei que os luxuosos bairros paulistanos estão livres dessas pequenas, médias ou altas catástrofes. Seus prédios se localizam em áreas bem escolhidas, em solo seguro, compatibilizando, além do mais, construções suntuosas com o meio ambiente sustentável.. Condomínios, mansões, palacetes ou apartamentos enormes de primeira grandeza, feitos de material de construção da melhor qualidade, projetados por grandes arquitetos e engenheiros e vendidos a peso de ouro. Seus donos, muitas vezes, não enfrentam o trânsito caótico e inundado da capital paulista. Eles dispõem de helicópteros. São os milionários, que falam a mesma língua do universo dos ricos em qualquer parte do planeta.
A prefeitura da cidade de São Paulo, o governo do Estado devem repensar seus planejamentos urbanos, procurando, na ciência e na engenharia, tão avançadas hoje, gente séria, competente e sobretudo dotada de um sentido profundamente social da existência humana. Os Países Baixos não resolveram as grandes ameaças das águas do mar, tornando a vida urbana uma realidade com segurança quase absoluta em termos de riscos para seus habitantes?
São Paulo não pode se dividir entre a segurança dos poderosos e a infelicidade e dor dos flagelados de águas assassinas. Que me perdoem as águas por esse qualificativo disfórico.
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