sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

MISERICÓRDIA, ONU, PARA ALEPPO!



                                                                    Cunha e Silva Filho

      Dirigindo-me  da cozinha para a sala do meu apartamento  ainda nesta manhã, olho para a tela da televisão e vejo e ouço a voz da repórter relatando  o que se passa  atualmente  na Síria e, em particular,  na cidade deste país, Aleppo,   que  já foi o maior  centro financeiro  sírio, sendo,  se não me engano, a segunda maior cidade  do país.
      A vista   aérea da cidade  -  vou  usar  um sintagma de que gosto para  metaforizar  essas tragédias inomináveis  perpetradas pelo   criminosos  no poder deste  que ainda podemos  dizer início do século XXI: uma cenário  guerniquiano.
       Só a Arte é capaz de elevar nossos espíritos e  desprender dele  um mínimo que seja de solidariedade  pela situação   catastrófica  que vive Aleppo. Não foi  nenhum  act of  God  que tornou  a cidade  uma ruína.   Não estamos  falando das atrocidades da Segunda Guerra Mundial  provocadapelo  nazifascismo, só para  enfatizar  a agonia  apocalíptica em que   há  quase  seis anos  tem   experimentado   as vítimas  da ditadura  de Bashar Al-Assad.
       A terra  devastada  em territórios sírios há muito   ultrapassou  todos  os limites  suportáveis  de uma Nação  bombardeada  sem  dó nem  piedade e, o que é pior, sem que  o Conselho  de Segurança  da ONU tenha  reagido  duramente  contra  a manutenção de um genocida, um tirano  dos mais   cruéis  que  esse novo  milênio  tem   para infernizar  inocentes   e desprotegidos,  de vez que onde há os ataques   covardes   e hediondos  quem mais  padece são  as crianças.
        Basta isso para que o mundo, por mais  “impessoal “ (uso um adjetivo  do  físico Marcelo  Gleiser no sentido em que o tomou  para criticar o que denomina "tribalismo radical". Ver artigo desse autor publicado na Folha de São Paulo, Caderno  Ilustríssima, p.6, 11/12/2016)  em que  tenha  se transformado  como   ser   racional, por mais  insensível que  tenha sido a metamorfose individualista de nossas  mentes  para com  o  outro,  se não nos unirmos    com urgência e, através  dos organismos competentes  para  assegurar os direitos  à vida e dar freio  à carnificina    de natureza  inegavelmente genocida, para  expulsar  do poder  o ditador   sírio, agora mais fortalecido com  o apoio maciço da Rússia de Putin, das forças do  Irã e de outros  grupos  que têm  dado criminosamente  apoio bélico ao tirano. 
      Seria  a maior  insensatez se o  presidente   eleito dos Estados Unidos,  Donald Trump,  cumprisse  uma certa  promessa  de  se aproximar   de Putin a fim de  combater   o  terrorismo   islâmico e outros  grupos  terroristas. Se Donald Trump  embarcar  nessa furada,  as consequências  para a geopolítica   mundial  serão terríveis.
       Não existe  razão  plausível  para que  Trump  se alie a Putin. Primeiro, porque estaria sendo  contraditória e estapafúrdia qualquer  aliança  com  Putin,  líder  com   pretensões  imperiais  ligado a países comunistas.
       Segundo porque, sabendo  que  o atual  governo  de Obama, com  certa prudência,  agiu  sempre  no sentido de opor-se   à posição de Putin  como  apoiador   da tirania,  não  seria  compatível  que um  país   com  longa prática democrática, conquanto tenha  cometido   muitos e graves   erros na sua política   externa, como foram   exemplos a invasão  desnecessária no Iraque  e a manutenção  do  bloqueio econômico a  Cuba.
     Para questões  essencialmente   políticas,   é um outro contrassenso um presidente altamente capitalista e neoliberal   como  Trump   demonstrar    simpatia   pelo sistema político   meio híbrido representado   por Putin.
     O mais seguro   seria que Trump, no caso  de suas relações  com Putin,se limitasse  ao setor   econômico,  porém  nunca   político, dado que  bem sabe  os EUA  que o ditador   Assad tem  cometido  atrocidades por se  opor  aos chamados rebeldes   combatentes   da autocracia   síria.
     Ora, os  rebeldes (remanescentes, de alguma   forma,   da “Primavera  Árabe”),  não são  terroristas  nem  estão tampouco     conluiados  com  o Estado Islâmico.  A luta, já longa dos rebeldes sírios,  com um saldo de milhares  de  mortes,    é para derrubar  a tirania de Assad,   livrar a Síria  da opressão e do genocídio. Essa é  função que foi assumida  pelos  rebeldes,   Recorde-se que foi a tirania síria que  provocou  também   a onda de refugiados para a Europa e  países de outros continentes (inclusive o Brasil) que não  suportaram  viver  numa  país   assolado pela guerra civil e pelo desmoronamento  de sua infra-estrutura.
     Há tempos venho escrevendo artigos  contundentes  contra  a guerra civil  síria e há tempos  nada de concreto tem sido  realizado para  dar fim à carnificina  para vergonha de todos os povos  civilizados  que  abominam  a tirania, as ditaduras,  a covardia e o genocídio.Assad tem que pagar  pelos  seus crimes contra a Humanidade. Misericórdia, ONU, para Aleppo!

2 comentários:

  1. Eis a questão, amigo Francisco Cunha! Seu texto trata de uma das mais sérias questões da atualidade, a situação da guerra da Síria. Independente da postura ideológica, eu vejo ali, o ‘umbigo’ da nova ordem mundial em curso. Ou seja, o mapa do mundo está sendo redesenhado naquele pequeno país, e, em especial, na cidade de Aleppo. Que mundo será este e a quem pertencerá? Eis a questão! Forte abraço. Parabéns pela abordagem desse assunto tão delicado!

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  2. Muito lhe agradeoo pela leitura e comentário e o seu habitual discernimento sobre questões de alta relevância para a paz mundial.

    Forte abraço do amigo

    Cunha e Silva Filho

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