Cunha e
Silva Filho
Dirigindo-me da cozinha para a sala do meu apartamento ainda nesta manhã, olho para a tela da
televisão e vejo e ouço a voz da repórter relatando o que se passa atualmente
na Síria e, em particular, na
cidade deste país, Aleppo, que já foi o maior centro financeiro sírio, sendo,
se não me engano, a segunda maior cidade do país.
A vista aérea da
cidade - vou
usar um sintagma de que gosto
para metaforizar essas tragédias inomináveis perpetradas pelo criminosos
no poder deste que ainda
podemos dizer início do século XXI: uma
cenário guerniquiano.
Só a Arte é capaz de elevar nossos espíritos
e desprender dele um mínimo que seja de solidariedade pela situação
catastrófica que vive Aleppo. Não
foi nenhum act
of God que tornou
a cidade uma ruína. Não estamos falando das atrocidades da Segunda Guerra
Mundial provocadas pelo
nazifascismo, só para
enfatizar a agonia apocalíptica em que há quase seis anos tem
experimentado as vítimas da ditadura
de Bashar Al-Assad.
A terra
devastada em territórios sírios
há muito ultrapassou todos
os limites suportáveis de uma Nação
bombardeada sem dó nem
piedade e, o que é pior, sem que
o Conselho de Segurança da ONU tenha
reagido duramente contra
a manutenção de um genocida, um tirano
dos mais cruéis que
esse novo milênio tem
para infernizar inocentes e desprotegidos, de vez que onde há os ataques covardes
e hediondos quem mais padece são
as crianças.
Basta isso para que o mundo, por
mais “impessoal “ (uso um adjetivo do
físico Marcelo Gleiser no sentido em que o tomou para criticar o que denomina "tribalismo radical". Ver artigo desse autor publicado na Folha de São Paulo, Caderno Ilustríssima, p.6, 11/12/2016) em
que tenha se transformado como ser
racional, por mais insensível que tenha sido a metamorfose individualista de
nossas mentes para com
o outro, se não nos unirmos com urgência e, através dos organismos competentes para
assegurar os direitos à vida e
dar freio à carnificina de natureza
inegavelmente genocida, para
expulsar do poder o ditador
sírio, agora mais fortalecido com
o apoio maciço da Rússia de Putin, das forças do Irã e de outros grupos
que têm dado criminosamente apoio bélico ao tirano.
Seria
a maior insensatez se o presidente
eleito dos Estados Unidos, Donald
Trump, cumprisse uma certa
promessa de se aproximar
de Putin a fim de combater o
terrorismo islâmico e
outros grupos terroristas. Se Donald Trump embarcar
nessa furada, as
consequências para a geopolítica mundial serão terríveis.
Não existe razão
plausível para que Trump
se alie a Putin. Primeiro, porque estaria sendo contraditória e estapafúrdia qualquer aliança
com Putin, líder
com pretensões imperiais
ligado a países comunistas.
Segundo porque, sabendo que o
atual governo de Obama, com
certa prudência, agiu sempre
no sentido de opor-se à posição
de Putin como apoiador
da tirania, não seria
compatível que um país
com longa prática democrática,
conquanto tenha cometido muitos e graves erros na sua política externa, como foram exemplos a invasão desnecessária no Iraque e a manutenção do
bloqueio econômico a Cuba.
Para questões essencialmente políticas,
é um outro contrassenso um presidente altamente capitalista e
neoliberal como Trump
demonstrar simpatia pelo sistema político meio híbrido representado por Putin.
O mais seguro seria que Trump, no caso de suas relações com Putin,se limitasse ao setor
econômico, porém nunca
político, dado que bem sabe os EUA
que o ditador Assad tem cometido
atrocidades por se opor aos chamados rebeldes combatentes
da autocracia síria.
Ora, os
rebeldes (remanescentes, de alguma
forma, da “Primavera Árabe”),
não são terroristas nem
estão tampouco conluiados com o
Estado Islâmico. A luta, já longa dos
rebeldes sírios, com um saldo de
milhares de mortes,
é para derrubar a tirania de Assad, livrar a Síria da opressão e do genocídio. Essa é função que foi assumida pelos
rebeldes,
Recorde-se que foi a tirania síria que
provocou também a onda de refugiados para a Europa e países de outros
continentes (inclusive o Brasil) que não
suportaram viver numa
país assolado pela guerra civil
e pelo desmoronamento de sua infra-estrutura.
Há tempos venho escrevendo artigos contundentes
contra a guerra civil síria e há tempos nada de concreto tem sido realizado para dar fim à carnificina para vergonha de todos os povos civilizados
que abominam a tirania, as ditaduras, a covardia e o genocídio.Assad tem que
pagar pelos seus crimes contra a Humanidade. Misericórdia,
ONU, para Aleppo!
Eis a questão, amigo Francisco Cunha! Seu texto trata de uma das mais sérias questões da atualidade, a situação da guerra da Síria. Independente da postura ideológica, eu vejo ali, o ‘umbigo’ da nova ordem mundial em curso. Ou seja, o mapa do mundo está sendo redesenhado naquele pequeno país, e, em especial, na cidade de Aleppo. Que mundo será este e a quem pertencerá? Eis a questão! Forte abraço. Parabéns pela abordagem desse assunto tão delicado!
ResponderExcluirMuito lhe agradeoo pela leitura e comentário e o seu habitual discernimento sobre questões de alta relevância para a paz mundial.
ResponderExcluirForte abraço do amigo
Cunha e Silva Filho