segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O HOMOSSEXUALISMO NA LITERATURA BRASILEIRA








                                                          Cunha e Silva Filho


      A questão do homossexualismo na literatura brasileira é tema complexo e altamente polêmico. Entretanto, numa reportagem do Segundo Caderno  do jornal  O Globo 16/10/2016)  o assunto  é tratado tendo como  base alguns escritores contemporâneos (Samir Machado de Machado, Bernardo de Carvalho, Víctor  Hering e Michel Laub que estão  escrevendo  sobre  essa que se poderia já   definir como  uma  vertente ficcional  brasileira  tematizando  histórias (ou estórias, como preferir)) protagonizadas  por  homossexuais, escritas  ou  não  por autores  heterossexuais ou mesmo  homossexuais, assumidos ou não.
     Caberia assinalar que o tema na literatura brasileira poderia  encontrar um  exemplo no período realista, ou melhor,  naturalista,  como  o ficcionista Adolfo Caminha (1867-1897)). com o romance O bom crioulo (1895).
    Paralelamente a isso,  seria igualmente   curioso   acentuar que, na telenovela   brasileira,  o mesmo tema precedeu  o domínio  da ficção, assim  como  no cinema,  e no teatro ao nos depararmos com  novelas  que  têm  amiúde    colocado em cena  personagens  secundários e  mesmo   protagonistas  gays.
    Conviria ainda  frisar que autores há e até ensaísta  homossexuais  que aberta e democraticamente   abordam  o tema   que,  de resto,  jamais  poderia ficar   silenciado  diante das variadas  situações  da condição  humana,  e aí  não se poderia   excluir   a sexualidade e suas  diversas formas de manifestação.
   Do ponto de vista do  aparato teórico sobre a questão  das minorias e  dos movimentos LGBT, já é rica a bibliografia  disponível que tem  levado  em  consideração  com   seriedade  de análises os estudos  avançados  do que  se denominou  Queer theory através principalmente de autores como Eve  Sedgwick, Judith Butler, entre  outros (Cf. CULLER,  Jonathan. Literary  theory. – a very short introduction.  New York: Oxford University Press, 2000, p. 94-107. Ver ainda,   resumidamente,  p. 131-132).
    Estudos  neste campo da investigação  da sexualidade e da marginalidade,  aqui  entendida como  um tipo de indivíduo  desprezado pelo  preconceito  e vilipendiado  pela  sua condição  de ser diferente  em termos  da sexualidade.          
   A literatura  universal, mesmo no século  XIX,  nos deu uma romance no qual  a questão  do homossexualismo  é flagrante,  ainda fortalecida  pela condição de o  autor  ser um  homossexual,  Quero me referir ao romance  O retrato de Dorin  Gray (1890)), de  Oscar Wilde.(1854-1900)),  poeta,  ficcionista e dramaturgo   que,  em plena época vitoriana, engolfada na hipocrisia e no preconceito, foi     perseguido e estigmatizado.
    A ficcionalização  do homossexualismo   em todas as suas formas, a meu ver,   não poderá  cair  numa espécie de modismo  no qual  escritores de talento  se sirvam  do tema  para  fins  de popularidade   ou  mesmo  financeiros  dado que   o assunto, hoje na ordem do dia, termina por  ser uma  boa isca  para o oportunismo   editorial   no país.
     É preciso que o escritor  contemporâneo seja  o mais cuidadoso  possível para não ser  levado  pelo mencionado   oportunismo, quer dizer,  é condição  sine qua non  que o tema  seja  levado  para o domínio  ficcional, não por  qualquer outro motivo   escuso ou apelo utilitarista,  mas por  necessidade íntima da criação literária, através da qual  qualquer  escritor tem de  se posicionar  corajosamente diante  de sua época e das condições   que  a literatura gay  apresenta   como  dado   inapelável. Se  se  transforma em modismo, é bem provável que  o nível  estético  se ressinta  substancialmente.  
   Na citada reportagem,  o jornalista  Bolívar Torres em colaboração com Sílvio Essinger,  lembram que  o  respeitado  ensaísta, crítico literário, ficcionista   e poeta  Silviano  Santiago aduz a um neologismo  que  lhe chamou a atenção  identificado  num artigo que lera   no  jornal  New  York Times.O neologismo  leva o nome de “bromossexuais’que,  segundo  Santiago,  diz respeito a uma nova  e saudável relação entre “homens gays” e “héteros.”
      É curioso  que  essa suavização  das relações entre  sexualidades diferentes se deve aos avanços  alcançados  por  leis  que aprovaram ,  por exemplo,  o casamento  entre  homossexuais (masculinos e femininos) e por outras  formas de abertura da sociedade,  quem sabe,  até modificadoras de mentalidades  recalcitrantes que  não acompanharam  a história  do desenvolvimento da sociedade  planetária  atual.
     As resistências,  presumo, ainda continuarão  enquanto prevalecerem   focos  de  desaprovação  de comportamentos   em face de  interditos   de viés  religioso.O própria  Papa  Francisco   já dá sinais de maior   compreensão aos  problemas  ligados  a opções  sexuais. Já é um salto de qualidade. Qualquer fechamento  a discussões desta natureza   estará  movimentando-se na contramão   das conquistas sociais  e de condições de vida social.
     Não afirmaria eu que seja um  “nova tendência”  essa interação  de sexualidades opostas.  A meu ver,  é a consequência de uma abertura  sem hipocrisia  entre  praticantes de  sexualidades  diferentes, na qual  ganham as duas partes  e da qual  se abre um  canal  de comunicação e  de sociabilidade  sem  as amarras do preconceito e da hipocrisia., dando  um golpe  notável  nas gerações   passadas    marcadas pelo machismo brutal  e  heterocêntrico, anda que persistam, em nossos dias, as discriminações   retrógradas  que só produzem  o apartheid  no esfera da sexualidade.
      É preciso  atingir-se um elevado   senso de discernimento e de desideologição  para nos livrarmos  do malefício  provocado  pela estigmatização das minorias. Para mim, esta é uma vitória sobre a hipocrisia e a ignorância de nossa  proclamada  civilização.

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